segunda-feira, 30 de março de 2015

EUA escondem a verdade sobre atentados de 11 de setembro

11sEstados Unidos - A Verdade - Emergem de certo esquecimento os acontecimentos de 11 de setembro de 2001, quando dois aviões comerciais se chocaram contra as torres gêmeas do World Trade Center, em Nova York. Um estado de comoção tomou conta do mundo.


O presidente dos EUA, George W. Bush, apressou-se em declarar "guerra ao terrorismo", elegendo como alvo a Al Qaeda, organização chefiada por Osama Bin Laden, terrorista formado pela CIA para enfrentar os soviéticos que haviam ocupado o Afeganistão, em 1979.

No entanto, para muitos, o atentado às torres gêmeas não foi devidamente esclarecido. Várias questões duvidosas a seu respeito não foram respondidas, e até hoje pairam no ar como uma nuvem de fumaça a ameaçar o grande castelo de mentiras, assassinatos, chantagens, censuras e podridão moral que se transformou o governo imperialista norte-americano.

Contradições que revelam a verdade

Fruto das contradições que se acentuam atualmente entre Rússia e EUA devido ao bloqueio econômico imposto ao país após a anexação da Crimeia e o apoio aos rebeldes separatistas da Ucrânia, o presidente russo Vladimir Putin tem retomado a discussão sobre o atentado como barganha para frear os intentos norte-americanos na região.

Putin diz possuir imagens de satélite que demonstram que o governo Bush (e seus sucessores como cúmplices) está envolvido na morte de mais de 3.000 pessoas pelo único motivo de salvar a indústria bélica norte-americana do buraco em que se encontrava na época. Além disso, era necessário alavancar a indústria petrolífera estadunidense. O episódio serviu para devastar o Afeganistão a procura de Bin Laden e pilhar os milhões de litros de petróleo dos campos do Iraque, sob a acusação de que Saddan Hussein possuía armas químicas de destruição em massa. Bin Laden foi morto dez anos depois, e os imperialistas foram obrigados a admitir que mentiram sobre a existência de armas químicas de Saddan.

Em 2006, os jornalistas brasileiros Marcelo Csettkey e Marcelo Gil, após quatro anos de pesquisas, lançaram o livro Crime de Estado – A verdade sobre o 11 de setembro, e chegaram, naquela época, à mesma conclusão que está vindo à tona a partir do acirramento das disputas entre os estados imperialistas por mercados e posições militares estratégicas.

O que descobriram?

1) Os órgãos de inteligência norte-americanos (CIA, FBI, NSA, CSG), o Pentágono e a Casa Branca estavam amplamente informados, meses antes de 11 de setembro, da presença de terroristas ligados a Al Qaeda em território nacional e com objetivos claros de promover um atentado ao WTC. Três relatórios determinantes foram abafados, engavetados, ou mesmo adulterados, para que as investigações não fossem adiante.

2) O presidente do Egito, Hosni Mubarak, o ministro do Interior Afegão, Ahmed Wakil Muttawakil, e o Mossad (serviço secreto de Israel), alertaram o governo Bush sobre a possibilidade de atentados, sequestros de aviões e mortes em massa.

3) Nenhum dos quatro voos que mudaram de rota no dia 11 foram interceptados ou mesmo abatidos pelo sistema de defesa dos Estados Unidos, procedimento considerado obrigatório. Entre a decolagem do primeiro avião e o choque com a torre, houve um intervalo de mais de 30 minutos, tempo suficiente para a interceptação, aviso de retorno à rota original e tomada de decisão pelo alto comando para abatê-lo.

4) Apesar de a imprensa norte-americana ter acompanhado as investigações prévias e denunciado a omissão das autoridades, ela muda completamente seu comportamento e deixa de questionar o governo a respeito das investigações posteriores aos atentados, pois se submeteu à censura explícita do Estado, ganhando como recompensa a alteração da legislação que regula o mercado de comunicações no país, favorecendo o monopólio da mídia. Os principais beneficiados por essa medida foram os seis grandes conglomerados midiáticos ianques: Time Warner (CNN), CBS, Disney (ABC), General Eletric (NBC), Universal e Fox.

5) Da mesma forma, o Senado norte-americano se absteve de tomar as medidas necessárias frente aos relatórios e denúncias recebidas pela comissão estabelecida para estudar toda a situação. Conforme Deonísio da Silva, na apresentação do livro, "se, como disse Engels, 'a ciência é a eliminação progressiva do erro', a mídia parece empenhada, em momentos decisivos, na eliminação progressiva da verdade".

Novas revelações

Recentemente, uma equipe de oito pesquisadores liderados pelo professor Niels Harrit, da Universidade de Copenhagen (Dinamarca), comprovou a existência de explosivos altamente tecnológicos em amostras dos escombros das torres gêmeas e do prédio 7.

Essa descoberta pode explicar a queda livre dos prédios num processo de demolição implosiva controlada. Os aviões não poderiam derrubar as torres gêmeas devido à temperatura do combustível não ser suficiente alta para derreter aço. O impacto também não podia ter afetado a estrutura tal como afirmado pelo governo norte-americano, uma vez que o prédio foi projetado para suportar aviões daquele tamanho. Ferro derretido na base dos prédios ficou vivo por várias semanas. E por três meses, fotos infravermelhas de satélites mostraram bolsões de alto calor nas torres.

Além disso, o empresário Larry Silverstein, em 24 de julho de 2001, adquiriu todo o complexo do WTC, dois meses antes do "ataque", e segurou os prédios em dois bilhões de dólares contra ataque terrorista, algo como todos sabemos um tanto incomum.

Como não se consegue sustentar uma grande mentira por muito tempo, além da ameaça de Putin, outras evidências da farsa que foi o 11 de setembro vão aparecendo e provando a tese de que o governo Bush foi mentor e articulador dessa barbaridade contra seu próprio povo e a humanidade.

Marcos Villela, Rio de Janeiro

aqui:http://www.diarioliberdade.org/mundo/direitos-nacionais-e-imperialismo/55106-eua-escondem-a-verdade-sobre-atentados-de-11-de-setembro.html

Desemprego real em Portugal: 29%

sexta-feira, 27 de março de 2015

Cidadão sob ataque do estado policial lituano e o mundo sob o ataque de Washington


por Paul Craig Roberts 
 
Provocação na Estónia. De acordo com notícias publicadas e conforme este apelo de Kristoferis Voishka o governo pró americano instalado na Lituânia está a perseguir lituanos que discordam da propaganda anti-russa que está a levar os fantoches da NATO de Washington à guerra com aquela potência. Ao contrário do seu governo fantoche, os lituanos entendem que uma guerra com a Rússia significa que a Lituânia seria totalmente destruída, um resultado que em nada incomodaria Washington, assim como Washington permanece imperturbável quando suas forças aniquilam festas de casamentos, funerais e jogos de bola de crianças.

O que é a Lituânia? Para Washington é um nada.

Kristoferis Voiska dirige um sítio web alternativo na Lituânia. Não há muito ele entrevistou-me e a entrevista foi publicada em ambos os jornais lituanos e no seu programa de notícias na Internet sob a forma de vídeo. Achei-o sincero e bem informado. Adverti-o que entrevistar-me poderia trazer-lhe transtornos, mas já estava ciente disso.

Tenho dito muitas vezes que os americanos são o povo mais mal informado do planeta.

Ele está inconsciente do crescente impulso rumo à guerra com a Rússia. A imprensa presstituta [1] por toda a Europa, especialmente nos estados bálticos e na Polónia, trabalha arduamente para criar no povo o medo de uma invasão russa. O medo orquestrado proporciona-lhes então a base para os governos fantoches mendigarem tropas e tanques e mísseis junto a Washington – o complexo militar e de segurança dos EUA que, contando seus lucros, agradece.

Mas o que a Rússia vê é uma ameaça, não uma oportunidade de fazer dinheiro para o complexo militar e de segurança e para subornos aos corruptos governos lituano e polaco, os quais assemelham-se cada vez ao governo neo-nazi com que Washington dotou a Ucrânia.

A situação é perigosa, como continuo a dizer, uma mensagem que alguns são demasiado fracos para aceitar.

Se quiser mostrar apoio a Kristoferis e aos media independentes na Lituânia, envie-lhes emails: tautiniai.socialistai@yandex.ru

Daqui a uma semana terei 76 anos. Nasci em 1939 quando a II Guerra Mundial estava a desenrolar-se como consequência directa do Tratado de Versalhes que rompeu todas as promessas que o presidente Woodrow Wilson fez à Alemanha em troca do fim da I Guerra Mundial.

Recordo, como uma criança da Guerra-fria, de ensaios de ataque nuclear em escolas primárias durante os quais nos agachávamos sob nossas carteiras escolares. Éramos marcados com etiquetas com o nosso tipo de sangue tal como as etiquetas em dilacerados soldados dos EUA mortos nos filmes de guerra por alemães e japs (uma palavra que já não é permissível) e enviados de volta para família do GI morto.

Para nós aquilo era mais romântico do que assustador. Gostávamos de usar as etiquetas. Não tenho ideia do que aconteceu à minha. Elas devem ser boas para coleccionadores nesta altura.

Vi muitas coisas. Quando garotos brincavam de guerra – naqueles dias podia-se ter armas de brinquedo sem ser alvejado pela polícia que nos protege – gostávamos das vitórias da América na Guerra Mundial. Entendíamos, graças a nossos pais e avós, que o Exército Vermelho venceu a guerra contra a Alemanha, mas nós americanos batemos os cruéis japs.

Aquilo era suficiente. Sabíamos que os EUA eram duros.

Eu tinha 14 anos quando irrompeu a Guerra da Coreia. Esperávamos vencer, naturalmente, e nossas expectativas, pensávamos, demonstraram-se correctas quando as aterragens dos anfíbios do general MacArthur laminaram o exército norte-coreano. Mas o que MacArthur e Washington haviam passado por alto é que a China e a União Soviética não estavam prestes a aceitar uma vitória estado-unidense.

Antes que os americanos pudessem aplaudir, o Exército Chinês do Terceiro Mundo entrou em cena e empurrou o conquistador do Japão de volta para a ponta da Coreia do Sul. Foi uma derrota humilhante para as armas americanas. Na sua disputa com o presidente Truman acerca da condução da guerra, MacArthur, o mais famoso general da América, foi removido do comando.

Washington aceitou a derrota na Coreia e mais uma vez no Vietname, onde uma força estado-unidense de 500 mil homens, consistente de Exército, Fuzileiros Navais e Forças Especiais foi derrotada por um exército guerrilheiro do Terceiro Mundo.

A estas derrotas podemos acrescentar o Afeganistão e o Iraque. Após 14 anos de matanças, o Taliban controla a maior parte do país. Jihadistas talharam um novo estado a partir de partes da Síria e do Iraque. O Médio Oriente fede a derrota americana. Assim como a Coreia. Assim como o Vietname.

Apesar destes factos, americanos despreocupados e seus ensandecidos governantes em Washington imaginam que os EUA são uma Potência Única, a única super-potência do mundo contra a qual nenhum país pode levantar-se. Arrogância, ignorância e orgulho estão a levar os EUA a um conflito com a Rússia e a China, cada uma das quais pode destruir os EUA com facilidade. E a Europa também. E o estúpido compra-e-paga governo japonês, uma não-entidade total, uma desgraça para o povo japonês, uma colecção de bem pagos fantoches americanos.

Como documentou Andrew Cockburn os militares estado-unidenses estão perdidos em abstracções e já não são mais capazes de conduzir guerra convencional . Qualquer exército americano ou da NATO enviado para atacar a Rússia será destruído quase instantaneamente. Washington não pode aceitar a perda de prestígio da derrota e iria à guerra nuclear. A vida sobre a terra acabaria.

A única conclusão que análise bem informada confirma é que Washigton é a maior ameaça à vida sobre a terra. Washington é uma ameaça maior do que o aquecimento global [NR] . Washington é uma ameaça maior do que o esgotamento de fontes de energia mineral. Washington é uma ameaça maior do que o aumento da pobreza no mundo e nos EUA devido à sua política de enriquecer os poucos a expensas dos muitos.

A única conclusão possível é que, a menos que Washington entre em colapso devido ao seu castelo de cartas económico ou seja abandonado pelos seus estados fantoches da NATO, destruirá a vida sobre a terra.

Washington é o maior mal que o mundo alguma vez já enfrentou. Não há nada de bom em Washington. Só maldade.
 

[1] Presstituta: contracção de press + prostituta.

[NR] O mítico aquecimento global é um falso problema inventado para distrair o mundo dos problemas reais. Ver Impostura global .


O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/...


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 24 de março de 2015

Netanyahu anuncia o fim da «solução de dois Estados»

por
Os acordos de Oslo, que Yitzhak Rabin e Yasser Arafat haviam imposto aos seus povos, foram liquidados durante a campanha eleitoral israelita. Benjamin Netanyahu mergulhou os colonos judeus num impasse, que será forçosamente fatal para o regime colonial de Telavive. Tal como a Rodésia não aguentou mais que 15 anos, os dias do Estado hebreu estão agora contados.


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Benjamin Netanyahu é o único chefe de governo, no mundo, a ter-se feito fotografar felicitando terroristas da al-Qaida. Ao fazê-lo, ele levou o seu país para um beco sem saída. 
 
Durante a sua campanha eleitoral, Benjamin Netanyahu afirmou, com franqueza, que, enquanto ele vivesse, jamais os Palestinianos teriam o seu próprio Estado. Ao fazê-lo, pôs fim a um «processo de paz» que prolongadamente se arrasta, desde os acordos de Oslo, há mais de 21 anos. Assim se acaba a miragem da «solução de dois Estados».

Netanyahu apresentou-se como um “rambo”, capaz de assegurar a segurança da colónia judia esmagando para isso a população autóctone.
- Ele tem dado o seu apoio à al-Qaida, na Síria.
- Ele atacou o Hezbolla, na fronteira do Golã, matando, nomeadamente, um general dos Guardiões da Revolução e Jihad Moghniyé.
- Ele foi desafiar o presidente Obama denunciando, no Congresso, os acordos que a sua administração negoceia com o Irão.

Os eleitores escolheram a sua via, a da lei da força.

Portanto, olhando para isto, mais de perto, tudo, nisso, é pouco glorioso e não tem futuro.
Netanyahu substituiu a força de paz das Nações Unidas pelo ramo local da Al-Qaida, a Frente Al-Nusra. Ele providenciou-lhe um apoio logístico transfronteiriço e fez-se fotografar com os chefes terroristas, num hospital militar israelita. No entanto, a guerra contra a Síria mostra-se uma derrota para o Ocidente e para os países do Golfo. Segundo a ONU, a República Árabe da Síria só consegue garantir o contrôlo de 60% do seu território, mas, este numero é enganoso já que o resto do país é um terreno totalmente desértico, por definição incontrolável. Ora, segundo as Nações Unidas, os «revolucionários» e as populações que os apoiam, quer sejam jiadistas ou «moderados» (quer dizer abertamente pró-israelitas), não atingem mais que 212 mil entre os 24 milhões de sírios. Quer dizer, menos de 1% da população.

O ataque contra o Hezbolla matou, é certo, algumas personalidades, mas ele foi imediatamente vingado. Enquanto Netanyahu afirmava que a resistência libanesa estava atolada na Síria e não conseguiria replicar, o Hezbolla, com uma fria precisão matemática, matou, alguns dias mais tarde, à mesma hora, o mesmo número de soldados israelitas na zona ocupada das granjas de Chebaa. Ao escolher as granjas de Chebaa, a zona mais guardada pelo Tsahal (significa Forças de Defesa de Israel- ndT), o Hezbolla lançava uma mensagem de poderio, claramente, dissuasora. O Estado hebreu compreendeu que não era, mais, o senhor do jogo, e encaixou esta chamada à ordem sem estrebuchar.

Finalmente, o desafio lançado ao presidente Barack Obama arrisca sair caro a Israel. Os Estados Unidos negoceiam com o Irão uma paz regional, que lhes permita retirar a maior parte das suas tropas. A ideia de Washington é a de apostar no Presidente Rohani, para fazer de um Estado revolucionário uma normal potência regional. Os Estados Unidos reconheceriam o poder iraniano no Iraque, na Síria e no Líbano, assim como também no Barein e no Iémene, em troca do qual Teerão deixaria de exportar a sua Revolução para África e para a América Latina. O abandono do projecto do Imã Khomeini seria garantido por uma renúncia ao seu desenvolvimento militar, especialmente, mas não apenas, em matéria nuclear (ainda uma vez mais, não se trata da bomba atómica, mas de motores de propulsão nuclear). A exasperação do presidente Obama é tal, que o reconhecimento da influência do Irão poderia chegar até à Palestina.

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Em 1965, Ian Smith pensou salvar a colónia britânica da Rodésia recusando o processo de paz. Na realidade, ele precipitou a queda do projecto colonial e, quinze anos mais tarde, a Rodésia tornou-se o Zimbabué.

Netanyahu imita as acções de Ian Smith que, em 1965, recusando-se a reconhecer os direitos civis dos negros da Rodésia, rompeu com Londres e proclamou a sua independência. Mas, Ian Smith não conseguiu manter o seu estado colonial, que foi devorado pela resistência da União Nacional Africana de Robert Mugabe. Quinze anos mais tarde Smith teve que desistir, enquanto a Rodésia se tornava no Zimbabué e a maioria negra chegava ao poder.

As bravatas de Netanyahu, como antes as de Ian Smith, visam mascarar o impasse no qual ele mergulhou os colonos. Tendo ganho tempo, durante os últimos seis anos, em vez de aplicar os acordos de Oslo, ele só aumentou a frustração da população indígena. E, assim, vangloriando-se que conseguiu empatar a Autoridade palestina, para nada, ele provoca um cataclismo.

Desde logo, Ramallah anunciou que cessaria toda a cooperação securitária com Telavive se Netanyahu fosse, de novo, nomeado Primeiro-ministro, e aplicasse o seu novo programa. Se uma tal ruptura ocorrer, a população da Cisjordânia, e a de Gaza certamente, deverão ter, de novo, de se enfrentar com o Tsahal(FDI). Isto daria a Terceira Intifada.

O Tsahal (FDI)teme de tal modo esta situação que os seus principais oficiais superiores, na reserva, formaram uma associação, os Commanders for Israel’s Security (Comandantes pela Segurança de Israel - ndT), que não parou de alertar contra a política do Primeiro-ministro. Este último, mostrou-se incapaz de formar uma outra associação para o defender. Na realidade, é o exército, em conjunto, que se opõe à sua política. Os militares compreenderam, muito bem, que Israel poderia ainda estender a sua hegemonia, como no Sudão do Sul e no Curdistão iraquiano, mas que ele não poderia, mais, expandir o seu território. O sonho de um Estado colonial do Nilo ao Eufrates é irrealizável, e pertence a um século passado.

Ao recusar a «solução de dois Estados», Netanyahu acredita abrir a via para uma solução à rodesiana. No entanto, este exemplo mostrou que isso não era viável. O Primeiro-Ministro pode celebrar a sua vitória, mas ela será de curta duração.

Na realidade, a sua cegueira abre a via a duas outras opções: quer uma solução à argelina, quer dizer a expulsão de milhões de colonos judeus, dos quais muitos não têm nenhuma outra pátria para os acolher, ou uma solução à sul-africana, quer dizer a integração da maioria palestina no Estado de Israel segundo o princípio «um homem, um voto» ; a única opção humanamente aceitável.
 
Tradução
Alva
aqui:http://www.voltairenet.org/article187110.html

quarta-feira, 18 de março de 2015

A veia terrorista de Barack Obama


por José Goulão [*]
 
Cartoon de Fernando Llera. Depois de ter herdado, de início com algum pudor e sob outras designações, a guerra contra o terrorismo inventada pelo seu antecessor, Barack Obama não se limita a igualar George W. Bush no recurso a práticas terroristas como, em alguns casos – e não apenas o do record mundial de execuções extra judiciais cometidas com drones – consegue ultrapassá-lo.

A situação mais flagrante, e que contribuiu para demonstrar como os Estados Unidos são governados por um partido único, porque em matéria de violações dos direitos humanos não há quem consiga distinguir um democrata de um republicano, é a da proliferação de ameaças, tentativas e execuções de golpes de Estado.

No reinado de Obama a série faz corar de inveja alguns dos mais empedernidos falcões que passaram pela Casa Branca: Honduras, Paraguai, Ucrânia, Macedónia, Egipto, Qatar, Síria, Líbia, Iraque, Mali, República Centro Africana e, como não podia deixar de ser, Venezuela.

O assunto venezuelano poderá ter passado quase despercebido. Foi escondido para com isso se tentar abadar o fracasso da intentona, ou então explicado ao contrário através dos mecanismos censórios doutrinários que caricaturam o papel da comunicação social.

O golpe esteve marcado para 12 de Fevereiro, tentando reeditar a tragédia chilena de 1973, mas as autoridades venezuelanas anteciparam-se e puseram a nu um contexto através do qual se prova que em Washington não se olha a princípios nem a meios para alcançar os fins pretendidos, sempre apresentados, como é de bom-tom, como a instauração da democracia onde supostamente ela não existe.

Nesse dia 12 de Fevereiro, no quadro da chamada "Operação Jericó", um bombardeiro Tucano ENB 312, já anteriormente envolvido num atentado contra dirigentes das FARC colombianas, deveria ter bombardeado o palácio presidencial de Caracas, a Assembleia Nacional, instalações da ALBA e a televisão TeleSur para instaurar um "governo de transição" a entregar a reconhecidos fascistas como António Ledezma, significativamente conhecido como "o vampiro", Maria Corina Machado e Leopoldo Lopez. O avião, pintado com as cores da aviação venezuelana, pertence a um bando de mercenários integrado na máfia mundial dos exércitos privados e empresas de segurança que dá pelo nome de Academi e outrora se chamou Blackwater – de que todos já ouviram falar como um dos mais activos braços terroristas na invasão do Iraque. Empresa onde pontificam um ex-patrão da NSA (Agência Nacional de Segurança) e o ex-procurador geral da Administração Bush.

A trama da intentona conduz ao quartel-general de operações em Bogotá e ao comandante da operação, Ricardo Zuñiga, assessor de Barack Obama para a América Latina e também, porque quem sai aos seus não degenera, neto do presidente do Partido Nacional das Honduras que organizou os golpes fascistas de 1963 e 1972. Acresce que Washington recorreu a outsorcing para montar a operação, atribuindo ao Canadá a gestão dos aeroportos civis a utilizar, ao Reino Unido a propaganda e ao Mossad israelita as eliminações físicas consideradas necessárias. Ledezma, o "vampiro", viajara recentemente a Israel, onde foi recebido afectuosamente por Netanyahu, Lieberman & Cia.

Como o golpe falhou e foi desmascarado, em 9 de Março Barack Obama accionou o estatuto que lhe permite declarar a Venezuela "uma ameaça contra a segurança nacional" dos Estados Unidos, previsto para os casos em que exista "uma extraordinária e invulgar ameaça à segurança nacional e à política externa, situação que deve ser tratada como uma emergência nacional". Isto é, Barack Obama instaurou a estratégia terrorista de golpe de Estado permanente contra a Venezuela, alegando a corrupção dos dirigentes de Caracas e a violação dos preceitos democráticos.

Ironia do destino, um dos escolhidos para o tal "governo de transição", o supracitado "vampiro" Ledezma, em tempos autor do "Caracazo", massacre de centenas de estudantes que protestavam contra a austeridade, é o governador da região de Caracas, eleito através dos mecanismos de um regime que ele próprio e os seus tutores não consideram democrático.

Eis como Obama em nada se distingue dos mais tenebrosos falcões que passaram pela Casa Branca. Anote-se, por ser verdade, que na Venezuela, na Ucrânia, na Macedónia e onde quer que tal lhe convenha, o presidente dos Estados Unidos não tem qualquer pudor em recorrer a dirigentes e grupos de assalto nazi-fascistas desde que seja, ele o diz, para instaurar a democracia.
13/Março/2015
 

[*] Jornalista.

O original encontra-se em jardimdasdelicias.blogs.sapo.pt/a-veia-terrorista-de-barack-obama-748181


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

domingo, 15 de março de 2015

O capital fictício, como a finança se apropria do nosso futuro


por Daniel Vaz de Carvalho

 
A crise de 2007-2008 com as "políticas de rigor" e "reformas estruturais" fez cair a máscara à social-democracia. (…)
A soberania dos mercados sobrepõe-se à dos povos
Cédric Durand 
 
. 1 – Natureza do capital fictício.

A austeridade já tem sido considerada como o "vírus capitalista". É uma imagem. Na realidade, trata-se do remédio errado, como uma seringa infetada. O capitalismo está de facto atacado de uma doença letal: o capital fictício. Sem eliminar este "vírus" nenhum remédio será verdadeiramente eficaz. É isto que Cédric Durand nos evidencia.

A importância deste livro reside na análise de um tema fundamental do marxismo, o capital fictício, aliado a uma linguagem simples, mas absolutamente rigorosa e factual, em que os dogmas do neoliberalismo são totalmente desmontados. Só a escandalosa censura existente impede a divulgação e discussão destas análises até nas universidades.

A natureza do capital fictício reside em que os títulos financeiros são apenas promessas de valorização real, o que destrói o mito da autonomia do sistema financeiro como variável determinante do sistema económico. O capital fictício é uma ilusão e um desvio de recursos. (p. 56, 57) Tem consistido no aumento vertiginoso da quantidade de valor validado por antecipação à produção de mercadorias. (p. 90)

O capital fictício, é de facto um produto de contradições económicas e sociais insolúveis. (p. 7) Encarna valor, mas não resulta da produção de valor, resulta de transferências de rendimentos a partir de atividades produtivas, isto é, rendimentos do trabalho e lucros tirados da produção de bens e serviços. (p. 105)

Marx identifica três formas de capital fictício: a moeda crédito, os títulos de dívida pública e as ações. Cédric Durand desenvolve este conceito aplicando-o à realidade atual, apresentando-o como uma apropriação da mais-valia produzida na esfera produtiva, desmontando o aparente enigma dos lucros sem acumulação, resultantes das operações financeiras e do controlo das redes produtivas internacionais. (p. 178)

Podem ser caracterizados como lucros financeiros os juros, os dividendos e as mais-valias realizadas com a venda de ativos. Como fontes dos juros distinguem-se os resultantes do endividamento das famílias para terem acesso ao consumo (lucros de alienação); os resultantes do endividamento das empresas, que se tornam críticos nos períodos de crise; os lucros políticos de dívida pública. (p. 106-112)

São também fontes de lucros financeiros a atividade como intermediários; o chamado lucro dos fundadores (diferença entre o preço dos ativos e valorização no mercado bolsista); os lucros políticos obtidos com recapitalização, nacionalização dos prejuízos, benefícios fiscais, etc. (p. 119, 123)

Nos EUA a parte dos 1% mais ricos na detenção de dívida pública passou de 16 para 40% entre 1970 e 2010. Em 1970 a dívida dos 11 países mais ricos representava 30% do PIB, em 2012, nos EUA 114%, no Reino Unido 137%. O valor financeiro obtido por antecipação do processo de valorização futura não cessou de aumentar (p. 75)

Um estudo sobre subvenções públicas implícitas nos lucros das grandes instituições financeiras concluía que existia uma subvenção implícita de 233 mil milhões de euros em 2012, 1,8% do PIB da UE e montantes da mesma ordem desde 2007. Sem isto os bancos registariam prejuízos consideráveis. Os seus lucros são portanto subvencionados. A privatização dos benefícios das atividades financeiras é, pois, perfeitamente ilegítima. (p. 122)

2 – A financeirização e os "mercados eficientes"

A liberalização financeira conduziu à alta dos lucros financeiros, donde a uma taxa mínima de rentabilidade nos investimentos, ao aumento dos dividendos entregues aos acionistas, à diminuição dos lucros retidos pelas empresas e consequentemente ao abrandamento da acumulação, à sobreprodução e ao desemprego. (p. 154) A financeirização não conduziu (como propagandeado) ao aumento do investimento, ao "crescimento e emprego", mas ao seu declínio (p. 50). Os países da OCDE de rendimento elevado detinham em 1990, 80% do PIB mundial, em 2012 reduzira-se para 61% (p. 8, 9).

Numa estrutura Ponzi (especulativa) o fluxo de rendimento acaba por não permitir reembolsar nem os juros nem o principal da dívida. Por conseguinte, o endividamento não pode senão aumentar e conduzir a falências (p. 40). Algo de semelhante se passa com os Estados. Heyman Minsk passou a maior parte da carreira a defender a tese de que os sistemas financeiros estão por natureza sujeitos a acessos especulativos. Foi considerado um "radical" (p. 37).

O otimismo na financeirização, ao qual não foram poupados os reguladores, levou ao abrandamento das normas prudenciais e à desregulamentação, potenciando os riscos. O paradoxo da intervenção pública como tem sido realizada consiste em que os operadores financeiros são tanto mais inclinados a assumir riscos quando sabem que o banco central tudo fará para impedir o risco sistémico de se concretizar (p. 42, 43).

Os defensores da linha de Hayek de que o mercado é um processo de revelação de conhecimento disperso aplicável aos mercados financeiros, negligenciam a dinâmica da criação e preservação do capital fictício e os efeitos de distorção de informação que daí decorrem (p. 138). O que conduz a má apreciação dos riscos e más decisões de investimento. Desde 1980 a desregulação financeira, criou períodos de expansão financeira que terminaram sempre em crise (p. 45).

O capital fictício é tanto um acelerador do desenvolvimento capitalista como fautor de crises, esta ambivalência dá aos seus zeladores no dizer de Marx "o caracter híbrido de escroques e profetas". (p. 63) Grandes bancos manipularam em seu benefício durante mais de duas décadas as taxas Libor e as taxas de câmbio das principais moedas. A procura do desempenho a qualquer custo teve como corolário a fraude, a vigarice. "Os delitos estão presentes desde sempre no mercado e raramente são objeto de procedimento judicial" (B. Madoff, ex-presidente da NASDAQ) (p. 17).

A Golman Sachs que reconheceu ter cometido práticas fraudulentas, teve em 2010 uma multa de 550 milhões de dólares, cerca de 14 dias dos lucros desse ano (p. 19). Os sistemas de crédito paralelo contornam as normas sobre reservas obrigatórias, representam canais de difusão das crises a que as avaliações das agências de rating acrescentam riscos (p. 82).

A legitimação do liberalismo financeiro foi apoiada por economistas e universitários. Larry Summers [1] havia recebido 20 milhões de dólares em anos em que defendeu incansavelmente o liberalismo financeiro. Verificou-se que 19 eminentes universitários diretamente implicados nas reformas financeiras estavam também ligados ao sector privado sem nunca o terem declarado (p. 33).

Como aprendizes de feiticeiro os agentes financeiros foram apanhados na sua própria armadilha e não anteciparam o desastre. Porém (para eles) tudo continua como se nada se tivesse passado, continuando a serem considerados racionais e omniscientes, A cegueira ao desastre e ao conformismo dominam o sistema financeiro (p. 24).

3 – A vingança dos rentistas

O aumento dos lucros financeiros poderia sugerir que a vingança dos rentistas era a explicação para o paradoxo dos lucros sem acumulação. Porém as (grandes) empresas também obtiveram rendimentos crescentes das suas atividades financeiras (p. 158). No entanto, em prejuízo da sua atividade produtiva, em detrimento do "crescimento e emprego", a fórmula com que a direita e a social-democracia procuram iludir as camadas proletárias.

A reconfiguração do tecido produtivo alinha-se em função do interesse dos acionistas em termos de rendimento a curto prazo. Consiste em "reestruturar e distribuir", isto é reduzir o emprego e separar-se de atividades menos rentáveis, estabelecendo subcontratos. O reforço do poder dos acionistas e a globalização afetou negativamente o investimento estabelecendo uma norma de rentabilidade mínima aquém da qual os projetos produtivos são eliminados. (p. 170) Esta reconfiguração visa libertar mais-valias bolsistas e dividendos, mais que o aumento da eficiência económica, modificando a relação de forças entre acionistas, gestores e trabalhadores (p. 158, 159). É uma lógica predadora: trata-se de garantir que o capital fictício seja sempre convertível em dinheiro, isto é, bens e serviços (p. 188).

Nas vésperas da crise atual, 147 sociedades controlavam 40% do valor do conjunto das TN, sendo elas próprias dominadas por 18 entidades financeiras (p. 114). Estabelece-se uma hierarquia de capitais, na qual os centros capitalistas diretamente ligados aos mercados financeiros dispõem de um poder de mercado que lhe permite transmitir os choques conjunturais às empresas da periferia com o objetivo de atingir e ultrapassar os rendimentos garantidos aos acionistas. A pressão traduz-se na degradação das condições salariais (p. 163).

O parasitismo dos países mais avançados estabelece como que um tributo aos países mais fracos, sob a forma de produtos, recursos naturais e lucros, verificando-se naqueles países uma parte crescente de lucros recebidos do estrangeiro (p. 181). Porém, simultaneamente cresce o peso de atividades cuja dinâmica tende a reduzir-se, crescendo aquelas em que a produtividade estagna (p. 173).

4 – Uma transferência de riqueza organizada a nível global

Os grandes bancos de investimento e os fundos especulativos organizam a transferência de riqueza a nível global. Com a estabilidade financeira visa-se fazer prevalecer as exigências do capital financeiro sobre as aspirações das populações (p. 124).

Nos EUA os 1% mais rico apoderaram-se de 95% dos ganhos entre 2009 e 2013, aumentando os seus rendimentos em 31,4%. O total dos montantes despendidos pelos Estados para apoiar o sector financeiro (recapitalizações, compra de ativos, nacionalizações", garantias, injeções de liquidez) em 2008 e 2009 foi avaliado pelo FMI em 50,4% do PIB mundial! (p. 51)

Outro aspeto é a liberalização do comércio e dos fluxos de capitais, estabelecendo um exército de reserva do trabalho a nível global. A troca desigual proporciona a capacidade das TN dos países dominantes para remunerar os seus agentes financeiros através dos ganhos provenientes das relações mercantis assimétricas com os seus fornecedores dos países dominados (p. 128).

Com o enfraquecimento do movimento operário o imperialismo e a oligarquia financeira reforçaram o seu poder (p. 184). Em 2006 havia 66 milhões de trabalhadores, em países ou zonas em que impostos e regulamentações são quase inexistentes, em particular as do trabalho, com fiscalização submetida aos interesses e exigências do patronato e salários de 1 € por dia (p. 177).

Para Hayek as crises não são produzidas por excesso de produção mas por excesso de consumo (p. 60). Justificando assim os planos de austeridade que não são mais que créditos sobre os montantes futuros dos impostos dos quais a finança se apropria (p. 66).

Ganha, pois, uma atualidade nova a famosa afirmação de Marx segundo a qual "numa certa fase do seu desenvolvimento, as forças produtivas materiais entram em conflito com as relações de produção existentes, ou, o que não é senão a sua expressão jurídica, com as relações de propriedade no seio das quais tinham existido até então. De formas de desenvolvimento das forças produtivas estas relações tornam-se no seu entrave" (p. 133).

Perante as crises o sistema tem necessidade de relançamento para um rápido aumento dos lucros, recorrendo a choques exógenos, como guerras, contrarrevoluções, derrota dos assalariados, descoberta de novas fontes de matérias-primas (Ernest Mendel) (p. 139).

Esta política não conhece limites e só pode ser posta em causa pela combatividade das camadas populares (p. 190). Eis o que resume as mensagens que propomos reter do livro de Cédric Durand.
 

[1] Antigo presidente da Universidade de Harvard, conselheiro de Obama e secretário do Tesouro de Clinton.

Ver também:

  • O Inverno vem aí... , de Jacques Sapir

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • Estados Unidos é o maior violador de Direitos Humanos do mundo

    quarta-feira, 11 de março de 2015

    O fascismo está outra vez em ascensão


    por John Pilger
     
    O recente 70.º aniversário da libertação de Auschwitz foi uma evocação do grande crime do fascismo, cuja iconografia nazi está entranhada na nossa consciência. O fascismo está preservado na história, em filmes com ondas de camisas negras em passo de ganso, com a sua criminalidade terrível e clara. Porém, nessas mesmas sociedades liberais, cujas elites que fazem as guerras nos aconselham a nunca o esquecer, não se fala do perigo acelerado dum tipo de fascismo moderno; porque é o fascismo delas.
    "Iniciar uma guerra de agressão…", disseram os juízes do Tribunal de Nuremberga em 1946, "não é só um crime internacional, é o supremo crime internacional, que apenas difere de outros crimes de guerra porque contém em si o mal acumulado de todos eles".
    Se os nazis não tivessem invadido a Europa, não teria acontecido Auschwitz e o Holocausto. Se os Estados Unidos e os seus satélites não tivessem iniciado a sua guerra de agressão no Iraque em 2003, ainda hoje viveria quase um milhão de pessoas; e o Estado Islâmico, ou o ISIS, não nos manteria reféns da sua selvajaria. Eles são a prole do fascismo moderno, desmamados pelas bombas, pelos banhos de sangue e pelas mentiras que são o teatro surrealista conhecido por "noticiários".

    Tal como o fascismo dos anos 30 e 40, as grandes mentiras são proferidas com a precisão dum metrónomo: graças aos media omnipresentes, repetitivos e graças à sua virulenta censura por omissão. Vejam a catástrofe na Líbia.

    Em 2011, a NATO desencadeou 9700 ataques contra a Líbia, dos quais mais de um terço foram dirigidos contra alvos civis. Usaram ogivas de urânio; as cidades de Misurata e Sirte foram atapetadas com bombas. A Cruz Vermelha identificou sepulturas em massa e a Unicef noticiou que "a maior parte [das crianças mortas] tinha menos de dez anos".

    . A sodomização pública do presidente líbio Muammar Gaddafi com uma baioneta "rebelde" foi saudada pela então secretária de Estado, Hillary Clinton, com as palavras: "Chegámos, vimos e ele morreu". O seu assassínio, tal como a destruição do seu país, foi justificado por uma grande mentira já bem conhecida: ele estaria a planear um "genocídio" contra o seu próprio povo. "Sabíamos… que se esperássemos mais um dia", disse o presidente Obama, "Benghazi, uma cidade do tamanho de Charlotte, podia ser vítima de um massacre que se reflectiria por toda a região e mancharia a consciência do mundo".

    Foi esta a maquinação das milícias islamitas que enfrentavam a derrota frente às forças governamentais líbias. Disseram à Reuters que ia haver "um verdadeiro banho de sangue, um massacre como o que se vira no Ruanda". Transmitida a 14 de Março de 2011, a mentira foi a primeira faísca para o inferno da NATO, descrito por David Cameron como uma "intervenção humanitária".

    Abastecidos e treinados secretamente pelos SAS da Grã-Bretanha, muitos dos "rebeldes" passaram para o ISIS, cujo último vídeo mostra a decapitação de 21 trabalhadores cristãos coptas capturados em Sirte, a cidade destruída pelos bombardeiros da NATO.

    Para Obama, para Cameron e para Hollande, o verdadeiro crime de Khadafi era a independência económica da Líbia e a sua intenção declarada de cessar a venda em dólares americanos das maiores reservas petrolíferas de África. O petrodólar é um pilar do poder imperial americano. Kadhafi planeava atrevidamente promover uma divisa africana comum com base no ouro, instituir um banco para toda a África e promover uma união económica entre países pobres com recursos valiosos. Mesmo que isso não viesse a acontecer, só essa ideia era intolerável para os EUA, que se preparavam para "entrar" em África e subornar os governos africanos com "parcerias" militares.

    Na sequência do ataque da NATO, ao abrigo de uma resolução do Conselho de Segurança, Obama, como escreveu Garikai Chengu :
    "confiscou 30 mil milhões de dólares ao Banco Central da Líbia, que Khadafi havia destinado ao estabelecimento de um Banco Central Africano e para a divisa dinar sustentada pelo ouro africano". [NR]
    A "guerra humanitária" contra a Líbia assentou num modelo querido dos corações liberais ocidentais, em especial dos media. Em 1999, Bill Clinton e Tony Blair mandaram a NATO bombardear a Sérvia, porque, mentiram eles, os sérvios estavam a praticar um "genocídio" contra os albaneses étnicos na província secessionista de Kosovo. David Scheffer, o embaixador americano itinerante para crimes de guerra [sic], afirmou que podiam ter sido mortos "225 mil albaneses étnicos entre os 14 e os 59 anos". Clinton e Blair evocaram o Holocausto e "o espírito da Segunda Guerra Mundial". Os heróicos aliados do Ocidente eram o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), cujo registo criminal foi ignorado. O secretário do Foreign Office, Robin Cook, disse-lhes para lhe ligarem por telemóvel, sempre que quisessem.

    Com os bombardeamentos da NATO e grande parte das infraestruturas da Sérvia em ruínas, juntamente com escolas, hospitais, mosteiros e a estação nacional da TV, equipas forenses internacionais avançaram para Kosovo a fim de arranjar provas do "holocausto". O FBI não conseguiu encontrar uma única sepultura em massa e voltou para casa. A equipa forense espanhola fez o mesmo, e o seu chefe denunciou irritado "uma pirueta semântica feita pelas máquinas de propaganda da guerra". Um ano depois, um tribunal das Nações Unidas na Jugoslávia anunciou o total de mortos no Kosovo: 2788. Isto incluía combatentes dos dois lados e sérvios e romenos assassinados pelo ELK. Não houvera qualquer genocídio. O "holocausto" tinha sido uma mentira. O ataque da NATO fora fraudulento.

    Por detrás da mentira, havia um objectivo importante. A Jugoslávia era uma federação singularmente independente, multiétnica, que se tinha mantido como uma ponte política e económica durante a Guerra-fria. A maior parte das suas instalações e fábricas principais eram de propriedade privada. Isso não era aceitável para a Comunidade Europeia em expansão, especialmente para a Alemanha recém unida, que tinha começado a avançar para leste a fim de captar o seu "mercado natural" nas províncias jugoslavas da Croácia e da Eslovénia. Na altura em que os europeus se encontraram em Maastricht em 1991 para traçar planos para a desastrosa eurozona, foi feito um acordo secreto: a Alemanha iria reconhecer a Croácia. A Jugoslávia estava condenada.

    Em Washington, os EUA viam que à debilitada economia jugoslava foi recusado um empréstimo do Banco Mundial. A NATO, na altura praticamente uma relíquia quase defunta da Guerra-fria, foi reinventada como polícia imperial. Numa conferência de "paz" do Kosovo, em 1999, em Rambouillet, França, os sérvios foram submetidos às tácticas traiçoeiras dessa polícia. O acordo de Rambouillet incluía um Anexo B secreto, que a delegação dos EUA inseriu no último dia. Este exigia a ocupação militar de toda a Jugoslávia – um país com recordações amargas da ocupação nazi – e a implementação de uma "economia de mercado livre" e a privatização de todos os activos governamentais. Nenhum estado soberano podia assinar uma coisa daquelas. A punição seguiu-se rapidamente: as bombas da NATO caíram sobre um país indefeso. Foram as precursoras das catástrofes no Afeganistão e no Iraque, na Síria e na Líbia, e na Ucrânia.

    A partir de 1945, mais de um terço dos membros das Nações Unidas – 69 países – sofreram parte ou tudo aquilo que se segue às mãos do moderno fascismo da América. Foram invadidos, os seus governos foram derrubados, os movimentos populares suprimidos, as eleições subvertidas, as populações bombardeadas e as economias despojadas de toda a protecção, as sociedades sujeitas a um cerco debilitante designado por "sanções". O historiador britânico Mark Curtis avalia o total de mortes em milhões. Em todas as situações, foi montada uma enorme mentira.

    "Esta noite, pela primeira vez desde o 11 de Setembro, terminou a nossa missão de combate no Afeganistão". Foram estas as palavras de Obama, na abertura do discurso de o Estado da União, em 2015. Na realidade, mantêm-se no Afeganistão 10 mil efectivos e 20 mil contratados militares (mercenários) em missões indefinidas. "A guerra americana mais longa da história está a chegar a uma conclusão responsável", disse Obama. Na verdade, foram mortos mais civis no Afeganistão em 2014 do que em qualquer outro ano desde que as Nações Unidas passaram a manter registos. A maioria foi morta – civis e soldados – durante a presidência de Obama.

    A tragédia do Afeganistão só tem igual no crime monstruoso da Indochina. No seu livro elogiado e muito citado "O grande tabuleiro de xadrez: o primado americano e os seus imperativos geoestratégicos (The Grand Chessboard: American Primacy and Its Geostrategic Imperatives), Zbigniew Brzezinski, o padrinho das políticas dos EUA desde o Afeganistão até aos dias de hoje, escreve que, se a América quiser controlar a Eurásia e dominar o mundo, não pode sustentar uma democracia popular porque "a busca do poder não é um objectivo que comande a paixão popular… A democracia é inimiga da mobilização imperialista". Tem toda a razão. Como a WikiLeaks e Edward Snowden revelaram, o estado de vigilância e policial está a usurpar a democracia. Em 1976, Brzezinski, na altura conselheiro de Segurança Nacional do presidente Carter, demonstrou o seu ponto de vista desferindo um golpe mortal contra a primeira e única democracia do Afeganistão. Quem conhece esta história vital?

    Nos anos 60, uma revolução popular varreu o Afeganistão, o país mais pobre da terra, acabando por derrubar os vestígios do regime aristocrático em 1978. O Partido Popular Democrático do Afeganistão (PPDA) formou um governo e declarou um programa de reformas que incluía a abolição do feudalismo, a liberdade de todas as religiões, direitos iguais para as mulheres e justiça social para as minorias étnicas. Foram libertados mais de 13 mil prisioneiros políticos e os arquivos policiais foram queimados em público.

    O novo governo instituiu cuidados médicos gratuitos para os mais pobres; foi abolida a servidão, foi lançado um amplo programa de alfabetização. Para as mulheres, os ganhos foram inauditos. No final dos anos 80, metade dos alunos da universidade eram raparigas e as mulheres eram quase metade dos médicos do Afeganistão, um terço dos funcionários públicos e a maioria dos professores. "Todas as raparigas", recorda Saira Noorani, uma cirurgiã, "podiam entrar na universidade. Podíamos ir onde quiséssemos e usar o que quiséssemos. Costumávamos ir aos cafés e ao cinema ver o último filme indiano à sexta-feira e ouvir as últimas músicas. Tudo começou a correr mal quando os mujaheddin começaram a ganhar. Matavam professoras e queimavam escolas. Ficámos aterrorizadas. Era cómico e triste pensar que eram estas as pessoas que o Ocidente apoiava".

    O governo do PPDA era apoiado pela União Soviética, apesar de, conforme posteriormente o antigo secretário de Estado Cyrus Vance reconheceu, "não haver provas de qualquer cumplicidade soviética [na revolução]". Alarmados pela crescente confiança dos movimentos de libertação em todo o mundo, Brzezinski decidiu que, se o Afeganistão conseguisse ter êxito com o PPDA, com a sua independência e progresso, isso iria constituir a "ameaça de um exemplo promissor".

    A 3 de Julho de 1979, a Casa Branca, secretamente, autorizou o apoio aos grupos tribais "fundamentalistas", conhecidos por mujaheddin, um programa que acabou por aumentar para 500 milhões de dólares por ano em armamento norte-americano e outro tipo de apoios. O objectivo era o derrube do primeiro governo laico e reformista do Afeganistão. Em Agosto de 1979, a embaixada dos EUA em Cabul, noticiou que "o principal interesse dos Estados Unidos… seria atingido com a queda [do governo do PPDA], apesar de quaisquer recuos que isso pudesse significar para as futuras reformas sociais e económicas no Afeganistão". Os itálicos são meus.

    . Os mujaheddins eram os antecessores da al-Qaeda e do Estado Islâmico. Incluíam Gulbuddin Hekmatyar, que recebeu dezenas de milhões de dólares em dinheiro da CIA. A especialidade de Hekmatyar era o tráfico do ópio e atirar ácido à cara das mulheres que se recusavam a usar o véu. Convidado em Londres, foi elogiado pela primeira-ministra Thatcher como um "combatente pela liberdade".

    Estes fanáticos podiam ter-se mantido no seu mundo tribal se Brzezinski não tivesse desencadeado um movimento internacional para promover o fundamentalismo islâmico na Ásia Central e corroer assim uma libertação política secular e "desestabilizar" a União Soviética, criando, conforme ele escreveu na sua autobiografia, "alguns muçulmanos conflituosos". O seu grande plano coincidia com as ambições do ditador paquistanês, o general Zia ul-Hag, para dominar a região. Em 1986, a CIA e a agência de inteligência do Paquistão, o ISI, começaram a recrutar pessoas de todo o mundo para aderirem à jihad afegã. O multimilionário saudita, Osama bin Laden foi um deles. Operacionais que acabaram por se juntar aos talibãs e à al-Qaeda, foram recrutados numa faculdade islâmica em Brooklyn, Nova Iorque, e receberam formação militar num campo da CIA na Virgínia. Chamaram-lhe a "Operação Ciclone" . O seu êxito foi festejado em 1996, quando o último presidente PPDA do Afeganistão, Mohammed Najibullah – que fora pessoalmente à Assembleia Geral das Nações Unidas para pedir ajuda – foi enforcado num candeeiro pelos talibãs.

    O "ricochete" da Operação Ciclone e dos seus "muçulmanos conflituosos" foi o 11 de Setembro de 2001. A Operação Ciclone passou a ser a "guerra contra o terrorismo", em que perderiam a vida inúmeros homens, mulheres e crianças no mundo muçulmano, do Afeganistão ao Iraque, ao Iémen, à Somália e à Síria. A mensagem dos "polícias" foi e continua a ser: "Ou estão connosco ou são contra nós".

    A habitual ameaça do fascismo, no passado e no presente, é o assassínio em massa. A invasão americana do Vietname teve as suas "zonas livres de fogo", "contagem de corpos" e "danos colaterais". Na província de Quang Ngai, de onde enviei notícias, muitos milhares de civis ("gooks") foram assassinados pelos EUA; mas só se recorda um massacre, em My Lai. No Laos e no Camboja, o maior bombardeamento da história provocou uma época de terror marcado hoje pelo espectáculo de crateras unidas por bombas que, vistas do ar, parecem monstruosos colares. O bombardeamento deu ao Camboja o seu ISIS, chefiado por Pol Pot.

    Actualmente, a maior campanha de terror do mundo envolve a execução de famílias inteiras, de convidados em casamentos, de acompanhantes em funerais. Estas são as vítimas de Obama. Segundo o New York Times, Obama faz a sua selecção a partir de uma "lista de matança" da CIA que lhe é apresentada todas as terças-feiras na Sala da Situação da Casa Branca. Ele então decide, sem uma ponta de justificação legal, quem viverá e quem morrerá. A sua arma de execução é o míssil Hellfire transportado por um avião sem piloto conhecido por "drone"; estes assam as vítimas e engalanam a área com os seus despojos. Cada "ataque" ("hit") é registado num ecrã duma longínqua consola conhecida por "esmagador de insetos" (bugsplat).

    "Os passos-de-ganso", escreveu o historiador Norman Pollock, "foram substituídos pela militarização aparentemente mais inócua da cultura total. Para o líder bombástico, temos o reformista falhado, a trabalhar jovialmente, planeando e executando assassínios, sorrindo todo o tempo".

    O que une o antigo fascismo e o novo é o culto da superioridade. "Acredito na excelência americana com todas as fibras do meu ser", disse Obama, fazendo lembrar declarações de fetichismo nacional dos anos 30. Como assinalou o historiador Alfred W. McCoy, foi Car Schmitt, admirador de Hitler, quem disse; "O soberano é ele que decide a excepção". Isto resume o americanismo, a ideologia dominante do mundo. Que isso continue a não ser reconhecido como uma ideologia predatória é a façanha duma igualmente não reconhecida lavagem ao cérebro. Insidiosa, não declarada, apresentada inteligentemente como uma iluminação, este conceito insinua-se na cultura ocidental. Eu cresci no meio duma dieta cinéfila da glória americana, quase toda ela uma distorção. Não tinha a menor ideia de que fora o Exército Vermelho que destruíra a maior parte da máquina de guerra nazi, com um custo de 13 milhões de soldados. Em contraste, as perdas dos EUA, incluindo as do Pacífico, foram de 400 mil. Holywood virou tudo ao contrário.

    A diferença agora é que as audiências do cinema são convidadas a retorcer as mãos com a "tragédia" de psicopatas americanos terem que matar pessoas em locais distantes – tal como o próprio Presidente as mata. A encarnação da violência de Hollywood, o actor e director Clint Eastwood, foi nomeado para um Óscar este ano pelo seu filme, "Sniper Americano", que é sobre um assassino paranóico autorizado. O New York Times descreveu-o como um "filme patriótico, pró-família que bateu todos os recordes de assistência nos primeiros dias de exibição".

    Não há filmes heróicos sobre a adesão da América ao fascismo. Durante a Segunda Guerra Mundial, a América (e a Grã-Bretanha) foram para a guerra contra os gregos que se tinham batido heroicamente contra o nazismo e estavam a resistir à progressão do fascismo grego. Em 1967, a CIA ajudou a subida ao poder duma junta militar fascista em Atenas – tal como no Brasil e na maior parte da América Latina. Os alemães e os europeus de leste que se haviam conluiado com a agressão nazi e com os crimes contra a humanidade receberam um porto de abrigo seguro nos EUA; muitos deles foram apaparicados e os seus talentos recompensados. Wernher von Braun foi o "pai" da bomba terrorista nazi V-2 e do programa espacial dos EUA.

    Nos anos 90, quando as antigas repúblicas soviéticas, a Europa do leste e os Balcãs passaram a ser postos militares avançados da NATO, os herdeiros dum movimento nazi na Ucrânia tiveram a sua oportunidade., Responsável pelas mortes de milhares de judeus, polacos e russos, durante a invasão nazi da União Soviética, o fascismo ucraniano foi reabilitado e a sua "nova vaga" saudada pelo braço armado como "nacionalista".

    Isso atingiu o seu apogeu em 2014, quando a administração Obama gastou cinco mil milhões de dólares num golpe contra o governo eleito. As tropas de choque eram neonazis conhecidos como o Setor de Direita e Svoboda. Os seus líderes incluíam Oleh Tyahnybok, que apelou a um expurgo da "máfia moscovita-judaica" e "outra escumalha", incluindo homossexuais, feministas e os da esquerda política.

    Estes fascistas estão hoje integrados no governo golpista de Kiev. O primeiro presidente do parlamento ucraniano, Andriy Parubiy, líder do partido do governo, é cofundador do Svoboda. A 14 de Fevereiro, Parubly anunciou que ia a Washington pedir que "os EUA nos dêem armamento moderno de precisão". Se o conseguir, isso será considerado um ato de guerra pela Rússia.

    . Nenhum líder ocidental comentou o reacender do fascismo no coração da Europa – com excepção de Vladimir Putin, cujo povo perdeu 22 milhões numa invasão nazi que entrou pela fronteira da Ucrânia. Na recente Conferência de Segurança de Munique, a subsecretária de Estado dos EUA para os Assuntos Europeus e Euro-asiáticos, Victoria Nuland, considerou uma ofensa que os líderes europeus se opusessem a que os EUA fornecessem armamento ao regime de Kiev. Referiu-se ao ministro alemão da Defesa como "o ministro para o derrotismo". Foi Nuland quem arquitectou o golpe em Kiev. Mulher de Robert D. Kagan, uma importante luminária neoconservadora e cofundadora do Projecto para um Novo Século Americano, da ala de extrema-direita, foi conselheira de política externa de Dick Cheney.

    O golpe de Nuland não correu conforme o planeado. A NATO foi impedida de se apoderar da base naval, histórica, legítima, de águas tépidas, da Rússia, na Crimeia. A população da Crimeia, de maioria russa – anexada ilegalmente à Ucrânia por Nikita Krushchev em 1954 – votou esmagadoramente pelo regresso à Rússia, conforme tinham feito nos anos 90. O referendo foi voluntário, popular e observado internacionalmente. Não houve qualquer invasão.

    Simultaneamente, o regime de Kiev virou-se contra a população de etnia russa no Leste com a ferocidade da limpeza étnica. Colocou milícias neonazis ao estilo das Waffen-SS, que bombardearam e cercaram vilas e cidades. Usaram a fome como arma, cortando a electricidade, congelando contas bancárias, suspendendo a segurança social e as pensões. Mais de um milhão de refugiados atravessaram a fronteira em direcção à Rússia. Nos media ocidentais, foram tratados como pessoas que fugiam da "violência" provocada pela "invasão russa". O comandante da NATO, general Breedlove – cujo nome e acções podiam ter sido inspirados pelo Dr. Strangelove de Stanley Kubrik – anunciou que estavam a "reunir-se" 40 mil tropas russas. Na era de provas forenses por satélite, não apresentou nenhuma.

    As pessoas de língua russa e as bilingues da Ucrânia – um terço da população – há muito que procuram uma federação que reflicta a diversidade étnica do país e seja autónoma e independente de Moscovo. A maior parte não são "separatistas" mas apenas cidadãos que querem viver em segurança na sua pátria e se opõem à tomada de poder verificada em Kiev. A sua revolta e a instituição de "estados" autónomos são uma reacção aos ataques de Kiev contra eles. Poucas destas coisas têm sido explicadas às audiências ocidentais.

    A 2 de Maio de 2014, em Odessa, 41 cidadãos de etnia russa foram queimados vivos na sede dos sindicatos, guardada por polícias. O líder do Sector de Direita, Dmytro Yarosh considerou o massacre como "mais um dia de glória na nossa história nacional". Nos media americanos e britânicos, foi noticiado como uma "tragédia sombria" resultante dos "choques" entre "nacionalistas (neonazis) e "separatistas" (pessoas que recolhiam assinaturas para um referendo sobre uma Ucrânia federal).

    O New York Times enterrou a notícia e reduziu a "propaganda russa" os alertas sobre as políticas fascistas e anti-semitas dos novos clientes de Washington. O Wall Street Journal condenou as vítimas – "Fogo ucraniano mortal provavelmente ateado por rebeldes, diz o Governo". Obama felicitou a Junta pelo seu "comedimento".

    Se Putin puder ser provocado a ir em auxílio deles, o seu papel de "pária" pré-encomendado no Ocidente justificará a mentira de que a Rússia está a invadir a Ucrânia. A 29 de Janeiro, o supremo comandante militar da Ucrânia, o general Viktor Muzhemko, quase destruiu inadvertidamente a base das sanções dos EUA e da UE à Rússia, quando disse enfaticamente numa conferência de imprensa: "O exército ucraniano não está a combater contra unidades regulares do Exército russo". Havia "cidadãos individuais" que eram membros de "grupos armados ilegais", mas não havia nenhuma invasão russa. Não era novidade nenhuma. Vadym Prystaiko, o vice-ministro dos Estrangeiros de Kiev, apelara a uma "guerra em grande escala" contra a Rússia com armamento nuclear.

    A 21 de Fevereiro, o senador americano James Inhofe, um Republicano de Oklahoma, apresentou um projeto-de-lei que autorizaria armas americanas para o regime de Kiev. Na apresentação ao Senado, Inhofe usou fotografias que afirmou serem de tropas russas a entrar na Ucrânia, que há muito tinham sido denunciadas como falsificações. Fez recordar as fotos falsas de Ronald Reagan de uma instalação soviética na Nicarágua, e as provas falsas de Colin Powell à ONU de armas de destruição maciça no Iraque.

    A intensidade da campanha de calúnias contra a Rússia e a apresentação do seu presidente como o vilão duma pantomina não tem paralelo com nada do que já vi até hoje enquanto repórter. Robert Parry, um dos mais conhecidos jornalistas de investigação da América, que revelou o escândalo Irão-Contra, escreveu há pouco: "Nenhum governo europeu, desde a Alemanha de Adolfo Hitler, achou justo enviar tropas de choque nazis para entrar em guerra com uma população interna, mas o regime de Kiev fez isso e fê-lo reconhecidamente. No entanto, por todo o espectro media/político do Ocidente, tem sido feito um esforço brutal para esconder esta realidade, chegando ao ponto de ignorar factos que já estão solidamente estabelecidos… Se ficarem a pensar como é que o mundo pode encontrar-se numa terceira guerra mundial – tal como se encontrou na primeira guerra mundial há cem anos – basta olhar para a loucura na Ucrânia que se tem mostrado impenetrável aos factos ou à razão".

    Em 1946, o promotor público do Tribunal de Nuremberga afirmou quanto aos media alemães: "É bem conhecido o uso que os conspiradores nazis fizeram da guerra psicológica. Antes de cada agressão principal, com algumas excepções com base na conveniência, iniciavam uma campanha de imprensa, destinada a enfraquecer as suas vítimas e a preparar psicologicamente o povo alemão para o ataque… No sistema de propaganda do Estado de Hitler, as armas mais importantes foram a imprensa diária e a rádio". No Guardian de 2 de Fevereiro, Timothy Garton-Asg apelou mesmo à guerra mundial. "É preciso fazer parar Putin", dizia o cabeçalho. "Por vezes só canhões podem fazer calar canhões". Reconhecia que a ameaça de guerra podia "alimentar uma paranóia russa de cerco", mas tudo bem. Ele mencionava o equipamento militar necessário para a tarefa e esclareceu os leitores de que "a América tinha o melhor equipamento".

    Em 2003, Garton-Ash, professor em Oxford, repetia a propaganda que levou à chacina no Iraque. "Saddam Hussein", escreveu, "armazenou, conforme [Colin] Powell documentou, grandes quantidades de terríveis armas químicas e biológicas e está a esconder o que resta delas. Continua a tentar arranjar as nucleares". Elogiava Blair como um "intervencionista gladstoniano, liberal cristão". Em 2006, escreveu: "Agora enfrentamos o maior teste do Ocidente, depois do Iraque: o Irão".

    As explosões [de entusiasmo] – ou, como Garton-Ash prefere, a sua "torturada ambivalência liberal" – são típicas daqueles que pertencem à elite liberal transatlântica que fizeram um acordo faustiano. O criminoso de guerra Blair é o seu líder perdido. O Guardian, onde apareceu o artigo de Garton-Ash, publicou um anúncio de página inteira para um bombardeiro Stealth americano. Numa imagem ameaçadora do monstro de Lockheed Martin havia as palavras: "O F-35. ÓTIMO para a Grã-Bretanha". Este "equipamento" americano custará aos contribuintes britânicos 1,3 mil milhões de libras esterlinas, depois de os seus antecessores modelo-F terem chacinado por todo o mundo. Em coro com o anunciante, o editorial do Guardian defendia um aumento nas despesas militares.

    Mais uma vez, há um objectivo profundo. Os dirigentes do mundo não querem a Ucrânia só como uma base de mísseis. Querem a sua economia. A nova ministra das Finanças de Kiev, Natalie Jaresko, é uma antiga funcionária sénior do Departamento de Estado dos EUA, encarregada do "investimento" dos EUA no ultramar. Foi-lhe concedida à pressa a cidadania ucraniana. Querem a Ucrânia por causa do gás abundante. O filho do vice-presidente Joe Biden faz parte da administração da maior empresa de petróleo, de gás e de refinação da Ucrânia. Os fabricantes de sementes geneticamente modificadas, empresas como a pérfida Monsanto, querem o rico solo agrícola da Ucrânia.

    Sobretudo, querem o poderoso vizinho da Ucrânia, a Rússia. Querem balcanizar ou desmembrar a Rússia e explorar a maior fonte de gás natural do planeta. Enquanto o gelo do Árctico se derrete, querem controlar o Oceano Árctico e as suas riquezas energéticas, e a longa fronteira terrestre do Árctico na Rússia. O seu homem em Moscovo era Boris Yeltsin, um bêbado, que entregou a economia do país ao Ocidente. O seu sucessor, Putin, restabeleceu a Rússia como uma nação soberana; o seu crime é esse.

    A responsabilidade de todos nós é clara, É identificar e denunciar as mentiras incessantes dos defensores da guerra e nunca pactuar com elas. É reacender os grandes movimentos populares que trouxeram uma frágil civilização aos modernos estados imperialistas. Mais importante ainda, é impedir a conquista de nós mesmos: dos nossos espíritos, da nossa humanidade, do nosso auto-respeito. Se nos mantivermos calados, a vitória sobre nós é garantida e um holocausto nos acena.
    26/Fevereiro/2015
     

    [NR] Não é caso único.   Os EUA, após o golpe de Fevereiro de 2014 em Kiev, também roubaram as reservas-ouro do Banco Nacional da Ucrânia (40 t).

    O original encontra-se em johnpilger.com/articles/why-the-rise-of-fascism-is-again-the-issue . Tradução de Margarida Ferreira.


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

    quarta-feira, 4 de março de 2015

    O sr. Zeinal Bava e o porteiro da PT

    por

    Em 2009 o sr. Zeinal Bava da PT ganhou 2,5 M€. (1) Se o porteiro ganhasse uma média entre o salário médio e o salário mínimo nesse ano, Zeinal Bava ganharia qualquer coisa como 450 vezes mais. Porém ficou evidenciado na sua audição na comissão parlamentar que não sabia mais que o porteiro/segurança da empresa. Bem, recebia “tableau de bord”, contudo não sabia como 500M€ voavam da PT, qual o destino em aplicações de um “cash flow” anual como admitiu de 12 ou 15 000 M€ não conseguimos descortinar o que faria mais do que o porteiro perante os mesmos quadros.

    Fica-se com a ideia que alguém como que roubou aquela empresa. Que diabo, então não era suposto o porteiro não deixar entrar ladrões...Bem, isto não nos compete averiguar.

    A audição tem servido para mostrar que todo um conjunto de elementos de uma pseudo elite, que se considera acima dos demais cidadãos; uma aristocracia do dinheiro a quem a comunicação social, catedráticos, comentadores se verga em subserviente adulação.

    Indiferentes às vicissitudes do país e do seu povo. A única coisa que os motiva como foi dito, são os resultados obtidos, a significar que estes fins explicam os meios da austeridade.

    A negociata das privatizações ficou bem clara por Zeinal Bava: por um lado o cash flow de 12 e 15 000 M€ é o dinheiro que falta ao Estado para as suas funções económicas e sociais, para o investimento. Por outro lado, segundo referiu com evidente satisfação hoje o valor da PT Portugal é 3 a 4 vezes superior ao da privatização!

    Também demonstrou que os acionistas da PT SGPS nada perderam em todo este processo, mesmo com a queda das cotações para cerca de 30% do que valiam antes!

    A gente que aparece na comissão parlamentar ao BES, foi condecorada, recebia prémios, doutoramentos, catedráticos desfaziam-se no seu panegirico. Ganhavam por ano à volta de 1 M€ ou muito mais, sem contar com prémios, cartões de crédito, despesas de representação, viatura e outros serviços gratuitos…que o porteiro nem sequer se dá ao luxo de sonhar.

    Que pena não haver um Camilo Castelo Branco para retratar esta burguesia arrogante, como no seu livro “A Corja”. Mas enfim, até a literatura atual reles e mesquinha colabora submissa com as falácias de que o poder se serve.

    Recordemos então Guerra Junqueiro nos seus tempos de visão de águia sobre a sociedade: “a burguesia, opípara animal, silénica, grotesca, namora a deusa carne e adora o deus milhão (…) E chama-se a isto Progresso, ó Deus, esta farsada.”

    1 - Dado que existe uma lista de VIP que quem tiver assesso à sua declaração de IRS é automáticamente sinalizado e sujeito a processo que pode dar prisão, havendo dezenas de processos contra inspetores, designadamente os que pesquizaram Passos Coelho, como foi declarado pelo presidente do sindicato dos inspetores das finanças, declaro que os números aqui indicados foram retirados de uma revista Visão...

    aqui:http://foicebook.blogspot.pt/2015/03/o-sr-zeinal-bava-e-o-porteiro-da-pt.html

    domingo, 1 de março de 2015

    O ódio aos Russos do fascismo Ucraniano

    por Miguel Urbano Rodrigues

    A desinformação sobre a realidade do que se passa na Ucrânia é parte integrante da ofensiva do imperialismo na região. Como os correspondentes dos media russos no terreno contrapunham a essa manipulação uma informação objectiva e documentada, os fantoches fascistas no poder decidiram passar a intimidá-los, maltratá-los e expulsá-los. Enquanto acusam a Rússia de responsabilidade na violação do cessar-fogo acordado em Minsk, a escalada da provocação imperialista parece ter dado novos passos.

    Os media portugueses ditos de referência continuam a apresentar um panorama deformado da crise ucraniana.

     Para os comentaristas da TV e dos grandes jornais o governo fascizante de Kiev é democrático.
     Acusam a Rússia de uma política agressiva e anexionista e apoiam a ajuda financeira da União Europeia e dos Estados Unidos à Ucrânia.

    A comunicação social portuguesa inspira-se aliás na campanha de desinformação internacional que difunde pelo mundo uma falsa imagem da realidade ucraniana.

    Diariamente o Canal Rússia Today nos seus programas em inglês e espanhol transmite imagens, notícias e entrevistas que revelam uma realidade totalmente diferente da forjada pela propaganda dos media ocidentais.

    Nessas reportagens, bem documentadas, transparece com nitidez o ódio - é a palavra - do fascismo ucraniano à Rússia.

    Dos muitos casos relatados pelo referido canal selecionei alguns que iluminam bem a atitude das autoridades de Kiev perante os jornalistas russos que cobrem acontecimentos na Ucrânia.

    - Em Minsk durante a cimeira que reuniu Merkel, Hollande, Putin e Poroshenko, a jornalista Olga Skabeeva, do Canal Rússia 24, quando aproximou o microfone do Presidente da Ucrânia foi brutalmente agredida por um segurança de Poroshenko que lhe colocou um braço no pescoço e lhe tapou a boca impedindo-a de falar.

    - Dois jornalistas que cobriam acontecimentos em território ucraniano foram detidos pelos Serviços de Segurança e ameaçados de serem processados por «atividades informativas subversivas» contra a Ucrânia por incumbência da Rússia.

    - O mesmo Serviço advertiu que qualquer cidadão que colabore com jornalistas russos incorre em responsabilidade penal.

    - Uma jornalista do Canal russo NTV ficou detida uma noite no aeroporto de Kiev, privada de passaporte, depois de lhe negarem entrada no país.

    - Dois jornalistas russos que filmavam uma manifestação da extrema-direita em Kiev foram presos e deportados

    - Zaur Sheozh, repórter da sucursal em Moscovo da Al Jazira, do Qatar, foi preso quando pretendia cobrir o primeiro aniversário de Maidan e o cessar-fogo assinado em Minsk. Interrogado durante quatro horas, foi depois deportado.

    - Eelisaveta Jramtsova, correspondente de Life News, e a sua ajudante foram detidas quando tomavam um táxi para ir entrevistar um especialista de questões ligadas à agricultura. Dois homens entraram no táxi, identificaram-se como agentes do Serviço de Segurança e informaram que pretendiam interrogá-los sobre um possível atentado numa praça da cidade. Conduzidas a um lugar desconhecido, foram deportadas e proibidas de voltar à Ucrânia durante cinco anos.

    A HISTERIA ANTI-RUSSA

    O Serviço de Segurança elaborou uma lista negra dos meios de comunicação da Rússia. Todos, com exceção do canal de TV Dozhd, oposicionista, foram proibidos de trabalhar na Ucrânia.
    Simultaneamente suspendeu as credencias dos representantes de 100 media russos.

    A decisão foi tao absurda que a União Europeia e a OSCE decidiram protestar, por envolver um ataque inadmissível à liberdade de expressão.

    O Clube de Jornalistas do México também enviou um protesto ao governo de Kiev pelas medidas que impedem os jornalistas russos de trabalhar na Ucrânia.

    O governo de Putin, através do vice ministro das Relações exteriores, Vassili Nebenzia, sentiu a necessidade de condenar com veemência a atitude assumida pelo parlamento ucraniano ao aprovar no dia 26 de Fevereiro a decisão do Serviço de Segurança que impede na prática os media russos de trabalhar no país.

    O assassínio em Moscovo, no dia 28 de Fevereiro, de Boris Nemtsov, ex. vice-primeiro ministro de Ieltsin e líder da oposição contribuirá certamente para a intensificação da campanha ocidental contra a Rússia e Putin no momento em que a popularidade do presidente russo atinge o auge pela sua firmeza no diálogo com a União europeia e os EUA a propósito da crise ucraniana. Observadores ocidentais admitem que o crime tenha sido ideado por forças políticas da oposição empenhadas em destabilizar a Rússia.

    aqui:http://www.odiario.info/?p=3571
     

    Publicação em destaque

    Marionetas russas

    por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...