quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Mudanças Climáticas

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À respeito das últimas reportagens publicadas no jornal ODIA sobre mudanças climáticas, venho aqui alertar para alguns erros cometidos.
Logo de cara, o erro começa por afirmar que o homem manipula o clima da Terra. Ora, o planeta tem 510 milhões de quilômetros quadrados donde 71% são oceanos. As cidades ocupam apenas 1% de todo o planeta. Podíamos encerrar a discussão por aqui, não é?? Pois bem; vamos ao tão falado limite de não ultrapassar o limite de 2ºC. Caso contrário, a humanidade e as espécies estariam fadadas ao caos climático. Só que não!!! A tão falada e idolatrada meta de 2ºC foi citada por um físico e também não tem qualquer base científica: trata-se de uma criação “política” do físico Hans-Joachim Schellnhuber, assessor científico do governo alemão, como admitido por ele próprio, em uma entrevista à revista Der Spiegel (17/10/2010).
Desde que o IPCC foi criado em 1988 que nos dizem as mesmas patifarias, as mesmas bobagens. Estamos em 2015, ou seja, são exatos 27 anos nos repetindo os jargões de sempre sem qualquer base científica. Mais de 600 “cientistas” se é que se pode chamar assim, pediram para sair do IPCC por causa da falta de provas e forçantes inseridas em seus relatórios para colocar os humanos como causadores das mudanças climáticas. Ora, outro termo ridículo, pois o que mais faz o clima da Terra é mudar. Só para constar alguns dados:
Entre 12.900 e 11.600 anos atrás, no período frio denominado Novo Dryas, as temperaturas caíram cerca de 8ºC em menos de 50 anos e, ao término dele, voltaram a subir na mesma proporção, em pouco mais de meio século. Cadê a influência humana???
Quanto ao nível do mar, ele subiu cerca de 120 metros, entre 18.000 e 6.000 anos atrás, o que equivale a uma taxa média de 1 metro por século, suficientemente rápida para impactar visualmente as gerações sucessivas das populações que habitavam as margens continentais. No período entre 14.650 e 14.300 anos atrás, a elevação foi ainda mais acelerada, atingindo cerca de 14 metros em apenas 350 anos – média de 4 metros por século. No Holoceno Médio, há 6.000-8.000 anos, as temperaturas médias chegaram a ser 2ºC a 3ºC superiores às atuais, enquanto os níveis do mar atingiram até 3 metros acima do atual. Igualmente, nos períodos quentes conhecidos como Minoano (1500-1200 a.C.), Romano (séc. VI a.C.-V d.C.) e Medieval (séc. X-XIII d.C.), as temperaturas médias foram mais de 1ºC superiores às atuais. Registros mais recentes, das décadas de 1930 e 1940, em que o Sol esteve mais ativo, mostram que as suas temperaturas observadas, também, foram maiores que as atuais.Cadê a influência humana e as altas concentrações de CO@?? Somente as ações de um El Niño, La Niña ou uma ODP (Oscilação Decadal do Pacífico), causam mudanças de temperatura globais bem expressivas. Mas ai vem a turminha do apocalipse e aceita as informações que a temperatura subiu 1,02ºC (que precisão não é??). Só que não. Hoje, infelizmente vivemos uma onda de informações que proveem de modelos de clima, gerados em computadores que dão os resultados que eu quero. Ou seja, quanto mais CO2 eu colocar nos modelos, mais resultados catastróficos eles irão gerar. Só que estes modelos não incluem: ciclo solar, vapor de água, nuvens, vulcões, raios cósmicos dentre outros fatores, estes sim, determinantes para a variação climática. Curioso não é?? Curioso também, que ninguém conteste estas informações. O IPCC não é uma bíblia climática, não há consenso científico como vocês afirmam e devemos combater um terrorismo climático que foi criado por chefes de Estado, ONGs e outros departamentos. Devemos combater as fraudes do IPCC em seus relatórios, manipulação de dados de satélites, dados trocados, desaparecimento de séries históricas, dentre outras coisas. Tudo isso para provar uma pseudociência. Estranho ninguém abordar que o Congresso Americano entrou com pedido de investigação nos estudos relacionados ao clima, sob forte suspeita de adulteração de dados (o que já foi comprovado por milhares de cientistas sérios).
Ademais, ao conferir ao dióxido de carbono (CO₂) e outros gases produzidos pelas atividades humanas o papel de principais protagonistas da dinâmica climática, a hipótese do AGA simplifica e distorce um processo extremamente complexo, no qual interagem fatores astrofísicos, atmosféricos, oceânicos, geológicos, geomorfológicos e biológicos, que a Ciência apenas começa a entender em sua abrangência. Em adição, as emissões de CO₂ de fontes antrópicas são ínfimas, quando comparadas às emissões de fontes naturais. Oceanos, solos, vegetação e vulcões injetam cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono anualmente (GtC/a) na atmosfera, enquanto as emissões antrópicas são inferiores a 7 GtC/a. Este total representa cerca de 3% das emissões por fontes naturais, que apresentam uma incerteza de ± 20% (±40 GtC/a) – ou seja, a faixa de incertezas das fontes naturais, por si só, é uma ordem de grandeza superior às fontes antrópicas.
Um exemplo dos riscos dessa simplificação é a possibilidade real de que o período até a década de 2030 experimente um considerável resfriamento, em vez de aquecimento, devido ao efeito combinado de um período de baixa atividade solar (ciclo 25) e de uma fase de resfriamento do oceano Pacífico (Oscilação Decadal do Pacífico-ODP), em um cenário semelhante ao verificado entre 1947 e 1976. Vale observar que, naquele intervalo, o Brasil experimentou uma redução de 10-30% nas chuvas, o que acarretou problemas de abastecimento de água e geração elétrica, além de um aumento das geadas fortes, que muito contribuíram para erradicar o café no Paraná. Se tais condições se repetirem (e se repetiram), o País poderá ter sérios problemas, inclusive, nas áreas de expansão da fronteira agrícola das regiões Centro-Oeste e Norte e na geração hidrelétrica (particularmente, considerando a proliferação de reservatórios “a fio d’água”, impostos pelas restrições ambientais adotadas nas últimas décadas).
Uma vez que as emissões antropogênicas de carbono não provocam impactos verificáveis no clima global, toda a agenda da “descarbonização” da economia, ou “economia de baixo carbono”, se torna desnecessária e contraproducente – sendo, na verdade, uma pseudo-solução para um problema ou crise inexistente. A insistência na sua manutenção, por força da inércia do status quo, não implicará em qualquer efeito sobre o clima, mas tenderá a aprofundar os seus numerosos impactos negativos.
O principal deles é o encarecimento desnecessário das tarifas de energia e de uma série de atividades econômicas, em razão de: a) os pesados subsídios concedidos à exploração de fontes energéticas de baixa eficiência, como a eólica e solar – ademais, inaptas para a geração elétrica de base (e já em retração na União Europeia, que investiu fortemente nelas); b) a imposição de cotas e taxas vinculadas às emissões de carbono, como fizeram a União Europeia, para viabilizar o seu mercado de créditos de carbono, e a Austrália, sob grande rejeição popular, o que levou o atual governo australiano a reduzir drasticamente o alcance da medida; c) a imposição de medidas de captura e sequestro de carbono (CCS) a várias atividades. É oportuno recordar que o UBS, um dos maiores bancos do mundo, em relatório apresentado aos seus clientes, no início de 2013, alertou que a União Europeia já perdeu cerca de US$ 280 bilhões com o Sistema de Comércio de Emissões (ETS) e que o Parlamento Europeu rejeitou, em abril de 2103, propostas para salvar este sistema do colapso.
Os principais beneficiários de tais medidas têm sido os fornecedores de equipamentos e serviços de CCS e os participantes dos intrinsecamente inúteis mercados de carbono, que não têm qualquer fundamento econômico real e se sustentam tão-somente em uma demanda artificial criada sobre uma necessidade inexistente. Vale acrescentar que tais mercados têm se prestado a toda sorte de atividades fraudulentas, inclusive no Brasil, onde já se verificaram, entre outras, ilegalidades em contratos de carbono envolvendo tribos indígenas, na Amazônia, e a criação irregular de áreas de proteção ambiental para tais finalidades escusas, no Estado de São Paulo.
Ressalte-se, ainda, que a Alemanha está construindo 23 novas termelétricas a carvão, das quais cinco serão abastecidas com linhito (brown coal, com alto teor de enxofre, este sim, o principal poluente encontrado nos combustíveis fósseis). A potência a ser instalada é muito expressiva, com 12 GW, da mesma ordem de grandeza que Itaipu (cuja potência instalada é de 14 GW, mas que, em média, gera 60% desta potência). O Japão, terra do Protocolo de Kyoto, após o incidente de Fukushima, interrompeu a operação das centrais nucleares e está usando as termelétricas. Assim sendo, se tais países adotaram estas medidas internas, por que o Brasil tem que se submeter ao discurso da “descarbonização”, pregado por outros países, que o estão contrariando?
Em um dos relatórios do IPCC eles afirmaram que durante 15 anos, de 1990 a 2005, o aquecimento tinha ocorrido a uma taxa de 0,2°C por década, e previu que isso continuaria nos 20 anos seguintes, com base nas previsões feitas pelos modelos climáticos computadorizados.
Mas o novo relatório diz que o aquecimento observado durante os últimos 15 anos até 2012 foi de apenas 0,05°C por década – abaixo de praticamente todas as previsões de computadores, além de ser uma taxa ridícula, considerando a margem de erro, o que invalida a questão. Além disso, os estudos do Met Office são falhos e cheio de erros conforme matéria World’s top climate scientists confess: Global warming is just QUARTER
Ah!! Tem uma coisa muito importante: o CO2 não é poluente, ele é o gás da vida.
Nós e os animais não produzimos a comida que ingerimos. Quem o faz são as plantas, via fotossíntese, por meio da qual retiram o CO₂ do ar e o transformam em amidos, açúcares e fibras dos quais nos alimentamos. Na hipótese absurda de eliminar o CO₂, a vida acabaria na Terra. Fora a física impossível do CO2 e de a Terra ser uma estufahttp://www.icat.ufal.br/laboratorio/clima/data/uploads/pdf/REFLEX%C3%95ES_EFEITO-ESTUFA_V2.pdf
Dados sérios e corretos é o que não faltam. Basta pesquisar um pouco e não ficar seguindo uma ciência que mais parece um Nostradamus. Chegamos ao ponto do ridículo, porém, com estudo e uma base sólida podemos sair dele.O Brasil não deve assinar nenhum acordo, pois iria gerar quebra de soberania. As chamadas energias verdes de verde não tem nada, é condenar países a miséria. O que veremos nesta próxima reunião (CVOP21) será mais um teatro midiático de pessoas, burocratas, líderes de ONGs, todos eles de barriguinha cheia, muito bonitinhos e arrumados pregando um discurso: faça o que eu digo, mas não faça o que faço, impondo leis, taxas e tratados. Pois é claro, se eu e vc pagarmos bem caro o “clima” da Terra é consertado, caso contrário…
 
Atenciosamente
Prof. Esp. Igor Vaz Maquieira (Biólogo e Esp. em Gestão Ambiental)
Membro da equipe FakeClimate.
 

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Evidência - Domenico Losurdo



Quantos livros foram escritos para assimilar o comunismo ao nazismo ou ao fascismo, como formas diversas de ditaduras ou de regimes totalitários? Porem, se estudamos a história da Rússia do século 20, damo-nos conta de que a ideologia e os métodos que depois se tornaram próprios do fascismo e do nazismo emergem e se desenvolvem progressivamente como reação exatamente ao movimento revolucionário russo.


Domenico Losurdo

O ovo da serpente

por


É repetido à exaustão para ser interiorizado pela população o critério sem suporte constitucional do governo pela coligação “que ganhou as eleições”, como se não tivesse que ser aprovado e prestar contas no Parlamento, como se contra ele uma maioria de votos nas eleições não se tivesse expressado contra esse mesmo governo. Como se esses eleitores não tivessem direitos legítimos sobre quem ficou em minoria por ter obtido menos 700 mil votos do que os que o vetaram!
Como governaria esse governo não são capazes de explicar. Apenas exprimem um facciosismo irracional que leve as pessoas a culpabilizar a Constituição, por permitir, como já foi afirmado, uma ditadura da AR, no fundo apelando a uma ditadura deste PR…como Portas insinuou à saída de Belém.
O governo da direita só poderia perdurar se a AR para nada contasse ou simplesmente metessem o PS no bolso do casaco do Cavaco.
Para o CDS é “ilegítimo” partidos com assento parlamentar serem livres de estabelecer acordos pós eleitorais, isto é, outros que não eles! Só eles se arrogam o direito de poder ganhar eleições e governar, mesmo com base na mentira, e propalar para a opinião pública situações á margem da constituição como “legítimas”.
Comentadores que saudavam o PSD-CDS “por estar a fazer o que tinha de ser feito” e “se não fosse a troika deitávamo-nos a dormir e não fazíamos nada” (J. Gomes Ferreira) agora tornaram-se cartesianos e não cansam de expor sistemáticas dúvidas existenciais.
O CDS cumpre o papel de extrema-direita que lhe cabe na coligação. O governo é “politicamente ilegítimo”. Porquê’? É a minoria a governar… Quando a minoria são eles! Um partido responsável pela maior recessão económica, maior desemprego, aumento do endividamento, maior quebra do investimento, emigração, destruição das funções sociais do Estado, etc., tem a prosápia de já estar a imputar estas situações ao novo governo.
Estes discursos são o “ovo da serpente” fascista que se irá ampliando á medida que as inevitáveis dificuldades governativas forem ocorrendo, dada a situação de descalabro em que a direita deixou o país, recorde-se, com o apoio ativo do PR e dos comentadores de serviço.
Os textos e intervenções da direita/extrema-direita, não podem ser ignorados. Estão eivados de irracionalismo, parecem de gente descontrolada, que procura instilar paranoias  na população. A veemência e agressividade da mentira e da calúnia pretende inibir reações e constranger ouvintes e leitores. Torna-los incapazes de contestação.
Menosprezar a estratégia de extrema-direita que está a ser implementada, trata-los como intelectualmente perturbados ou ridículos, é perigoso.
O neofascismo da direita nasce desta sementeira de ódios. È o que se tem visto noutros países, foi a estratégia da direita após o 25 de ABRIL.
 

Não basta condenar*

por Jorge Cadima 

É intolerável que as mesmas forças políticas, económicas e mediáticas que multiplicam palavras de indignação contra o terrorismo fundamentalista em Paris, prossigam no seu criminoso apoio, promoção, financiamento e armamento desse mesmo terrorismo fundamentalista, quando ele se dirige contra países soberanos que não estão sob o controlo do imperialismo, como tem sido o caso na Síria ou Líbia.


Para além da necessária e firme condenação, a criminosa carnificina de Paris obriga a extrair conclusões políticas. É intolerável que as mesmas forças políticas, económicas e mediáticas que multiplicam palavras de indignação contra o terrorismo fundamentalista em Paris, prossigam no seu criminoso apoio, promoção, financiamento e armamento desse mesmo terrorismo fundamentalista, quando ele se dirige contra países soberanos que não estão sob o controlo do imperialismo, como tem sido o caso na Síria ou Líbia. O caos, destruição e morte em Paris são filhos do caos, destruição e morte que – numa escala incomparavelmente maior, e como resultado das agressões directas ou indirectas do imperialismo – têm destruído países e regiões inteiras e gerado a vaga de refugiados que agora chega à Europa.

Não é admissível que haja silêncio ou conivência com os actos de terrorismo em Beirute, Bagdade ou Damasco – cometidos pelas mesmas forças que agora massacraram em Paris. E não é admissível que se finja que o terrorismo não tem padrinhos ao mais alto nível do poder político das grandes potências imperialistas e seus mais fiéis aliados. Padrinhos que usam o terrorismo como arma contra países e governos que não cumprem ordens. Quem pode negar tal facto, quando são os próprios padrinhos que o confessam? Zbigniew Brzezinski, ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA reivindicou numa famosa entrevista à revista Nouvel Observateur (15.1.98) o patrocínio norte-americano aos fundamentalistas afegãos em 1979. Orgulhosamente, esclareceu que ao contrário da «versão oficial da história» esse apoio ao terrorismo fundamentalista não foi feito para combater a entrada de tropas soviéticas no Afeganistão (que apenas se deu mais tarde), mas para as «atrair para a ratoeira afegã». Não foi essa a primeira nem a última vez que o imperialismo recorreu ao terrorismo. Longe disso. Existe um fio condutor que liga os atentados terroristas das «redes Gládio» na Europa ocidental (nomeadamente em Itália), os «contras» nicaraguenses, as UNITAs e Renamos em África, a rede bombista no Portugal de 1975, e as Al-Qaedas, os «rebeldes sírios» e o ISIS, sem esquecer os massacres dos fascistas ucranianos. Esse fio condutor está nos apoios, abertos ou encapotados, do imperialismo, dos seus serviços secretos e militares, dos seus agentes e aliados no plano nacional ou regional. Em Outubro de 2014, o vice-presidente dos EUA afirmou em público que «os nossos aliados» Turquia, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos «despejaram centenas de milhões de dólares e dezenas de toneladas de armas nas mãos de quem quer que lutasse contra [o presidente sírio] Assad – só que quem os recebia eram a [Frente] al-Nusra e a Al-Qaeda e os elementos do jihadismo que vinham de todas as partes do mundo. […] Onde foi isto tudo parar? […n]esta organização chamada ISIL, que era a Al-Qaeda no Iraque […] E nós não conseguimos convencer os nossos aliados a parar de os abastecer» (Washington Post, 6.10.14). Mas os aliados não deixaram de o ser e o ISIS continuou a crescer. Biden é um falso ingénuo. Também o General Wesley Clark, comandante das tropas da NATO na guerra contra a Jugoslávia, confessou à CNN (18.2.15) que «o ISIS foi criado através do financiamento dos nossos amigos e aliados, porque como as pessoas da região lhe dirão ’se queremos alguém que combata até à morte contra o Hezbollah […] procuram-se os fanáticos e arregimentam-se os fundamentalistas religiosos – é assim que se combate o Hezbollah’». E é também assim que, no espaço de 24 horas, se deram os massacres terroristas no Sul de Beirute (43 mortos, 239 feridos) – alvejando os civis nos bastiões do Hezbollah – e os massacres de Paris.

Só nos faltava que as potências imperialistas que alimentaram o monstro venham agora usar os massacres de Paris para, invocando o combate ao ISIS, justificar uma escalada de guerra. Foi precisamente o que aconteceu após o 11 de Setembro, com as consequências dramáticas que estão hoje à vista.

*Este artigo foi publicado no “Avante!” nº 2190, 19.11.2015

aqui:http://www.odiario.info/?p=3835

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O CAOS DESCE SOBRE A EUROPA




 

Olhemos para a Europa de hoje.
Estado de emergência em França pelo menos durante três meses, no país onde a privacidade dos cidadãos deixou de ser um direito fundamental e o chefe de Estado pretende alterar a Constituição invocando a versão mais recente da chamada “guerra contra o terrorismo”, formulação de péssima memória.
Instauração de comportamentos próprios de Estados policiais em vários países da União Europeia, assim se informando os terroristas de que os seus objectivos de intimidação se estendem bem para lá dos atentados, instalando-se pela coacção psicológica e através da atemorização imposta pelos meios ditos de resposta, estratégia em que o comportamento da comunicação oficial alinhada nada tem de inocente.
Reforço das tendências xenófobas, racistas e persecutórias contra minorias, cada vez mais agravadas, e a ritmo exponencial, pela chegada massiva de refugiados e o modo como é encarada pelos governos e respectivos megafones. Vaga de refugiados que chega dos países artificialmente desmantelados com a colaboração de dirigentes europeus e de onde brota também o terrorismo.
Multiplicação de muros e barreiras através do espaço europeu como parte do combate aos refugiados e reforço dos controlos de fronteiras ao compasso da falsa dicotomia entre segurança e serviços de espionagem, absolutizados estes em sintonia com os venenosos sound-bites que pregam a necessidade de um big brother para garantir “o nosso civilizado modo de vida”.
Institucionalização do revanchismo nazi com a cumplicidade da NATO, o que é evidente em países como a Estónia, a Letónia, a Ucrânia – onde o regime foi instalado com a cumplicidade da União Europeia – Hungria, Polónia, Eslováquia, Bósnia, Croácia, território do Kosovo, a par de ameaças concretas de se tornar poder em países como a França.
Desagregação irreversível da União Europeia, enredada na teia de erros impostos arbitrariamente para combater erros, tudo em defesa do austeritário neoliberalismo, da ditadura financeira e de uma moeda cruel num cenário generalizado de catástrofe social que as desumanas políticas governamentais aprofundam.
A lista de factos poderia continuar e está na mente e nas reais inquietações dos cidadãos. Esta é a Europa que temos, nas mãos de irresponsáveis insensíveis, robots tecnocráticos cujas políticas militaristas e de agressão, com recurso comprovado ao terrorismo, estão na origem do ricochete que vitima civis inocentes já de si inquietos com as limitações à sobrevivência num duro dia-a-dia.
Muitos dos poucos que conhecem a “teoria do caos” idealizada nos anos setenta pelo lobista israelita de nacionalidade norte-americana Leo Strauss, depois recriada e aplicada por Paul Wolfowitz, Cheney, Powell, Rumsfeld e outros membros do gang neoconservador, consideram-na o suprassumo da “teoria da conspiração”.
Acham irrelevante que Wolfowitz seja igualmente um lobista israelita de nacionalidade norte-americana; omitem que ele mesmo, como membro da administração Bush filho, ajudou a criar as condições para a invasão e desmantelamento do Iraque; não admitem que esta operação seja a fonte original do caos gerado no Médio Oriente, escorrendo agora para a Europa enquanto os Estados Unidos se barricam contra as consequências.
Recordando: a “teoria do caos” estabelece que nenhuma potência mundial pode ter condições para rivalizar com os Estados Unidos da América, devendo a União Europeia manter-se sob o controlo político, económico e militar norte-americano. Nem que, para tal, seja preciso nela instalar o caos.
No estado a que as coisas chegaram, porém, o menos importante é concluir se estamos ou não perante uma “teoria da conspiração”. Porque poucos terão dúvidas de que o caos desce sobre a Europa perante uma União Europeia em agonia. Os dirigentes europeus foram no engodo e, um após outro, engoliram todos os sucessivos iscos lançados por Reagan, Bushes, Clintons, Obama e demais padrinhos de Washington que daí lavam as suas mãos enquanto continuam a fingir que nada têm a ver com o Estado Islâmico, a Al-Qaida, al-Nusra e outras comunidades de assassinos a soldo onde também pode encontrar-se o dedo sangrento dos serviços secretos israelitas.

aqui:http://mundocaohoje.blogspot.pt/2015/11/o-caos-desce-sobre-europa.html

A estratégia da direita e a teoria do PREC 2


por Daniel Vaz de Carvalho

"As ideias justas sempre vencerão"
Álvaro Cunhal
1 – Acerca do "PREC"

Quando o líder do CDS afirmou que um governo do PS com apoios à esquerda seria o PREC 2, revelou a estratégia que a direita se propõe seguir. Para parte da população, da qual a maioria não seria ainda nascida ou não teria idade para o qualificar devidamente, o PREC teria sido uma espécie de terrorismo de Estado sob a égide do PCP.

Não admira que assim seja, é esta a imagem que a comunicação social passa ou deixa passar. Trata-se do processo de destruição da memória de que falava Miguel Urbano Rodrigues. [1] Mas o apagamento faz-se mesmo quanto ao que se passou nos últimos quatro anos.

O dito PREC, Processo Revolucionário em Curso, é usado através da calúnia, como arma ideológica contra as forças progressistas. Oculta-se que nesse período foram estabelecidos direitos laborais e sociais, salário mínimo, o embrião de serviço nacional de saúde, criados mecanismos de apoio às PME e de planeamento económico, estabelecida uma reforma agrária, etc, bases fundamentais para o desenvolvimento do país, além de que ter sido elaborada uma Constituição progressista.

Gen. Vasco Gonçalves, foto de Henrique Matos. Tudo isto face à conspiração da direita, à sabotagem económica dos monopólios, dos esforços da dita "extrema-esquerda" objetivamente aliada à direita no combate às forças que consequentemente defendiam o 25 de ABRIL. Tudo para desestabilizar o país e afastar largas camadas da população do que era efetivamente um processo revolucionário no sentido de alterar as estruturas económicas e sociais provenientes do fascismo. A batalha da produção proposta pelo primeiro-ministro Vasco Gonçalves foi ridicularizada. O humor reacionário fazia campanha pela desinformação e a boçalidade da extrema-direita.

A direita, aliada à extrema-direita, passou ao terrorismo, algo completamente omitido. Em Portugal, entre Maio de 1975 e meados de 1977 foram cometidas quase 600 ações terroristas: bombas, assaltos, incêndios, espancamentos, atentados a tiro. Mais de uma dezena de mortes, dezenas de feridos, milhares de pessoas perseguidas, aterrorizadas, às quais ou às famílias não foi dada qualquer compensação ou satisfação. Uma muralha do silêncio e cumplicidades acompanhou os crimes. O PCP e seus aliados do MDP/CDE foram as principais vítimas.

Com o 25 de ABRIL a direita queria apenas que "alguma coisa mudasse para ficar tudo na mesma". A simples possibilidade de governos que não se definissem em função dos interesses dos monopólios e dos latifundiários, deixava-a exasperada, procedendo a golpes reacionários e ataques ao regime democrático em construção. No entanto, só após a derrota da intentona reacionária do 28 de setembro de 1974 se pode falar em orientações de esquerda; só após o falhado golpe militar da direita em 11 de março de 1975 se começa a desenhar uma via de transição socializante. As nacionalizações impuseram-se para defender o país e a sua economia da sabotagem em curso.

2 – As estratégias da direita

As ameaças da direita denunciam a fragilidade do seu poder à revelia dos interesses nacionais e populares. A sua argumentação baseia-se em conjeturas e cenários que eles próprios ficcionam para validarem as suas opções e na repetição exaustiva de ideias falsas. [2]

Na realidade, uns 90% da informação veicula os conceitos da direita e grande parte da restante não ia além de uma equidistância, desmascarada na presente situação. Além disto, nas entrevistas com personalidades da esquerda as perguntas não passam, na maioria dos casos, de disfarçadas respostas que a direita dá às questões. Para impedir que as políticas de esquerda sejam percetíveis ou criem empatia nos ouvintes, "moderadores" interrompem com sucessivas perguntas e os intervenientes da direita começam a falar ao mesmo tempo.

Após a grandiosa manifestação popular dos 100 mil em 6 de junho, a direita orquestrou uma estratégia com o apoio da comunicação social controlada e de especialistas de promoção eleitoral, que fez passar o PSD-CDS de 27 ou 28% nas sondagens para 38%.

A direita procura juntar sectores do patronato e grandes proprietários da CAP para promover ações de desestabilização, que sirvam de argumento para um PR de direita anular as eleições. Apareceu também um manifesto de 100 empresários muito preocupados com o investimento – tal como depois do 25 de ABRIL. No entanto, nada os motivou quando as políticas de direita fizeram cair o investimento (FBCF) para quase metade de 2000 a 2014.

Lança-se a velha calúnia do "partido estalinista" contra o PCP, partido lutador e fundador da democracia e da Constituição. "Um partido que até está presente nas comemorações do 1º de MAIO em Cuba"! (Helena Matos).

Acusam os partidos à esquerda do PS de "coletivismo" e de ser contra a "iniciativa privada" quando têm sido, em particular o PCP, os maiores defensores das MPME, contra os seus verdadeiros inimigos: o capitalismo monopolista, as políticas de direita.

Miguel Sousa Tavares diz que o "acordo é politicamente abusivo: seria preciso saber que é esta a vontade dos eleitores do PS para que não fosse abusivo". A questão não foi posta nos acordos à direita quando CDS e PSD diziam coisas diferentes em relação à UE, ou quando no governo rasgaram os seus programas eleitorais, nem mesmo quanto à aprovação dos "intocáveis" tratados europeus.

José Rodrigues dos Santos diz "uma coisa que ninguém sabe é que o fascismo é uma corrente gémea do bolchevismo comunista" que dá "no caso dos alemães o nazismo". Num destrambelhado texto no DN, António Barreto fala dos deputados "inúteis", "preguiçosos" no "circo de S. Bento".

O reacionarismo não tem outras armas senão a mentira, o obscurantismo, a calúnia, quando não a estupidez malévola. O marxismo é um humanismo, herdeiro do que mais avançado e puro vinha da tradição humanista da Renascença e do iluminismo do século. XVIII.

A direita vai ao ponto de acusar que um governo do PS apoiado à esquerda seria um "golpe de Estado". Mas um "golpe de Estado" contra quê? Contra "a tradição"! De cabeça perdida, escuda-se nos mais atamancados argumentos com o objetivo de destruir a hipótese de um governo que corrija alguns dos desmandos da direita no poder e consequências da austeridade.

A diatribe de P. Portas à saída de Belém, dizendo que "um governo PS pode ter expressão numérica mas é ilegítimo", mostra a desorientação da direita que não consegue articular um raciocínio lógico e ainda menos conforme à Constituição, que procura tripudiar a seu contento.

Muito simplesmente a direita não aceita a vontade expressa de 2,7 milhões de eleitores contra as suas políticas não hesitando em fazer apelos a conflitos das instituições da UE e outras com um governo que não seja o seu. Para a direita, o acordo do PS seria contra o voto dos portugueses, ou seja 1 milhão de eleitores não só não tem direito a ser governo como nem sequer lhes admitem apoiar um governo! O recurso ao absurdo e o hábito de mentir da direita tornou-se uma segunda natureza.

3 - Perfil de um PR da direita

Para Cavaco Silva (o PR que ignorava os Lusíadas e confundia a Utopia, baseada nas descrições de um marinheiro português, com a Montanha Mágica ou Os Buddenbrook…), inepto, inculto, conflituoso, como não pode dissolver a assembleia propôs-se ignorar os resultados.

A audição do PR a banqueiros e economistas alinhados à direita mostra que no neoliberalismo o que conta não é "um cidadão um voto", mas "1 euro um voto". O que denuncia tiques do corporativismo fascista.

O que preocupa o PR não é a pobreza, o desemprego, a emigração, são os "tratados europeus". Assume-se não como o PR de todos os portugueses mas como o representante dos interesses de Bruxelas-Berlim em Portugal, independentemente do que esses tratados representaram e representam de prejuízo para Portugal.

Os números da pobreza, da estagnação económica, do endividamento, passam ao lado das elucubrações da direita. No mesmo sentido, aí está o "bom caminho" que o PSD-CDS alardeia e os "resultados alcançados" que o PR defende.

Fala nos "cofres cheios" ignorando o endividamento das empresas e famílias, as penhoras, os 50 mil milhões de euros de aumento da dívida pública de responsabilidade da direita e o esmagador serviço de dívida.

O PR que arrogantemente afirmava que "tinha estudado todos os cenários" – da mesma forma que no caso BES?! – enreda-se em audições, como justificação para não "ter em conta os resultados eleitorais" dando crédito à bizarra teoria, sem suporte constitucional, do governo "que ganhou as eleições".

A direita, com o apoio do PR, procurou a cisão no PS e abandonou fingidos "consensos", pois "não queria governar com o programa do PS", tendo apenas em vista a submissão do PS a um governo PSD-CDS. Nesta circunstância o PS deixaria de fazer sentido na vida nacional. Que espécie de governo "estável" seria o da direita sem apoio parlamentar? Mas tal não foi incómodo para o PR.

Ficcionam-se divergências nos acordos para viabilizar um governo PS com apoios à sua esquerda. Faz-se por esquecer os desentendimentos, demissões, escândalos, contradições, entre ministros do PSD e do CDS, que duraram toda a governação até ao momento em que entraram em pré-campanha eleitoral, com o tempo que o PR lhes ofereceu.

A direita como não pode promover eleições fraudulentas como no fascismo salazarista, trata de procurar anula-las, até ter um resultado que lhes seja favorável. A tão provocatória como absurda ideia de revisão da Constituição que o permitisse, destinou-se apenas a exaltar ânimos irracionais numa população que se procura traumatizar com o agitar de calúnias.

No entanto, um governo PS apoiado à sua esquerda, será apenas um governo centro esquerda, mas basta isto para pôr em pânico e desencadear a ira da direita. Afastar-se dos ditames neoliberais é então ser radical! Radicalismo não é aumentar a pobreza e acabar com as funções sociais do Estado: é procurar reduzir a pobreza e dar algum sentido social à economia,

O desastre que a direita provocou ao país não incomoda o PR cujas opções ideológicas se evidenciam ignorando as consequências económicas e sociais e da austeridade. De facto, para a direita a austeridade não é o problema, é a solução para salvar a oligarquia monopolista e especuladora!

4 - A tradição da direita… é o que sempre foi

O derradeiro argumento da direita é o da tradição, o que mostra a fragilidade da sua argumentação. A tradição da direita são as desigualdades, "lagarta gorda em terra mesquinha" (Aquilino Ribeiro) com os 25 mais ricos a deterem quase 10% do RN. Pobreza exposta à caridade que serve para evitar que os ricos não sejam como os camelos que não passam pelo fundo da agulha (segundo o Evangelho).

Ter direitos laborais não faz parte da tradição da direita, tendo sempre de ser reduzidos por prejudicarem a "competitividade". O argumento é o mesmo desde o século XIX e os direitos foram arrancados somente através de duras lutas sindicais e populares.

A tradição da direita é não haver "Estado Social", por isso comentadores esmeram-se a demonstrar que não é mais possível existir, de acordo com as "regras europeias". As regras são para cumprir, as funções sociais do Estado, não. Educação, saúde, cultura é para quem pode pagar, quanto aos outros a Igreja católica que trate deles. É a tradição…

A propaganda da direita segue a tradição fascista do "caminhando para uma vida melhor" (programa da EN) enquanto o país ficava cada vez mais atrasado e desigual. A tradição da direita é a emigração forçada em massa, o PSD/CDS seguiram-na, incentivaram-na…

A tradição da direita quanto à liberdade e democracia tem o mesmo carácter que as "liberdades medievais" que os senhores feudais reclamavam quando eram tomadas medidas a favor dos interesses populares.

A sua tradição é a das "medidas de segurança" (em reminiscência do salazarismo) com que querem tirar direitos constitucionais aos eleitores à esquerda do PS – ou mesmo ao PS se este se inclinar para a esquerda!

A tradição em política é das ideias mais estúpidas a que a direita se agarrou no seu reacionarismo. Se assim fosse, Portugal nunca chegaria a ser um país, não lutava pela independência em 1383-1385, não a recuperaria em 1640 – data que quiseram esquecer – nem faria uma Constituição em 1820, nem derrubaria a ditadura fascista no 25 de ABRIL.

Não, da "tradição" da direita basta. A verdadeira tradição do país que lutou pela sua independência, pela liberdade e pelo progresso é e será: fascismo nunca mais, 25 de ABRIL, sempre!
 
21/Novembro/2015
 
[1] A recuperação da memória na luta dos Povos , Miguel Urbano Rodrigues,
[2] Sete ideias falsas instiladas pelo governo PSD-CDS , João Oliveira,


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A estratégia do caos

por Manlio Dinucci

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Bandeiras a meio mastro nos países da Otan pelo "11 de setembro da França", enquanto o presidente Obama anunncia aos meios de comunicação : "Nós lhes forneceremos informações sérias sobre quem são os responsáveis". Sem que seja necessário esperar, já está claro. O enésimo massacre de inocentes foi provocado pela série de bombas de fragmentação geopolítica, que explodiram segundo uma estratégia precisa.

Esta foi aplicada desde que os Estados Unidos, depois de terem vencido a confrontação com a União Soviética, autonomearam-se "o único Estado com uma força, uma envergadura e uma influência em todas as dimensões – política, econômica, militar – realmente globais", propondo-se "impedir que qualquer potência hostil domine uma região – a Europa ocidental, a Ásia oriental, o território da ex-União Soviética e a Ásia sudoeste - onde os recursos seriam suficientes para gerar uma potência global". Com esse objetivo, os Estados Unidos reorientaram desde 1991 a sua própria estratégia e, em acordo com as potências europeias, a da Otan.

Desde então, foram fragmentados ou demolidos com a guerra (aberta ou encoberta), uns após outros, os Estados considerados como um obstáculo ao plano de dominação global - Iraque, Iugoslávia, Afeganistão, Líbia, Síria, Ucrânia etc. – enquanto que outros mais (incluindo o Irã) ainda estão na mira. Essas guerras, que esmagaram milhões de vítimas, desagregaram sociedades inteiras, criando uma massa enorme de desesperados, cuja frustração e rebelião conduzem, de uma parte, a uma resistência real, mas de outra são exploradas pela CIA e outros serviços secretos (inclusive franceses) para seduzir os combatentes a uma "jihad" de fato funcional à estratégia dos Estados Unidos e da Otan.

Assim se formou um exército sombrio, constituído por grupos islamitas (frequentemente concorrentes) utilizados para minar desde o interior o Estado líbio enquanto a Otan o atacava, depois por uma operação análoga na Síria e no Iraque. Disto nasceu o Isis (EI), no qual confluíram os "foreign fighters" (combatentes estrangeiros), entre os quais agentes de serviços secretos, que recebeu bilhões de dólares e de armas modernas da Arábia Saudita e de outras monarquias árabes, aliadas dos EUA e em particular da França. Esta estratégia não é nova: há mais de 35 anos, para derrubar a URSS na "armadilha afegã", foram recrutados por meio da CIA dezenas de milhares de mudjahedins de mais de 40 países. Entre esses o saudita rico Osama Bin Laden, chegado ao Afeganistão com quatro mil homens, o mesmo que iria em seguida fundar a Al Qaeda tornando-se o "inimigo número um" dos EUA. Washington não é o aprendiz de feiticeiro incapaz de controlar as forças postas em ação. Ele é o centro propulsor de uma estratégia que, demolindo Estados inteiros, provoca uma reação caótica em cadeia de divisões e conflitos a utilizar segundo o método de «dividir para reinar».

O ataque terrorista em Paris, cometido por uma mão de obra convencida de golpear o Ocident, aconteceu numa perfeita oportunidade no momento em que a Rússia, intervindo militarmente, bloqueou o plano dos EUA e da Otan de demolição do Estado sírio e anunciou contramedidas militares à crescente expansão da Otan para o Leste. O ataque terrorista, criando na Europa um clima de estado de sítio, «justifica» um crescimento em poder militar acelerado dos países europeus da Otan, incluindo o aumento de suas despesas militares reclamadas pelos EUA, e abre o caminho a outras guerras sob o comando estadunidense.

A França que até o presente tinha conduzido "contra o Estado Islâmico na Síria apenas ataques esporádicos", escreve o New York Times, efetuou na noite de domingo "em represália, o ataque aéreo mais agressivo contra a cidade síria de Raqqa, atingindo alvos do EI indicados pelos Estados Unidos". Entre os quais, esclarecem funcionários estadunidenses, "algumas clínicas e um museu".
 
Tradução
José Reinaldo Carvalho
Editor do site Vermelho
aqui:http://www.voltairenet.org/article189308.html

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Os ataques terroristas de Paris e a "narrativa oficial" – The Matrix estende o seu alcance


por Paul Craig Roberts 
 
Apenas uma hora após os ataques de Paris e ainda sem qualquer prova, foi gravada na pedra a narrativa de que os perpetradores eram do ISIL. É assim que funcionam os trabalhos da propaganda.

Quando o ocidente faz isto ele sempre tem êxito porque o mundo habituou-se a seguir a sua liderança. Admirei-me por ver, por exemplo, os serviços noticiosos russos ajudarem a propalar a narrativa oficial dos ataques de Paris apesar de a própria Rússia ter sofrido tantas vezes com narrativas falsas fabricadas.

Será que os media russos esqueceram o MH-17? No mesmo minuto em que era transmitida a narrativa de que o avião da Malaysian fora atingido por um míssil russo sobre a Ucrânia oriental nas mãos de separatistas, a culpa era atribuída à Rússia. E é onde a culpa permanece apesar da ausência de prova.

Será que os media russos também esqueceram a "invasão russa da Ucrânia"? Esta narrativa ridícula é aceite por toda a parte no ocidente como verdade sagrada.

Será que os media russos se esqueceram do livro daquele editor alemão de jornal, o qual escreveu que todo jornalista importante europeu era um activo da CIA?

Alguém poderia pensar que a experiência teria ensinado os media russos a serem cauteloso quanto a explicações que têm origem no ocidente.

Temos agora o que provavelmente é mais uma falsa narrativa estabelecida como verdade. Assim como uns poucos sauditas com canivetes enganaram todo o aparelho de segurança nacional dos EUA, o ISIL conseguiu adquirir armas não adquiríveis e enganar a inteligência francesa enquanto organizava uma série de ataques em Paris.

Por que é que o ISIL fez isto? Tiro pela culatra pelo pequeno papel da França na violência do Médio Oriente?

Por que não os EUA ao invés?

Ou será que o objectivo do ISIL era ter o fluxo de refugiados para dentro a Europa bloqueado por fronteiras fechadas? Será que o ISIL quer realmente manter todos os seus oponentes na Síria e no Iraque quando, ao invés, pode conduzi-los para a Europa? Por que tem de matar ou controlar milhões de pessoas impedindo a sua fuga?

Não espere quaisquer explicações ou questionamentos por parte dos media acerca da narrativa que está estabelecida como verdade definitiva.

A ameaça ao establishment europeu não é o ISIL. As ameaças são a ascensão de partidos políticos anti-UE e anti-imigrantes: Pegida na Alemanha, o UKIP na Grã-Bretanha e a Frente Nacional em França. Os inquéritos mais recentes mostram a Frente Nacional de Marine Le Pen à frente como a provável presidente francesa.

Algo tinha de ser feito acerca das hordas de refugiados provocadas pelas guerra de Washington, ou os partidos políticos do establishment serão confrontados com a derrota às mãos de partidos políticos que também são adversos à subserviência de Washington à Europa.

As regras da UE acerca de refugiados e imigrantes e a aceitação de um milhão de refugiados pela Alemanha, juntamente com fortes críticas àqueles governos na Europa do Leste que quiseram erguer muros para manter os refugiados do lado de fora, tornou impossível o encerramento de fronteiras.

Com os ataques terroristas de Paris, o que era impossível tornou-se possível e o presidente da França imediatamente anunciou o encerramento das fronteiras a França. Os encerramentos de fronteiras propagar-se-ão. A questão principal dos partidos políticos dissidentes em ascensão será neutralizada. A UE estará segura e, assim, a soberania da Europa sobre a Europa.

Se os ataques de Paris foram ou não operações de bandeira falsa com a finalidade de obter estes resultados, estes resultados serão as consequências dos ataques. Estes resultados servem os interesses do establishment político europeu e de Washington.

Será o ISIL tão pouco refinado que não tenha percebido isso? Se o ISIL for tão pouco refinado, como é que ele tão facilmente enganou os serviços franceses de inteligência? Na verdade, pode a inteligência francesa ser inteligente?

Podem os povos do ocidente ser inteligentes a ponto de cair numa narrativa forjada antes de qualquer prova? No ocidente, os factos são criados por declarações de governos no seu próprio interesse. A investigação não faz parte do processo. Quando 90 por cento dos media estado-unidenses são possuídos por seis mega corporações, não pode haver qualquer diferença.

Na medida em que The Matrix aumenta o absurdo das suas afirmações, ela no entanto consegue tornar-se ainda mais invulnerável.
 
14/Novembro/2015
 

Ver também:

  • The Paris Terrorist Attacks, “9/11 French-Style”, “Le 11 septembre à la française” , Michel Chossudovsky
  • CONFIRMED: French Government Knew Extremists BEFORE Paris Terrorist Attack , Tony Cartalucci
  • Paris Terror Attacks: Blowback or False Flag? France Declares a State of Emergency , Stephen Lendman
  • Ça sent la merde ces attentats de Paris! , Isabelle
  • Le communiqué de l’Elysée que vous ne lirez pas , Viktor Dedaj

  • Le Bataclan revendu le 11 septembre. Exercices "multi-sites" du Samu de Paris le matin même , Alexander Doyle

    O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • A responsabilidade do EUA na perigosa vaga de terrorismo

    por Os Editores

     



    Os trágicos atentados terroristas de Paris foram condenados a nível mundial pela humanidade solidária com o povo francês, alvo da monstruosa e repugnante chacina.

    Milhões de palavras sobre o acontecimento foram escritas ou pronunciadas em dezenas de países em muitas línguas.

    Dirigentes políticos, personalidades destacadas, politólogos de serviço nos grandes media, comentaram os atentados.

    Chama a atenção o facto de na Comunidade Europeia nenhum chefe de estado ou de governo ter nas suas intervenções abordado a questão fundamental das causas da vaga de terrorismo que assola o mundo. Obama também se absteve de tocar no tema.

    Qual o motivo de tão estranha omissão? Resposta é simples, mas incómoda para os detentores do poder.

    O principal responsável pelo alastramento do terrorismo que condenam e dizem combater é o imperialismo americano.

    Antes da primeira Guerra do Golfo não existiam praticamente organizações terroristas que preocupassem o Ocidente capitalista e os crimes desse tipo eram pouco frequentes.

    Durante o governo de Carter, Brzezinsky persuadiu o presidente a criar no Afeganistão uma situação caótica que forçasse a União Soviética a enviar um contingente militar para aquele país. Nas suas memórias o assessor de Carter assume com orgulho essa responsabilidade. Foi a CIA, com o aval da Casa Branca, quem criou no Paquistão os acampamentos onde foram treinados, financiados e armados os lideres mujahedines que dirigiram a luta contra a Revolução Afegã. Reagan recebeu em Washington como hóspedes de honra os dirigentes das Sete Organizações Sunitas de Peshawar - alguns traficantes de droga milionários – designando-os como «novos Bolívares» e «combatentes da liberdade»

    Quando esse bando, destruída a Revolução Afegã, se envolveu em guerras civis intermitentes, os EUA criaram, também no Paquistão, os Talibans. Armados por Washington, os «estudantes de teologia» invadiram e conquistaram o Afeganistão. Retiraram o ex-presidente Najibullah da sede da ONU onde se tinha asilado, enforcaram-no num poste e impuseram ao país um regime islâmico medieval.

    Os antigos aliados passaram a ser considerados pela Casa Branca uma perigosa ameaça. O Afeganistão, graças aos mestres norte americanos, emergiu no mundo muçulmano como «a universidade do terrorismo».

    Após os atentados do 11 de Setembro de 2001,os EUA invadiram e ocuparam o país quando o mulah Omar, líder taliban, recusou entregar-lhes Osama Bin Laden.

    Transcorridos 14 anos, o balanço dessa agressão é desastroso. Hoje o Afeganistão é o maior produtor mundial de heroína e dali saem fornadas de terroristas para a Africa, o Médio Oriente, a Europa e os EUA.

    De alunos, os afegãos passaram a professores. Na Argélia, no Egito, no Iraque, no Irão, «especialistas» afegãos participaram de muitas ações criminosas.

    Porventura renunciaram os EUA a utilizar terroristas islâmicos nas suas guerras de agressão? Não.

    Na Líbia, as milícias que tiveram papel decisivo na luta contra Kadhafi (por elas assassinado) foram criadas e treinadas pela CIA e pelos serviços secretos britânicos. Em breve se tornaram também incontroláveis, gerando o caos num país destruído pelo imperialismo.

    Na Síria, Washington, na tentativa de derrubar Bashar al Assad e recolonizar o país, armou e financiou os grupos terroristas que combatem o regime de Damasco.

    Quando irrompeu na Região a praga do jihadismo, e as noticias sobre os crimes monstruosos cometidos pelos seguidores do autointitulado Estado Islâmico começaram a correr pelo mundo, a humanidade, horrorizada, teve dificuldade em compreender como surgira e se formara aquela seita de fanáticos assassinos.

    Prestigiados media de «referência» dos EUA contribuíram para que gradualmente se dissipasse o véu de mistério que envolvia os criminosos do EI. Sabe-se hoje – graças em parte a artigos publicados naquele país - que muitos dos atuais lideres jihadistas foram formados por mestres da CIA com outros fins.

    Não há como negar a evidência: o imperialismo estado-unidense é o principal responsável pela perigosa vaga de terrorismo que alastra pelo mundo.

    A sua resposta – já principiou em França - será, na América e na Europa, como aconteceu após o 11 de Setembro, intensificar a repressão contra os seus próprios povos.

    OS EDITORES DE ODIARIO.INFO

    aqui:http://www.odiario.info/?p=3831

    quinta-feira, 12 de novembro de 2015

    A reescravização dos povos ocidentais


    por Paul Craig Roberts [*]
     
    A reescravização dos povos ocidentais está a verificar-se a vários níveis. Um deles, acerca do qual tenho escrito durante mais de uma década, decorre da deslocalização de empregos. Os americanos, por exemplo, têm uma participação decrescente na produção dos bens e serviços que lhes são comercializados.

    A outro nível estamos a experimentar a financiarização da economia ocidental, acerca da qual Michael Hudson é o perito principal ( Matando o hospedeiro , Killing the Host). A financiarização é o processo de remoção de qualquer presença pública na economia e de converter o excedente económico em pagamentos de juros ao sector financeiro.

    Estes dois desenvolvimentos privam o povo de perspectivas económicas. Um terceiro desenvolvimento priva-o de direitos políticos. As parcerias Trans-Pacífico e Trans-Atlântica eliminam soberania política e transferem o governo para corporações globais.

    Estas chamadas "parcerias comerciais" nada têm a ver com comércio. Estes acordos negociados em segredo concedem às corporações imunidade em relação às leis dos países com os quais elas fazem negócios. Isto é alcançado ao declarar que qualquer interferência de leis e regulamentos existentes ou em perspectivas sobre lucros corporativos como restrições ao comércio, pelo que as corporações podem processar e multar governos "soberanos". Exemplo: a proibição em França e outros países de produtos de organismos geneticamente modificados (OGM) seria negada pela Parceria Trans-Atlântica. A democracia simplesmente substituída pelo domínio corporativo.

    Eu tinha intenção de escrever acerca disto há muito tempo. Entretanto, outros, tais como Chris Hedges, estão a fazer um bom trabalho na explicação da captura de poder que elimina governos representativos.

    As corporações estão a comprar poder a preço barato. Elas compraram toda a Câmara dos Representantes (House of Representatives) dos EUA por apenas US$200 milhões. Isto é o que as corporações pagam ao Congresso para concordar com a "Via Rápida" ("Fast Track"), a qual permite ao agente das corporações, o Representante Comercial dos EUA, negociar em segredo sem a contribuição ou supervisão do Congresso .

    Por outras palavras, um agente corporativo dos EUA faz a negociação com agentes corporativos dos países que serão abrangidos pela "parceria" e este punhado de pessoas bem subornadas redigirá um acordo que ultrapassa a lei de acordo com os interesses das corporações. Ninguém a negociar a parceria representa os povos ou os interesses públicos. Os governos dos países em parceria incomodam-se em votar a proposta – e serão bem pagos para votar pelo acordo.

    Uma vez em vigor estas parcerias, o próprio governo será privatizado. Já não haverá mais qualquer sentido em legislativos, presidentes, primeiros-ministros, juízes.

    Tribunais corporativos decidem a lei e determinam as sentenças

    É provável que estas "parcerias" venham a ter consequências inesperadas. Por exemplo: a Rússia e a China não fazem parte dos acordos e nem o Irão, Brasil, Índia e África do Sul, embora de modo separado o governo indiano pareça ter sido comprado pelo agronegócio americano e esteja em vias de destruir seu auto-suficiente sistema de produção alimentar. Estes países serão depositários de soberania nacional e controle público enquanto a liberdade e a democracia extinguem-se no ocidente e entre os vassalos asiáticos do ocidente.

    A revolução violenta por todo o ocidente e a completa eliminação do Um Por Cento é uma outra consequência possível. Uma vez que, por exemplo, o povo francês descobre que perdeu todo o controle sobre a sua dieta para a Monsanto e o agronegócio americano, os membros do governo francês que lançaram a França na servidão dietética aos alimentos tóxicos provavelmente serão mortos nas ruas.

    Acontecimentos desta espécie são possíveis por todo o ocidente quando os povos descobrirem que perderam todo o controle sobre todo aspecto das suas vidas e que a sua única opção é a revolução ou a morte.
    09/Novembro/2015
     

    O original encontra-se em sputniknews.com/columnists/20151109/1029803298/us-west-economy-values.html

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

    terça-feira, 10 de novembro de 2015

    A prova do poder

    por Sandra Monteiro

    Para todos os que têm criticado as políticas neoliberais da austeridade, e sofrido com as suas devastadoras consequências, a possibilidade de haver um governo em Portugal com base num acordo de incidência parlamentar determinado a repor os rendimentos da maioria dos trabalhadores e pensionistas, a recuperar o emprego, a combater a precariedade e a defender o Estado social e os serviços públicos, só pode ser motivo de esperança. Uma esperança há demasiado tempo negada e, por isso mesmo, mais urgente e saborosa.

    Porém, ela surge a par de uma grande incerteza sobre a capacidade que um tal governo terá de ser bem sucedido, face a diversos constrangimentos internos e externos. É certo que um tal acordo para a governação entre o Partido Socialista (PS), o Bloco de Esquerda (BE), o Partido Comunista Português (PCP) e o Partido Ecologista «OS Verdes» (PEV), inédito em quarenta anos de democracia, e que existe também por força da dimensão da crise, significa que foi desbloqueado um grande nó que paralisava a esquerda parlamentar: se parte dela não tinha uma estratégia para participar na governação, a outra parte não tinha uma estratégia política para defender a sustentabilidade económica dos valores e princípios que dizia defender.

    O simples facto de este nó começar a ser desfeito suscita já reacções por parte de quem contava que o sistema poderia esmagar continuadamente os povos sem que a representação política, fortemente condicionada por media sem real pluralismo de perspectivas, deixasse de estar solidamente acantonada à direita. No campo mediático, vê-se uma invasão do comentário conservador, liberal e manipulador. No campo político e institucional, sucedem-se as declarações alarmistas de quem convive mal com a democracia, com o vice-primeiro-ministro Paulo Portas a invocar um «PREC II» ou, muito mais grave, com o presidente Aníbal Cavaco Silva, no discurso de 22 de Outubro de indigitação do governo de Pedro Passos Coelho – decisão em si mesma inquestionável –, a recorrer a argumentos inaceitáveis à luz da Constituição e dos poderes que esta lhe atribui. Por muito que Cavaco Silva gostasse, a crítica aos tratados ou à moeda única, e muito menos a acordos por discutir e assinar como o Tratado Transatlântico, não é impedida pela Constituição. Nem ela lhe permite afastar da governação as forças políticas que os combatem. Razões de sobra, aliás, para os defensores da democracia estarem atentos quando surgem propostas de incluir na Constituição aspectos como o cumprimento do défice estrutural ou dos tratados europeus (lembram-se?).

    Os neoliberais criaram com a austeridade um edifício político-ideológico tão rígido, radical e absoluto que, além de não aceitarem alternativas à sociedade que querem construir, não se conformam com o legítimo debate democrático. Repetem por isso que o regime, a sua preciosa estabilidade (das desigualdades socioeconómicas) e a sua preciosa fluidez (dos movimentos dos capitais) estão sob a ameaça de uma «extrema-esquerda» prestes a intervir na governação. É curioso, vindo de quem tem tido como missão reconfigurar de alto abaixo os pilares que sustentam a sociedade (democracia, Estado social, serviços públicos, leis laborais). Mas é sobretudo irónico, quando se olha para os pontos em que deverão assentar as negociações destes partidos (BE, PCP, PEV) com o PS. É «extremista» um acordo que não põe em causa compromissos externos e se limita a encontrar soluções para substituir a austeridade por outras fontes de receita e por políticas de emprego capazes de fomentar a procura interna, diminuir as despesas sociais geradas pela própria austeridade? Ou o «extremismo» é desmascarar a austeridade como um conjunto de medidas para retirar rendimentos ao trabalho e às pensões, apoiando-se na pressão do desemprego, da precariedade, da dívida, do défice e dos constrangimentos do euro?

    Só duas preocupações – além da já referida vontade de esconder a sua própria agenda radical para melhor a manter – podem justificar o afã com que os neoliberais agitam o fantasma dos «extremistas de esquerda». Uma delas poderá prender-se com a expectativa de os próximos anos serem mais difíceis do que 2015, em vários aspectos. Do agravamento do esforço que representará, a montantes e juros actuais, o pagamento da dívida, até novos aumentos do preço do petróleo e revalorização do euro, passando pelos efeitos do abrandamento do crescimento chinês, não é de contar com facilidades. E isto poderá acelerar a tomada de consciência dos cidadãos e das forças partidárias quanto à necessidade de rever a estratégia de «moderação» com que podem neste momento encarar as políticas indispensáveis à defesa de rendimentos dignos, de serviços públicos universais e tendencialmente gratuitos, da coesão social e territorial do país. Nessa altura, serão prejudicados interesses e negócios hoje florescentes, a começar pelas privatizações, concessões e parcerias público-privadas na educação, na saúde ou nos transportes.

    Mas os defensores da austeridade europeia podem estar a manifestar uma segunda preocupação. Se acontecer, como na Grécia com o primeiro governo de Alexis Tsipras, que as instituições europeias e os credores reajam a medidas tecnicamente inatacáveis (por não comprometerem saldos orçamentais) como sendo politicamente inaceitáveis (por porem em causa os verdadeiros objectivos a austeridade), será cada vez mais claro, para uma esmagadora maioria, que o problema não está em vivermos acima das nossas possibilidades, nem em quaisquer estratégias arrogantes de confronto, como se disse do governo grego, mas numa arquitectura europeia e monetária onde a solidariedade é um mito e o radicalismo da liberalização total (do comércio, dos fluxos financeiros, das relações sociais e laborais) é rei. Nessas condições, adivinha-se que os países deficitários do Sul europeu estariam condenados ao empobrecimento e a crescentes desigualdades. Com essa resposta europeia é que poderá confirmar-se, qual profecia auto-realizada, a radicalização de esquerdas por agora disponíveis para governar a favor dos cidadãos dentro dos constrangimentos europeus.

    Haverá ou não margem de manobra de negociação e governação? Ninguém pode, neste momento, ter a certeza. Talvez os neoliberais estejam convictos de que essa margem não existirá e estejam já, com os seus alarmismos, a preparar eleições antecipadas para colocar o ónus do fracasso numa experiência tentada à esquerda, vacinando os povos contra repeti-la. Significa isto que é às esquerdas no seu conjunto, e não apenas aos seus representantes políticos, que compete trabalhar desde já para dar força aos benefícios em cascata que advirão da reposição de rendimentos, do reequilíbrio das relações de trabalho, do combate ao desemprego e da defesa do Estado social universal e tendencialmente gratuito. Tal como lhe compete desmascarar os constrangimentos das instituições neoliberais e de uma moeda estruturalmente mal desenhada e pressionar no sentido da regulação dos sistemas financeiro e comercial, tantas vezes anunciada mas sempre adiada. Se não o fizermos, um eventual fracasso político, de facto causado pelas regras neoliberais, vai servir sobretudo para culpar as esquerdas e para as manter duradouramente fora do poder.

    sexta-feira 6 de Novembro de 2015

    aqui:http://pt.mondediplo.com/spip.php?article1078

    Publicação em destaque

    Marionetas russas

    por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...