terça-feira, 27 de outubro de 2015

A migração estratégica engendrada como arma de guerra


por Leonid Savin 
 
Os que causam refugiados. Depois de ler o título, pode-se pensar que se está a descrever o fenómeno com que a Europa se confronta ultimamente:   as centenas de milhares refugiados, tanto as vítimas das agruras de guerras civis como os oportunistas, os quais estão a invadir os Balcãs por terra e mar e então a seguir mais adiante, tentando alcançar países mais ricos como a Alemanha, França e Escandinávia por quaisquer meios possíveis.

Aparentemente este fluxo de refugiados tem razões objectivas: conflitos armados e guerras têm decorrido na Líbia, Síria e Iraque durante muitos anos, ao passo que a situação também é turbulenta na Palestina e no Afeganistão. Na Tunísia e no Egipto, em que ambos experimentaram a Primavera Árabe, a situação também deixa muito a desejar. Dificilmente alguém está a reparar no Bahrain, onde protestos da oposição são brutalmente reprimidos há anos, ao passo que no Iémen são executados ataques aéreos a festas de casamento. A localização destes dois estados não é muito conveniente, contudo – simplesmente não há lugar para onde fugir. Há também um pormenor importante: estão a ser construídos campos para refugiados muçulmanos na Arábia Saudita, mas por alguma razão ninguém está a ir para lá. Como último recurso, eles permanecem na Jordânia e na Turquia.

Haverá alguma razão geral para este desejo frenético de fugir da sua pátria? Parente ricos já estabelecidos na União Europeia, talvez? Ou notícias acerca de benefícios assistenciais com os quais eles poderiam viver com conforto? Afinal de contas, para fazer uma tal jornada eles têm de pagar pelos serviços de passadores. Segundo algumas notícias, estes passadores levam US$4000 a US$10 mil para transportar um único refugiado da Síria ou da Líbia para a Europa. Mesmo que essa pessoa tenha parentes ricos no estrangeiro, receber dinheiro através de transferência bancária é impossível na Síria devastada. Organizar transportes a crédito envolve claramente certas garantias, considerando em especial que muitas vezes os barcos afundam no Mediterrâneo.

Quem está a proporcionar garantia que encorajam centenas de milhares de pessoas a correrem de outros continentes para a Europa e por que?

Investigadores descobriram um facto muito interessante relativo à utilização de redes sociais. Veio à luz que apelos no Twitter para que refugiados viajem para a Alemanha procedem principalmente dos EUA . O tempo gasto a praticar em outros países não foi em vão – desde o Irão durante as eleições presidenciais de 2009 até o Egipto e a Tunísia, onde o papel desempenhado pelas redes sociais na mobilização da população foi considerável.

O que vemos agora é a implementação prática de cálculos teóricos com uma natureza estratégica. Tais estratégias têm estado a desenvolver-se durante longo tempo. Uma delas é um estudo do Belfer Center for Science and International Affairs da Universidade de Harvard que tem o nome de "Migração estratégica engendrada como uma arma de guerra" (" Strategic Engineered Migration as a Weapon of War "), que o autor também utiliza como título deste artigo. O estudo foi publicado pela primeira vez em 2008 no Civil Wars Journal . Utilizando uma combinação de dados estatísticos e análises de estudos de casos, o autor do trabalho, Kelly Greenhill, apresenta resposta para as seguintes perguntas: podem refugiados ser um tipo específico de arma, pode esta arma ser utilizada só em tempo de guerra ou também em tempo de guerra, e quão exitosa pode ser a sua exploração? Na generalidade, Greenhill responde a estas perguntas pela afirmativa.

De facto, investigadores do Belfer Center, bem como investigadores de outros departamentos da Universidade de Harvard, têm trabalhado na concepção de estratégias para a gestão de conflitos no contexto de questões mais vastas de política externa durante muitos anos. O director do Belfer Center, Graham Allison, foi secretário da Defesa Assistente na administração Clinton. Além disso, o Belfer Center também financia a investigação de uma força tarefa especial dedicada à Rússia.

Os EUA estão apenas a pretender que simpatizam com a Europa, a qual está a ser duramente atingida pela onda migratória. Num artigo recente de Richard Haass, presidente da influente organização globalista Council on Foreign Relations que trata de questões europeias, a utilização da palavra "gestão" ("managing") em relação à crise de migração na União Europeia não foi casual. Saboreando os problemas que estão a ser enfrentados pela Europa em consequência do influxo de refugiados, Haass nota que os EUA têm tanto a obrigação de ajudar a União Europeia como interesses estratégicos em relação à Alemanha e à Europa como um todo. Apesar desta "obrigação de ajudar", contudo, não tem havido nenhuma ajuda dos EUA nem no controle da infiltração ilegal de países europeus nem em termos de abrigo temporário de refugiados.

Há também um outro facto interessante. Em 15 de Setembro, Barack Obama assinou uma ordem executiva sobre a utilização de técnicas de ciência comportamental na administração pública. O ramo mais recente da ciência comportamental, conhecido como "Nudge", é nada mais do que o meio mais actualizado de manipular pessoas. A mão de Cass Sunstein, que anteriormente trabalhou no Office of Information and Regulatory Affairs durante a administração Obama, pode ser vista claramente aqui. Juntamente com um colega britânico, ele foi co-autor do livro Nudge: Improving Decisions about Health, Wealth and Happiness , no qual técnicas de manipulação psicológica no contexto da vida diária são ocultadas por trás de palavras bonitas. (Por acaso, a esposa de Sunstein é Samantha Power, embaixadora dos Estados Unidos na ONU.) Não há dúvida de que a técnica "nudge" será utilizada para além das fronteiras dos EUA.

Contudo, a arma mais eficaz, tanto metaforicamente como literalmente, podem ser aqueles migrantes capazes de estabelecer um pequeno grupo de guerrilha para executar actos terroristas subversivos sobre o novo território. É de certa forma interessante que os EUA estejam não só a actuar como hospedeiros daqueles que parecem mais "prometedores" para isto como também estejam a conceder-lhes status de refugiados e residente bem como a protecção oficial do governo estado-unidense.

Tanto quanto se pode julgar a partir de um documento interno recentemente revelado, um relatório especial ao Congresso dos EUA para o ano financeiro de 2014 sobre a questão da migração, preparado pelo US Department of Homeland Security, declara que em 2014 os Serviços de Cidadania e Imigração aplicaram 1.519 isenções a solicitantes individuais concedendo status de refugiado, status de residente e a protecção oficial do governo. E a coisa mais interessante é que de um modo ou de outro todas estas pessoas têm ligações com grupos terroristas e vasta experiência de actividades subversivas.

A lista inclui velhos aliados de Washington, desde exilados cubanos, militantes do Kosovo Liberation Army que por alguma razão não podem viver bem no seu próprio estado criado artificialmente, e muitos outros aliados encobertos e abertos dos EUA. Há membros da Aliança Republicana Nacionalista de Salvador, muito provavelmente aqueles que disparavam sobre opositores políticos durante a Guerra Fria e estão agora a esconder-se da justiça. Há combatentes do Movimento Democrático para a Libertação da Kunama Eritréia – etno-separatistas que se opunham ao governo eritreu. Há a Frente de Libertação do Povo Tigray da Etiópia e a Frente de Libertação Oromo do mesmo país.

A lista também inclui activistas da Chin National Front da Birmânia e sua ala militar, o Chin National Army, os quais são membros da chamada Organização das Nações e Povos Não Representados (Unrepresented Nations and Peoples Organization, UNPO). Membros da Karen National Union, incluindo militantes do Karen National Liberation Army (um grupo étnico que vive na Birmânia e na Tailândia) também receberam de imediato uma quota para viverem nos EUA.

O status de refugiado foi dado a 49 antigos cidadãos iraquianos do Iraqi Democratic Party, do Kurdish Democratic Party e da Patriotic Union of Kurdistan. A lista das "1.519 isenções" também inclui membros de outras organizações que se dedicaram durante muitos anos a conflitos armados.

Pode-se apenas especular sobre a espécie de guerras futuras que os EUA têm em mente se planeiam utilizar tais migrantes como arma. 

26/Outubro/2015
Ver também:

  • ‘Strategic depopulation’ of Syria likely cause of EU refugee crisis – Assange

    O original encontra-se em www.strategic-culture.org/...


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .  
  • terça-feira, 20 de outubro de 2015

    Ui! a NATO!


    por César Príncipe 
     

    O quadro pós-eleitoral, ao privar os situacionistas de maioria absoluta, lançou o pânico nas respectivas hostes, logo que o PS se inclinou para auscultações e negociações à Esquerda. A fórmula do Bloco Central de Interesses, na vertente política, parecia perpetuada (nem sequer merecia abordagem). Tratava-se de um direito divino adquirido, a juntar aos direitos económicos e mediáticos, igualmente determinados pelo Além, segundo Clemente, benzedor da troika interna. Portanto, conversações para formar Governo ou garantir apoio parlamentar só e sempre à Direita. Bastaram algumas reuniões entre PCP, PEV, BE e PS e o assentamento de alguns pontos de partida para um hipotético entendimento e todas as tropas da Coligação e de seus reservistas e infiltrados se apresentaram ao serviço, entraram de prevenção e começaram a disparar setas, balas, morteiros, granadas de fumo e até tiros de pederneira e pólvora seca.

    UI! A NATO!

    Tese reinante: Como é que se poderá consentir que se dialogue ou chegue a um princípio de acordo com partidos contrários às amarras de Portugal a esta organização? Por mais que se fuja da peste propagandiária, acabamos por esbarrar com algum excitadíssimo jornaleiro, algum azougadíssimo microfoneiro, algum reputadíssimo e refinadíssimo comentador. Todos de plantão. Todos em estado de prontidão. Todos de arma apontada para o Largo do Rato, para a Rua de Soeiro Pereira Gomes, para a Rua de D. Carlos I, para a Rua da Palma.

    UI! A NATO!

    Acontece que alguns países da União Europeia não estão na NATO: Áustria, Chipre, Finlândia, Irlanda, Malta, Suécia.

    Acontece que alguns países europeus da NATO não estão na UE: Albânia, Turquia.

    Acontece que alguns países da UE não estão na Zona Euro: Bulgária, Croácia, Dinamarca, Hungria, Polónia, Reino Unido, República Checa, Roménia, Suécia.

    Acontece que, nos anos seguintes ao derrube da ditadura fascista, tiveram assento no Governo de Portugal Democrático partidos e personalidades que não prezavam a manutenção do nosso país, mesmo como membro pouco viril desta estrutura de poder intercontinental. E a Revolução operou-se. E a mudança processou-se.

    UI! A NATO!

    E um cidadão desprevenido embrulha-se nas páginas dos jornais, tropeça nos fios auriculares (radiofónicos e televisivos). E mais grave: enquanto escuta a rádio, pode atropelar, na Rotunda do Marquês ou em Carnaxide, o gnomo Marques Mendes. E que perda digna do panteão: é das criaturas mais convictas do fim do mundo ou do seu mundo. Que risco corre esta pátria com nove séculos de história: vai baixar o IVA da restauração. Mais: vão ser revistas as sobretaxas do IRS. Mais: os reformados e funcionários públicos poderão respirar mais uns euros. Mais: as pequenas e médias empresas vão receber estímulos. Portugal não irá empobrecer tanto nem tão depressa. Que desgraça!

    Chamem a NATO. Rapidamente e em força.

    UI! UI!

    Acontece é que não há nenhuma alma caridosa que ofereça aos Marques Mendes da Praça Mediática um volumezinho da Constituição da República Portuguesa. Então, o hiperactivo MM é alienígena? Acabou de aterrar, em fraldas, numa televisão amiga? Foi deputado, ministro, chefe partidário e nunca leu a Constituição, mesmo para a rever? É que os partidos de esquerda anti-NATO limitam-se a seguir as recomendações da Lei Fundamental. Leiam, Marques! Leiam, Mendes! PCP, PEV, BE, ao colocar a NATO em questão entre os seus objectivos programáticos (que não entram nas discussões em curso) respeitam o artigo 7º. Porventura já ouviram falar do 7º? Os MM estão alheados de tudo que se relacione com a legalidade refundadora da República. E estão a criar um embaraço ideológico ao sistema: ao predicar que os partidos não advogantes da NATO têm de ser excluídos do Arco da Governação, acabam por oferecer uma arma de destruição massiva e maciça aos adversários: Democracia e NATO são incompatíveis. Assim se depreende dos escritos e ditos dos grão-natistas, dos mais ferrenhos, dos açulados, dos cavaleiros do Templo.
    Constituição da República Portuguesa

    Artigo 7.º

    1. Relações internacionais. Portugal rege-se pelos princípios da independência nacional… da solução pacífica dos conflitos internacionais, não ingerência…

    2. Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão…bem como o desarmamento geral, simultâneo e controlado, a dissolução dos blocos político-militares.

    Aqui vai. Devidamente endereçado.

    Sempre houve uma alma caridosa.


    Manifestação contra a NATO
    Organizações nacionais contestam os novos exercícios bélicos da NATO
    Dia 24 de Outubro, às 15 horas, desfile entre a Rua do Carmo e a Pr. Luís de Camões, em Lisboa


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


    aqui:http://resistir.info/c_principe/ui_a_nato.html

    GANGSTERS



     
    No meio de documentos que a Srª Hillary Clinton foi obrigada a entregar à justiça norte-americana no quadro das investigações de que está a ser alvo, por causa do desempenho como secretária de Estado de Obama, estão papéis arrepiantes. Como este: um “memorando secreto” enviado em Março de 2002 pelo então secretário de Estado, Collin Powell, ao seu presidente, George W. Bush, assegura que a realização de uma guerra contra o Iraque teria sempre o apoio do primeiro-ministro britânico, ao tempo Tony Blair. “O Reino Unido seguirá a nossa liderança”, escreveu Powell, garantindo assim a Bush que poderia começar a preparar a guerra ao receber Blair no seu rancho de Crowford, o que aconteceu em finais desse mesmo mês de Março.
    Esta informação, que corre agora tranquilamente pelas agências noticiosas internacionais, tem o conteúdo de uma bomba, mas não é como uma bomba que explode aos ouvidos e olhos dos cidadãos mundiais, duvida-se até que chegue ao conhecimento da maioria deles.
    O memorando de Powell revela que um ano antes de a invasão do Iraque se ter iniciado os Estados Unidos e o Reino Unido já tinham decidido que a fariam. Prova-se assim que as sanções contra o povo do Iraque, os arremedos de negociações e as célebres provas sobre a existência de armas de destruição massiva em território iraquiano – que o mesmo Powell se encarregou de fabricar e levar à ONU – foram manobras e mistificações para servirem de pretexto a uma decisão já tomada. A reunião das Lajes, que o governo barrosista de Portugal se dispôs a acolher, adquire, a esta luz, contornos ainda mais vergonhosos para a diplomacia portuguesa e europeia, porque se fez para fingir ao mundo que ia tomar-se uma decisão já tomada. Um faz-de-conta que, daí a dias, proporcionou o início de uma chacina de milhões de seres humanos, ainda longe de estar concluída.
    Nesse mês de Março de 2002 já as tropas da NATO se atolavam no conflito do Afeganistão para supostamente combater os talibãs, que por sua vez acolhiam o terrorista Bin Laden, um criminoso criado pelos serviços secretos dos Estados Unidos e que este mesmo país identifica como responsável pelo 11 de Setembro de 2001. Ao virar a mira contra o Iraque, os gangsters de Washington – versão engravatada dos pistoleiros do velho Oeste para consumo do novo Oeste – chegaram a acusar Saddam Hussein de ser cúmplice de Bin Laden e respectiva Al-Qaida, quando os dois eram inimigos fidagais, como não demorou muito a provar-se. Mal os Estados Unidos e os seus mais sonantes aliados da NATO tomaram Bagdade e enforcaram Saddam, o território iraquiano tornou-se base de uma miríade de grupos terroristas na qual não apenas medraram muitas variantes da Al-Qaida como nasceu o famigerado Estado Islâmico.
    Documentos como este “memorando secreto” de Collin Powell ajudam a perceber como se promovem as guerras de hoje. Para lançar as da Líbia e da Síria nem terá sido necessário um qualquer escrito de um qualquer secretário de Estado: a porta da mentira estava escancarada.
    O Médio Oriente, que já era um barril de pólvora nesse mês de Março de 2002, degenerou num foco de instabilidade militar no meio do qual é fácil detectar rastilhos mais do que suficientes para uma guerra global. Os responsáveis são conhecidos e deveriam estar a contas com tribunais que punem crimes contra a humanidade. Porém, George W. Bush e Collin Powell vivem reformas douradas; de Barroso conhecemos o rasto, desde as malfeitorias à cabeça da Comissão Europeia até ao Grupo de Bilderberg, areópago da conspiração imperial, onde ganhou assento permanente.
    E Blair? Treze anos depois te ter comunicado que “seguiria o líder” na devastação do Médio Oriente é o chefe do Quarteto para o mesmo Médio Oriente, entidade burlesca que, fiel aos interesses israelitas e aglutinando os Estados Unidos, a União Europeia, a ONU e a Rússia, finge que a chamada comunidade internacional continua à procura de uma solução para o conflito israelo-palestiniano.
    Não só por causa dessa burla, mas também, assiste-se à situação cínica e revoltante de ver a bandeira da Palestina ondular nos mastros da sede da ONU numa altura em que o povo palestiniano está cada vez mais distante do seu Estado independente e viável.
    Somos governados por gangsters e mentirosos.

     

    quinta-feira, 15 de outubro de 2015

    O "relatório" MH-17


    por Paul Craig Roberts
     
    Quando li que o relatório sobre o derrube do avião da Malaysian sobre a Ucrânia estava a ser posto nas mãos dos holandeses, soube que não haveria investigação e nenhuma atenção aos factos.

    E não houve.

    Não tenciono escrever acerca do relatório, porque a propaganda de Washington já conseguiu, pelo menos no mundo ocidental, atingir seu objectivo de lançar a culpa sobre a Rússia. Contudo, a deturpação do relatório holandês pelos media ocidentais, tais como a NPR , é tão ultrajante que faz com que este comentário seja acerca dos media e não do relatório.

    Exemplo: ouvi o correspondente da NPR em Moscovo, Corey Flintoff, dizer que o míssil a ter atingido o avião foi disparado por separatistas ucranianos aos quais falta a habilidade técnica para operar o sistema. Portanto, o míssil tinha de ser disparado por um russo.

    Não há nada no relatório holandês, seja o que for, que leve a esta conclusão. Flintoff ou é incompetente ou mentiroso ou está a exprimir a sua visão e não a conclusão do relatório.

    A única conclusão a que o relatório chega é a que já sabíamos: se um míssil Buk deitou abaixo o avião, era um míssil de fabricação russa. O relatório holandês não diz quem o disparou.

    Na verdade, o relatório não culpa a Rússia, mas coloca a culpa na Ucrânia por não fechar o espaço aéreo sobre a área em guerra. Advogados declararam em resposta ao relatório que famílias dos mortos e a própria Malaysian Airline provavelmente abrirão processos legais contra a Ucrânia por negligência.

    Naturalmente, não houve nada disto na reportagem de Flintoff.

    Como escrevi no momento da destruição do avião, os media ocidentais já tinham pronta a estória "os-russos-fizeram-isso" no momento em que se relatava o derrube. Esta estória era muito útil para Washington endurecer seus estados vassalos europeus nas sanções contra a Rússia, caso houvesse alguma discordância. O que Washington nunca explicou e os media do ocidente nunca perguntaram é: Que motivo tinha os separatistas e a Rússia para derrubar um avião da Malaysian.

    Nenhum em absoluto. O governo russo nunca permitira tal coisa. Putin teria imediatamente enforcado aquele responsável.

    A estória de Washington não faz qualquer sentido. Só um idiota podia acreditar nela.

    Que motivo tinha Washington? Muitos. A demonização da Rússia tornava impossível para governos europeus resistirem ou abandonarem as sanções económicas que Washington está a utilizar para romper relacionamentos económicos e políticos entre a Europa e a Rússia.

    O fabricante russo do míssil Buk demonstrou que se um Buk foi utilizado era de uma versão mais velha que existe só entre militares ucranianos. Desde há alguns anos os militares russos foram equipamento com uma versão substitutiva que tem uma assinatura diferente no seu impacto destrutivo. O dano ao avião da Malaysian é inconsistente com a força destrutiva do míssil Buk em serviço na Rússia. Os relatórios foram dados aos holandeses, mas não foi feito qualquer esforço para replicar e verificar a validade dos testes conduzidos pelo fabricante do míssil. Na verdade, o relatório holandês nem mesmo considera se o avião foi derrubado por caças a jacto ucraniano. O relatório é tão inútil quanto o da Comissão do 11/Set.

    Não espere qualquer reconhecimento disto pelos media ocidentais, uma colecção de pessoas que mentem para viver.

    A razão porque o Ocidente não tem futuro é que o Ocidente já não tem media, só propagandistas para agendas governamentais e corporativos e apologistas dos seus crimes. Todos os dias os comprados-e-pagos-pelos-media sustentam a Matrix que torna os povos ocidentais politicamente impotentes.

    Os media ocidentais não têm independência. Um editor de um grande jornal alemão escreveu um livro, um best-seller publicado na Alemanha, no qual declara que não só ele próprio serviu a CIA como um transmissor confiável das mentiras de Washington como também todo jornalista importante na Europa também o faz.

    Obviamente, o seu livro não foi traduzido e publicado na América.

    A NPR, como todos os media ocidentais, perdeu sua integridade. A NPR afirma ser apoiada pelos leitores. De facto, é apoiada por corporações. Preste atenção aos anúncios: "A NPR é apoiada pela corporação xyz para vender-lhe este ou aquele produto ou serviço".

    O regime George W. Bush destruiu a NPR ao nomear duas ideólogas republicanas para superintender a função pública da NPR. As duas republicanas tiveram êxito em assegurar a estabilidade de emprego, não a integridade de reportagem nem a motivação dos jornalistas da NPR.

    Como alguém que trabalhou com o presidente Reagan para acabar a Guerra Fria e a ameaça nuclear associada, estou consternado por verificar que os media ocidentais fracassaram totalmente ao ressuscitar a perspectiva do Armagedão nuclear.
     
    13/Outubro/2015
     

    Ver também:

  • O MH17 malaio foi abatido por caças do regime de Kiev – "O avião não foi atingido por um míssil"
  • Encobrimento?
  • O relatório da comissão holandesa sobre o crash do MH17 malaio "não vale o papel em que está escrito"
  • MH17: Afastar a Malásia da investigação tresanda a encobrimento
  • Surgiram provas: foi um caça dos fascistas ucranianos que derrubou o MH17 malaio
  • The MH17 Malaysian Airlines Crash: From Syria to Ukraine, When Lying Catches Up
  • MH-17: Dutch Safety Board Report Does Not Mention Supposed US Intelligence Data
  • BUK manufacturer says Russian-made air defenses ‘absolutely’ not involved in MH17 crash
  • Russia rejects Dutch report on MH17, but agrees Ukraine should have closed airspace – regulator

  • ‘MH17 report: No clear answers, means there’s no smoking gun evidence’

    O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/2015/10/13/the-mh-17-report-paul-craig-roberts/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • segunda-feira, 12 de outubro de 2015

    COP21: O clima vai bem, obrigado!

    – Como o GIEC organizou uma gigantesca transferência do dinheiro de todos os cidadãos para alguns beneficiários...


    por István E. Markó [*]
     
    Cartoon de Honzeck. Na véspera da Conferência Internacional de Paris sobre o Clima ( COP21), sucedem-se declarações alarmistas a um ritmo desenfreado, efectuadas pela colossal máquina de propaganda da ONU. Nada nos é poupado, nem a seca e os fogos florestais na Califórnia, nem o último furacão atravessando a Ásia. Qualquer acontecimento meteorológico que possa inquietar o público, ainda que pouco, é imediatamente ligado a uma [suposta] alteração climática de origem antropogénica.

    Numa entrevista recente no programa La Première (RTBF, Radio Télévision Belge Francophone), o vice-presidente do GIEC (Grupo Intergovernamental para o Estudo do Clima), o professor Jean-Pascal van Ypersele, não hesitou em nos prometer o apocalipse final: desde secas e chuvas extremamente intensas, colheitas de cereais em queda livre, uma ascensão catastrófica do nível dos oceanos... e a culpar o CO2 produzido pelo homem. E exigir que se chegue a uma descabornização total da nossa sociedade daqui até 2100! Do contrário, a temperatura da Terra aumentaria em mais de 2º C, nível para além do qual um fim atroz nos aguarda.

    O vice-presidente do GIEC parece ignorar (?) que este limite de +2º C na elevação da temperatura média do nosso planeta não repousa sobre nenhuma prova científica. Este número foi lançado por climatologistas alemães dirigidos pelo Prof. Schellnhuber, director do Potsdam Institute for Climate Impact Research, sob pressão de Angela Merkel. Mais tarde, o Prof. Schellnhuber irá declarar: "Este limite de +2º não tem nada de mágico; é somente um objectivo político. O mundo não desaparecerá imediatamente, mesmo em caso de aquecimento mais poderoso".

    Esta declaração não perturba nosso vice-presidente, que prossegue: "Se se continua no curso de desenvolvimento actual sem nada modificar, chegaremos provavelmente a +4 ou +5º a mais e isto será catastrófico para muitas populações". Mais uma vez, ele parece ignorar (?) que numerosas publicações científicas recentes revêem em baixa o impacto do aquecimento devido à duplicação da quantidade de CO2 atmosférico. O Prof. Jean Jouzel, igualmente vice-presidente do GIEC, afirmava recentemente que o aquecimento observado da Terra era da ordem de 0,01ºC por ano! Daqui a 2100 a Terra veria sua temperatura aumentar em 0,85º se nada mudasse. Estamos longe, muito longe, dos +2ºC políticos e dos extravagantes +4 a 5ºC emitidos pelas mais loucas modelizações. A não fiabilidade dos modelos climáticos foi claramente denunciada por Hans von Storch, um dos mais eminentes climatologistas alemães, que não hesita em declarar: "Os modelos climáticos são falsos em mais de 98%!" E, contudo, são os resultados erróneos destes modelos não fiáveis que servem de base de trabalho aos decisores políticos.

    CO2, O VILÃO UNIVERSAL

    O culpável é, evidentemente, o CO2 emitido pelo homem – e unicamente este. Recordemos que não há nenhuma prova científica da influência do CO2 sobre a temperatura do globo. Ao contrário, todos os estudos indicam que, durante os últimos 400 mil anos, a variação da concentração em CO2 atmosférico sempre seguiu as flutuações da temperatura, nunca o inverso. Enquanto a quantidade de CO2 emitida pelo homem não cessa de crescer desde a era industrial, um arrefecimento climático importante foi observado de 1942 a 1975, levando alguns a preverem a iminência de uma nova Era Glaciar. Desde há quase 19 anos, a temperatura média da Terra não aumentou nem um mínimo. Se o CO2 tivesse um efeito qualquer sobre a temperatura nós já o teríamos observado, não?

    Todas as previsões efectuadas pelos climatologistas modelizadores revelaram-se sempre erróneas. Todas, sem excepção! O número e a violência dos furacões diminuiu em vez de aumentar, os gelos na Antárctica não cessam de aumentar desde há cerca de 30 anos, a banquisa árctica que devia desaparecer desde 2008 está sempre lá e recupera admiravelmente, a velocidade de subida dos oceanos diminuiu fortemente, os ursos polares que estavam em vias de desaparecimento viram sua população multiplicada por sete desde 1970 e o planeta enverdeceu em 21%, em parte graças ao crescimento da taxa de CO2 atmosférico. Ao contrário das afirmações do Prof. van Ypersele: "A partir de 1º a mais, a produção de cereais como o trigo ou o arroz está ameaçada", numerosos estudos de campo mostram que o trigo e o arroz prosperam quando a taxa de CO2 na atmosfera e a temperatura aumentam (até 600 ppmv e +3ºC)! Assinalemos que existem também múltiplas variedades de trigo e de arroz resistentes a este tipo de stress.

    Quanto às energias renováveis, louvadas pelo vice-presidente do GIEC, elas não são competitivas com as energias fósseis e nucleares. Sem as gigantescas subvenções estatais pagas pelos contribuintes, estas energias intermitentes de custo exorbitante jamais teriam visto o dia. Contudo, ele obstina-se em recomendar estas soluções inoperantes que não só empobrecem a população (mais de um milhão de alemães são incapazes de pagar suas facturas energéticas) como arriscam remeter para a pobreza um número crescente dos nossos irmãos humanos. O escândalo da transferência dos pobres para os mais ricos, que podem pagar painéis solares e [veículos] Tesla S, das companhias eléctricas que enriquecem graças aos certificados verdes e dos bancos que tomam de passagem a sua parte, durou demasiado. O GIEC organizou, com a cumplicidade de certos políticos, uma gigantesca transferência do dinheiro de todos os cidadãos para alguns felizes beneficiários. Isto é uma vergonha ética... O pior é que isso foi orquestrado por partidos de esquerda.

    É triste que a climatologia, esta jovem e bela ciência, seja assim desviada para visões politiqueiras e para o dogmatismo ideológico.
     
    09/Outubro/2015
     

    Ver também:


  • Aquecimento global: uma impostura científica
  • Acerca da impostura global
  • A fábula do aquecimento global
  • A falsificação da história climática a fim de "provar" o aquecimento global
  • Climagate: O pior escândalo científico da nossa era
  • CO2: O novo tráfico de indulgências

  • mitos-climaticos.blogspot.pt

    [*] Químico, presidente da European Chemical Society, Professor da Universidade Católica de Louvaina.

    O original encontra-se em www.contrepoints.org/2015/10/09/224588-cop21-le-climat-va-bien-merci-pour-lui


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  • sábado, 10 de outubro de 2015

    O acto revolucionário de contar a verdade


    por John Pilger 
     
    "Num tempo de fraude universal, contar a verdade é um acto revolucionário", disse George Orwell.

    Estes são tempos negros, nos quais a propaganda da fraude afecta todas as nossas vidas. É como se a realidade política houvesse sido privatizada e a ilusão legitimada. A era da informação é uma era medieval. Temos política através dos media; censura através dos media; guerra através dos media; represália através dos media; diversão através dos media – uma linha de montagem surreal de clichés e falsas suposições.

    Uma tecnologia assombrosa torna-se tanto nossa amiga como nossa inimiga. Todas as vezes que ligamos um computador ou escolhemos um dispositivo digital – nossos rosários leigos – estamos sujeitos a controle: à vigilância dos nossos hábitos e rotinas, e a mentiras e manipulação.

    Edward Bernays, que inventou a expressão "relações públicas" como eufemismo para "propaganda", previu isto há mais de 80 anos. Chamou a isto "o governo invisível".

    Escreveu ele: "Aqueles que manipulam este elemento não visto da [moderna democracia] constituem um governo invisível a qual é o verdadeiro poder dominante do nosso país... Somos governados, nossas mentes são moldadas, nossos gostos formados, nossas ideias sugeridas, em grande medida por homens de que nunca ouvimos falar..."

    O objectivo deste governo invisível é a conquista de nós próprios: da nossa consciência política, do nosso sentido do mundo, da nossa capacidade para pensar independentemente, de separar verdades de mentiras.

    Isto é uma forma de fascismo, uma palavra que justificadamente usamos com cautela, preferindo deixá-la num passado hesitante. Mas um insidioso fascismo moderno é agora um perigo que se acelera. Tal como nos anos 1930, grandes mentiras são apresentadas com a regularidade de um metrónomo. Muçulmanos são maus. Fanáticos sauditas são bons. Fanáticos do ISIS são maus. A Rússia é sempre má. A China está a ficar má. Bombardear a Síria é bom. Bancos corruptos são bons. Dívida corrupta é boa. A pobreza é boa. A guerra é normal.

    Àqueles que questionam estas verdades oficiais, este extremismo, considera-se que precisam de uma lobotomia – até serem diagnosticados como aderindo à linha. A BBC proporciona este serviço gratuitamente. Se deixar de se submeter será etiquetado como um "radical" – seja o que for que isso signifique.

    A dissidência real tornou-se exótica; mas aqueles que dissidem nunca foram tão importantes. O livro que estou a lançar esta noite, "The WikiLeaks Files" [1] , é um antídoto para um fascismo que nunca pronuncia o seu nome. É um livro revolucionário, assim como a própria WikiLeaks é revolucionária – exactamente como pretendia Orwell na citação que mencionei no princípio. Pois ele diz que não precisamos aceitar estas mentiras diárias. Não precisamos permanecer em silêncio. Ou, como cantou outrora Bob Marley: "Emancipe-se da escravidão mental".

    Na introdução, Julian Assange explica que nunca é suficiente publicar as mensagens secretas dos grandes poderes: que perceber o sentido delas é crucial, assim como colocá-las no contexto de hoje e na memória histórica.

    Este é o feito notável desta antologia, a qual recupera a nossa memória. Ela conecta as razões e os crimes que provocaram tanta tempestade humana, desde o Vietname e a América Central até o Médio Oriente e a Europa do Leste, com a matriz na potência rapinante, os Estados Unidos.

    Há actualmente uma tentativa americana e europeia de destruir o governo da Síria. O primeiro-ministro David Cameron está especialmente entusiasmado. Este é o mesmo David Cameron de que me recordo como um untuoso homem de RP empregado por um desmembrador de empresas (asset stripper) da televisão comercial independente da Grã-Bretanha.

    Cameron, Obama e o sempre obsequioso François Hollande querem destruir o último remanescente da autoridade multi-cultural na Síria, uma acção que certamente abrirá caminho para os fanáticos do ISIS.

    Isto é insano, naturalmente, e a grande mentira justificando esta insanidade é que é em apoio aos sírios que se levantam contra Bashar al-Assad na Primavera Árabe. Como revela The WikiLeaks Files, a destruição da Síria é desde há muito um cínico projecto imperial que antecede o levantamento da Primavera Árabe contra Assad.

    Para os dominadores do mundo em Washington e na Europa, o verdadeiro crime da Síria não é a natureza opressiva do seu governo mas a sua independência em relação ao poder americano e israelense – assim como o verdadeiro crime do Irão é a sua independência, e o verdadeiro crime da Rússia é a sua independência, e o verdadeiro crime da China é a sua independência. Num mundo possuído pela América, a independência é intolerável.

    Este livro revela estas verdades, uma após a outra. A verdade sobre uma guerra ao terror que foi sempre uma guerra de terror; a verdade sobre Guantanamo, a verdade sobre o Iraque, o Afeganistão, a América Latina.

    Nunca contar a verdade foi tão urgentemente necessário. Com honrosas excepções, aqueles nos media pagos aparentemente para manter as coisas claras estão agora absorvidos dentro de um sistema de propaganda que já não é jornalismo, mas anti-jornalismo. Isto é verdadeiro tanto para liberais e respeitáveis como para Murdoch. A menos que esteja preparado para monitorar e desconstruir toda afirmação especiosa, as assim chamadas "notícias" tornaram-se inassistíveis e ilegíveis.

    Ao ler "The WikiLeaks Files" recordei as palavras do falecido Howard Zinn, que muitas vezes referia-se a "um poder que governos não podem suprimir". Isto descreve a WikiLeaks e descreve a verdade dos denunciantes que partilham a sua coragem.

    Numa nota pessoal, tenho conhecido pessoas da WikiLeaks desde há algum tempo. Que tenham alcançado o que fizeram em circunstâncias que não foram da sua escolha é uma fonte de admiração constante. O seu resgate de Edward Snowden vem à mente. Tal como ele, eles são heróicos: nada menos.

    O capítulo de Sarah Harrison, "Indexing the Empire", descreve como ela e seus camaradas estabeleceram toda uma Biblioteca Pública da Diplomacia dos EUA. Há mais de dois milhões de documentos, agora disponíveis para todos. "Nosso trabalho", escreve ela", "destina-se a assegurar que a história pertence a todos". Quão emocionante é ler estas palavras, as quais se mostram também um tributo à sua própria coragem.

    Do confinamento numa sala da embaixada equatoriana em Londres, a coragem de Julian Assange é uma resposta eloquente aos covardes que o enlamearam e à potência canalha que procura vingar-se sobre ele e travar uma guerra à democracia.

    Nada disto desviou Julian e seus camaradas da WikiLeaks: nem um milímetro. Não será alguma coisa?
    30/Setembro/2015 
     
    [1] The WikiLeaks Files: the World According to the US Empire é publicado pela Verso .

    O original encontra-se em http://johnpilger.com/articles/the-revolutionary-act-of-telling-the-truth


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/pilger/pilger_30set15.html 

    quinta-feira, 8 de outubro de 2015

    NATO MOBILIZA-SE EM DEFESA DO ESTADO ISLÂMICO


     



    A seita terrorista e sanguinária conhecida por “Estado Islâmico”, que também poderá designar-se Al-Qaida, Al-Nusra e Exército Livre da Síria – tiradas a limpo as consequências da existência deste – deixou de estar impune. Praticamente incólume desde que há um ano o todo-poderoso Pentágono anunciou que ia fazer-lhe guerra, bastaram-lhe agora uns dias sob fogo cerrado russo para entrar em pânico. Ou a aviação e a marinha da Rússia têm mais pontaria que as suas congéneres dos Estados Unidos da América e da NATO, o que é bastante improvável tendo em conta que não existem discrepâncias de fundo entre as tecnologias de ponta ao serviço destas potências, ou a diferença está simplesmente entre o que uns anunciam e os outros fazem. Diferença simples, mas de fundo, entre ser contra o terrorismo ou ser seu cúmplice.
    De acordo com dados divulgados por fontes moscovitas, a Aviação e os mísseis de cruzeiro disparados de navios da Armada da Rússia destruíram já 112 alvos do Estado Islâmico instalados em território sírio ocupado, danos que incluem centros de comando, centrais de comunicação, bases de operações antiaéreas, além de estarem a provocar deserções em massa e um ambiente de pânico entre os terroristas. Propaganda de Moscovo, dirão muitos, mas sem razão. A desorientação entre os mercenários recrutados através do mundo e infiltrados na Síria a partir do Iraque, da Jordânia e, sobretudo, da Turquia está à vista de quem tem olhos para ver, principalmente os espiões atlantistas, bastando-lhe acompanhar a guerra em directo transmitida pelos satélites.
    Esta realidade parece ser tão crua que, para surpresa de tantos que ainda acreditam em histórias da carochinha, induz os dirigentes norte-americanos, incluindo Obama himself, a esquecer-se das aparências e a deixar escapar uma sentida indignação com tanta eficácia russa, capaz de, numa simples semana, ter mais êxito que os seus exércitos num ano inteiro.
    Será mesmo isto que os preocupa? Talvez não. O que os responsáveis políticos e militares dos Estados Unidos alegam é que os russos, ao fazerem uma guerra tão certeira contra o terrorismo, estão a “ajudar o regime de Assad”. De onde pode deduzir-se que eles tratam o terrorismo com meiguice para não ajudar Assad, se possível para conseguir até que os bandos de assassinos a soldo derrubem Assad. Não é novidade, aliás, porque Julien Assange e Edward Snowden o revelaram através do WikiLeaks, que os Estados Unidos e os seus parceiros da NATO decretaram em 2006 o derrube do presidente sírio. Pelo que, imagine-se o atrevimento, os russos não estão a combater criminosos sanguinários mas sim a desobedecer a um decreto emanado há nove anos pelos que se olham como senhores do mundo – e dos mercados, claro está.
    Quando seria de supor, levando a sério o discurso antiterrorista que se ouve de Washington a Paris, de Londres a Bruxelas, que a NATO iria conjugar esforços com Moscovo para liquidar de vez o Estado Islâmico tanto na Síria como no Iraque, o que acontece? A aviação norte-americana provoca um banho de sangue num hospital dos Médicos Sem Fronteiras no Afeganistão, certamente um albergue dos mais fanáticos islamitas; as forças especiais de operações do Pentágono para a Síria (CJSOTF-S), que têm estado no Qatar, receberam ordem de transferência para a base da NATO de Incirlik, na Turquia, de modo a acompanhar de perto o treino de terroristas a infiltrar na Síria, terroristas “moderados”, claro, assim definidos depois de uma exaustiva avaliação pelos profilers de serviço; análise essa tão exaustiva e competente que todo o grupo de assassinos cujo treino acabou em 12 de Julho se transferiu logo depois, com bagagens e armas, para a Al-Qaida, percebendo-se agora a irritação de Washington com a eficácia russa: lá se foi o investimento em tão acarinhados terroristas, sem dúvida uns “moderados” acima de qualquer suspeita. Como se não bastasse, a NATO prepara-se para reforçar o contingente de agressão na Turquia a pretexto de supostas violações do espaço aéreo turco por aviões russos, apesar de não se lhe ouvir um pio quando caças turcos fazem operações quase diárias na Síria há vários anos. Fica assim claro que a mobilização da NATO em território turco é em defesa do terrorismo islâmico, e não para o combater.
    Ao mesmo tempo, a Arábia Saudita e o Qatar, aliados preferenciais da NATO, praticamente ao mesmo nível que Israel, perdem o amor a mais uns milhões de petrodólares para tentar rearmar o Estado Islâmico e outros do mesmo jaez, agora tornados vulneráveis pela ofensiva russa. Têm boas razões para isso, além de muitas cumplicidades: os grupos de mercenários activos na Síria e no Iraque gerem um mercado negro de petróleo através do qual se financiam e de que tiram chorudos lucros, como exportadores, não apenas as ditaduras do Golfo mas também Israel e a Turquia.
    A ofensiva russa não acabou apenas com a impunidade do Estado Islâmico e outros bandos de mercenários; põe em causa a hipocrisia da guerra oficial “contra o terrorismo” proclamada pelos Estados Unidos e a NATO – que tem como exemplos mais trágicos as situações no Iraque, na Líbia e na Síria.

     

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