terça-feira, 27 de março de 2018

A integridade desapareceu do ocidente


por Paul Craig Roberts 
 
Entre os líderes políticos do ocidente não há nem um grama de integridade ou moralidade. Os media impressos e a TV do ocidente são desonestos e corruptos para além de qualquer conserto. Mas o governo russo persiste na sua fantasia de "trabalhar com os parceiros ocidentais da Rússia". O único meio de a Rússia poder trabalhar com bandidos é ela própria tornar-se uma bandida. Será isso o que quer o governo russo?

Finian Cunningham nota o absurdo do alvoroço entre os políticos e o media acerca do (tardio) telefonema a Putin para congratulá-lo pela sua reeleição com 77 por cento dos votos, uma mostra de aprovação pública que nenhum líder político ocidental poderia atingir. O enlouquecido senador do Arizona chamou a pessoa com a maior maioria de votos do nosso tempo de "um ditador". Mas um ditador real empapado em sangue na Arábia Saudita é festejado na Casa Branca e bajulado pelo presidente dos Estados Unidos.    www.informationclearinghouse.info/49069.htm

Os políticos e presstitutos ocidentais estão moralmente ultrajados acerca de um alegado envenenamento, não apoiado por qualquer prova, de um antigo espião sem importância às ordens do próprio presidente da Rússia. Esta espécie de insultos insanos lançados ao líder da mais poderosa nação do mundo em termos militares – e a Rússia é uma nação, ao contrário dos mestiços países ocidentais – levanta as probabilidade de um Armagedão nuclear muito superior aos riscos incorridos durante a Guerra Fria do século XX. Os loucos insanos que fazem estas acusações não provadas mostram desrespeito total por toda a vida sobre a terra. Eles encaram-se como o sal da terra e como pessoas "excepcionais, indispensáveis".

Pense acerca do alegado envenenamento de Skirpal pela Rússia. O que pode ser isto senão um esforço orquestrado para demonizar o presidente da Rússia? Como pode o ocidente estar tão ultrajado com a morte de um agente duplo, isto é, de uma pessoa enganosa, e completamente indiferente aos milhões de pessoas destruídas pelo ocidente só no século XXI. Onde está o ultraje entre os povos ocidentais quanto às mortes maciças pelas quais o ocidente, a actuar através do seu agente saudita, é responsável no Iémen? Onde está o ultraje ocidental entre os povos do ocidente acerca dos mortos na Síria? Os mortos na Líbia, na Somália, no Paquistão, na Ucrânia, no Afeganistão? Onde está o ultraje no ocidente quanto à constante interferência ocidental nos assuntos internos de outros países? Quantas vezes Washington derrubou um governo democraticamente eleito nas Honduras e reinstalou um fantoche seu?

A corrupção no ocidente estende-se para além de políticos, presstitutos e um displicente público de peritos. Quando a ridículo Condi Rici, conselheira de segurança nacional do presidente George W. Bush, falou de armas de destruição e massa de Saddam Hussein, não existentes, a enviarem uma nuvem nuclear sobre uma cidade americana, tais peritos não se riram dela. A probabilidade de um evento assim era precisamente zero e todo perito sabia disso, mas os peritos corruptos mantiveram suas bocas caladas. Se eles falassem a verdade, sabiam que não ficariam na TV, não obteriam uma gratificação do governo, estariam fora de cogitação para uma nomeação governamental. Assim, aceitaram a mentira absurda destinada a justificar uma invasão americana que destruiu um país.

Isto é o ocidente. Não há nada senão mentiras e indiferença para com as mortes de outros. O único ultraje é orquestrado e dirigido contra um alvo: o Taliban, Saddam Hussein, Gaddafi, Irão, Assad, Rússia e Putin, e contra líderes reformistas na América Latina. Os alvos do ultraje de Washington são sempre aqueles que actuam independentemente de Washington ou que já não são úteis para os seus propósitos.

A qualidade das pessoas em governos ocidentais chegou ao colapso, ao próprio fundo do barril. Os britânicos realmente têm uma pessoa, Boris Johnson, como secretário do Exterior que é tão desprezado que um antigo embaixador britânico não tem escrúpulos em chamá-lo categoricamente como mentiroso.    www.informationclearinghouse.info/49067.htm   O laboratório britânico de Porton Down, ao contrário da afirmação de Johnson, não identificou o agente associado com o ataque a Skirpal como um agente novichok russo. Note-se também que se o laboratório britânico é capaz de identificar um agente novichok, também tem a capacidade de produzi-lo, uma capacidade que têm muitos países pois as fórmulas foram publicadas anos atrás num livro.

Que o envenenamento por novichok de Skirpal é uma orquestração é óbvio. No minuto em que o evento ocorreu a narrativa estava pronta. Sem qualquer evidência à mão, o governo britânico e os media presstitutos estavam a berrar "os russos fizeram isto". Não contente com isso, Boris Johnson berrou: "Putin fez isto". A fim de incutir temor e ódio à Rússia na consciência britânica, ensinam às crianças nas suas escolas que Putin é como Hitler.    russia-insider.com/...

Orquestrações tão flagrantes como esta demonstram governos ocidentais sem respeito pela inteligência dos seus povos. Que governos ocidentais escapem impunes a estas mentiras fantásticas indicam que os mesmos são imunes à responsabilização. Mesmo se a responsabilização fosse possível, não há sinal de que povos ocidentais sejam capazes de fazer com que seus governos sejam responsabilizados. Quando Washington conduz o mundo à guerra nuclear, onde estão os protestos? O único protesto é de escolares com cérebro lavado a queixarem-se da National Rifle Association e da Segunda Emenda.

A democracia ocidental é uma farsa. Considere-se a Catalunha. O povo votou pela independência e foi denunciado por fazer isso pelos políticos europeus. O governo espanhol invadiu a Catalunha alegando que o referendo popular, no qual o povo exprimiu sua opinião acerca do seu próprio futuro, era ilegal. Líderes catalães estão na prisão à espera de julgamento, excepto Carles Puigdemont que escapou para a Bélgica. Agora a Alemanha capturou-o no seu retorno à Bélgica vindo da Finlândia, onde deu uma conferência na Universidade de Helsínquia e está a mantê-lo preso para um governo espanhol que tem mais semelhança com Francisco Franco do que com democracia.   www.rt.com/news/422269-catalan-puigdemont-detained-germany/ A própria União Europeia é uma conspiração contra a democracia.

O êxito da propaganda ocidental em atribuir a si próprio virtudes não existentes é o maior êxito de relações públicas da história. 

26/Março/2018
Ver também:
  • We're Headed To War With Russia, and No One Seems to Care , The Saker
  • US expulsion of Russian diplomats is ‘declaration of war , George Galloway

  • Neocons Are Back With A Big War Budget & Big War Plans , Ron Paul

    O original encontra-se em www.paulcraigroberts.org/2018/03/26/integrity-vanished-west/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • quinta-feira, 22 de março de 2018

    Quatro dias para declarar uma Guerra Fria

    por Thierry Meyssan

     A semana que acaba de decorrer foi extraordinariamente rica em acontecimentos. Mas nenhum média esteve à altura de dar conta deles já que todos mascararam deliberadamente alguns dos factos para proteger a narrativa que, a propósito, divulgava o seu governo. Londres tentou provocar um grande conflito, mas perdeu face à Rússia, ao Presidente Trump e à Síria.


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    Embora dispondo do quarto exército no mundo, o Reino Unido não pode desafiar a Rússia sem se apoiar em aliados. Tem, portanto, que inventar um casus belli, e fazer os seus parceiros reagir para os levar a exporem-se junto com ele. 
     

    O governo britânico e alguns dos seus aliados, entre os quais o Secretário de Estado, Rex Tillerson, tentaram lançar um esquema de Guerra Fria contra a Rússia.

    O seu plano previa, por um lado, encenar um atentado contra um ex-agente duplo em Salisbury e, por outro, um ataque químico contra os «rebeldes moderados» na Ghuta. Os conspiradores pretendiam aproveitar-se do esforço da Síria a libertar os subúrbios da sua capital e da distração da Rússia por ocasião da sua eleição presidencial. Na sequência destas manipulações, o Reino Unido teria pressionado os EUA a bombardear Damasco, incluindo o palácio presidencial sírio, e pedido à Assembleia Geral da ONU para excluir a Rússia do Conselho de Segurança.

    No entanto, os Serviços de Inteligência sírio e russo souberam do que se tramava. Eles ficaram convictos que os agentes dos EUA que preparavam, a partir da Ghuta, um ataque químico contra a própria Ghuta não dependiam do Pentágono, mas, antes de uma outra agência dos EUA.

    Em Damasco, o Vice-ministro das Relações Exteriores, Fayçal Miqdad, convocou de urgência uma conferência de imprensa, a 10 de Março, para alertar os seus concidadãos. Por seu lado, Moscovo primeiro tentou alertar Washington pelos canais diplomáticos. Mas, sabendo que o Embaixador dos EUA, Jon Huntsman Jr, é administrador da Caterpillar, a qual forneceu tuneladoras (tatuzões-br) aos jiadistas para que eles construissem as suas fortificações, tentou contornar a via diplomática normal.

    Eis, pois, como os acontecimentos se encandearam :

     

    12 de Março de 2018


    O Exército sírio capturou dois laboratórios de armas químicas, o primeiro a 12 de Março, em Aftris, e o segundo no dia seguinte, em Shifunya. Enquanto a diplomacia russa pressiona a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) a entrar na investigação criminal de Salisbury.

    A Primeira-ministro britânica, Theresa May, acusa violentamente a Rússia, na Câmara dos Comuns, de ter comanditado o atentado de Salisbury. Segundo ela, o ex-agente duplo Serguei Skripal e a sua filha teriam sido envenenados com uma substância militar neurotóxica do tipo «desenvolvido pela Rússia» sob o nome de “novitchok”. Sabendo que o Kremlin considera os seus cidadãos que desertaram como alvos legítimos, seria, pois, altamente provável que tivesse comanditado o crime.

    O “novitchok” é conhecido através do que revelaram a propósito duas personalidades soviéticas, Lev Fyodorov e Vil Mirzayanov. O cientista Fyodorov publicou um artigo no semanário russo Top Secret (Совершенно секретно), em Julho de 1992, alertando para a extrema periculosidade deste e chamando a atenção contra a utilização de antigas armas soviéticas, pelos Ocidentais, para destruir o meio ambiente na Rússia e torná-la inviável. Em Outubro de 1992, ele publicou um segundo artigo no Novidades de Moscovo (Московские новости), junto com um responsável da contra-espionagem, Mirzayanov, denunciando a corrupção de certos generais e o tráfico de “novitchok” ao qual se dedicariam. Eles ignoravam a quem o teriam podido vender. Mirzayanov foi primeiro preso por alta traição, depois libertado. Se Fyodorov morreu na Rússia, em Agosto passado, Mirzayanov vive no exílio nos Estados Unidos, onde ele colaborou com o Departamento da Defesa.

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    O antigo oficial russo da contra-espionagem Vil Mirzayanov desertou para os Estados Unidos. Aos 83 anos, ele comenta o «caso Skripal» a partir de Boston.

    O “novitchok” era fabricado num laboratório soviético em Nurus, no actual Uzbequistão. Aquando da dissolução da União Soviética, ele foi destruído por uma equipe norte-americana especializada. O Uzbequistão e os Estados Unidos, portanto, obrigatoriamente possuíram e estudaram amostras desta substância. Ambos são capazes de o produzir.

    O Ministro britânico dos Negócios Estrangeiros ( Relações Exteriores-br), Boris Johnson, convoca o Embaixador russo em Londres, Alexander Yakovenko. Apresenta-lhe um ultimato de 36 horas para verificar se falta “novitchok”nos seus stocks (estoques-br). O Embaixador responde-lhe que não falta nada porque a Rússia destruiu a totalidade das armas químicas herdadas da União Soviética e a OPCW (OPAQ) pronunciou-se a propósito.

    Após uma conversa telefónica com Boris Johnson, o Secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, condena, por sua vez, a Rússia pelo atentado de Salisbury.

    Enquanto isso, um debate sobre a situação na Ghuta desenrola-se no Conselho de Segurança da ONU. A Representante permanente dos Estados Unidos, Nikki Haley, afirma aí: «Há quase um ano, após o ataque de gás sarin perpetrado em Khan Sheikun pelo regime sírio, os Estados Unidos tinham alertado o Conselho. Dissemos que, face à inação sistemática da comunidade internacional, os Estados, por vezes, são obrigados a agir por conta própria. O Conselho de Segurança não agiu, e os Estados Unidos atacaram a base aérea a partir da qual al-Assad lançara o seu ataque de armas químicas. Nós reiteramos o mesmo aviso hoje.

    Os Serviços de Inteligência russos fazem circular documentos do Estado-maior norte-americano. Eles mostram que o Pentágono está prestes a bombardear o palácio presidencial e os ministérios sírios, dentro do modelo do que fez aquando da tomada de Bagdade (3 a 12 de Abril de 2003).

    Comentando a declaração de Nikki Haley, o Ministério russo dos Negócios Estrangeiros, que sempre qualificou o caso de Khan Sheïkhun de «manipulação ocidental», revela que as falsas informações, que induziram na altura a Casa Branca em erro e a levaram a bombardear a base de Al-Shayrat, provinham de um laboratório britânico que nunca indicou como tinha recolhido as amostras.

     

    13 de Março de 2018


    O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros publica um comunicado condenando uma possível intervenção militar dos EUA e anunciando que se cidadãos russos fossem atingidos em Damasco Moscovo ripostaria de maneira proporcional ; uma vez sendo o Presidente russo constitucionalmente responsável pela segurança dos seus concidadãos.

    Contornando a via diplomática, o Chefe do Estado-Maior russo, o General Valeri Guerassimov, contacta o seu homólogo americano, o General Joseph Dunford, para o informar sobre os seus receios quanto a um ataque químico de bandeira falsa na Ghuta. Dunford toma o assunto muito a sério e alerta o Secretário da Defesa dos EUA, o General Jim Mattis, que refere o caso ao Presidente Donald Trump. Tendo em vista a garantia dada pelos Russos, segundo os quais este golpe sujo estaria preparado à revelia do Pentágono, a Casa Branca pede ao Director da CIA, Mike Pompeo, para identificar os responsáveis deste complô.

    Ignoramos o resultado dessa investigação interna, mas o Presidente Trump ganha a convicção quanto à implicação do seu Secretário de Estado, Rex Tillerson. Este é imediatamente convidado a interromper a sua viagem oficial em África e a voltar para Washington.

    Theresa May escreve ao Secretário-geral da ONU para acusar a Rússia de ter comanditado o atentado de Salisbury e para convocar uma reunião de urgência do Conselho de Segurança. De imediato, ela expulsa 23 diplomatas russos.
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    Publicado um mês e meio antes do atentado de Salisbury, o livro de Amy Knight apresenta o que se vai tornar a tese do MI5. A autora afirma, por si mesma, que não tem a menor prova do que escreve.

    A pedido da Presidente da Comissão do Interior da Câmara dos Comuns, Yvette Cooper, a Secretária britânica do Interior, Amber Rudd, anuncia que o MI5 (Serviço Secreto Militar do Interior) vai reabrir 14 inquéritos sobre mortes que, segundo fontes dos EUA, teriam sido comanditadas pelo Kremlin.

    Ao fazê-lo, o governo britânico adopta as teorias da professora Amy Knight. A 22 de Janeiro de 2018, esta sovietóloga dos EUA publicava um livro muito estranho: «Ordens para matar: o regime de Putin e o assassinato político». A autora, que é «a» especialista do antigo KGB, tenta aí demonstrar que Vladimir Putin é um assassino em série, responsável por dezenas de assassinatos políticos, indo desde os atentados de Moscovo, em 1999, até aos da Maratona de Boston, em 2013, passando pela execução de Alexander Litvinenko em Londres, em 2006, ou a de Boris Nemtsov em Moscovo, em 2015. No entanto, ela confessa, por si própria, que não há nenhuma prova quanto às suas acusações.

    Os liberais europeus entram na dança. O antigo Primeiro-ministro belga, Guy Verhofstadt, que preside o seu grupo no Parlamento Europeu, exorta a UE a lançar sanções contra a Rússia. O seu homólogo à cabeça do correspondente Partido britânico, Sir Vince Cable, propõe um boicote europeu ao Campeonato do Mundo de futebol. Desde logo, o Palácio de Buckingham anuncia que a família real cancela a sua viagem à Rússia.

    A autoridade reguladora britânica, a Ofcom, anuncia que poderia proibir o canal de Tv Russia Today a título de retaliação, muito embora esta não tenha, de forma alguma, violado as leis britânicas.

    O Ministério russo dos Negócios Estrangeiros convoca o Embaixador britânico em Moscovo para o informar que medidas de reciprocidade lhe serão indicadas em breve, em retorsão pela expulsão de diplomatas russos de Londres.

    O Presidente Trump anuncia no Twitter que demitiu o seu Secretário de Estado, com o qual não tinha ainda entrado em contacto. Ele é substituído por Mike Pompeo, ex-Director da CIA, que confirmou na véspera a autenticidade das informação russas transmitidas pelo General Dunford. Chegado a Washington, Tillerson recebe a confirmação da sua demissão pelo Secretário-geral da Casa Branca, o General John Kelly.

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    O antigo patrão da maior multinacional no mundo, ExxonMobil, julgava-se acima da barafunda. Para sua grande surpresa, Rex Tillerson foi brutalment despedido por Donald Trump. O primeiro pensava servir o mundo anglo-saxónico, enquanto o segundo o considerou como um traidor à sua pátria.

    O ex-Secretário de Estado, Rex Tillerson, é originário da burguesia texana. A sua família e ele próprio fizeram parte dos Escoteiros norte-americanos, dos quais se tornou o Presidente nacional (2010-12).

    Culturalmente próximo da Inglaterra, não hesitou, assim que se tornou tornou Presidente da mega multinacional Exxon-Mobil (2006-16), tanto a realizar uma campanha politicamente correcta para aceitar jovens gays entre os Escoteiros, como a recrutar mercenários na Guiana Britânica. Ele seria membro da Pilgrims Society, o mais prestigiado clube anglo-americano, presidido pela Rainha Isabel II, do qual inúmeros membros fizeram parte da Administração Obama.

    Durante as suas funções na Secretaria de Estado, a sua esmerada educação forneceu uma caução a Donald Trump, considerado pela alta sociedade dos EUA como um histrião. Ele entrou em conflito com o seu Presidente sobre três assuntos importantes que nos permitem definir a ideologia dos conspiradores :
    - Como Londres e o Estado profundo dos EUA, ele julgava útil demonizar a Rússia para consolidar o Poder dos Anglo-Saxónicos no campo ocidental ;
    - Como Londres, ele julgava que para manter o colonialismo ocidental no Médio-Oriente, era preciso favorecer o Presidente iraniano Xeque Rohani contra o Guia da Revolução o aiatola Khamenei. Ele apoiava portanto o acordo dos 5+1.
    - Como o Estado profundo dos EUA, ele considerava que a báscula da Coreia do Norte em direcção aos Estados Unidos devia permanecer secreta e ser utilizada para justificar um avanço militar dirigido, na realidade, contra a China popular. Era, portanto, favorável a conversações oficiais com Pyongyang, mas oposto a um encontro entre os dois chefes de Estado.

     

    14 de Março de 2018


    No momento em que Washington está em estado de choque, Theresa May intervém novamente, na Câmara dos Comuns, para aí desenvolver a sua acusação, enquanto no mundo inteiro os diplomatas britânicos tomam a palavra em inúmeras organizações inter-governamentais para lhes transmitir a mensagem. Respondendo à Primeira-ministro, o deputado blairista, Chris Leslie, qualifica a Rússia de “Estado-canalha” e pede a sua suspensão do Conselho de Segurança da ONU. Theresa May compromete-se a examinar a questão, frisando, ao mesmo tempo, que isso só poderia ser decidido pela Assembleia Geral afim de contornar o veto russo.

    O Conselho do Atlântico Norte (OTAN) reúne-se em Bruxelas a pedido do Reino Unido. Os 29 Estados-membro estabelecem uma ligação entre a utilização de armas químicas na Síria e o atentado de Salisbury. Eles consideram a Rússia como «provavelmente» responsável por estes dois acontecimentos.

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    Jens Stoltenberg, Secretário-geral da OTAN, e a representante permanente do Reino Unido no Conselho do Atlântico Norte, Sarah MacIntosh. Esta é a antiga directora para as questões de Defesa e de Inteligência no Ministério britânico dos Negócios Estrangeiros, posto que deixou a Jonathan Allen, actual Encarregado de Negócios na ONU.

    Em Nova Iorque, o Representante permanente da Rússia, Vasily Nebenzya, propõe aos membros do Conselho de Segurança a adopção de uma declaração atestando a sua vontade comum em lançar luz sobre o atentado de Salisbury e em confiar a investigação à OPAQ, dentro do respeito pelos procedimentos internacionais estabelecidos. Mas, o Reino Unido rejeita qualquer texto que não inclua a expressão segundo a qual a Rússia seria «provavelmente responsável» pelo atentado.

    Durante o debate público que se segue, o Encarregado de Negócios do Reino Unido, Jonathan Allen, representa o seu país. É um agente do MI6, que criou o serviço de propaganda de guerra do Reino Unido e deu o seu apoio activo aos jiadistas na Síria. Ele declara : «A Rússia já interferiu nos assuntos de outros países, a Rússia já violou o Direito Internacional na Ucrânia, a Rússia despreza a vida de civis, como o demonstra o ataque a um avião comercial por cima da Ucrânia por mercenários russos, a Rússia protege o emprego por Assad de armas químicas (...) O Estado russo é responsável por esta tentativa de assassínio. O Representante permanente da França, François Delattre, que em virtude de um decreto derrogatório do Presidente Sarkozy foi formado no Departamento de Estado dos EUA, lembra que o seu país lançou uma iniciativa para pôr fim à impunidade daqueles que utilizam armas químicas. Ele sugere que esta iniciativa dirigida contra a Síria poderia ser virada contra a Rússia.

    O Embaixador russo, Vasily Nebenzya, lembra que a sessão foi convocada a pedido de Londres, mas que só veio a ser pública a pedido de Moscovo. Ele observa que o Reino Unido viola o Direito Internacional ao evocar este caso no Conselho de Segurança enquanto mantêm a OPAQ à margem da sua investigação. Ele nota que se Londres pôde identificar o “novitchok” é porque possui a fórmula e, portanto, pôde fabricá-lo. Ele relembra a vontade expressa da Rússia em colaborar com a OPAQ, no quadro do respeito pelos procedimentos internacionalmente aceites.

     

    15 de Março de 2018


    O Reino Unido publica uma declaração conjunta co-assinada, no dia anterior, pela França, Alemanha, bem como por Rex Tillerson, que era ainda Secretário de Estado dos Estados Unidos. O texto retoma a suspeita britânica. Ele denuncia o emprego de «um agente neurotóxico de qualidade militar, de um tipo desenvolvido pela Rússia». Ele afirma que é «altamente provável que a Rússia seja responsável pelo atentado».

    O Washington Post publica uma carta aberta de Boris Johnson, enquanto o Secretário do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, lança novas sanções contra a Rússia. Estas não estão ligadas ao caso em curso, mas às alegações de ingerência na vida pública dos EUA. O decreto cita, no entanto, o atentado de Salisbury como uma prova das acções sujas da Rússia.

    O Secretário da Defesa britânico, o jovem Gavin Williamson, declara que depois da expulsão dos seus diplomatas a Rússia devia «calar» (sic). É a primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial que um dirigente de um Estado membro permanente do Conselho de Segurança emprega um tal vocabulário em relação a um outro membro do Conselho. Serguei Lavrov comenta: «É um jovem encantador. Quer certamente marcar o seu lugar na história, fazendo para isso afirmações chocantes [...] Se calhar falta-lhe educação.

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    A Inglaterra não hesitou, ao longo de toda a sua história, em mentir e em trair a sua palavra para defender os seus interesses. Daí o seu qualificativo francês de «pérfida Albião» (do nome latino da Inglaterra).

     

    Conclusão


    Em quatro dias o Reino Unido e os seus aliados lançaram as premissas de uma nova divisão do mundo, de uma Guerra Fria.

    No entanto, a Síria não é o Iraque e a ONU não é o G8 (do qual a Rússia foi excluída devido à adesão da Crimeia à sua Federação, e pelo seu apoio à Síria). Os Estados Unidos não vão destruir Damasco e a Rússia não será excluída do Conselho de Segurança. Depois de se ter retirado da União Europeia, depois de se ter recusado a assinar a Declaração chinesa sobre a Rota da Seda, o Reino Unido pensava aumentar a sua importância eliminando um concorrente. Com este golpe manhoso, imaginava adquirir uma nova dimensão e tornar-se na «Global Britain» anunciada pela Sra. May. Mas acabou destruindo, ele próprio, a sua credibilidade.
     


    Tradução
    Alva

    aqui:http://www.voltairenet.org/article200270.html

    sábado, 10 de março de 2018

    O colapso do media e o que podemos fazer


    por Nafeez Ahmed e Andrew Markell [*]
     
    Quando um sistema entra na sua fase final de degradação – quer seja um sistema institucional, um Estado, um império ou o corpo humano – todos os importantes fluxos de informação, suportes de uma comunicação coerente, começam a falhar. Nesta derradeira fase, se a situação não for corrigida o sistema entra em colapso e morre.

    Tornou-se óbvio para quase todas as pessoas que se atingiu esta situação no planeta e nas nossas instituições democráticas. Vemos a absoluta disfuncionalidade de como está arquitectada a informação a nível global – representada na intersecção dos principais media de grande público, plataformas de tecnologia social e mega processadores internet – gerar apatia generalizada, desespero, insanidade e loucura numa escala aterradora.

    E temos razão para estar aterrorizados, porque esta situação está a impedir-nos de tomar as necessárias acções para resolver os desafios locais e globais. Enquanto os liberais lutam com conservadores e os conservadores com os liberais, perdemos um tempo precioso.

    Enquanto os progressistas lutam contra o governo, as grandes empresas e os super-ricos, nós afundamo-nos em desespero. Enquanto os filantropos, alimentados pela sua própria segurança e riqueza, lutam por justiça, por igualdade ou por alguma pobre aldeia em África tornamo-nos apáticos e distraídos da verdadeira origem do problema. E enquanto o presidente luta contra todos e todos contra o presidente, as comunidades enlouquecem.

    No fundo, no entanto, o jogo de acumular recursos e não os redistribuir acelera; absorvendo a soma total de nossas acções e compromissos colectivos, num futuro singularmente inaceitável. Há apenas uma maneira de evitar este destino; descobrir a origem da doença e cura-la mobilizando as soluções.

    Vamos desvendar a origem desta doença da informação que nos está a acelerar o colapso ecológico e institucional, porque uma vez identificada, estaremos livres para agir e construir uma alternativa.

    O colapso das instituições democráticas

    A civilização industrial está em vias de uma grande transformação, uma transição sistémica que nos pode levar à regressão, à crise e ao colapso; ou a uma nova forma de trabalhar e viver, um novo modo de prosperidade, uma nova noção de sucesso.

    O complexo dos media globais não está preparado para lidar com esta grande perturbação da civilização tal como a conhecemos. Pelo contrário, é literalmente incapaz de processar a informação de forma consistente e produzir para uma percentagem significativa da população mundial conhecimentos reais que possa tornar a humanidade capaz de efectuar com êxito a transição para uma nova era.

    Actualmente o complexo dos media globais agrava os problemas que enfrentamos.

    Fá-lo ao não fornecer, apesar das aparências, absolutamente nenhum conhecimento. O modelo predominante dos media é monopolizar e manipular fluxos de informação para produzir crenças e emoções que permitirão aos mega processadores internet maximizar "cliques", maximizar receitas de publicidade, maximizar lucros ?– para uns poucos.

    Portanto, ao invés de criar conhecimento, o complexo dos media globais está concebido para gerar narrativas em competição, polarizadas para diferentes públicos aglutinados em comunidades segregadas e irreconciliáveis; reforçando as crenças sem ensinar o pensamento crítico; atenuando atitudes de abertura e promovendo uma dicotomia esquerda-direita banalizada que alimenta uma cultura global de consumismo insensato.

    Esta estrutura, predominante nos media restringe a capacidade do público para tomar decisões inteligentes. E permite que os desafios globais em termos ecológicos, energéticos, económicos e sociais, entre outros, acelerem, enquanto discutimos entre nós sobre ideologia.

    A consequência é que esses fluxos de informação estão inexoravelmente ligados aos processos dominantes de maximização do lucro para uma escassa minoria; tanto é assim, que a relação das pessoas com a informação é gerida como um mecanismo de controlo sobre a atenção e a persuasão ideológica.

    A monopolização dos meios de comunicação e do jornalismo

    No âmago das nossas instituições democráticas em vias de colapso situa-se o complexo dos media globais. Se se for suficientemente corajoso para o olhar de perto veremos que quer a "imprensa livre" quer as "notícias falsas" funcionam como uma extensão estrutural de uma forma extrema de capitalismo predatório, usando informações para capturar riqueza para uns poucos em detrimento de muitos, através da captura das nossas mentes. São duas faces da mesma moeda que fabrica para as mesmas pessoas somas de dinheiro obscenas.

    Só temos de perscrutar para além das aparências para nos depararmos com este facto.

    Nos EUA, seis enormes conglomerados transnacionais possuem a totalidade dos meios de comunicação, incluindo jornais, revistas, editoras, redes de TV, canais por cabo, estúdios de Hollywood, etiquetas de gravação e websites populares: Time Warner, Walt Disney, Viacom, News Corp., CBS Corporation e NBC Universal.

    No Reino Unido, 71% dos jornais nacionais são possuídos por apenas três mega empresas, enquanto 80% dos jornais locais são propriedade de meras cinco empresas.

    Hoje, o maior proprietário mundial de media é o Google, seguido de perto pela Walt Disney, Comcast, 21st Century Fox e Facebook. Juntos, Google e Facebook monopolizam um quinto da receita publicitária global. E todas essas corporações controlam a maior parte do que se lê, vê e ouve, incluindo on-line. Eles definem a nossa compreensão do mundo e de nós próprios.

    Porém, representam um pequeno número de pessoas que têm uma visão muito estreita do mundo.

    Isto porque essas estruturas de poder fazem parte do que um estudo publicado na revista PLoS One, descreveu como uma "rede global de controlo de empresas". Os autores do estudo, uma equipa de teóricos de sistemas do Instituto Federal Suíço de Tecnologia, descobriu que as 43 mil transnacionais mais poderosas do mundo são dominadas por 1318 empresas, por sua vez dominadas por uma "super entidade" de apenas 147 empresas.

    Portanto, a maioria do que se lê, vê ou ouve através dos media é estruturalmente condicionado por uma rede de interesses particulares auto-suficientes e autónomos. É por isso que a distinção entre notícias falsas e verdadeiras é ilusória e desonesta.

    Devido a essa estrutura, praticamente tudo o que encontramos como "notícias" funciona como um pedaço de subtil ou ostensiva propaganda para nos distrair da verdadeira actividade que dirige estes maquinismos. Pouco importa se provêm da Mother Jones, do New York Times, do Breitbart ou da Fox News – tudo o que chega até nós dentro desta estrutura produz o efeito debilitante de confundir as nossas mentes e estimular as nossas emoções numa mistura complexa de raiva, resignação, apatia e preguiça.

    A Google por trás do espelho

    Para entender o poder desses interesses particulares em monopolizar a informação ao serviço dos seus próprios objectivos, não precisamos olhar mais longe do que para a história do proprietário do maior de todos os media do mundo. Em janeiro de 2015, INSURGE revelou a história exclusiva de como a Google foi fundada e evoluiu sob a asa dos serviços secretos dos EUA.

    O relatório revelou como, durante o desenvolvimento do código do núcleo do motor de busca Google, um estudante de pós-graduação da Universidade de Stanford, Sergey Brin, recebeu financiamento através de um programa de pesquisa da CIA e da NSA, o Massive Digital Data Systems (MDDS). A confirmação veio de um ex-dirigente do MDDS, Dr. Bhavani Thuraisingham, que é agora o distinto professor Louis A. Beecherl diretor executivo do Cyber Security Research Institute da Universidade do Texas, em Dallas.

    Isso não foi necessariamente incomum – a comunidade dos serviços secretos tem estado envolvida em Silicon Valley por todas as espécies de razões óbvias. O interessante é que provavelmente nunca se soube como isto funcionou em relação ao Google. E isto diz muito sobre a forma como opera o complexo dos media globais. Suas afirmações são corroboradas por uma referência ao programa MDDS num documento de co-autoria de Brin e Larry Page co-fundador Google, seu companheiro quando estava em Stanford.

    Como os media – todos os media – lidam com a verdade

    Esta história foi totalmente ocultada na imprensa de língua inglesa, exceto o site de informações tecnológicas dos EUA Gigaom, que recomendou a nossa investigação da seguinte maneira:
    "Um relato interessante, ainda que extremamente denso, das interacções de longa data do Google com os serviços militares e secretos dos EUA, foi publicado nos media na semana passada."
    Isto tem implicações muito importantes que merecem análise cuidadosa: em suma, a história do Google, do seu financiamento inicial e parceria com a CIA e NSA [National Security Agency] são revelados, mas nem um único jornal de língua inglesa quis dar cobertura ou reconhecer a história. No entanto, que notícia poderia ser mais importante, do que um dos maior "facilitadores de informação" do mundo estar tão estreitamente alinhado com os serviços secretos dos EUA desde a sua origem?

    A falta de interesse não é o resultado de uma conspiração. É o resultado previsível do facto de o complexo dos media globais representarem uma estrutura institucional altamente centralizada que perpetua uma cultura de obediência servil ao poder.

    O complexo dos media globais oculta em grande parte conhecimentos importantes sobre a própria estrutura e natureza do poder. É por isso que esta é provavelmente a primeira vez que se viu a evidência directa de que o mais poderoso media do mundo, a Google, foi concebido com o apoio dos serviços secretos dos EUA.

    Poder e controlo sobre a nossa mente e os nossos recursos

    Isto não é sobre saber se o Google é singularmente "má". É sobre um paradigma mais amplo de padrões de propriedade inaceitáveis e redes sociais por toda a paisagem mediática.

    Considere-se William Kennard. Ele pertenceu à administração do New York Times, em seguida, tornou-se presidente da Comissão Federal de Comunicações. Depois entrou no grupo de Carlyle como diretor. A maioria do Carlyle pertence à Booz Allen Hamilton, empresa que gere a vigilância da NSA. Depois Kennard juntou-se à administração Obama como embaixador dos EUA para a UE, fazendo pressão pelo TTIP (Tratado Transatlântico de Parceria para o Comércio e Investimento) uma parceria secreta e favorável às corporações .

    Considere-se John Bryson, secretário de Comércio de Obama até 2012. Na década anterior, fez parte da administração da Walt Disney Company, que é dona da American Broadcasting Corporation (ABC). Porém, simultaneamente estava na administração da Boeing, com contratos com a defesa dos EUA. Apesar de se demitir destas posições depois de entrar para o governo, manteve lucrativa carteira de ações, opção de ativos e planos de remuneração diferida com a Disney e a Boeing.

    Considere-se Aylwin Lewis, outro diretor da Walt Disney Company, e simultaneamente director de longa data na Halliburton, uma das maiores transnacionais de serviços petrolíferos, empresa anteriormente dirigida por Dick Cheney. Uma subsidiária da Halliburton, baseada em Houston a KBR Inc., recebeu 39,5 mil milhões de dólares na última década por contratos no Iraque – muitos dos quais negócios sem concurso.

    Considere-se Douglas McCorkindale, diretor do conglomerado mediático gigante Gannett durante décadas e patrão de várias subsidiárias. Gannett é a maior editora de jornais dos EUA, avaliado pela circulação diária e possui importantes estações de TV, redes regionais de notícias por cabo e estações de rádio. Ainda durante cerca de uma década, McCorkindale foi também diretor no gigante da defesa dos EUA, Lockhead Martin, saindo em abril de 2014.

    Considere-se que estes indivíduos, através dos seus interesses nas indústrias de meios de comunicação e da defesa, lucraram directamente em guerras devastadoras que foram efectivamente tornadas possíveis também pela sua própria propaganda.

    Note-se que se trata de um jogo bipartidário, beneficiando largamente de forma idêntica liberais e conservadores.

    Portanto, a crise global da informação e a crise da civilização – em que vemos uma crescente convergência de extremismo político, destruição ecológica e volatilidade económica, destroçando as nossas sociedades e famílias, frustrando as esperanças da nossa juventude – fazem claramente parte da mesma realidade.

    A mercantilização da informação é parte integrante da mercantilização do planeta. Este é um jogo onde a nossa mente, a nossa atenção e futuro são reduzidos a um activo sem valor, negociado através dos mercados, até que nada reste. Mas não há nenhuma necessidade de aceitar este destino. Tudo o que é necessário é que se veja como ele é.

    Uma vez visto, ideias e novas informações podem fluir nas nossas mentes, novas emoções podem fluir no nosso corpo e estaremos habilitados a agir. Se o percebermos podemos agir. Torna-se óbvio que a única solução é redesenhar o formato jornalístico de tal forma que informações e novas ideias conduzam a uma acção construtiva. Torna-se evidente que para reanimar a esfera pública e restaurar as nossas instituições democráticas devemos fazer com que o fluxo de dinheiro dos media volte para onde pertence: para as mãos dos jornalistas e dos leitores-participantes, comprometidos com a criação de um futuro justo e sensato.
     

    Ver também:

  • O modelo da propaganda revisitado , Edward S. Herman

    [*] Nafeez Ahmed e Andrew Markell são dois dos co-fundadores da PressCoin e Insurge. PressCoin e Insurge são a próxima geração de plataformas de meios de comunicação e jornalismo baseados em inovações blockchain e cripto-moeda e no formato de investigação Open Inquiry para substituir o atual inadaptado e destrutivo ecossistema de informação, que conduz tudo no nosso planeta ao caos e à confusão, por um sistema de informação pública inteligente e coerente.

    O original encontra-se em www.counterpunch.org/...


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
  • quarta-feira, 7 de março de 2018

    O discurso de Putin


    por Paul Craig Roberts [*]
     
    Discurso perante a Assembleia Federal da Rússia, 01/Março/2018. Putin efectuou uma notável intervenção perante a Assembleia Federal, o povo russo e os povos de todo o mundo .

    No seu discurso, Putin revelou a existência de novas armas nucleares russas tornando indiscutivelmente claro que a Rússia tem vasta superioridade nuclear sobre os Estados Unidos e sobre os Estados vassalos da NATO.

    Tendo em conta as capacidades russas, não está claro que os EUA ainda se qualifiquem como uma superpotência.

    Há poucas dúvidas na minha mente de que se os enlouquecidos neoconservadores do complexo militar/securitário em Washington tivessem essas armas e a Rússia não, Washington lançaria um ataque à Rússia.

    Putin, no entanto, declarou que a Rússia não tem ambições territoriais nem ambições hegemónicas e nenhuma intenção de atacar qualquer outro país. Putin descreveu as armas como a resposta necessária à firme recusa do Ocidente ano após ano em aceitar a paz e a cooperação com a Rússia e ao invés disso envolveu a Rússia com bases militares e sistemas ABM.

    Putin disse: "Estamos interessados numa interacção construtiva e normal com os Estados Unidos e a União Europeia e esperamos que o senso comum prevaleça e os nossos parceiros escolham uma cooperação justa e equitativa. (…) A nossa política nunca será baseada em aspirações de excepcionalismo, estamos a defender os nossos interesses e respeitamos os interesses dos outros países."

    Putin disse a Washington que os seus esforços para isolar a Rússia com sanções e propaganda e para impedir a capacidade de resposta russa ao crescente cerco militar do Ocidente fracassaram. As novas armas da Rússia tornaram a abordagem EUA/NATO totalmente "ineficaz do ponto de vista militar". "As sanções para restringir o desenvolvimento da Rússia, incluindo a esfera militar, não resultaram". As sanções não foram capazes de conter a Rússia. E eles precisam entender isso (...) Parem de balançar o barco em que todos nós nos sentamos".

    Então, o que há a fazer? O Ocidente virá a ter bom senso? Ou o Ocidente, afogado em dívidas e carregado ao máximo de indústrias militares hipertrofiadas e ineficazes intensificará a Guerra Fria que Washington tem ressuscitado?

    Não penso que o Ocidente venha a ter qualquer bom senso. Washington está totalmente absorvido no "Excepcionalismo americano". A arrogância extrema do “país indispensável" aflige a todos. Os europeus são comprados e pagos por Washington. Creio que Putin tinha esperança de que os líderes europeus compreendessem a futilidade de tentar intimidar a Rússia e cessassem de assumir a Russofobia de Washington que nos está a levar à guerra nuclear. Sem dúvida que Putin ficou decepcionado com a idiotice da resposta do ministro da Defesa do Reino Unido, Gavin Williamson, que acusou a Rússia de "escolher um caminho de escalada e provocação".

    Meu palpite é que os neoconservadores vão minimizar a capacidade da Rússia, porque os neoconservadores não querem aceitar que haja qualquer restrição ao unilateralismo de Washington. Por outro lado, o complexo militar/securitário irá exagerar a superioridade russa e exigir um orçamento maior para nos proteger da "ameaça russa".

    O governo russo concluiu, após anos de frustrante experiência com a recusa de Washington em considerar os interesses da Rússia e trabalharem juntos de forma cooperativa, que a razão era a crença de Washington de que o poder militar americano poderia obrigar a Rússia a aceitar a liderança dos EUA. Quebrar esta ilusão de Washington foi a razão para o enérgico anúncio de Putin sobre as novas capacidades russas.

    No seu discurso, ele disse: "Ninguém queria falar connosco. Ninguém quis ouvir-nos. Escutem-nos agora". Putin sublinhou que as armas nucleares da Rússia são reservadas para retaliação, não para agressão, mas que qualquer ataque à Rússia ou a aliados da Rússia receberá uma resposta imediata "com tudo o que isso implica".

    Tendo deixado claro que a política ocidental de hegemonia e intimidação está morta, Putin novamente estendeu o ramo de oliveira: Vamos trabalhar juntos para resolver os problemas do mundo.

    Espero que a diplomacia russa seja bem-sucedida em pôr um fim para às crescentes tensões fomentadas por Washington. No entanto, a diplomacia russa enfrenta dois talvez inultrapassáveis obstáculos. Um é a necessidade que o complexo militar/securitário dos EUA tem de um grande inimigo como justificação para o seu orçamento anual de 1 milhão de milhões de dólares e o poder que isso representa. O outro obstáculo é a ideologia neoconservadora de hegemonia do mundo pelos EUA.

    O complexo militar/securitário está institucionalizado em cada Estado dos EUA. É um empregador e uma fonte de contribuições para as campanhas políticas, o que torna quase impossível para um senador ou representante ir contra os seus interesses. Nos círculos de política externa está ainda por aparecer um contrapoder aos enlouquecidos neoconservadores. A Russofobia que os neoconservadores criaram agora afecta o americano comum. Estes dois obstáculos revelaram-se suficientemente poderosos para impedir o Presidente Trump de normalizar as relações com a Rússia.

    Talvez no seu próximo discurso, Putin deva abordar os europeus directamente e perguntar-lhes em que é que os seus interesses são servidos, facilitando a hostilidade de Washington para com a Rússia. Se forem impelidos a fazer avançar e deixar estacionar sistemas ABM, armas nucleares e bases militares dos EUA, como podem esperar escapar à destruição?

    Sem a NATO e as suas bases avançadas, Washington não pode encaminhar o mundo para a guerra. O facto fundamental desta matéria é que a NATO é um obstáculo à paz.
     

    Ver também:

  • Tradução oficial para o inglês do discurso do presidente Putin à Assembleia Federal
  • Tradução não oficial para o francês do discurso do presidente Putin à Assembleia Federal
  • Putin's stunning revelations about new Russian weapons systems , Paul Craig Roberts
  • Is Washington Sufficiently Intelligent to Be Trusted with an Independent Foreign Policy? , Paul Craig Roberts
  • Despesas de guerra levam os EUA à bancarrota , por John W. Whitehead

  • La Russie exhibe ses nouvelles armes et dit aux États-Unis "Reviens sur terre" , Moon of Alabama

    [*] Ex-secretário de Estado assistente para política económica e editor associado do Wall Street Journal. Foi colunista da Business Week, Scripps Howard News Service e Creators Syndicate. Seus livros mais recentes: The Failure of Laissez Faire Capitalism and Economic Dissolution of the West , How America Was Lost e The Neoconservative Threat to World Order .

    O original encontra-se em https://www.paulcraigroberts.org/2018/03/01/putins-state-union/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
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