sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

Elogio da heterodoxia (na morte de Paco de Lucía)

por JOSÉ MANUEL PUREZA

 Astor Piazzolla, Carlos Paredes e Paco de Lucía são património da humanidade. Todos os artistas o são, de alguma maneira. Mas estes três são-no de um modo especial. Cada um deles, além de compositor genial e de intérprete virtuoso, condensou na sua obra os dois maiores desafios que estão lançados à humanidade no nosso tempo.

O primeiro desafio é o da combinação fecunda entre identidade e diálogo intercultural. Os puristas nunca perdoaram a Paredes, a Piazzolla ou a Paco de Lucía a ousadia de terem abanado os cânones do fado, do tango ou do flamenco. Os guardiões da tradição são sempre almas sisudas, incapazes de se porem em causa aceitando que não há tradições acabadas, há só construções e reconstruções permanentes. Os maiores amigos desses sisudos guardiões da (sua visão da) tradição são os estereótipos que uniformizam as culturas, que as descrevem como se fossem realidades monobloco, que as enunciam num ponto parado na História e repudiam qualquer noção de movimento e de transformação. E sobretudo de diversidade interna. Ora aquilo a que chamamos cultura - e que outros, mais perigosamente, apelidam de alma de um povo - é sempre uma combinação entre raízes e transgressões, entre conservação e mudança, entre fechamento defensivo e abertura ao diálogo. Todas as culturas são feitas de tensão permanente entre esses dois lados.

O fechamento etnocêntrico, pai de todos os integrismos, destruir-nos-á ao mesmo tempo que se entrincheira cheio de convencimento da sua razão superior. Paco, Paredes e Piazzolla estiveram sempre na contramão desse fechamento ignorante e estúpido. Foram mestres do arrojo, abrindo as tradições em que foram formados ao ar fresco dos diálogos com quem, noutros lugares, queria caminho e não quarto escuro. E quanto mais dominaram e amaram a tradição, mais a expuseram ao repto dos contrapontos. "Não tenho medo que se perca a essência do flamenco", disse Paco de Lucía. Ele, que fez Joaquin Rodrigo levantar-se para o abraçar pela sua interpretação do Concerto de Aranjuez, foi sem medo em busca de sonoridades gémeas, de afinações desafiadoras, das linguagens indisciplinadas do jazz ou da música árabe. "Não se perdeu nada, ganhou-se" - concluiu com razão. O bandoneón de Piazzolla ou a guitarra portuguesa de Paredes foram ferramentas dessa mesma procura de respiração, sem nenhuma vontade de estandardizar ou de fundir mas antes com uma fome insaciável de descobrir e de dialogar. De caminhar para dar força às raízes e não para as secar com o esquecimento. "Yo sólo quiero caminar / como corre la lluvia del cristal / como corre el río hacia la mar"...

O segundo desafio é o da resistência à globalização uniformizadora contrapondo-lhe a estima pela diversidade. Neste tempo de tanto etnocídio e de tanto esteticídio, a grandeza de Piazzolla, de Paredes e de Paco de Lucía não foi a de afirmarem novas músicas globais, devidamente liofilizadas e adocicadas para se poderem juntar ao repertório canónico. Não, a milonga de Piazzolla é genial porque ela transpira Buenos Aires por todos os poros, a bulería de Paco é única porque é orgulhosamente cigana sem transigências e as variações de Paredes são assombrosas porque ali está Coimbra e Lisboa e só por isso é que está o mundo inteiro. A diferença assumida, a margem sem arrependimentos nem complexos de inferioridade, a qualificada disputa do cânone- isso fez de Paredes, Paco e Piazzolla referências grandes da nossa humanidade. E sempre, sempre a alternativa do Sul, do Sul andarilho, do Sul sensual, do Sul magoado, do Sul outro e por isso sábio. Aquele que Piazzolla musicou para a eternidade: "Sueño el Sur / inmensa luna, cielo al reves / busco el Sur / el tiempo abierto, y su después".

aqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3711858&seccao=Jos%E9%20Manuel%20Pureza&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

Ter razão antes do tempo vale pouco em política

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Almofada de pedra

por VIRIATO SOROMENHO MARQUES

Como é que designaríamos o comportamento de um cidadão que, incapaz de honrar um crédito pessoal a uma taxa de 3,35%, prestes a atingir a maturidade, contraísse um novo empréstimo a uma taxa de 5,11% para pagar o primeiro ("troca de dívida")? Sem dúvida, tratar-se-ia de um comportamento pouco recomendável. E como seria classificado esse comportamento se o cidadão em causa utilizasse parte do novo empréstimo (de 11-02-2014) para antecipar, parcialmente, o pagamento em 19,5 meses do primeiro empréstimo, pagando 102,89 euros por cada 100 euros de dívida ("recompra")? Seria, certamente, uma atitude temerária, pois aumenta a despesa com juros para apenas empurrar a dívida para o futuro. Pois é isso que o Governo pretende fazer hoje. O leitor pode ir ao site eletrónico do IGCP. Abra o boletim mensal de fevereiro sobre "Dívida Pública". Na p. 2, vê que o Estado vai ter de resolver até 2016 cerca de 39 mil milhões de euros de empréstimos. Esse imenso obstáculo tem sido o pretexto para a constituição de uma volumosa "almofada" financeira. Tudo indica que o IGCP quer recomprar, hoje, uma parte de uma série de dívida a dez anos, contraída a partir de outubro de 2005 (ver p. 3). Se o fizer, às taxas mais recentes no mercado secundário, isso significa que, para o montante que for hoje amortizado, vamos pagar mais 3,53% de juros por ano até outubro de 2015 do que antes das duas operações financeiras supracitadas. Será isto uma gestão prudente, ditada pelo interesse nacional, ou estará o Tesouro público em risco para alimentar uma ilusão pré-eleitoral de triunfo? Será esta uma almofada que alivia o País, ou uma pedra amarrada às pernas que o atira para o fundo? Temos direito a saber a lógica com que se joga o dinheiro sonegado aos salários e às pensões. Direito a uma explicação, ou a uma beliscadela que nos acorde deste pesadelo.

aqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3709556&seccao=Viriato Soromenho Marques&tag=Opini%E3o - Em Foco

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

(Prole)tarização

por  


O anúncio, acintoso, da criação de uma “equipa multidisciplinar” para aumentar a natalidade por parte de um Governo que destruiu 1 milhão de postos de trabalho e cortou a massa salarial acima de 30%, onde a pobreza aumentou de 2 para 3 milhões num espaço de 4 anos, um governo que está a destruir a saúde e educação públicas, virá a ser constituído por leis anti aborto, um grupo de juízes conservadores, polícias e muitas revistas cor-de-rosa a explicar que o dia do nascimento de mais um filho de uma rainha que faz 50 viagens por ano com 4 amas atrás foi o mais feliz da vida dela?
Que as pessoas se recusem a ter filhos na actual situação é um sintoma de salubridade e decência. Os filhos não são um boneco que se compra para afagar o ego e, longe vão os tempos, felizmente, em que a segurança social era constituída por ter muitos filhos, que alguns acabariam por cuidar dos pais em velhos e muitos filhos, todos juntinhos, aos 10 de casa vez, 3 gerações, numa casa insalubre, para que todos os míseros salários juntinhos permitissem manter-se vivos. Há! velhos tempos, que ainda bem que passaram…
Não faltam nas nossas universidades equipas multidisciplinares que provaram – sem contraditório algum – que a dívida pública é uma renda fixa, que as PPPs deviam ser unilateralmente denunciadas, que a Banca devia ser nacionalizada, que os trabalhadores pagam 75% de todos os impostos, que é possível reduzir o horário de trabalho sem reduzir o salário e toda as pessoas trabalharem, que o Estado Social é auto sustentado. Não precisamos de equipas multidisciplinares, precisamos de políticas de ruptura com este modelo social destrutivo.
O desemprego, em gráfico, antes e depois da actuação da “equipa multidisciplinar que veio para o país para o tirar da crise”. Fonte: Eugénio Rosa.

desem 

aqui:http://5dias.wordpress.com/2014/02/24/proletarizacao/

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Falemos a sério sobre a desigualdade

por Zoltan Zigedy [*]

 
"A tenacidade dos yankees… é resultado do seu atraso teórico e do seu desprezo anglo-saxão por qualquer teoria. E à conta disso são penalizados por uma fé supersticiosa em todos os absurdos filosóficos e económicos, por um sectarismo religioso, e por experiências económicas idiotas, com as quais, apesar de tudo, certas cliques burguesas lucram".
Frederich Engels, carta a Sorge , Londres, 6 de Janeiro, 1892. Tradução para inglês de Leonard E. Mins (1938) 

 
Cento e vinte e dois anos depois, os yankees mantêm-se à margem das teorias ao mesmo tempo que se agarram a todos os esquemas peregrinos que prometem restringir o apetite de um sistema capitalista insaciável. Funcionando sem interrupção, o capitalismo gera cada vez maior riqueza para os seus amos enquanto devora todos os outros à sua volta. Da reforma reguladora a estilos de vida alternativos, de políticas fiscais a esforços cooperativos, os auto-proclamados opositores deste monstro económico voraz têm anunciado êxitos recém-cozinhados no seu caminho destruidor. Enquanto… "as pessoas [nos EUA] têm que tomar consciência dos seus interesses sociais, fazendo asneiras atrás de asneiras…", conforme Engels exprimiu numa outra carta para o seu amigo americano Frederich Sorge, os capitalistas satisfeitos continuam a lucrar alegremente.

A brutal acusação de Engel da alergia norte-americana à teoria e a afinidade por um activismo sem norte foi aligeirada por um optimismo baseado mais na esperança do que na realidade: "O movimento vai passar por muitas e desagradáveis fases, desagradáveis especialmente para os que vivem no país e têm que passar por elas. Mas estou firmemente convencido de que as coisas agora vão avançar aí… apesar do facto de que os americanos por enquanto irão aprender quase exclusivamente com a prática e não tanto com a teoria".

Essa convicção pode parecer desajustada hoje visto que muitos do que afirmam a sua oposição ao capitalismo continuam a desprezar a teoria e a investir em esquemas utópicos e a isolar questões escaldantes de uma crítica geral do capitalismo e das suas políticas sociais.

Nada ilustra melhor o diagnóstico de Engels do que a actual discussão pública sobre a desigualdade e a pobreza. É uma tentação chamar uma mania ou uma moda a este interesse recém-criado, visto que parece surgir apenas do alarme do actual Presidente. Mas a actual fúria em tratar da desigualdade económica é muito mais cínica. Com eleições nacionais provisórias no horizonte e uma corrida presidencial competitiva à porta, os líderes do Partido Democrata notificaram o Presidente em final de mandato de que chegou a altura de acordar as bases do Partido, os sindicatos, as organizações progressistas de uma só causa, os esquerdistas da internet, e os abastados liberais sociais. Daí que, apesar de a desigualdade e a pobreza não terem sido descobertas recentemente nem terem chegado há pouco tempo, o alarme sobe de tom: a desigualdade reina entre nós! A pobreza está a aumentar!

Claro que isto é verdade. Só meia dúzia de anormais pode negar que o crescimento de rendimentos e de riqueza para a maior parte das pessoas nos EUA tem estado estagnado ou em declínio desde há algum tempo, desde a década de 70. (Até o Representante Paul Ryan, um ideólogo da ala direita, reconhece que há 47 milhões de cidadãos americanos que vivem na pobreza). Os cuidados de saúde têm estado em crise, com milhões sem quaisquer opções significativas de saúde e um número incalculável dos que morrem prematuramente. O sistema de educação, tal como as infra-estruturas físicas, está subfinanciado e a desmoronar-se. O emprego continua a diminuir à medida que os trabalhadores desmoralizados saem do mercado de trabalho. Em resumo, a pobreza, a doença, o declínio do nível de vida, o crime – todos os problemas decorrentes da negligência social e política – continuam em escalada, tendo aumentado terrivelmente durante os últimos quarenta anos.

Simultaneamente, uma minoria privilegiada tem beneficiado de rendimentos e riqueza crescentes, um forte aumento na fatia do bolo económico desse grupo. Enquanto a economia avançou, os "poucos felizardos" também avançaram, mas a um ritmo mais acelerado.

Sem teoria

"A nossa agenda deve ser comandada por dados, e não por retórica política ou ideológica ridícula". É o que diz o senador Cory Booker, a super-estrela em ascensão do Partido Democrata, num debate no jornal com o ícone da política Republicana, o Representante Paul Ryan. Patrocinado pelo The Wall Street Journal (A Half Century of the War on Poverty , 1-25/26-14) para comemorar o quinquagésimo aniversário da "Guerra contra a Pobreza" da era Lyndon Johnson, os dois competidores demonstram a futilidade de tratar a pobreza sem uma compreensão ampla e profunda das suas raízes e da sua história – o "como" e o "porquê" da teoria social. Representando a Esquerda "respeitável" na pantomima política bipartidária dos EUA, Booker ensaia uma série de paliativos do pensamento liberal, baseados na educação, na formação profissional, na aprendizagem, na descriminalização do uso de drogas e num esqueleto de rede de segurança destinado a reduzir o número dos que são suficientemente desgraçados para cair num nível inferior aos cargos governamentais.

As soluções, para Booker, aparecem através dos instrumentos dos negócios e do comércio: investimentos, análise de custos-benefícios, retornos ao investimento, poupança de custos, etc. Em vez de melhorar a vida das pessoas, a tarefa de reduzir a pobreza parece um projecto MBA desta nova geração de políticos do Partido Democrata. Assenta em correlações suspeitas, muitas vezes desactualizadas, encontradas outrora entre níveis de educação e futuros resultados económicos para vender a educação como um elixir mágico. Estas verdades, há muito não verificadas, são agora abaladas pela ausência de empregos bem pagos, pelo valor decadente de graus académicos mais altos, e pelo enorme crescimento da dívida estudantil. A pobre defesa de Booker da rede de segurança esburacada que se mantém como uma herança baça do New Deal e da legislação anti-pobreza de Johnson, centra-se nos coupons de alimentos e na Medicaid, uma fórmula para manter a vida à justa, mas não para fugir da pobreza. Junte-se uma pitada de sermão tipo Moynihan contra as mães solteiras e obtém-se o programa anti-pobreza da nova geração dos líderes do Partido Democrata – na verdade uma manta de retalhos de "absurdos económicos" dignos do desprezo de Engels.

Quanto aos Republicanos, esses não discutem nada, são apenas contra os planos do Partido Democrata. Para eles há apenas uma constatação: quarenta e sete milhões de cidadãos americanos mantêm-se na pobreza. Embora a "Guerra contra a Pobreza" possa ter alterado as vítimas da pobreza demograficamente, os pobres continuam entre nós e em números teimosamente elevados. Para o Representante Ryan, a caridade e a persuasão – os remédios de há dois séculos – são a única alternativa ao intervencionismo liberal e ao seu fracasso.

Ora bem, os liberais vão afastar-se destas conclusões duras. Podem e vão apontar para significativas bolsas de melhorias, para declínios temporários nas taxas de pobreza, ou para experiências sociais promissoras. Mas o que não podem explicar nem resolver é a persistente reprodução da pobreza no nosso sistema económico . Durante quase quarenta anos, aumentaram as medidas de desigualdade de rendimentos e de riqueza, assinalando um aumento inevitável da pobreza. Mesmo os que não gostam de teoria podem certamente ver uma relação entre a desigualdade crescente e o aumento da pobreza.

Espantosamente ausente do programa de Booker é qualquer plano significativo para redistribuir os rendimentos e a riqueza. Podemos atribuir essa ausência ao facto de a quase totalidade dos funcionários eleitos de ambos os partidos estarem na mão das grandes empresas e dos ricos. Mas na periferia da política dominante, podemos ouvir vozes defendendo medidas para aumentar a economia sem ser à custa do empobrecimento das massas e/ou para redistribuir a riqueza através dos impostos.

Os Krugmans, os Reichs, os Stiglitzs e outros que tais gozam de uma medida de independência fornecida pelo seu título académico e pela estatura intelectual amplamente gabada, que lhes permite uma fidelidade mais esquiva aos patrões das grandes empresas. Enquanto economistas apreciados, percebem que o crescimento continuado da desigualdade acabará por provocar pesadas consequências económicas ou sociais. Mas as suas panaceias, tal como as da instituição política, apenas tratam os sintomas duma doença persistente que gera permanentemente a desigualdade, o desemprego e as crises. Um estudo da história económica demonstra que as explosões de crescimento económico e a tributação progressiva atenuaram de facto, ou até inverteram levemente a desigualdade e o crescimento da pobreza, mas com o tempo ambos regressaram à sua trajectória anterior.

Uma dose de teoria

Um novo estudo de um economista francês, Thomas Piketty, apresenta a opinião de que a tendência a longo prazo do capitalismo é produzir e reproduzir a desigualdade. Embora o lançamento do seu livro em língua inglesa, Capital in the Twenty-first Century [NR] , só esteja previsto para Março, já gerou grande discussão no espectro dos comentadores americanos. O colunista do New York Times, Thomas B. Edsell, afirma que o livro "sugere que as políticas liberais tradicionais do governo quanto a despesas, tributação e regulamentação não servirão para diminuir a desigualdade". ( Capitalism vs. Democracy , 1-28-2014)

Como é isso possível? O consenso liberal e social-democrático exige despesas governamentais, tributação progressiva, e regulamentação das grandes empresas como a resposta para a desigualdade crescente. Um monte de premiados com o Nobel advoga estes instrumentos, afirmando que são meios eficazes para combater a desigualdade. O que é que Piketty vê que eles não vêem?

História

Piketty não tem medo de estudar a história da desigualdade, uma condição necessária para qualquer teoria socioeconómica. O que ele conclui, segundo Edsell, é que:
… o período de sessenta anos de igualdade crescente nas nações ocidentais – que começou por volta do início da I Guerra Mundial e se estendeu até ao início dos anos 70 – foi único e é extremamente improvável que se repita. Esse período, sugere Piketty, representou uma excepção ao padrão de crescente desigualdade que tem raízes mais profundas.

Segundo Piketty, esses sessenta anos de prosperidade foram o resultado de duas guerras mundiais e da Grande Depressão.
Por outras palavras, a desigualdade crescente é o normal para o capitalismo e a sua diminuição é uma aberração. Os apólogos querem que acreditemos no contrário, que o capitalismo não contém um gene para a desigualdade. Ao contrário dos seus pares yankees, Piketty está disposto a estudar a economia enquanto sistema – capitalismo – e explorar a sua trajectória histórica. Essas duas disposições metodológicas dão origem a uma teoria da desigualdade, uma teoria incompleta, mas de qualquer modo uma teoria.

Ora Piketty e o seu colaborador frequente, Emmanuel Saez, são amplamente reconhecidos por se encontrarem entre os principais especialistas que documentam a desigualdade tanto a nível mundial como nos EUA. Sem dúvida, isso dá grande credibilidade à sua afirmação nuclear para identificar uma forte correlação entre o curso típico do capitalismo e o crescimento da desigualdade.

Claro que os estudantes de teoria marxista ou os seguidores deste blogue não ficarão admirados com as conclusões de Piketty. Há cento e cinquenta anos que os marxistas defendem que a desigualdade e o empobrecimento são produtos obrigatórios do sistema capitalista. Ou seja, a lógica do capitalismo necessita de desigualdade crescente. Colocando o lucro no coração do organismo capitalista, os marxistas compreendem que a riqueza fluirá invariavelmente para a pequena minoria dos donos do capital e fugirá dos produtores. É este processo de geração de lucros que esmaga todas as barreiras, todas as "reformas", para canalizar os recursos da sociedade para a classe capitalista.

A argumentação de Piketty é um antídoto bem-vindo para a penúria de teoria explicativa apresentada pelos polemistas liberais e social-democratas. A controvérsia atiçada pela argumentação de Piketty muito antes da disponibilidade em língua inglesa é um sinal seguro de que oferece algo fora do convencional.

No entanto, a sua interpretação da trajectória a longo prazo do capitalismo, em especial a sua distanciação da norma, pode estar incompleta. Nomeadamente, considera o período entre 1914 e 1973 – uma época em que ele afirma que o crescimento da desigualdade foi retardado incaracteristicamente – como um período em que a taxa de retorno ao capital após impostos ficou muito atrás do crescimento económico. Podíamos alegar que isso talvez seja demasiado simples e mecânico, a época foi certamente uma época em que muitos factores contribuíram para mudar o curso "normal" do capitalismo e frequentemente serviram de amortecedor para o crescimento da desigualdade, constituindo em conjunto uma tendência.

Mas seria uma simplificação situar estes factores totalmente nos acontecimentos económicos ou políticos, e descurar a política. Por exemplo, durante a maior parte do século vinte o capitalismo pagou uma taxa anti-soviética à classe trabalhadora como uma inoculação contra a ameaça da ideologia socialista ou comunista. Esse factor não desempenhou um papel menor na moderação da desigualdade, criando a miragem de igualdade na classe trabalhadora e garantindo a paz laboral.

Uma observação mais de perto da interessante tese de Piketty tem que esperar pela publicação do livro.

Para uma robusta teoria da desigualdade

Mas não precisávamos de esperar por Piketty para encontrar uma teoria adequada da desigualdade. Elementos da teoria de desenvolvimento socioeconómico de Karl Marx apresentam a chave para compreender a produção e a reprodução da desigualdade na nossa época, assim como em tempos mais antigos.

Claro que há muitas causas possíveis para a concentração da riqueza. O roubo, a boa sorte, a fraude, a desonestidade são apenas algumas das formas pelas quais os seres humanos redistribuem a riqueza desde a antiguidade. Essas causas ocorrem frequentemente na história, mas apenas ocasionalmente. A única causa sistémica da desigualdade é a expropriação do trabalho de uns por outros sob a protecção de normas sociais. Marx chamou exploração a esse processo. Foi o primeiro a identificar as suas formas e a sua trajectória. Foi o primeiro a explicar adequadamente os mecanismos de expropriação. Consideradas à luz da teoria da exploração de Marx, as desigualdades da escravatura, do feudalismo e, claro, do capitalismo, revelam-se com todas as suas características específicas. Assim, a concentração da riqueza produzida pela expropriação do trabalho dos escravos, dos servos, e dos trabalhadores contratados está ligada a formas especiais de exploração socialmente protegidas.

A exploração explica como aparece e continua a desigualdade. Sem o reconhecimento deste mecanismo entranhado na actividade económica capitalista, os liberais e os social-democratas não conseguem explicar a persistência da desigualdade. Vão aplicar medidas reformistas desadequadas para deter a maré da concentração da riqueza e dos rendimentos decorrente da exploração capitalista, mas não vão conseguir impedir a maré com as suas reformas.

Nunca é demais sublinhar que a desigualdade resulta de um processo, um processo definitivo de relações económicas capitalistas. Comentadores fora da órbita marxista consideram a desigualdade um estado-de-coisas, um estado-de-coisas que existe entre diversos agrupamentos sociais. Embora deplorem genuinamente a miséria gerada pela desigualdade, não sabem que fazer para encontrar a relação quantitativa adequada entre diferentes grupos constitutivos da sociedade. É claro, uns têm mais do que outros, mas qual é a justa distribuição dos bens da sociedade? Aceitando que existem desigualdades, qual é a forma óptima de atribuir quotas de riqueza? Quanto e para quem? Toda a gente deverá receber uma quota igual? Os de baixo devem receber uma quota 10% maior? 20%? São estas as questões que deixam perplexos os não-marxistas.

A melhor resposta das melhores cabeças da filosofia social anglo-americana é um princípio muito desagradável e insatisfatório, chamado eficácia de Pareto. Em vez de resolver o puzzle da desigualdade, o princípio de Pareto justifica uma situação desigual desde que não reduza o bem-estar de outros, incluindo os menos afortunados. Dada a impossibilidade teórica de estabelecer qual é exactamente uma justa distribuição de bens e serviços, os modernos filósofos académicos burgueses tentam estabelecer qual será a situação menos condenável, embora desigual. Nada demonstra melhor a vacuidade teórica do pensamento social anglo-americana do que esta tarefa errada e impossível de determinar uma justiça distributiva duma vez por todas, para sempre e para toda a parte. Não há estado-de-coisas idealizado que possa responder a esta questão. A questão em si mesma está mal orientada.

Pelo contrário, na nossa época, a tarefa de reduzir a desigualdade, de avançar com a justiça distributiva, é eliminar a exploração. Não pode haver uma solução ideal, perfeita para a questão da desigualdade, mas há uma forma de eliminar a causa primária da desigualdade indefensável numa sociedade capitalista: acabar com a exploração do trabalho .

Os liberais e os social-democratas não têm resposta para o desafio da direita de que os trabalhadores estão hoje imensamente melhor sob o capitalismo do que estavam há duzentos anos. É claro que é verdade que muitos trabalhadores vivem hoje mais, são mais saudáveis e têm mais tempo livre do que os seus homólogos há dois séculos. A teoria marxista não contesta este ponto. Pelo contrário , afirma que a lógica do sistema capitalista tende a empobrecer o povo trabalhador em todas as épocas . Se o capitalismo consegue suprimir níveis de vida é uma questão totalmente diferente. Outros factores – contra-ataques laborais, escassez de mão-de-obra, descida dos preços dos meios de subsistência, etc. – pode amortecer, até mesmo eliminar essa tendência por algum tempo, mas a tendência nunca desaparece.

A tendência para o empobrecimento decorre logicamente da compreensão marxista de que a força de trabalho, no capitalismo, é uma mercadoria como qualquer outra . Os capitalistas compram e vendem a força de trabalho dos trabalhadores tal como fazem com qualquer outro factor de produção ou distribuição. E, tal como com qualquer outro custo, procuram pagar o menor preço possível por isso. Consequentemente, o sistema capitalista, através de acções de corte de custos feitos por capitalistas individuais (ou grandes empresas) está permanentemente a exercer pressão na compensação aos trabalhadores para a reduzir a níveis de simples manutenção – ou seja, à pobreza. O único constrangimento sistémico a essa pressão é a necessidade de garantir a mão-de-obra no futuro.

Assim, encontramos no marxismo uma base para compreender (e tratar) a desigualdade e a pobreza. Graças a uma teoria que identifica as duas desgraças intimamente ligadas com mecanismos específicos historicamente desenvolvidos, e que conecta a sua produção e reprodução a sistemas económicos, podemos evitar o lamaçal e a ineficácia das abordagens liberais e social-democratas. Ambas mistificam as causas, oferecem um bálsamo em vez duma cura, e não conseguem deter a reprodução continuada da desigualdade e da pobreza. Como os charlatães e os curandeiros, os liberais e os social-democratas podem dar mais conforto ao paciente, mas só extirpando o cancro do capitalismo se pode acabar com o sofrimento.
11/Fevereiro/2014
Do mesmo autor:
  • Nuvens tempestuosas?
  • A tirania dos títulos
  • Rememorando cinco anos de perturbação económica: azia ou ataque de coração?

    [*] Economista, zoltanzigedy@gmail.com

    [NR] Excertos do livro de Piketty podem ser descarregados em resistir.info/livros/livros.html

    O original encontra-se em zzs-blg.blogspot.pt/2014/02/getting-serious-about-inequality.html . Tradução de Margarida Ferreira.


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  • aqui:http://resistir.info/eua/zoltan_11fev14_p.html 
  •  

    Os cinco anéis de gelo

    por Manlio Dinucci

    As Olimpíadas são sempre uma ocasião, para o pais organizador, de apresentar os seus êxitos ao resto do mundo. Mas no caso de Sochi, como no de Pequim, tinha que ser ao contrário: havia que converter os Jogos numa oportunidade para apresentar aos telespectadores a imagem que a opinião pública «deve ter» sobre o país organizador. É por isso que a grande maioria dos artigos, e programas dedicados aos Jogos, na Europa e Estados Unidos, longe de ser informativos tratam, por todos os meios, de denegrir «a Rússia de Putin».

     Ventos de guerra abatem-se sobre as Olimpíadas de inverno de Sochi, ou melhor sobre as «Olimpíadas do czar Putin» como as chamam em coro os meios de imprensa ocidentais. As esplêndidas actuações dos atletas do mundo inteiro, que se preparam durante anos para estes jogos, passam para um segundo plano –quando não são simplesmente ignoradas– a não ser que o ganhador seja um atleta do país do meio de imprensa que estamos vendo.

    Enquanto se ensombram os Jogos de Sochi, fruto de um trabalho colectivo colossal, somos detalhadamente informados sobre a eliminação dos cães de rua na cidade, sobre o facto que um dos cinco anéis olímpicos não se acendeu quando devia, conservando a aparência de um copo de neve –funesto presságio, segundo as crenças da Antiguidade. Inclusive somos mantidos em brasas, à espera de um atentado terrorista que fique como recordação infausta destes Jogos, a segui aos atentados que enlutaram Volgogrado.

    Em Washington, onde abundam os peritos em terrorismo, expressou-se preocupação ante a possibilidade de atentado em Sochi, e decidiu-se a intervir militarmente. O USS Mount Whitney, navio almirante da VI Frota levantou âncora do porto de Gaeta, na região italiana do Lácio, para entrar no Mar Negro junto com a fragata USS Taylor. Prontas para evacuar os atletas e espectadores americanos(estadounidenses-Br), estes dois barcos da US Navy (Marinha de Guerra americana-ndT) realizam exercícios, junto com várias unidades navais georgianas, nos limites das águas territoriais russas.

    Barack Obama, David Cameron e Francois Hollande, valentes defensores dos direitos humanos –en aras de cuya defensa lançam guerras e massacres colaterais– deram a entender que não assistiriam às Olimpíadas de Sochi porque a propaganda gay está proibida na Rússia. E o primeiro-ministro italiano Enrico Letta prometeu reafirmar em Sochi o incómodo da Itália ante todas as medidas discriminatórias que afectem os homossexuais.

    Isto disse Letta apenas uns poucos dias após ter elogiado oficialmente no Dubai «a posição humanitária dos Emirados» e de ter proclamado publicamente similares considerações sobre as demais monarquias do Golfo, cujos códigos penais castigam as relações mutuamente consentidas entre adultos do mesmo sexo com 10 anos de cárcere e –no caso da Arábia Saudita– com chicotadas ou lapidação.
    Essas mesmas monarquias, tão apreciadas por Obama e pelos demais líderes ocidentais, preparam-se, actualmente, para submeter os imigrantes a «exames médicos», cuja natureza não foi precisada, afim de evitar a entrada de homossexuais nos países do Golfo.

    O argumento de Obama, de Letta e de outros líderes que dizem defender os gays na Rússia é portanto completamente oportunista. Como também o é a acusação que Moscovo gastou demasiado nos Jogos Olímpicos de Sochi e que quer utilizá-los com fins propagandísticos, o que fazem todos os países que realizam as olimpíadas, devido à natureza própria desse tipo de evento internacional, que certamente deveria ser objeto de uma profunda revisão. Tais acusações, mesmo tendo algo de certo, encerram um objetivo muito bem definido: alimentar na opinião pública um novo clima de guerra fria, conforme à estratégia dos Estados Unidos e da OTAN ante a crescente oposição de Moscovo aos seus planos. Se Boris Yeltsin estivesse ainda no poder na Rússia, disposto a fazer todo o tipo de concessões aos Estados Unidos e Ocidente, ninguém falaria de Sochi como «as Olimpíadas do czar Yeltsin».

     Em virtude do veredicto taxativo dos que determinam em Washington como se classificam os governantes segundo a conduta (que lhes interessa-ndT), o ex- presidente russo Yeltsin aparece na lista dos «bons», enquanto Putin está na dos «maus». Desta última vem, cada vez que faz falta um, o «inimigo número 1» – categoria que ocuparam sucessivamente Sadam Husein, Slobodan Milosevic e Muammar el-Kadhafi– que serve para justificar a escalada militar que conduz à guerra. É o alvo sobre o qual, cada vez que dá jeito, se concentram todos os ataques políticos e mediáticos, agigantando os seus defeitos para esconder aqueles –muito maiores– de quem diz ser o campeão dos direitos humanos.
    Tradução
    Alva
    Fonte
    Il Manifesto (Itália)

    aqui:http://www.voltairenet.org/article182272.html

    quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

    Estivadores: o sindicalismo num debate sem tabus

    O necessário debate sobre o Euro

    por Daniel Vaz de Carvalho [*]


    1 – PREPARAR O PAÍS PARA SAIR DO EURO

    João Ferreira, cabeça de lista do PCP às eleições europeias, considerou "a importância da adoção de medidas que preparem o país desde já face a qualquer reconfiguração da Zona Euro. Uma preparação que deve ser feita não apenas em face de possíveis desenvolvimentos na crise da União Europeia, mas também em nome de uma saída de Portugal do Euro por decisão e interesse próprios, salvaguardando os interesses dos trabalhadores e do povo" .

    Neste sentido, torna-se urgente o esclarecimento e o debate não apenas acerca das dramáticas consequências para o país causados pela adoção do euro, mas também as formas de abandonar um sistema monetário que coloca a generalidade dos países da UE, e em particular Portugal, numa situação de decadência: política, económica, social, numa palavra: civilizacional.

    Desde a adesão de Portugal ao Euro a FBCF caiu 42% em termos reais e o PIB no final de 2013 atingia o nível de 2002. Por aqui se vê que permanecer na Zona Euro é continuar a seguir uma rota de desastre para o país, para o seu povo, enquanto um punhado de oligarcas acumula cada vez mais riqueza.

    Não podemos, contudo, deixar de referir que para certos sectores da esquerda tal debate é considerado "fraturante" e que pode "chocar" uma opinião pública não preparada, não havendo portanto condições para alargar e aprofundar o debate. A direita e o processo neofascista em curso contam com isto…

    Claro que nunca haverá condições para o esclarecimento – nem nunca as mais largas camadas da população compreenderão as reais implicações do Euro e ainda menos as vias alternativas para a superação das dramáticas consequências de existir uma moeda única em 17 países tão diferentes – se as forças democráticas e progressistas não insistirem decididamente nesse esclarecimento, como é seu dever.

    Quanto ao PS, ou à sua Direção, pôr o Euro em causa tem sido tratado como heresia, considerando a ditadura do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE) como "regra de ouro".

    Quando num país como a França, segunda economia da UE, se compreende que o Euro arrasta o país para um processo de decadência, é fundamental tomar-se consciência e agir face à gravidade da situação para países como Portugal. Situação que aliás não se resolverá com reformas parciais (que aliás nem sequer são encaradas) ou o seu simulacro, mas sim num processo revolucionário, retomando o espírito do 25 de Abril , no que representa de conquista da soberania nacional, libertação do domínio dos monopólios e das hegemonias imperialistas, protagonizadas na UE pelo atual reacionarismo alemão.

    O texto de Jacques Sapir de que transcrevemos as partes mais relevantes para a situação do nosso país, parece-nos ser mais um importante contributo para o debate que urge fazer.

    2 - O DEBATE SOBRE O EURO ALARGA-SE EM FRANÇA.

    O debate sobre o Euro atingiu em França podemos dizer que um nível inesperado com declarações do ministro do Redressement Productif (isto é, da Indústria) Arnaud Monterbourg. Jaques Sapir dá nota das suas implicações e também das suas limitações [1]

    Declara o ministro numa entrevista ao jornal Echos [2] : "Como ministro da Indústria considero que o Euro saiu dos seus limites por uma sobrevalorização que se tornou problemática aos olhos das nossas empresas. Entre 2012 e 2013, a sua apreciação foi de mais de 10% face ao dólar e mais de 40% face ao yen. Nós temos a zona mais depressiva do mundo e a moeda que também mais se aprecia. Esta situação é totalmente absurda"

    Para Sapir, esta reapreciação do Euro é no entanto compreensível, quando se olha para o excedente global da zona Euro, que resulta dos excedentes comerciais da Alemanha e de alguns outros países.

    Diz ainda o ministro: "O Euro penaliza a indústria em vez de a apoiar na grave crise de competitividade que atravessamos. Todos os grandes industriais europeus da aeronáutica, do agro-alimentar, dos transportes e todas as instituições económicas, do FMI ao Conselho de Análise Económica junto do primeiro-ministro, passando pela OCDE, defendem políticas novas e "não convencionais" visando enfim baixar o nível do Euro. Por que razão deveremos continuar a meter a cabeça na areia?".

    Sapir é bastante claro: "Hoje a taxa de câmbio do Euro, penaliza a totalidade da indústria francesa (e italiana, terceiro país da zona Euro). Esta taxa de câmbio acelera os processos de desindustrialização que conhecemos. Por outro lado mergulha os países da periferia na deflação".

    "As taxas de crescimento indicadas pela DGTP (Direction Générale du Trésor et de la Prévision), são de 1,2% de crescimento para uma depreciação de 10% do Euro [3] correspondente aliás aos valores "altos" do modelo publicado em setembro último. Nós apontaríamos para uma depreciação de 20% da moeda francesa (e não apenas do Euro) para um ganho direto de 2,5 a 2,8% e um ganho indireto de 4,5 a 6% ao ano durante os primeiros três anos [4]

    Para Sapir a solução dita de "depreciação" do Euro choca porém com vários obstáculos. Por um lado, não se "deprecia" assim tão simplesmente uma moeda de uma zona económica com excedente comercial. Uma solução poderia ser a de fazer baixar as taxas de juro, mas estas são já muito baixas, e o ganho, em relação às taxas norte-americanas ou japonesas, demasiado fraco para se alcançar o resultado desejado.

    Ainda de acordo com Sapir, poderia também fazer-se um "quantitative easing" [5] à europeia, obrigando o BCE a recomprar importantes montantes de dívidas públicas para injetar moeda, em que havendo mais oferta de euros que procura se provocaria uma quebra em relação ao Dólar e ao Yen. Mas um tal programa depara-se com a oposição absoluta da Alemanha. Com efeito o artigo 88 da lei fundamental alemã proíbe ao Banco Central de emprestar aos Estados, e o Tribunal de Karlsruhe estabeleceu que as práticas do BCE não devem violar a Constituição alemã.

    Ora, prossegue Sapir, além disto, o problema coloca-se atualmente a propósito do programa Outright Monetary Operation planeado por Mário Draghi, presidente do BCE, cuja legalidade face à lei alemã e ao estatuto do BCE é colocada em causa por seis juízes em oito. [6] Enfim, seria necessário que o BCE adotasse de forma clara uma política tendo por alvo a taxa de câmbio (e além disto da taxa de câmbio real) o que sempre se recusou a fazer. Pode deplorar-se, mas é preciso verificar que não há maioria que permita obrigar a alterar a política do BCE. Assim, excetuando a hipótese de expulsar a Alemanha da Zona Euro, nada será possível alterar.

    "A sobreavaliação do Euro provém sobretudo da existência de taxas de inflação estruturais [7] muito divergentes entre estes países e a Alemanha.

    Contudo, se por milagre se chegasse a depreciar o Euro, isso não resolveria o problema. Com efeito, a França realiza cerca de 50% das suas exportações no interior da Zona Euro. Para certos países como a Itália ou Espanha, as exportações atingem 65% a 75%. Depreciar o Euro não regula a questão da sobre avaliação implícita das moedas dos países do Sul da Zona Euro face à Alemanha.

    Refira-se que Portugal realiza 70% das suas exportações na UE e cerca de 60% na zona Euro.

    3 – A DISSOLUÇÃO DA ZONA EURO

    Para Sapir, a loucura de querer que países profundamente diferentes coexistam com a mesma moeda e sob a mesma taxa de câmbio está claramente visível. O Euro apenas se poderia manter com massivas transferências de recursos orçamentais do Norte da Europa para o Sul. Mas estas transferências implicariam que a Alemanha participasse com 8% a 12% do seu PIB anual e isto pelo menos durante 10 anos. Ora, a Alemanha não o pode fazer, mesmo que o quisesse.

    O processo de desindustrialização provocado pelo Euro e pelos tratados da UE em benefício quase que exclusivo da Alemanha torna-se evidente não só nos países periféricos como Portugal [8] mas até nas principais economias como a França e a Itália.

    Como afirma Sapir, a indústria é necessária, não apenas porque proporciona empregos mais bem pagos enquanto os serviços não oferecem senão salários muito baixos. Unicamente a indústria permite aos diplomados que todos os anos são formados encontrar um emprego e, como é seu desejo, pôr em prática as inovações concebidas nos centros de pesquisa.

    A indústria é também uma componente fundamental da capacidade de influência internacional de qualquer país muito em particular os mais pequenos e vulneráveis, como forma de manter a sua soberania e defesa dos seus interesses na esfera internacional. Algo que em Portugal este governo se tem revelado totalmente incapaz.

    Não resta portanto senão como solução a dissolução da Zona Euro, quer seja consensual ou que provenha da decisão de um país de abandonar a Zona Euro (segundo Sapir, a França ou a Itália), conduzindo então rapidamente à sua implosão.
     
    Notas
    [1] russeurope.hypotheses.org/1966
    [2] www.lesechos.fr/...
    [3] No que se refere à França a Direção do Tesouro, uma depreciação de 10% permitiria aumentar a taxa de crescimento de 1,2%, criar 150 000 empregos, melhorar a balança comercial e reduzir o défice público de 12 mil milhões de euros.
    [4] Sapir J., Murer P. et C. Durand, Les scénarii de dissolution de la zone Euro, Fondation Respublica, Paris, 2013, Os cenários de dissolução do Euro
    [5] Nome dos programas praticados pelo banco federal dos EUA, o FED.
    [6] Ver a decisão do Tribunal: www.bundesverfassungsgericht.de/pressemitteilungen/bvg14-009
    [7] A taxa de inflação estrutural, define a taxa de inflação necessária para que uma economia tenha pleno emprego.
    [8] Acerca deste tema ver: Reindustrializar…dizem eles e Acerca do desenvolvimento industrial


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/v_carvalho/debate_euro.html 

    quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

    OPOSIÇÕES “made in USA”

    por Daniel Vaz de Carvalho

    Tal como na Líbia, Síria, Ucrânia, tal como está a ser na Bósnia etc., a oposição financiada pelos EUA passou ao ataque violento na Venezuela. Governos eleitos democraticamente passam a ser alvo de ataques por bandos armados, elementos anto-sociais, mesmo terroristas. O feudalismo, o racismo, a opressão religiosa, o fascismo têm servido perfeitamente a “economia de mercado” e a obsessão imperialista de controlar o mundo. (1)

    Na Venezuela a tentativa de golpe de Estado prossegue (2) bandos de arruaceiros de movimentos fascistas provocaram 3 mortos, 66 feridos e numerosos danos materiais.

    Aparecem agora também grupos esquerdistas armados reclamando a erradicação do capitalismo pela extinção pela força dos capitalistas. Concentram-se perto da fronteira colombiana. Estão a ser usados pela CIA, a Mossad e os paramilitares colombianos, empregando um discurso ultraesquerdista destinado a criar confusão e divisões na Venezuela, sobretudo entre os pequenos agricultores.
    (http://fuerzasbolivarianasdeliberacion.blogspot.be/2013/06/percy-alvarado-contra-replica-las.html )

    O lema fascista/neonazi “Pátria, honra e família”, está a ser usado na América Latina (mas também na Europa)

    Na Venezuela, o fascista mascarado de social-democrata, (atenção ao que se passa em Portugal…) Capriles, depois das sucessivas derrotas sofridas dá lugar a Leopoldo Lopez, claramente identificado como fascista, que organiza a subversão mesmo que seja preciso matar e ferir grande número de pessoas e destruir património público.

    Que uma ínfima minoria siga Lopez não importa ao império. O que é necessário é criar o caos para justificar intervenção armada. Contudo o governo Venezuelano emitiu uma ordem de captura contra Leopold Lopez.

    Face a isto o processo de diabolização do povo venezuelano (à semelhança do cubano) está em curso pelas centrais de (des)informação, nas mãos de governos reacionários ou da oligarquia.

    A comunicação social controlada criticou o que se passa? Não, considerou que era o povo em revolta contra a “miséria, a fome, a insegurança”, caso da SIC, quando se sabe que o governo bolivariano tem sido – ao contrário do que se passa nos países capitalistas - dos que mais tem feito pelo aumento do nível de vida e da cultura do povo!

    Que tristeza ver como o jornalismo mercenário ocupa o lugar que seria a liberdade de expressão. Um jornalismo que já não existe, substituído por precários obrigados sob pena de despedimento a repetirem as mentiras das centrais de informação.

    Que vergonha a informação a dada acerca da Venezuela, da Síria, da Ucrânia, etc. É a própria democracia que está em causa. O PS alinha nisto tudo. Uma tristeza…

    1 - http://www.informationclearinghouse.info/article37544.htm
    West Manufactures ‘Opposition - By Andre Vltchek
    2 - http://www.legrandsoir.info/venezuela-la-tentative-de-coup-d-etat-se-poursuit.html Venezuela : la tentative de coup d’état se poursuit - Anne WOLFF
    aqui:http://foicebook.blogspot.pt/2014/02/oposicoes-made-in-usa.html

    segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

    Sarin de quem?

    A luta da memória contra o esquecimento - Guerra "boa", guerra "má"

    por John Pilger 


    Cinquenta anos atrás, The Making of the English Working Class , de E.P. Thompson, recuperou o estudo da história dos poderosos. Reis e rainhas, latifundiários e industriais, políticos e imperialistas haviam-se apossado de grande parte da memória pública. Em 1980, A People's History of the United States , de Howard Zinn, demonstrou também que as liberdades e direitos que desfrutamos precariamente – livre expressão, livre associação, o sistema de júri, os direitos de minorias – foram realizações de pessoas comuns, não prendas de elites.

    Os historiadores, tal como os jornalistas, desempenham o seu papel mais honroso quando rompem mitos. As veias abertas da América Latina (1971), de Eduardo Galeano, alcançaram isto para o povo de um continente cuja memória histórica fora colonizada e transmutada pela dominância dos Estados Unidos.

    A "boa" guerra mundial de 1939-45 proporcionou um inesgotável banho ético no qual as conquistas do ocidente em "tempo de paz" são lavadas. A investigação histórica desmistificadora atravessa-se no caminho. 1939: the countdown to war (2009), de Richard Overy, é uma explicação devastadora da razão porque o cataclismo não era inevitável.

    Agora mais do que nunca, precisamos destas limpezas de cortinas de fumo. Os poderosos gostariam que acreditássemos que pessoas como Thompson, Zinn e Galeano já não são necessárias: que vivemos, como disse a revista Time, "num eterno presente", no qual a reflexão é limitada ao Facebook e a narrativa histórica é a reserva de Hollywood. Isto é um enorme logro. Em Mil novecentos e oitenta e quatro, George Orwell disse: "Quem controla o passado controla o futuro. Quem controla o presente controla o passado".

    O povo da Coreia entende isto bem. A carnificina na sua península a seguir à segunda guerra mundial é conhecida como a "guerra esquecida", cujo significado para toda a humanidade foi há muito suprimido nas histórias militares da boa guerra fria contra o mal.

    . Acabei de ler The Korean War: A History de Bruce Cumings (2010), professor de História na Universidade de Chicago. Antes vi a entrevista de Cumings no extraordinário filme The Ghosts of Jeju , de Regis Trembley, o qual documenta o levantamento do povo da ilha de Jeju, na Coreia do Sul, em 1948 e a campanha actual dos ilhéus para travar a construção de uma base com mísseis americanos apontada provocatoriamente contra a China.

    Tal como a maior parte dos coreanos, as famílias de agricultores e pescadores protestavam contra a divisão sem sentido da sua nação entre Norte e Sul em 1945 – uma linha traçada ao longo do paralelo 38 por um oficial americano, Dean Rusk, o qual havia "consultado um mapa cerca da meia noite no dia seguinte a termos obliterado Nagasaki com uma bomba atómica", escreveu Cumings. O mito de uma "boa" Coreia (o Sul) e uma "má" Coreia (o Norte) fora inventado.

    De facto, a Coreia, tanto o Norte como o Sul, tem uma notável história popular de resistência ao feudalismo e à ocupação estrangeira, nomeadamente ao Japão no século XX. Quando os americanos derrotaram o Japão em 1945, eles ocuparam a Coreia e a seguir estigmatizaram aqueles que haviam resistido aos japoneses como "comunas". Na ilha Jeju, foram massacradas até 60 mil pessoas por milícias apoiadas, dirigidas e, em alguns casos, comandadas por oficiais americanos.

    Esta e outras atrocidades não relatadas foram um prelúdio "esquecido" para a Guerra da Coreia (1950-53) na qual foram mortas mais pessoas do que as que os japoneses mataram durante toda a segunda guerra mundial. Cumings dá um registo espantoso do grau de destruição das cidades do Norte: Piongyang 75 por cento; Sariwon 95 por cento; Sinanju 100 por cento. Grandes barragens no Norte foram bombardeadas a fim de desencadear tsunamis internos. Armas "anti-pessoal", tais como napalm, foram testadas sobre civis. A soberba investigação de Cumings ajuda-nos a entender porque a Coreia do Norte de hoje parece tão estranha: um anacronismo mantido devido a uma duradoura mentalidade de cerco.

    "A maquinaria do bombardeamento incendiário sem obstáculos assolou o Norte durante três anos", escreveu ele, "resultando numa terra devastada e um povo a sobreviver como a toupeira que aprendeu a amar os abrigos de caves, montanhas, túneis e fortificações, um mundo subterrâneo que se tornou a base para a reconstrução de um país e um recordatório para construir um ódio tenaz entre o grosso da população. A sua verdade não é fria, antiquada, de conhecimento inútil". Cumings cita Virginia Wolf sobre como o trauma desta espécie de guerra "confere memória".

    O líder guerrilheiro Kim Il Sung começou a combater os militaristas japoneses em 1931. Todas as características do regime que ele fundou – "comunista, estado vilão, inimigo malévolo" – decorrem de uma resistência implacável, brutal e heróica: primeiro contra o Japão, depois os Estados Unidos, os quais ameaçaram atacar com armas nucleares o entulho que os seus bombardeiros haviam deixado. Cumings denuncia como propaganda a noção de que Kim Il Sung, líder da Coreia "má", era um fantoche de Moscovo. Em contraste, o regime que Washington inventou no Sul, a Coreia "boa", era dirigida em grande medida por aqueles que haviam colaborado com o Japão e a América.

    A Guerra Coreia tem uma distinção não reconhecida. Foi nas ruínas ardentes da península que os EUA se tornaram o que Cumings chama "um império de arquipélago". Quando a União Soviética entrou em colapso na década de 1990, era como se todo o planeta fosse declarado americano.

    Mas há a China agora. A base que actualmente está a ser construída na ilha Cheju confrontará a metrópole chinesa de Shangai, a menos de 300 milhas [483 km] de distância, e o cerne industrial do único país cujo poder económico é provável que ultrapasse o dos EUA. "A China", disse o presidente Obama num documento interno que escapou, "é a nossa ameaça estratégica que emerge rapidamente". Em 2020, quase dois terços de todas as forças navais estado-unidenses no mundo serão transferidas para a região Ásia-Pacífico. Num arco que se estende desde a Austrália ao Japão e mais além, a China será cercada por mísseis dos EUA e seus aviões armados com artefactos nucleares. Será que esta ameaça a todos nós também será "esquecida"?
    14/Fevereiro/2014
    O original encontra-se em www.counterpunch.org/2014/02/14/good-war-bad-war/

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/pilger/pilger_14fev14.html 

    domingo, 16 de fevereiro de 2014

    como dois mundos

    A pedagogia dos médicos cubanos

    por Emir Sader

    Esse convênio, que poderia passar como um a mais entre tantos outros assinados, gerou uma onda de reações que propiciam um diagnóstico social de Brasil e Cuba.

    "As médicas cubanas parecem empregadas domésticas." A afirmação, a mais expressiva da onda de expressões de intolerância e de discriminação racista, feita por uma jornalista brasileira de direita, representa, sem perceber, o mais significativo elogio de Cuba.

    Diante das necessidades de atendimento médico da população, o governo brasileiro, depois de convocar a médicos brasileiros a ocupar os postos nas regiões do país com mais necessidades e menor atenção, fez um convênio com o governo de Cuba para trazer ao Brasil a profissionais de saúde do país que inquestionavelmente tem uma das melhores, senão a melhor medicina social do mundo. Os extraordinários índices de saúde da população cubana – da mortalidade infantil à expectativa de vida ao nascer -, ainda mais pelo nível de desenvolvimento econômico do pais, confirmam essa avaliação.

    Esse convênio, que poderia passar simplesmente como um a mais entre tantos outros assinados entre o Brasil e Cuba, gerou uma onda de reações que propiciam um diagnóstico social de uma e de outra sociedade, inédito e de uma profundidade inesperada. Começando pelos próprios médicos brasileiros, na sua grande maioria formados em universidades públicas – as melhores do país -, mas que não são obrigados a entregar praticamente nenhuma contrapartida à sociedade que os formou, de forma gratuita. Frequentemente concluem seus cursos e abrem consultórios nos bairros melhor situados das grandes cidades brasleiras, para atender a uma clientela de grande poder aquisitivo.

    Como resultado, o mapa das doenças do país e a localização dos médicos costuma ser brutalmente desencontrado, praticamente oposto: onde estão as doenças, não estão os médicos; onde estão os médicos, não estão as doenças.

    Mesmo assim, depois de se negar a atender a população mais pobre – a grande maioria – tentaram impedir que o governo brasileiro trouxesse médicos de fora do pais – de outros países, alem de Cuba – para atender à população. Fizeram manifestações, criaram situações de constrangimento para os médicos cubanos na sua chegada, anunciaram que fariam campanhas contra a reeleição da Dilma, acreditando dispor de autoridade política com seus pacientes.

    A declaração com que começa este artigo se insere nesse cenário de elitismo e de falta de sensibilidade social de médicos brasileiros. A frase, que pretende desqualificar a médicas cubanas, porque no lugar da imagem do médico homem, branco, com fisionomia dos doutores dos filmes de Hollywood, são pessoas nascidas no meio do povo cubano, se revela como um imenso elogio da sociedade cubana e em uma crítica da brasileira. Mulhres de origem humilde, que no Brasil seria empregadas domésticas, em Cuba é normal que possam se formar como médicas e expressar sua solidariedade com outros povos, necessitados dos profissionais que Cuba consegue formar em excesso para as necessidades do seu país.

    Essa reversão do sentido da frase se deu também no plano mais geral da sociedade brasileira que, confundida no começo, muito rapidamente reagiu de forma muito positiva, com mais de 80% apoiano a vinda dos médicos cubanos ao Brasil. Pelas necessidades que passaram a ser atendidas por esses médicos, assim como também pela atenção que imediatamente começaram a receber setores populares muito amplos do Brasil, até ali sem nenhuma assistência ou com atenção médica absolutamente precária. Cidades que nunca tinham tido a presença de médicos, em que a população tinha que se deslocar quilômetros de distância para ter uma assistência esporádica, começam a conhecer um direito essencial à atenção médica direta e permanente, graças aos médicos cubanos.

    É um programa de saúde pública, mas que encerra em si mesmo uma lição, uma pedagogia política de grande evidência – que é o que mais incomoda à direita brasileira. Pessoal formado em universidades públicas – e em Cuba todas o são – tem que atender prioritariamente as necessidades fundamentais do seu povo, que além de tudo paga os impostos que financiam as universidades públicas, mas que, via de regra, não pode ter seus filhos com acesso a essas mesmas universidades – mais ainda aos cursos de medicina.
    O Brasil está avançando como nunca na sua história no combate à desigualdade, à pobreza e à miséria, mas não encontra ainda correspondência nas estruturas educacionais que formam os profissionais de medicina. Daí o apoio de Cuba – que a Dilma agradeceu a Fidel, por ocasião da recente reunião da Celac em Havana, quando se inaugurou a primeira parte do porto de Mariel, que o Brasil constrói na Ilha, colaborando com a ruptura do bloqueio imposto pelos EUA.

    Os médicos cubanos são melhores que grande parte dos médicos que o Brasil tem hoje porque – além da sua excelente formação profissional -, são melhores cidadãos, formados por uma sociedade orientada não pela medicina mercantil, mas pelas necessidades reais da população. A vinda dos médicos cubanos permite, como nenhum manual de educação política, esclarecer princípios das sociedades capitalistas – voltadas para os valores de troca – e das sociedades socialistas – voltadas para os valores de uso. Uma atendendo demandas do mercado, a outra, as necessidades das pessoas.

    aqui:http://www.diarioliberdade.org/opiniom/opiniom-propia/45944-a-pedagogia-dos-m%C3%A9dicos-cubanos.html 

    A Venezuela que cheira a Abril

    sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

    Na Bósnia, povo se insurge contra pobreza, desemprego e corrupção

    Marx sempre soube disso

    Cubadebate - [Traduzido por Eduardo Vasco para o Diário Liberdade] A revista "Rolling Stone" reuniu cinco características sistemáticas do capitalismo contemporâneo pressagiadas pelas teorias marxistas há 150 anos.

     Da crise econômica até a febre por comprar novos "gadgets", estas características da sociedade moderna demonstram que Karl Marx tinha razão. Comprove com seus próprios olhos.

    1. A Grande Recessão ('A natureza caótica do capitalismo')
    Diferentemente do socialismo, em que o Estado pode controlar todas as etapas de produção e distribuição, o livre mercado, segundo o materialismo histórico, é um sistema espontâneo e caótico, sempre propenso à crises e depressões econômicas.
    Efetivamente, este padrão previsto pelo marxismo já se esboçou na Grande Depressão de 1929 e se apresentou novamente em 2008 com o colapso do mercado imobiliário nos EUA e o início da nova crise econômica mundial, provocada pelo uso de instrumentos financeiros que Karl Marx chamava "capital fictício", como as ações e as permutas de descumprimento de crédito, que atualmente ameaça com uma nova recessão global.

    2. iPhone 5 ('Apetites imaginários')
    Há mais de cem anos, Marx advertiu que a criação de falsas necessidades era uma tendência inerente do capitalismo orientada ao aumento da produção; neste sistema o consumidor deseja produtos de pouca utilidade mas de alto custo e acaba convertendo-se "em escravo de caprichos desumanos, refinados, anti-naturais e imaginários".
    Um exemplo desta teoria poderia ser a sociedade ocidental, que atualmente desfruta de um incrível nível de luxo e, no entanto, busca novas distrações e sente uma ânsia constante por comprar mais e mais coisas, como iPhones de última geração, inclusive quando não existe nenhuma necessidade de fazê-lo porque já se tem um "gadget" parecido que funciona perfeitamente.

    3. Globalização do capitalismo
    Segundo a teoria marxista, a natureza expansionista do capitalismo o obriga a propagar-se por todo o planeta em sua incessante busca de novos mercados, recursos naturais e mão de obra barata. Já em 1848 Karl Marx descreveu as principais características da moderna globalização econômica agressiva encabeçada e controladas por organismos supranacionais como o FMI, que "deve aninhar em todas as partes, estabelecer-se em todas as partes, estabelecer conexões em todas as partes" para prolongar sua existência.

    4. Monopólios
    Diferentemente da teoria econômica que postulava a autorregulação do mercado, Marx alegava que o poder econômico e finaceiro se concentraria em grandes corporações que absorveriam ou expulsariam os pequenos produtores independentes, tomando o controle do mercado mundial. A hipótese indicada é mais do que válida para descrever a sociedade atual, em que gigantes monopolistas regulam todas as áreas econômicas, desde a bancária até a de alta tecnologia.

    5. Salários baixos, ganâncias enormes ('O exército industrial de reserva')
    De acordo com a análise marxista do capitalismo, os empresários poderão manter baixos os salários graças ao "exército industrial de reserva", ou seja, a grande quantidade de desempregados permanentes. Isso será ainda mais factível durante as fases de recessão, quando aumenta o número de desempregados, sem que ele influencie significativamente nos imensos benefícios das grandes empresas, já que os trabalhadores, que temem perder seus postos, se conformam com salários baixos e suportam duras condições de trabalho.

    Do Russia Today.

    aqui:http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/414-batalha-de-ideias/46037-marx-sempre-soube-disso.html

    segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

    Acerca do desenvolvimento industrial

    por Daniel Vaz de Carvalho

    O que distingue as épocas económicas não é o que é feito, mas com que meios de trabalho é feito. Os meios de trabalho não são apenas mediadores do grau de desenvolvimento da força de trabalho humana, mas também das relações sociais em que se trabalha. C. Marx, O Capital

    A Economia Política não trata de coisas, mas de relações entre pessoas e, em última instância, de relações entre classes, ainda que estas relações estejam sempre unidas a coisas e apareçam como coisas. F. Engels, C. Marx. Contribuição para a crítica da economia política.  



    1 – QUE FAZER

    Não deveria ser necessário referir a importância do desenvolvimento industrial, mas por muito espantoso que possa parecer em nome da "modernidade" e outras mistificações, a sociedade "pós-industrial" foi defendida como um futuro radioso. Serviu de pretexto para a prática de políticas reacionárias e retrocessos civilizacionais, pondo em causa tudo o que a classe operária e outros sectores do proletariado haviam conquistado (é o termo correto) nas últimas décadas.

    Por detrás disto, a velha miragem do capital poder realizar-se sem classe operária. Esquecia que sem trabalhadores, qualquer que seja a sua função no processo produtivo, não há criação de valor nem mais-valia. Há sim, especulação, capital fictício, crises.

    Não há que fazer qualquer opção entre agricultura, indústria, serviços. O desenvolvimento económico concretiza-se tanto mais e melhor quanto maior for a ligação entre os diversos sectores direta ou indiretamente produtivos, é isto que define a estrutura económica e a sua robustez.

    A indústria é o sector produtivo onde mais elevadas produtividades podem ser obtidas e essencial para o aumento do valor acrescentado no conjunto da economia. A questão que se coloca é o que fazer e como e o que não fazer.

    Qualquer economia tem de ter em conta o seu posicionamento nas relações económicas internacionais, isto é, a sua competitividade. A política de direita, pretende resolvê-la reduzindo os chamados "custos salariais". A primeira evidência é a seguinte: a produtividade por pessoa para o total da economia correspondia em Portugal em 2010 a 76% da média da UE 27 (Eurostat - EU economic data pocketbook - 4-2010 – p. 92). Porém, os "custos laborais", também para o total da economia também eram nesse ano cerca de 60 % da média da UE 27 (base de dados AMECO – 7.4 - Nominal Compensation Per Employee, Total Economy). Aliás, segundo estudo de Eugénio Rosa, entre 2008 e 2013 os "custos salariais" baixaram 8,5% em termos ilíquidos.

    As razões da falta de competitividade têm, pois de ser procuradas não nas leis laborais "rígidas" ou nos salários, mas em políticas estruturais globalmente erradas dos sucessivos governos. De facto, "a recessão não resulta da falta de meios de investimento, resulta da má utilização desses meios." [1] O que se aplica integralmente às atuais políticas não só nacionais mas da UE. Keynes havia já demonstrado que a existência de desemprego e estagnação económica resultavam de um sistema económico desajustado das necessidades, incluindo os sistemas monetário e de relações externas.

    2 – CONDIÇÕES DO DESENVOLVIMENTO

    Para o desenvolvimento industrial diríamos em primeiro lugar que é necessário eliminar os fatores de ineficiência, e destes, estão à cabeça da lista negra a financiarização e a constituição de monopólios. [2]

    A crescente financiarização da economia, o processo de privatizações, a atividade económica determinada apenas e exclusivamente a partir dos interesses do grande capital, retiram ao Estado, portanto à hipótese de democracia, os meios e a gestão dos processos necessários ao desenvolvimento. A finança suportada pelos bancos centrais, conduziu a um processo de desindustrialização e empobrecimento que prosseguirá, independente das miragens que a propaganda difunda.

    Em vez do Estado assumir um papel determinante no planeamento e na gestão económica, a economia atual foi dominada pelos "Savonarola" neoliberais, como o sr. Fisher Black que apostrofava: "Não julgo que ao criar este maravilhoso leque de derivados, o mercado privado esteja a criar qualquer risco sistémico, há no entanto alguém a criar um risco sistémico: o governo". [3]

    Continua a ser esta a política da UE, pois, como se sabe, a superstição é imune à experiência… Mas o sr. Fisher tinha a seu modo razão, só não disse foi para quem ficariam os riscos: os trabalhadores.

    As consequências desta visão distorcida – como a realidade evidenciou e evidencia – é a entrega de sectores básicos e estratégicos ao grande capital transnacional, criando monopólios privados, subordinados à sua lógica. Uma estratégia antimonopolista, a eliminação das rendas monopolistas que afetam os fatores de produção – energia, telecomunicações, etc., é fundamental tendo em vista a redução custos nas empresas. Tal só é possível se forem empresas nacionalizadas, pois só o Estado pode contabilizar os custos e benefícios sociais e ter uma visão macroeconómica.

    O processo de privatizações e concessões (PPP) conduzido pelo PS e PSD com o CDS na senda, a reclamar e aplaudir, foi recheado de corrupção, negociatas, promiscuidade entre responsáveis daqueles partidos e empresas privadas.

    "As preocupações e as motivações das grandes empresas não se limitavam a influenciar os seus próprios preços; preocupavam-se com a manipulação do mercado para os seus produtos e com o controlo das suas fontes de matérias-primas e componentes ou, de qualquer forma, com os respectivos preços." [4]

    "A hegemonização do capital financeiro sobre a esfera produtiva tem imposto à sociedade um pesado ónus, tendo em vista que os negócios na área financeira não só não geram valor como se têm transformado num instrumento desincentivador do investimento produtivo". [5]

    A troika com o seu "programa de ajustamento" (!) conduziu à mais grave crise da história moderna do nosso país. A renegociação da dívida, a alteração das condições de ligação à UE e a não permanência na Zona Euro, impõem-se como as mais prementes das exigências necessárias ao desenvolvimento do país.

    O desenvolvimento só é possível numa sociedade com soberania monetária e autonomia para tomar as decisões económicas que considere mais vantajosas. Por soberania monetária entendemos algo como ser o Estado e não entidades privadas ou pseudo-independentes, não apenas a regular a criação de dinheiro, isto é, crédito, mas a controlar a sua emissão e garantir que a sua utilização não seja dissociada dos objetivos do desenvolvimento económico e social.

    Só assim é possível que a política de crédito e financiamento seja adequada às necessidades da produção e não às da usura e especulação.

    3 - O PLANEAMENTO ECONÓMICO

    Não há economia moderna sem planeamento. A escolha é clara: ou o planeamento económico é feito pelo Estado democrático ao serviço dos interesses do país e das populações ou pelos "mercados", isto é, pela finança e pelos monopólios.

    A política de direita com as suas demagógicas campanhas anti Estado, apenas defende os interesses do grande capital independentemente das consequências para a população e para o país. Esta gritante verdade, evidenciou-se mais uma vez em parecer do Tribunal de Contas dos benefícios fiscais ao grande capital das SGPS: 1 045 milhões de euros em 2012. Eis a face escondida do "gastamos acima das nossas possibilidades" e "não há dinheiro".

    O planeamento económico pelo Estado está previsto na Constituição e é essencial numa economia caracterizada por distorções estruturais (atraso, desequilíbrio entre sectores, etc.). O capital especulativo e o predomínio das multinacionais apenas têm agravado a situação existente.

    O planeamento constitui em si um processo de transição com grande abertura de variantes e possibilidades, em que o princípio fundamental das opções deverá ser a máxima satisfação das necessidades sociais e não a maximização do lucro. Esta a razão pela qual o neoliberalismo não reconhece nem a gestão macroeconómica nem o planeamento económico democrático.

    O planeamento económico deverá traduzir-se em objetivos visando, designadamente, o aumento da produção, a redução dos desequilíbrios regionais e da dependência externa, e na elaboração de programas de apoio tecnológico, financeiro e de gestão, em particular para as MPME e Cooperativas.

    Terá obviamente de ser modificada a prática atual em vários ministérios, que mais parecem secretarias dos diretórios da UE, manietados pelos dogmas neoliberais. Uma política de aumento da produção exige que os organismos e entidades públicas sejam orientados para a dinamização económica, as atividades ligadas ao planeamento, a coordenação sectorial e o apoio às empresas.

    Em cada ministério, cada secretaria, cada direção-geral, cada agente económico ou puramente social (fora da esfera mercantil) deverá estar definida a forma como se efetua a sua atividade de modo a, no seu âmbito, concretizar os objetivos previstos.

    Porém, qualquer plano por mais bem elaborado que esteja, só pode ter êxito, se contar com os recursos para a sua concretização e os mais importantes são os recursos humanos, não apenas com a sua competência técnica, mas também com a sua motivação.

    A motivação desenvolve-se se não houver contradição entre os interesses dos trabalhadores e os da organização em que se inserem e quanto maior for a compreensão do seu contributo para o desenvolvimento e progresso do seu país. Esta situação está em total contradição com a maximização do lucro e com a flexibilidade laboral.

    A flexibilidade, o trabalhador sem direitos, sem autonomia, sem garantias no emprego e no desemprego é uma motivação negativa, pois ninguém pode ser feliz e sentir-se realizado na insegurança. A motivação positiva, implica a participação ativa dos trabalhadores na definição e concretização dos objetivos assumidos e que as várias dimensões da sua vida sejam atendidas.

    4 – PLANOS DE DINAMIZAÇÃO ECONÓMICA

    O planeamento não é dirigismo e burocracia. Dirigismo e burocracia é o que atualmente está a ser imposto pelos diretórios da UE criando situações intoleráveis para os povos.

    O planeamento constitui a base do processo de transição de uma economia caracterizada pela estagnação e desequilíbrios estruturais para uma fase de desenvolvimento económico e social. Esta transição terá características próprias em cada país, conforme a sua história, suas convicções, sua situação económica.

    Na atual situação, deverão ser realizados planos de dinamização económica em sectores chave que pelo seu efeito multiplicador vão estabelecer polos de recuperação económica e contribuir para a melhoria da estrutura produtiva.

    De acordo com estes critérios destacamos, as indústrias ligadas à agricultura e às pescas, as indústrias ligadas à floresta, as indústrias extrativas, outros polos de desenvolvimento.

    As indústrias ligadas aos sectores primários têm fortes ligações quer a montante (químicas, metalomecânica, material elétrico, etc.) quer a jusante (indústrias alimentares). No caso das florestas, a jusante podemos mencionar não só a produção de pasta e papel, mobiliário, cortiça, mas também indústrias químicas (resinas), cosmética, farmacêutica (espécies silvestres). São sectores onde existe um vasto campo aberto à investigação e inovação, com potencial na criação de postos de trabalho, desenvolvimento regional, impacto positivo na Balança Comercial.

    Portugal tem grande potencial no que diz respeito às indústrias extrativas. A política de direita prossegue a sua entrega ao capital estrangeiro. O minério é exportado apenas numa fase preliminar de concentração, para facilitar o transporte, sendo refinado no exterior do país que perde assim a maior parte do valor acrescentado e capacidade de desenvolvimento. É pois necessário alterar estas situações iniciando processos que visem a curto prazo o reassumir de posições nacionais dominantes na pesquisa, exploração e nas primeiras transformações.

    Há ainda indústrias nas quais o país teve competitividade internacional e ainda possui bases relativamente sólidas para a sua recuperação. Referimos sectores que têm a nível mundial ampla procura como, o material de transporte; a produção, transporte e transformação de energia elétrica; industria eletrónica nos sectores da teletransmissão e centros de comando, entre outros.

    Outros polos de dinamização e desenvolvimento económico são as indústrias químicas; a indústria naval; as indústrias metalúrgicas, metalomecânicas e eletromecânicas e as indústrias de alta tecnologia (como a bioquímica, médica, microeletrónica, telecomunicações, robótica, etc.).

    A realização de infraestruturas será outro polo de dinamização económica sendo prioritariamente dedicadas a complementar o desenvolvimento dos sectores produtivos. Assim, destacamos a construção e requalificação de matadouros, câmaras de frio, silos e outros equipamentos. Infraestruturas como barras e portos (mesmo em pequenas comunidades piscatórias) para melhorar as condições de descarga e armazenagem do pescado. Requalificação, remodelação e expansão da rede ferroviária de transportes (comboios, metropolitanos, elétricos). Apoios ao processo de reabilitação urbana e poupança energética a nível dos edifícios e produção de equipamentos para este efeito.

    O artesanato e pequena produção regional, as designadas indústrias criativas (produção cinematográfica e televisiva, musica, programação informática, design, arquitetura, etc.) devem ser também objeto de apoio técnico e financeiro, bem como de coordenação sectorial, conforme as necessidades de cada sector.

    Alguém vê este governo ou viu anteriores com algo que se pareça com um plano económico? A sua principal preocupação consiste em garantir o enriquecimento de usurários e monopolistas de que a ofensiva contra os salários e os direitos laborais faz parte.

    O controlo da economia, as funções económicas e sociais do Estado, exigem o equilíbrio das finanças públicas, porém a camada oligárquica opõe-se tenazmente à tributação da sua riqueza e a limitações às suas transferências para paraísos fiscais.

    Como alertou Keynes, "nada pode preservar a integridade do contrato entre os indivíduos a não ser a autoridade discricionária do Estado para rever o que se tornou intolerável [6] .

    Uma estratégia de desenvolvimento antimonopolista, apoiada num forte e dinâmico sector empresarial do Estado na indústria, nos serviços financeiros e no planeamento económico democrático, é a base fundamental para ultrapassar o intolerável poder discricionário dos oligarcas, fautores de crise e de espoliação das riquezas nacionais e criar a alternativa necessária: a transição para o socialismo.
     
    Notas
    1 – O Novo estado Industrial, John K. Galbraith, ed. Europa América, Lisboa, p. 64
    2 – Ver Reindustrializar… dizem eles
    3 – Citado em "Dinheiro, uma biografia não autorizada", Felix Martin, Lisboa, Ed. Circulo de Leitores, 2013, p.312
    4 – John Kenneth Galbraith, ob. cit., p19.
    5 – A Crise Económica Mundial, a Globalização, e o Brasil, Edmilson Costa, S. Paulo, Ed. ICP, 2013, p. 141 [Este livro pode ser encomendado a resistir.info]
    6 – J.M. Keynes, A tract on monetary reform. Citado por Felix Martin, ob. cit., p. 389.


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

     aqui:http://resistir.info/v_carvalho/desenv_industrial_09fev14.html

    Publicação em destaque

    Marionetas russas

    por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...