quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Genocidio Social-Memoria del saqueo

Fernando "Pino" Solanas é um dos grandes nomes do cinedocumentário argentino, com forte militância frente as causas políticas e sociais. Sua cinebiografia é extensa e marcada por filmes corajosos, ousados e bem montados. Memória do saqueio, também conhecido como Genocídio social, doc de 2004, relembra e contextualiza os anos que antecederam a maior crise socioeconômica que nossos hermanos atravessaram. Lembra daqueles panelaços pelas ruas de Buenos Aires?


Afundada em dívidas e repleta de credores internacionais, a Argentina de terras outrora ricas, se via arrasada por políticas ditas democráticas, mas que cada vez mais se afastavam de vínculos sociais. A contração de uma dívida externa de cifras astronômicas e o controle do capital por meio de acordos escusos entre o governo e as corporações permitiu o alastramento da corrupção. Resultado: desemprego, fuga de capitais e enfraquecimento do estado. Para Pino, Carlos Menem foi o grande vilão da história, aquele que afundou de vez o seu país num mar de lama.

Alçado ao poder pelo partido neoperonista, Menem prometeu um programa de governo voltado para as causas sociais. Porém, pouco tempo depois, leiloava a preço de banana estatais argentinas lucrativas, como a YPF. Inclusive, meses após a privatização, abriram um posto de gasolina com bandeira da YPF aqui perto de casa. Um ano depois da inauguração, o que restava era apenas o esqueleto do que foi um posto, com mato alto e instalações depredadas e abandonadas.

Memória do saqueio é muito bem produzido. Enquanto a câmera passeia livremente pelos suntuosos palácios do executivo, do legislativo e do judiciário argentino, Pino vai narrando os fatos. Há um excelente e rico material de arquivo, com imagens de manifestações, confrontos e até mesmo as gafes dos estadistas envolvidos nos escândalos. Pino mostra que o estrago, desde o período ditatorial, foi grande. A cicatriz ainda está aberta.

Prova disso é a notícia que ganhou as manchetes dos principais noticiários internacionais na semana passada. O então presidente do BC argentino se afastou do cargo em meio à polêmica decisão de não usar os recursos do governo para pagar a enorme dívida interna do país - fruto, obviamente, das constantes políticas de achatamento.

Um belíssimo documento para entender como o neoliberalismo promove, a seu modo, um genocídio social.

O Virus Liberal

A guerra permanente e a americanização do mundo

Pelos finais do século XX, um mal atacou o mundo. Nem todos morreram dele, mas todos foram atingidos. Ao vírus que esteve na origem da epidemia deu-se o nome de "vírus liberal".
Este fizera a sua aparição por volta do século XVI  no seio do triângulo Paris-Londres-Amesterdão. Os sintomas com que se manifestava pareciam à época insignificantes, e os homens (que o vírus atingia preferencialmente as mulheres), não só se acostumaram, desenvolvendo os anticorpos necessários, como ainda souberam tirar proveito do vigor reforçado que ele provocava.
Mas o vírus atravessou o Atlântico e encontrou na seita dos que o propagaram um terreno favorável, desprovido de anticorpos, o que conferiu à doença que ele causava formas extremas.


As "ideias gerais" que comandam a visão liberal que domina o mundo são simples e resumem-se nas poucas proposições que se seguem:
A eficácia social é confundida com a eficácia económica e esta com rentabilidade financeira do capital. Estas reduções em cadeia traduzem o domínio do económico, caracteristico do capitalismo. O pensamento social atrofiado que daqui resulta é extremamente "economicista". Curiosamente, esta crítica - erradamente dirigida ao marxismo - caracteriza de facto o pensamento liberal, que é por excelência o pensamento do capitalismo.


A economia "pura" não é a teoria do mundo real - o capitalismo que realmente existe -, mas a de um capitalismo imaginário. Nem sequer é uma teoria rigorosa deste último, cujos fundamentos e argumentação mereçam o qualificativo de "coerentes". Não paça de uma paraciência, na realidade mais próxima da feitiçaria do que das "ciências da natureza", cujo modelo pretende imitar.


A recontrução de uma política de cidadania exige que os movimentos de resistência, de protesto e de luta contra os efeitos reais da aplicação deste sistema se libertem do vírus liberal.  


por Samir Amin

SNS gastou 550 mil euros por dia em psicofármacos

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) gastou mais de 550 mil euros por dia na comparticipação de psicofármacos só no ano de 2009, num total que ascende a 200 milhões de euros, segundo dados oficiais da Autoridade do Medicamento (Infarmed).


Os encargos do SNS com os medicamentos psicofármacos têm vindo a aumentar ao longo dos anos, acompanhando um aumento de consumo deste tipo de remédios destinados ao foro mental.

Em 2009, os gastos do SNS foram superiores em mais de 34 milhões de euros do que em 2005, por exemplo.
Analisando os valores do Infarmed relativos a 2009, o Estado gastou 202 milhões de euros com estes medicamentos, enquanto os utentes terão desembolsado 70 milhões.

por DN.pt







quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Lusitânia: 25 milhões sem rasto

Associação para promover região vai ser extinta e não se sabe onde estão 25 milhões de euros.


O Governo concedeu, em 2009, utilidade pública à Lusitânia, uma associação de municípios e desenvolvimento regional, que gastou mais de 25 milhões em fundos comunitários, públicos e municipais mas que não apresenta contas há cinco anos. A associação existe desde 2002 e vai agora ser extinta. Na prática criou sites na Internet que não funcionam.

São 16 os municípios e organismos públicos dos distritos de Viseu, Guarda e Coimbra que constituíram a Associação de Desenvolvimento Regional Lusitânia, que gastou, de fundos comunitários e públicos, 25 milhões de euros em projectos para a sociedade da informação. A maior parte deles são sites, sem qualquer funcionalidade. Passados oito anos da sua criação, a Lusitânia continua sem apresentar contas e "irá ser extinta", garante o presidente da Câmara de Vila Nova de Paiva, que faz parte da direcção. José Morgado adianta que "todas as funções da associação irão ser assumidas pela Comunidade Intermunicipal Dão-Lafões porque a Lusitânia está moribunda".

A última actividade conhecida da Lusitânia foi a Assembleia Geral de Abril de 2006 que aprovou o relatório de contas de 2005 - documento que o DN não conseguiu encontrar - sob a direcção das câmaras de Viseu, Tondela e Penalva do Castelo. O relatório é mencionado em Junho de 2006, numa acta da Câmara de Viseu, mas os órgãos sociais, eleitos por quatro anos, não foram renovados em 2009, aquando das últimas autárquicas, como ditam os estatutos.

As actividades da associação começaram em 2002 quando apresentou o programa Viseu Digital (ver caixa). Em 2005 lançou novo projecto na área da prevenção dos incêndios florestais. Mais 12 milhões de euros de Sistema de Informação para a Prevenção Florestal que não é conhecido de bombeiros ou protecção civil. Um ano depois eram apresentados os museus virtuais de Grão Vasco e de Almeida Moreira, que não se encontram online. Projectos que funcionariam em rede através de 38 pontos de acesso à Internet espalhados pelos 16 municípios. Que não existem. Ainda assim, no mesmo ano, a Lusitânia apresentava mais um projecto, 1,2 milhões para infra-estruturas de banda larga integradas no Viseu Digital. Foi então que soaram os alertas.

Luís Caetano, dirigente do CDS e deputado municipal, avisava que do Viseu Digital "não se vê nada". Passados estes anos, mantém as críticas e alerta para "a falta de transparência em todo este investimento". É que desde 2006 que a associação não apresenta contas dos milhões que gastou apesar de o presidente do conselho fiscal garantir que "até 2008 houve apresentação de contas", mas não se conseguem consultar.

Mesmo com este histórico o Governo concedeu à Lusitânia o estatuto de utilidade pública. No despacho, datado de 2009, a Presidência do Conselho de Ministros exigia a "a alteração dos estatutos para assegurar uma gestão privada". Os estatutos nunca foram alterados, mas, em 2010, a Câmara de Viseu nomeou um novo representante da autarquia na Lusitânia, Ana Paula Santana, com quem o DN não conseguiu falar. Por esclarecer fica ainda o paradeiro de 23 milhões de euros.


por AMADEU ARAÚJO, VISEU, DN








terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Portagens

Estradas de Portugal teve 110 milhões de euros de lucros!



A Estradas de Portugal (EP) encerrou o ano de 2010 com um lucro de 110 milhões de euros, uma subida face aos 74,5 milhões de euros registados no ano anterior, disse hoje, terça-feira, o secretário de Estado das Obras Públicas.

Paulo Campos, que falava na comissão de Obras Públicas, Transportes e Comunicações, disse que a EP fechou o ano passado com um lucro de "110 milhões de euros", um aumento "considerável" face aos resultados líquidos alcançados em anos anteriores.
O secretário de Estado afirmou tratar-se de uma "evolução extremamente positiva no caminho da sustentabilidade" da empresa liderada por Almerindo Marques.

Paulo Campos acompanha o ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e o secretário de Estado dos Transportes numa audição requerida pelo Bloco de Esquerda sobre os planos de reestruturação das empresas e o aumento do preço dos transportes.
O Governo decidiu criar o grupo de trabalho responsável por desenhar um novo modelo de gestão e financiamento para a EP, que tinha que ter a sua proposta concluída até 15 de Janeiro para aplicação até março.
O secretário de Estado das Obras Públicas disse na segunda-feira que não tinha recebido o relatório sobre o novo modelo de financiamento da EP.
O anúncio da criação de um novo modelo de financiamento da EP foi feito no Parlamento pelo ministro António Mendonça a 15 de novembro do ano passado.







OS BEN ALI E OS ALI BABÁS

NESTES ÚLTIMOS tempos, diverti-me mais com o Presidente Ben Ali, da Tunísia, do que com os nossos tristes candidatos à sorte de presidir aos destinos da gruta do Ali Babá.


Ergo-me e fico em sentido perante a dignidade e a coragem do povo tunisino, na rua, a dizer “basta” e a enfrentar os projécteis dos seus “democratas” em fuga. E curvo-me diante da dignidade dos antigos dignitários dos diferentes quadrantes da política tunisina, do Presidente Bourguiba para cá, porque em vez de baterem palmas à roubalheira, como nós vemos por cá haver quem faça, resolveram reunir-se e estudar soluções para os problemas da Tunísia.

O período áureo do presidente Ben Ali, de que os tunisinos agora se libertaram, bem podia dar origem a uma academia em Portugal, com dinheiros dos fundos sociais europeus, e a pólos de excelência nas nossas Jotas e nas nossas excelsas ONG e fundações, tudo para aprofundarem o saber.

O povo veio para a rua por não aguentar três coisas: o desemprego e os salários baixos duma economia amarfanhada; os impostos cada vez mais pesados e a subida dos preços dos combustíveis e bens de primeira necessidade; e a roubalheira desavergonhada dos “democratas” que estavam no poder em Tunes.

Basta referir que Ben Ali e sua família, a começar pela “madame”, que era cabeleireira, acumularam nestes aninhos de Governo mais de três biliões de euros desviados dos dinheiros públicos e dos bancos. E o genro de Ben Ali, casado com a sua filha Nasrine, tinha leões criados a bifes do lombo no jardim do palácio oferecido pelo sogro no dote do casamento.

Estes pequerruchos dos Ben Ali nunca fizeram nada na vida. Não são como os nossos pobres “boys” que têm de puxar pelo bestunto e esmifrarem-se nos ministérios, petróleos e na banca dum país falido como o nosso, cujos políticos seniores se arrastam de mão estendida pelo mundo, como os romenos e os albaneses andam a fazer nos semáforos das nossas cidades.


Joaquim Letria «Mais Alentejo» - Jan-Fev 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Peças do puzzle

Mário Soares foi o vencedor das eleições. A astúcia e a imaginação do velho estadista permitiram que Fernando Nobre, metáfora de uma humanidade sem ressentimento, lhe servisse às maravilhas para ajustar contas. É a maior jogada política dos últimos tempos. Um pouco maquiavélica. Mas nasce da radical satisfação que Mário Soares tem de si mesmo, e de não gostar de levar desaforo para casa. Removeu Alegre para os fojos e fez com que Cavaco deixasse de ser tema sem se transformar em problema. O algarvio regressa a Belém empurrado pelos acasos da fortuna, pelos equívocos da época, pelo cansaço generalizado dos portugueses e pelos desentendimentos das esquerdas (tomando esta definição com todas as precauções recomendáveis). Vai, também, um pouco sacudido pelo que do seu carácter foi revelado. Cavaco não possui o estofo de um Presidente, nem um estilo que o dissimulasse. Foi o pior primeiro-ministro e o mais inepto Chefe do Estado da democracia. Baço, desajeitado, inculto sem cura, preconceituoso, assaltado por pequenas vinganças e latentes ódios, ele é o representante típico de um Portugal rançoso, supersticioso e ignorante, que tarda em deixar a indolência preguiçosa. Nada fez para ser o que tem sido. Já o escrevi, e repito: foi um incidente à espera de acontecer. Na galeria de presidentes com que, até agora, fomos presenteados, apenas encontro um seu equivalente: Américo Tomás. E, como este, perigoso. Pode praticar malfeitorias? Não duvido. Sobre ser portador daqueles adornos é uma criatura desprovida de convicções, de ideologia, de grandeza e de compaixão. Recupero o lamento de Herculano: "Isto dá vontade de morrer!"



pos Baptista Bastos, DN, Jan 2011


Presidenciais 2011





                                                                                                                                Inscritos - 9.629.630

Votantes - 4.490.147 - 46,63%

Abstenções - 5.139.483 -  53,37%

Brancos - 191.167 -  4,26%

Nulos - 86.545 - 1,93%

Freguesias Apuradas - 4.260

Freguesias por Apurar - 0

Consulados Apurados - 60

Consulados por Apurar - 11


Cavaco Silva 52,94% 2230240


Manuel Alegre 19,75% 832021

Fernando Nobre 14,1% 593886

Francisco Lopes 7,14% 300845

José Coelho 4,5% 189351

Defensor Moura 1,57% 66092

Normalidade absoluta.

Houve de tudo: assembleias de voto fechadas a cadeado, outras embrulhadas em dísticos e cartazes, outras com manifestantes (e até um boi e uma vaca) à porta, as que não abriram, as que abriram horas depois da hora de abertura, as que abriram mas onde os eleitores não apareceram, as que abriram e onde os eleitores apareceram mas não puderam votar.


E por todos os motivos: por não haver posto de saúde, por não haver casa mortuária, por os telemóveis não terem rede, por o metro prometido ter ficado no papel, por ninguém se ter lembrado de levar computadores para ler os cartões do cidadão; ou contra isto e contra aquilo: a câmara, o Governo, a Unicer...

De Norte a Sul e de Leste a Oeste do país (e do Mundo): de Pedras Salgadas à Fuseta, da Trofa à Lousã e a Serpins, do Granho à Gralheira, de Enxabarba (Fundão) a Genebra (Suíça) e a Moscovo (Rússia). E se, em Cedofeita, eleitores que votavam na Escola Rodrigues de Freitas só tiveram que atravessar a rua para saberem na Junta os novos números de eleitor e voltar a atravessá-la para votarem, em Moscovo, onde não houve gente para formar a mesa de voto, quem quis votar foi aconselhado a meter-se num avião e a ir fazê-lo a Helsínquia...

Fora isso, tudo correu com "normalidade" absoluta: menos de metade dos portugueses quis e conseguiu votar e elegeu um presidente da República pela confortável maioria absoluta de... um quarto do total de eleitores.


por Manuel António Pina, JN, Jan 2011

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Blackwater, o exercito sombra dos E.U.A.

Um dos mais poderosos exércitos-sombra do mundo, composto por mercenários, a Blackwater é tão secreta que nem os membros do Congresso norte-americano sabem das suas actividades.


Durante a guerra do Iraque, a administração Bush, além da máquina militar que colocou no terreno, enviou um exército-sombra denominado Blackwater, o mais poderoso exército privado do mundo, composto por mercenários contratados.

Fundada por Erik Prince em 1996, a Blackwater, sedeada nos Estados Unidos da América, na Carolina do norte, é tão secreta que as suas baixas em combate não são conhecidas, os seus crimes não são punidos e o próprio Congresso norte-americano não tem acesso a qualquer informação acerca da organização ou das suas actividades.

A primeira vez que a maioria das pessoas teve conhecimento da sua existência foi em 2004, quando quatro dos seus operacionais cairam numa emboscada, no Iraque, tendo sido mortos e arrastados pelas ruas como troféu.

Com cerca de 23 mil operacionais em actividade, espalhados por nove países, e mais 20 mil contratados de prevenção, os mercenários da Blackwater consideram-se a si mesmos como estando acima de qualquer lei. Em actividade também dentro dos Estados Unidos da América, fortemente armados e circulando em carros sem identificação pelas cidades do país, são considerados por alguns como uma ameaça à democracia.



A verdade é sempre um bom caminho!

Nove dias depois da minha crónica do JN ter abordado um tema central da campanha presidencial, João Semedo, deputado do BE, veio queixar-se das referências que nela fiz sobre as responsabilidades políticas de quase todos os intervenientes na decisão de "nacionalizar os prejuízos" do BPN. Referências que não eram novas, embora (vá-se lá saber porquê...) nunca tenham aparecido nos média, apesar de muito debatidas no Parlamento! Este facto leva-me a pensar que, rompido o bloqueio informativo com a crónica, talvez resida na audiência do JN a motivação primeira do tardio texto de João Semedo.

A verdade, como o azeite, acaba sempre por vir à tona. A verdade é sempre um bom caminho para quem faz da coerência o "norte" da actividade política e não entende bem quem actua por critérios de oportunidade.

A verdade é que foi precisamente João Semedo quem, num dos "Pontos de Vista" (programa semanal da RTPN), acusou o PSD de ter votado a nacionalização do BPN. A verdade - que incomodou o BE - surgiu no plenário parlamentar que se lhe seguiu. Aí ficou claro, pela voz de todos (e a simples consulta do Diário das Sessões), quem é que, afinal, tinha apoiado a "nacionalização" do BPN. E a verdade é que, só o PCP e os Verdes votaram, afinal, contra o n.º1 do artigo 2.º da lei que "nacionaliza todas as acções representativas do capital social do BPN" nas condições propostas pelo Governo. A verdade é que o PS e o BE votaram a favor e que o PSD e o CDS se abstiveram. Esta não é uma norma menor de especialidade - como João Semedo insinuou no seu texto -, é a disposição essencial da lei, o objecto central de uma decisão que motivou o voto contra do PCP na generalidade.

Mas é também verdade que o BE votou todos os números do artigo que criou as condições operacionais da "nacionalização" do BPN (incluindo o que impunha à CGD a gestão do BPN), com a excepção daquele que (diz aqui bem João Semedo) comprometia a Caixa a emprestar dinheiro ao BPN apenas na condição do Estado garantir os empréstimos, votado pelo PCP e rejeitado pelo BE. É que o PCP não queria (nem quer) que a CGD fosse à bancarrota por causa de quem votou ou viabilizou a "nacionalização" do BPN e assim se transferisse para a Caixa o buraco do BPN. Também aqui o BE andou mal, a menos que prefira que a Caixa tivesse emprestado dinheiro sem garantias ao BPN, para depois a Direita apontar o dedo aos prejuízos da CGD e reclamar a sua privatização...

Há mais verdades. O PCP votou o artigo da lei que criou o regime para regular processos de nacionalização, o qual mereceu os "esperados" votos contra do CDS e PSD e a (curiosa...) abstenção do BE! O PCP defendeu sozinho que deveria ter sido nacionalizado o grupo SLN onde estavam activos capazes de compensar o "buraco" do BPN; solução que ninguém defendeu - basta ver o que disse Semedo na Comissão de Inquérito -, embora agora pareça ser esta ideia mais consensual, chegando o BE a escrever (há poucos dias) que "defenderam a seu tempo a necessidade de privatização de todo o Grupo SLN para obter os activos necessários para compensar o prejuízo escondido do banco"! O que, para o BE, nem sempre foi verdade.

Que bicho terá mordido a Semedo para dizer que eu disse que o BE é responsável pelo buraco do BPN? Para este "peditório" só contam Oliveira e Costa, Dias Loureiro e outros que tais. Mas é também claro - e verdade - que o BE não pode fugir à responsabilidade de ter suportado uma solução que vai fazer recair sobre os contribuintes o buraco do BPN.


por Honorio Novo, JN, Jan 2011

O quinto Cavaleiro.

Quem o garante é economista e professor de Economia, ex-catedrático e tudo e, se ele o garante, quem é o povo para duvidar?

Ora o que ele garante é que, se o povo não o eleger já no domingo, como é "essencial", abrir-se-ão os mares e desabará o céu. E pior acontecerá em terra: a sua não eleição à primeira volta provocará imediatamente, avisa ele, "uma contracção do crédito e uma subida das taxas de juros", com consequências apocalípticas para "empresas e famílias".

"Imaginem o que seria de Portugal, na situação económica e financeira complexa em que se encontra, se prolongássemos por mais algumas semanas esta campanha eleitoral", avisa de novo. O povo imagina e o que vê deixa-o petrificado de terror: ao lado da Morte, da Fome, da Peste e da Guerra, cavalga agora o Quinto Cavaleiro, o terrífico Mercado, e todos juntos precipitam-se a galope sobre "empresas e famílias".

Por isso o povo correrá a eleger o ex-catedrático no domingo. Ou no sábado, se lhe permitirem. Elegê-lo-ia até sem eleições (por exemplo, suspendendo-se a democracia por seis meses, assim se poupando milhões porque a democracia é cara). Só o ex-catedrático pouparia os 2,1 milhões de euros (um recorde absoluto) que gastou na campanha. E se, depois, na Presidência, poupasse ainda aos contribuintes uma parte dos 17,4 milhões que gastou em 2010 (outro recorde absoluto), talvez, quem sabe?, o crédito se descontraísse um poucochinho.


por, Manuel António Pina, JN, Jan 2011

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A caixa de Pandora.

A esquerda a que Manuel Alegre pertence é saudosista e já não existe", disse Maria José Nogueira Pinto, no programa de Mário Crespo, transmitido na segunda-feira, p. p., na SIC Notícias. Uma frase que se releva de uma ambiguidade premeditada. Maria José Nogueira Pinto é uma mulher lida, informada e inteligente, e sabe muito bem que a direita vive em função da esquerda. Ou seja: uma devolve-se à outra, como um reflexo, por vezes deformado, que arrasta o seu contrário.


A esquerda vai acertando os combates consoante as próprias exigências históricas. Mas o inimigo, com outras máscaras e diferentes processos de maneio, é sempre o mesmo: o capitalismo, agora amenamente chamado "o mercado". Há um argumento circular que pode esclarecer e justificar o equívoco entre o conceito de esquerda e a prática, há anos exercida, pelo PS. O PS sobrenada na sua peculiar sobrevivência e, infelizmente, tem revelado uma surpreendente tendência para se esvaziar de ideologia e de idealismo. "A social-democracia não passa de boa gestora do capitalismo." A frase é de Manuel Alegre e, independentemente do que possamos pensar do percurso dele, elucida, por vezes, o seu mal-estar, pelos compromissos do PS, e a sua situação moral que pretende resguardar e defender.

A "velha esquerda" talvez tivesse reduzido a política "a uma forma de contabilidade social, à administração quotidiana dos homens e das coisas" (Tony Judt), e adoptado os métodos comuns à direita. O "socialismo moderno", do sinistro Tony Blair, levianamente adoptado por José Sócrates, não é um sistema de ideias, destinado a "modernizar" a esquerda, após o colapso do "socialismo real"; é uma traição em maiúscula.

Creio que Alegre tenta juntar os restos dos escombros, e procurar, nas margens do que foi a essência da política pública, os salvados do naufrágio. As "velharias", nomeadas por Maria José Nogueira Pinto, constituem a própria natureza do Estado social, e a exigência de um combate sem tréguas à cega investida dos seus inimigos. O que se prepara é muito mais importante do que meras eleições. É a modificação, pela força dos detentores do poder, dos equilíbrios sociais nascidos com o 25 de Abril, e da redução drástica da acção e da intervenção dos Governos. Transformar as nações em empresas, com banqueiros, administradores, gerentes, directores a orientar os destinos colectivos e individuais - eis os objectivos apostos no cardápio da "modernidade". Estado mínimo corresponde a autoritarismo, repressão a todos os níveis, ausência qualificada de liberdade. E à dissolução dos laços sociais, cada vez mais escassos, que, apesar das arremetidas, ainda perduram.

A caixa de Pandora está a ser reaberta.


por Baptista Bastos, DN

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando a Islândia reinventa a democracia.

16 de dezembro de 2010 por João Tosti


Desde sábado 27 de novembro, a Islândia tem uma Assembléia Constituinte composta por 25 cidadãos eleitos pelos seus pares. Seu objetivo: para reescrever a Constituição de 1944, incluindo aulas de desenho com a crise financeira em 2008 atingiu o país duramente.

Desde que esta crise que está longe de ser derramado, a Islândia tem experimentado uma série de mudanças bastante dramáticas, começando com a nacionalização dos três maiores bancos, seguida pela renúncia do governo de direita, sob pressão popular. As eleições parlamentares de 2009 levou ao poder uma coalizão de esquerda, formaram a Aliança (um grupo de partidos é composto por social-democratas, feministas e ex-comunistas) eo Movimento dos Verdes à esquerda. Foi a primeira vez para a Islândia, como a nomeação de uma mulher, Johanna Sigurdardottir, como primeiro-ministro.

Logo, o novo governo enfrenta um problema espinhoso: a liquidação nos Países Baixos e do Reino Unido de uma dívida de 3,5 bilhões de euros após o colapso do banco online Icesave que operações eram primariamente orientados para esses dois países. Sob pressão da União Europeia, à qual os social-democratas gostariam de participar do governo em janeiro de 2010 para votar um projeto de lei que autoriza o desconto, o que, para cada um islandês que pagar por oito anos, um montante de cerca de 100 euros por mês. Mas o presidente se recusa a ratificar a lei, o texto é submetido a um referendo. Mais de 93% dos islandeses votaram contra o pagamento da dívida (06 de março), e desde que o problema continua por resolver.

É neste contexto que a Islândia decidiu alterar a sua Constituição, que na verdade nunca foi realmente escrito: quando em 1944 foi proclamada a república, ele tinha apenas copiou na Constituição esquema Dinamarca, Islândia país dependia de várias décadas simplesmente substituindo o "rei" pelo termo "presidente". Assim, uma nova constituição, que é inteiramente escrito, e por isso que decidimos a confiança do povo soberano. Primeiro, houve uma chamada de candidaturas (que todos pudessem participar, com excepção dos eleitos nacionais, desde que tenham dezoito anos de idade e ser apoiada por pelo menos trinta pessoas), que foi respondido por 522 cidadãos. O que está no meio deles foi eleito o 25 constituintes.

A última reunião começará em meados de fevereiro e vai fazer a sua cópia antes do verão. Entre as propostas que surgem na maioria das vezes, podemos notar a separação entre Igreja e Estado, a nacionalização dos recursos naturais e uma clara separação de poderes executivo e legislativo.

Certamente, a Islândia é um país pequeno com cerca de 320.000 habitantes. Ele faz, no entanto há uma grande lição de democracia em estados grandes como a França: acho que em nosso país, a reforma constitucional de 2008 foi totalmente desenhado no Palácio do Eliseu, e que os parlamentares têm tido apenas dois voz perto após ter sido submetido por semanas a pressão intolerável do chefe de Estado.

Bom demais para ser verdade!

Os lucros de 140% obtidos por Cavaco na venda de acções do BPN em apenas dois anos estão bem acima da média dos lucros dos investidores de Bernard Madoff. Para atrair novos investidores Madoff gabava-se em festas de ricos de ter obtido retornos de 18% para os seus melhores clientes. Se há alguma coisa que a leitura de "Too Good To Be True" de Erin Arvelund revela é que a fraude de Madoff foi possível e tomou a dimensão que tomou porque os clientes nunca questionaram os métodos empregados para obter tamanhos lucros. Quem tinha uma formação mínima em economia sabia que aquilo era bom demais para ser verdade e foi essa linha que definiu o que era credível do que era uma fantasia financeira, que distinguiu entre os economistas, investidores e analistas honestos, os que se recusaram a aprovar o negócio de Madoff, e todos os desonestos que foram cúmplices da fraude.


Cavaco é um economista. Sabe muito bem que um lucro de 140% em dois anos (ou mesmo em quatro) requer uma justificação muito forte para ser credível. Aliás foi o próprio Cavaco que em 1987 utilizou a expressão "gato por lebre" para classificar lucros estratosféricos da bolsa de Lisboa que resultaram no maior crash da bolsa nacional até então. A única fuga possível de Cavaco na entrevista de ontem foi dizer que não sabia quanto tinha ganho. O que contradiz as palavras que profere logo a seguir quando se classifica de "muito rigoroso" e de "mísero professor". Se é tão rigoroso não sabe que ganhou 140% num investimento? Não sabe quanto investe? Que rigor é esse? Um "mísero professor" (de economia) não se interessa por um investimento que dá 140%? Então para que investe? Um mísero qualquer interessa-se por um investimento que dá 140% nem que sejam 10€, o mísero ganha 24€, não despreza ganhos desta ordem.

Se há alguma coisa verdadeiramente honesta a concluir é que Cavaco não foi honesto. Não violou nenhuma lei, mas não foi honesto com a economia e nem sequer foi honesto com a sua própria ideologia política. A sua linha política, uma democracia-cristã conservadora, também desaprova este tipo de práticas. Cavaco foi cúmplice de uma onda de xico-espertismo que teve consequências nefastas na nossa economia, que produziu desemprego e prejuízos de milhares de milhões de euros. Os portugueses devem por isso sancioná-lo nas urnas.

 posted by Rui Curado Silva

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Vozes contra a globalização. Um mundo desigual (3)



'Um mundo desigual ", aborda a situação da pobreza em relação ao consumo no mundo, as áreas de pobreza nos países desenvolvidos, as pandemias, o comportamento das grandes empresas farmacêuticas multinacionais em países onde um terço da humanidade vivem com menos de um dólar por dia. Recentemente, o orçamento da ONU era de 1,2 bilhões, seis vezes menos do que os americanos gastaram em cosméticos. Vozes contrárias à globalização "A série, com o subtítulo" Um Outro Mundo é Possível? combina a tiros em diferentes partes do mundo, com o acervo documental, com relatórios de notícia ou de trabalho no cinema com diretores como Wim Wenders, Avi Lewis, Pino Solanas, Eric Gandini, Hubert Sauper e música de Manu Chao, Jorge Drexler, Montserrat Caballe, José Manuel ALFAYA, o poeta Mario Benedetti, recitais com Daniel Viglietti, o trabalho contra a pobreza no mundo do Live 8, ou os mimos de Loucas da Pedra de Pernambuco (Brasil). Como o economista Jeremy Rifkin (EUA). Ramón Fernández Durán ecologistas (Espanha), o relator da ONU para a fome no mundo, Jean Ziegler (Suiça); analista da globalização como Dadvar Held (Grã-Bretanha), o diretor do Centro Tridimensional Hautart Francoise (Bélgica) , o antigo porta-voz do Fórum Social de Gênova, Agnolletto Vitorio (Itália), o Prémio Príncipe das Astúrias de Ciências Sociais, Giovanni Sartori (Itália), o escritor Eduardo Galeano (Uruguai), o químico atmosférico James Lovelock (Grã-Bretanha ), o etnólogo, Jean Malaury (França), o coordenador das previsões do ambiente de Espanha, Juan Manuel Moreno, o ensaísta Fatema Mernissi (Marrocos), o Prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel, Prêmio Nobel de Literatura, José Saramago (Portugal), analista social José Vidal Beneyto o cientista político Sami Nair (France), ativista francês José Bové, o vice-presidente da ATTAC, Susan George e Federico Mayor Saragoça, Carlos Taibo, Domingo Jiménez Jaume Botey são outros vozes na série.

Pilatos e Cavaco Silva!

Semelhança entre os "dois" Cavacos? Nenhuma, a não ser a ânsia desmedida pelo poder e o comportamento típico de Pilatos.


Eu não sou presidente da República. Não fui eu quem chamou a Belém os "partidos da oposição" para viabilizarem um Orçamento com cortes injustos nos salários dos funcionários públicos. Não fui eu quem convocou o Conselho de Estado para mostrar ao País que era urgente aprovar um Orçamento que dispensa os mais ricos de pagarem a factura da crise. Que fique, pois, bem claro: não sou nem presidente nem candidato a presidente da República, não apadrinhei nem assinei esse Orçamento injusto para funcionários públicos e reformados. Pelo contrário: votei contra o dito, denunciei todas essas injustiças e até apontei alternativas.

Nem sou Pilatos nem suporto os que se comportam como tal, sacudindo as mãos das suas próprias responsabilidades. Cavaco, presidente da República, apadrinhou e promulgou os cortes nos salários dos funcionários públicos, patrocinou e subscreveu as propostas do PS que isentavam os mais ricos e poderosos de pagarem a factura da crise. O mesmo Cavaco, candidato a presidente, disse, porém, num acto de caça ao voto que afinal "há injustiça nos cortes dos salários dos funcionários públicos" e verberou os que, com "muito maiores rendimentos, não foram chamados a dar o seu contributo" (...).

Semelhança entre os "dois" Cavacos? Nenhuma, a não ser a ânsia desmedida pelo poder e o comportamento típico de Pilatos. Eu não gosto de quem não assume a responsabilidade pelos seus actos. Eu não suporto "os pilatos" dos tempos modernos. Por isso, não voto Cavaco.

Para quem quer ter uma razão para votar em alguém sem atender ao foguetório nem às manipulações mediáticas da campanha, pergunte a si próprio qual dos candidatos denunciou claramente e votou contra o que Cavaco diz agora terem sido os injustos cortes dos salários dos funcionários públicos? Na resposta terá a razão do seu voto.


por Honorio Novo, JN, Jan 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Estas duas notícias são daquelas que, isoladamente, já nos fazem pensar; mas, lidas em conjunto...




Caixa já empregou 23 ex-governantes na administração - Especiais - DN

Caixa já empregou 23 ex-governantes na administração - Especiais - DN

Ex-ministros são os que têm melhores cargos profissionais

São vários os ministros que depois de abandonarem as pastas, conseguem empregos em tempo recorde, alguns em áreas que tutelaram durante o período de governação, outros em sectores completamente diferentes. O trabalho de investigação do Diário de Notícias avança ainda que as empresas do Estado servem de acolhimento para antigos chefes de gabinete e operacionais políticos dos dois maiores partidos do país. Os salários situam-se entre os três mil euros e os 20 mil euros.


A Caixa Geral de Depósitos, por exemplo, já empregou 23 ex-ministros e secretários de Estado. A Galp, PT ou EDP e fazem o mesmo.

Na maior parte dos casos, os ex-ministros não têm grandes conhecimentos nas áreas para onde vão trabalhar, mas entram com salários muito mais elevados do que aqueles que ganhavam quando estavam nos ministérios. Rodolfo Lavrador e Norberto Rosa são exemplos que o DN apresenta, mas existem muitos outros casos.


Jornal i, Jan 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Dois homens detidos pelo roubo de 70 pães

A PSP de Lisboa deteve dois homens por terem roubado dois sacos com cerca de 70 pães de uma padaria na zona de Marvila e depois de um deles ter sido baleado por um agente quando tentava fugir.


Em comunicado, a PSP avança que o assalto ocorreu às 4.30 horas da madrugada de hoje, quarta-feira, e que a detenção foi feita depois de um telefonema para a esquadra policial da zona a dar conta do assalto.

Os dois detidos, de 28 e 33 anos, roubaram dois sacos com cerca de 70 pães, num valor de cerca de 15 euros. Os pães foram recuperados e entregues de novo à padaria, após a detenção dos indivíduos.

Depois do assalto, os dois homens iniciaram uma fuga a pé, tendo sido um deles "imediatamente manietado".

O outro suspeito, que detinha uma arma de fogo, "prosseguiu a fuga apeada, sempre seguido pelo elemento policial, que lhe ordenou por diversas vezes que parasse e largasse a arma", refere o comunicado.

"A dada altura o suspeito apontou a arma na direcção do agente, pelo que este, face ao perigo iminente, efectuou um disparo com a arma de serviço, atingindo o suspeito na perna direita", adianta a PSP.

O detido necessitou de tratamento hospitalar mas não ficou internado.

Quando foi interceptado pela PSP, o mesmo suspeito "arremessou a arma de fogo para o interior de um poço", contudo a pistola de alarme foi recuperada pela polícia com o auxílio dos Bombeiros Sapadores de Lisboa.

Os detidos que já tinham antecedentes criminais vão ser presentes na quinta-feira no Tribunal de Instrução Criminal para primeiro interrogatório judicial e aplicação das respectivas medidas de coação.


JN, Jan 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Islândia: Como sair da crise sem ajudar os bancos.

A Islândia é um país do tamanho de Portugal com uma população de apenas 400 000 pessoas.



Como os restantes países europeus também conheceu uma grave crise financeira em 2008, mas está a sair dessa crise devido a dois importantes factores: deixou os seus bancos irem à falência e não estão na zona euro.

O Estado não tem de salvar bancos privados


O presidente da Islândia, Olafur Grimsson, revela que "a diferença do seu país em relação à Irlanda é que na Islândia deixámos os bancos ir à falência. Eram bancos privados e não temos de injectar dinheiro neles para os salvar; o estado não tem de assumir essa responsabilidade. Como podemos nós pedir a gente comum, agricultores, pescadores, professores, médicos ou enfermeiras, assumir a responsabilidade de bancos privados? Esta questão foi debatida no caso do banco islandês Icesave e vai ser uma questão premente em numerosos países europeus."

Perante a falência do banco Icesave, que trabalhava sobretudo com a Inglaterra, e sob a pressão da Comissão Europeia, o governo submeteu um projecto-lei ao parlamento islandês que previa o pagamento de 3,8 mil milhões de euros até 2024, ou seja o equivalente a 40% do PIB da Islândia.

Mas uma petição assinado por um quarto dos islandeses circulou no país a pedir a revogação desse projecto. O presidente Olafur Grimsson recusou então promulgar o diploma e decidiu que essa escolha deveria ser submetida a um referendo. Resultado: 93% dos islandeses recusaram o texto.

Saída da crise

Pela primeira vez, desde a crise do sistema financeiro mundial em 2008, a Islândia começa a sair da recessão com aumento do seu PIB de 1,2%, entre julho e outubro de 2010, o que deverá dar um aumento de 4% no ano, quando tinha perdido 11% do seu PIB nos dois anos anteriores. A inflação que tinha atingido os 18%, estabilizou nos 3%. A sua moeda, a coroa islandesa, que tinha perdido perto de metade do seu valor voltou a subir.

Apesar da redução das despesas com os investimentos de 5,6% e uma ligeira diminuição das despesas públicas de 0,6%, o crescimento deve-se sobretudo ao aumento do consumo interno que cresceu 3,8%. E isto apesar da intervenção do FMI.

Vantagens de não estar na zona euro


Mas esta história de deixar falir os seus bancos não chega só por si para explicar como é que a Islândia conseguiu sair da crise. Paul Krugman, prémio Nobel da economia explica que o facto da Islândia não ter aderido ao euro, permitiu a desvalorização da sua moeda e impor o controlo dos capitais. Assim apesar de ter sofrido a maior crise financeira da sua história, a Islândia conseguiu ser bem menos atingida que os países da zona euro.

No dia 27 de novembro de 2010 foi eleita, na Islândia, uma Assembleia Constituinte que se reuniu em fevereiro de 2011. Propostas: reafirmação da separação entre a igreja e o estado, nacionalização de todos os recursos naturais e separação clara dos poderes executivo e legislativo. Trata-se no fundo da constituição de um novo contrato social.

Alimentos

Por João Paulo Guerra


PORTUGAL e os portugueses, sugados pelos credores e esmifrados pelo Estado, têm ainda no horizonte a ameaça de uma nova crise alimentar.

É que os preços das matérias-primas alimentares estão a disparar nos mercados internacionais e Portugal passou a ser um país indigente sem produção própria de quase nada daquilo que come. Um trabalho do jornal Público revelava ontem os défices e fragilidades da balança alimentar do país.

A questão é que, olhando os indicadores dos textos do Público, os portugueses são necessariamente induzidos a reflectir - os que ainda reflectem - sobre o destino trágico deste país que transitou das hortas e dos latifúndios salazaristas para a destruição da agricultura e pescas: Portugal importa mais de 60 por cento da carne e dos cereais que consome, deixou de produzir açúcar, o olival é em grande parte espanhol, todos os dias abate mais unidades de pesca.

Em parte, esta política alimentar tem sido ditada pela Europa e pelos interesses dos gigantes europeus da produção agrícola. Mas a Europa não veio a Portugal arrancar culturas nem varar barcos de pesca na areia das praias. Isso foi obra de sucessivos governos de Portugal que até criaram algumas castas de "agricultores" de subsídios, que enriqueceram a arrancar culturas ou, eventualmente, a nem sequer as plantarem. Como se conta - talvez como anedota - que em França um espertalhão se inscreveu como candidato a subsídios para não criar porcos e, já agora, para ser ressarcido pela perda de rações que os porcos não criados não iriam consumir.

Décadas de políticas de liquidação da independência do país não poderiam ter outros efeitos. Mas eles aí estão, os agentes dessas políticas ruinosas, nos cadeirões do poder ou inscritos na dança das cadeiras para a valsa seguinte.

«DE» de 11 Jan 11

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O BPN e a Campanha Eleitoral

Da teia montada por Oliveira e Costa para se autofinanciar e às empresas e administradores do grupo SLN/BPN, o que mais interessa aos portugueses é saber se os criminosos foram condenados e saber quanto é que a "nacionalização dos prejuízos do banco" já custou e vai custar ao país e a quem trabalha. Quanto à primeira questão, a resposta é negativa. Dois anos depois, só agora há alguns acusados, parecendo, a quem esteve no miolo da Comissão de Inquérito ao BPN, que faltarão alguns na lista de acusados. Casos semelhantes ao BPN por esse mundo fora condenaram em seis meses os "salteadores" locais, o que permite avaliar bem o estado a que o PS e o PSD conduziram a Justiça em Portugal...
Quanto aos prejuízos, é importante conhecer todos os responsáveis pela solução adoptada.

Desde a descoberta do crime, há dois anos, defendemos sozinhos que se devia nacionalizar todo o grupo SLN/BPN. Era aí que estavam os activos capazes de cobrir o buracão que todos (mesmo o Governo e o Banco de Portugal) sabiam haver no BPN. Agora, muitos mais defendem a solução que na altura rejeitaram ou desprezaram, desde Campos e Cunha (veja-se o texto no "Público" de sexta-feira), ao Bloco de Esquerda. Registamos...

Quem na altura (o Governo e o PS) propôs que se nacionalizasse apenas o BPN (isto é os prejuízos), e não todo o grupo, os que votaram a favor dessa solução (o BE), os que a viabilizaram pela abstenção (o PSD e o CDS-PP), e ainda Cavaco Silva, que a promulgou sem pestanejar, são responsáveis políticos pelo buraco do BPN estar a ser pago pelos nossos impostos, num valor não inferior (se formos muito optimistas), a 2000 milhões de euros, mais de 1% do PIB.

Cavaco Silva bem sabe que foi alvo de tratamento de favor por Oliveira e Costa, o "capo" do BPN. Mas responsáveis pela factura do banco há muitos mais...

hn@pcp.parlamento.pt


por Honorio Novo, JN, Jan. 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O modelo

Este expressivo gráfico compara o crescimento cumulativo para diferentes segmentos de rendimentos (dos 20% mais pobres aos 5% mais ricos) em dois períodos cruciais da história do pós-guerra nos EUA. Tem a palavra Jeffrey Sachs, economista que até meados dos anos noventa costumava alinhar pela doutrina do choque, mas que depois se converteu a posições mais sensatas: "O 1% mais rico das famílias norte-americanas tem, actualmente, uma riqueza líquida mais elevada do que os 90% inferiores. O rendimento anual das 12 mil famílias mais ricas é maior do que o rendimento dos 24 milhões de famílias mais pobres (...) O nível de corrupção política nos Estados Unidos é assombroso. Actualmente, tudo gira em torno do dinheiro para as campanhas eleitorais, que se tornaram extremamente dispendiosas."

O homem certo no lugar certo

Os portugueses podem dormir descansados. O presidente do grupo de trabalho para a comissão que irá fiscalizar as contas públicas é o mesmo que, como presidente do Conselho Fiscal do BPP, certificou durante 10 anos e "tranquilo de consciência" (é o próprio quem o diz), as contas furadas daquele banco, validando "a regularidade dos seus registos contabilísticos"... de onde desapareceram mais de 1,2 mil milhões de euros dos clientes.


Ninguém duvida que foi pela competência demonstrada e não pelo cartão partidário que o PSD o indicou como pessoa certa para definir os critérios de fiscalização das contas do Estado (coisa que muito preocupa o PSD).

Dirá o PSD que, até ver, o homem não foi constituído criminalmente arguido (embora seja réu em vários processos postos pelos clientes defraudados do BPP). E confiará na sua "tranquilidade de consciência". Não será o caso, mas talvez o PSD devesse cuidar que, às vezes, a melhor forma de manter a consciência limpa é não lhe dar uso.


por Manuel António Pina, JN Janeiro 2011

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Hoje somos muitos

Mais uma voz que se junta às que rejeitam o discurso acerca dos portugueses “viverem acima das suas capacidades” e culpam antes a engenharia do Euro pela crise da dívida em que nos encontramos. Não se limitando a criticar a via do austeritarismo, antes apontando soluções concretas alternativas – idênticas às que outros ladrões de bicicletas aqui têm apontado. Desta feita é o blogue LeftBanker, que nesta posta recente analisa a situação portuguesa com grande lucidez e poder de síntese, salientando que, na primeira metade de 2011, Portugal deverá renovar ou contrair empréstimos equivalentes a cerca de 17% do PIB, o que não deixará de implicar uma intervenção conjunta do BCE e FMI assente em cortes nos salários, postos de trabalho e serviços públicos ainda mais brutais do que os já anunciados pelo Governo. A não ser que se opte pela via alternativa - aquela que os economistas do plano inclinado nem ousam admitir...

Indicadores

Por João Paulo Guerra


LEMBRO-ME dos tempos em que os portugueses tinham vergonha dos indicadores sociais que identificavam um país atrasado, pobre e tacanho, um baldio de uma Europa civilizada: o analfabetismo, a mortalidade infantil, a miséria, a emigração para fugir à má sina de ser português.

Acontece que hoje, lentamente, sinistramente, esses indicadores estão a voltar a retratar a realidade portuguesa e não se dá, ao menos, que tais dados envergonhem os titulares do poder das últimas décadas, tão cheios de si, tão ufanos não se entende bem de quê, tão convencidos e, no entanto, com a verdade dos números a atestar a sua irremediável mediocridade e incompetência.

Enquanto a classe política tagarela sobre a saúde pública confrontando-se com esse problema terrível para o Estado que são os utentes, os índices da mortalidade infantil em Portugal retrocederam 25 anos: estamos nessa matéria de novo em 1985, quando em Portugal se decidiu que "quem quer saúde, paga-a". E assim, esse indicador que revela o grau de civilização de uma sociedade, depois de ter dado tímidos passos para a frente, andou para trás num recuo desordenado.

Entretanto, na educação, uma auto-avaliação do sistema concluiu que os alunos do oitavo ao décimo segundo ano de escolaridade "não sabem raciocinar nem escrever". Mas constituindo esta sentença um chumbo categórico e sem apelo de um sistema de ensino, nada acontece para lá da constatação. É assim e paciência. Os alunos não sabem o elementar para saberem mais e melhor. Mas não consta que tenha havido um ministro, um secretário de Estado, um director-geral da Educação chamado à responsabilidade.

Portugal enfrenta muitos problemas. Mas na raiz de todos eles está a incompetência de uma classe política que se perpetua e alterna no poder.

«DE» de 4 Jan 11

sábado, 1 de janeiro de 2011

"A quadratura do circo", a poupança dos portugueses

Por Pedro Barroso


ESTOU muito preocupado com o problema da falta de poupança das famílias portuguesas.

É uma enorme falta de consciência cívica não serem solidárias com os esforços do governo e da nação. Não sei que se passará na cabeça dos chefes de família em Portugal para não conseguirem poupar.

Uma vez mais, ouvi a notícia no telejornal e, perante uma crise tão profunda e mundial, é de uma falta total de solidariedade não conseguirem colaborar no esforço colectivo. Creio que todas as famílias portuguesas deviam tentar poupar, pelo menos, um ou dois mil euros por mês, para criarem elas próprias um fundo de crise.

Vejamos. Vêm aí tempos difíceis e é preciso não gastar assim com tanta displicência e inconsciência a torto e a direito.

É um exagero o que se gasta em alimentação. Tomemos uma família de quatro pessoas, por exemplo. Bastava que uma delas não comesse nada, semana sim, semana não. E ninguém morre por isso, pois está provado que o ser humano pode aguentar até três semanas sem comer. Ora bastaria isso para dar um enorme incremento de aforro doméstico.

A avó, por exemplo. Não produz nada, ou muito pouco. De resto, já ninguém precisa de mais rendas e crochés para as mesinhas da sala, nem pegas para a cozinha. Fazê-la parar é quase uma necessidade. Portanto, é obriga-la carinhosamente a uma dieta de pão e água, para seu próprio beneficio. Passará a comer ainda, como bónus se estiver quietinha, uma sopinha semanal ao domingo, o que permite perfeitamente viver, evitando assim níveis elevados de colesterol, que só lhe fazem mal com aquela idade. Apenas há que nunca lhe faltar com aguinha todos os dias, para não desidratar; pelo menos enquanto não assinar os documentos que nós muito bem sabemos quais são.

A mania dos remédios também é um ataque diário à política de contenção económica. É sabido que os remédios são coisas químicas que só fazem mal e, no fundo, apenas prolongam a agonia de quem está doente. Gastar em farmácia é, portanto, inútil. Aí tem mais um conselho a seguir.

Ir para o emprego a pé, parece também ser uma solução a pôr em pratica o mais possível. O mau hábito de andar de carro provoca espondilose e obesidade mórbida, além de stress e despesas várias, provenientes de multas, seguros e acidentes. São vários milhares que se poupam por ano, se andarmos todos a pé ou de carroça.

Se você trabalha longe não seja preguiçoso e levante-se mais cedo. Caminhar só lhe vai fazer bem. Se for de charrette passará inclusive, a ser produtor do seu próprio estrume para usar na horta. Um luxo de excêntrico, sobretudo se viver em Massamá.

A escola e colégio para os miúdos também são despesas estupidamente elevadas que podem facilmente evitar-se estudando em casa. A televisão, os jogos, o teatro, o cinema, as revistas e jornais também são coisas sem as quais dantes se vivia muito bem e ninguém morria por causa disso. Andar informado só serve para ficar mais deprimido.

Nas férias, fique casa. Sair para o Algarve… para quê, afinal? Quem é que precisa de gastar um dinheirão em portagens e refeições e alugueres só para tomar banho de água salgada e ficar cheio de areia? Você vai irritar-se nas filas nos restaurantes horas à espera em Agosto, e vai voltar ainda mais cansado que à partida. Não vá. Poupe.

Os exageros da moda são outra tentação. Há que ter uma gabardina para a chuva, um casaco para o frio, duas calças e duas camisas. Quando uma está suja, lava-se e usa-se a outra. Eu, por exemplo, tenho estes sapatos há mais de dez anos e nunca comprei uma gravata. Não morri por isso.

O país precisa do seu esforço e os gestores públicos agradecem.

Portanto, poupe, homem! Não seja indisciplinado.

Como vê, é só uma questão de querer.

Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...