sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O pão dos Deuses


O Pão dos Deuses de Terence McKenna

Excerto
A supressão do fascínio natural que sentem os seres humanos pelos estados 
alterados de consciência está ligada de forma íntima e causal com a actual
 situação de perigo em que se encontra toda a vida na terra. Ao 
suprimirmos o acesso ao êxtase xamânico, represamos as refrescantes 
águas emocionais que fluem de um relacionamento profundamente
 ligado, quase simbiótico, com a terra. Em consequência disso 
desenvolvem-se e perpetuam-se estilos sociais mal adaptados 
que encorajam a sobrepopulação, o desperdício de recursos e
 a intoxicação ambiental.

(...)
A televisão, pela sua natureza, é a droga dominadora por excelência.
 O controle do conteúdo, a uniformidade do conteúdo e a repetição
 do conteúdo tornaram-na um instrumento inevitável de coerção, 
lavagem cerebral e manipulação. A televisão induz no espectador
 um estado de transe que é a pré-condição necessária à lavagem
 cerebral. À semelhança de todas as outras drogas e tecnologias, 
o carácter básico da televisão não pode ser modificado; a televisão 
não é mais reformável do que a tecnologia produtora de espingardas
 automáticas de assalto.
(...)
De um ponto de vista histórico, restringir a disponibilidade 
de substâncias viciantes deve ser visto como um exemplo
 particularmente perverso de pensamento dominador calvinista
 - um sistema no qual o pecador deve ser punido neste mundo
 ao ser transformado num consumidor explorável e 
impotente, punido pelo seu vício ao ser despojado do seu 
dinheiro pela combinação entre o crime e o governo que 
proporciona as substâncias viciantes. A imagem é mais
 horrífica do que a da serpente que se devora a si própria
 - é mais uma vez a imagem dionisíaca da mãe que devora 
os filhos, a imagem de uma casa dividida contra si mesma.
(...)
A súbita introdução de um poderoso agente descondicionante 
como o LSD teve o efeito de criar uma deserção em massa 
dos valores comunitários, em especial os valores baseados 
numa hierarquia dominadora acostumada a suprimir a 
consciência e a percepção.
(...)
Que significado tem o facto do esforço da 
farmacologia no sentido de reduzir a mente à máquina 
molecular confinada ao cérebro nos ter levado, 
na volta, a uma visão da mente que argumenta em
 favor das suas proporções quase cósmicas? As
 drogas parecem ser os agentes potenciais
 tanto da nossa involução até ao estado animal 
quanto da nossa metamorfose na direcção de
 um sonho luminoso de perfeição possível. 
"Para o homem, o homem é como uma fera errante",
 escreveu o filósofo social Thomas Hobbes, 
"e para o homem, o homem é como um deus". 
A isto poderíamos acrescentar: "E nunca o é
 tanto como quando usa drogas".
(...)
O próprio tráfico de escravos era uma espécie de vício.
 O início da importação de mão-de-obra escrava para o
 Novo Mundo teve somente um objectivo, o de 
sustentar uma economia agrícola baseada no açúcar.
 A loucura pelo açúcar era tão avassaladora que
 mil anos de condicionamento ético cristão nada 
significaram. Uma explosão de crueldade e 
bestialidade humanas de proporções incríveis foi
 placidamente aceite pelas instituições da sociedade 
educada.
(...)
Quantas mulheres têm as suas primeiras experiências 
sexuais numa atmosfera de uso de álcool, assegurando 
que essas experiências cruciais se desenrolem totalmente
 em termos dominadores? O argumento mais forte 
para a legalização de qualquer droga é a sociedade 
ter conseguido sobreviver à legalização do álcool. 
Se podemos tolerar o uso legal do álcool, qual a 
droga que não poderá ser absorvida pela estrutura social?

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