quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Bartoon - Luis Afonso



Morrer em vão

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

No distante dia 27 de Abril de 1971 subia à tribuna da Assembleia Nacional um deputado de 44 anos, integrado na chamada Ala Liberal da Primavera marcelista, de seu nome José Correia da Cunha. Licenciado em Agronomia (1949) e Geografia (1963), colaborador de Orlando Ribeiro, Correia da Cunha não saberia que ao ler o seu discurso intitulado "O Ordenamento do Território, Base de uma Política de Desenvolvimento Económico e Social", estava a inaugurar a política pública de ambiente, tentando transformar Portugal num país mais civilizado. Recordo Correia da Cunha, felizmente ainda entre nós, como homenagem aos corajosos bombeiros caídos na luta contra os incêndios que atingem o país. Como visionário e homem de acção, Correia da Cunha sabia que Portugal iria ficar desequilibrado demograficamente nas décadas seguintes. Milhões de portugueses sairiam das zonas rurais em direcção ao litoral. Era de interesse nacional ordenar o território, proteger a paisagem, a capacidade produtiva dos solos, preservar o capital natural para as gerações futuras. Nada disso aconteceu. Os interesses particulares prevaleceram sobre o interesse geral. Os incêndios que devastaram 426 000 e 256 000 hectares, respectivamente, em 2003 e 2005, fazendo de Portugal o campeão europeu de áreas ardidas, são o sinal de um país doente. Um país que ao fugir das chamas foge de si próprio. Uma das causas principais reside no desordenamento florestal. As reportagens televisivas mostram-nos, sistematicamente, bombeiros e populações cercados por eucaliptos em chamas. Chegado a Portugal em 1829, esta espécie exótica ocupa agora 26% do espaço florestal, e é o grande combustível dos incêndios florestais. Quando vejo ministros, com ar pesaroso, lamentarem a morte dos bombeiros, apetece-me perguntar-lhes: "Onde estavam os senhores no dia 19 de Julho de 2013?". Nesse dia foi aprovado, em Conselho de Ministros, o ignóbil Decreto-Lei n.º96/2013, que, debaixo da habitual linguagem tabeliónica usada para disfarce, estimula ainda mais a expansão caótica da plantação de eucaliptos, aumentando o risco de incêndio, e fazendo dos bombeiros vítimas duma política de terra queimada ao serviço dos poderosos.  

daqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3392419&seccao=Viriato%20Soromenho%20Marques&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

Fim da agressão dos EUA contra a Síria!

Workers World (Editorial)


Antes de falar dos pormenores da última grande mentira, Mundo Operário [Workers World] denuncia qualquer ataque aéreo ou com misseis contra a Síria como um crime de guerra internacional. Fazemos um apelo a todas as forças dos Estados Unidos contrárias à guerra para fazerem frente e dizer «não» a este acto de agressão.

O imperialismo estadunidense está prestes a lançar uma nova guerra. Esta, a última de uma longa série de guerras de agressão, é dirigida contra a Síria. Enquanto escrevemos, quatro destroyers estadunidenses, cada um com 90 misseis cruzeiro, navegam no Mediterrâneo oriental para poder lançar estas cargas mortíferas contra o povo sírio.

Como nas anteriores agressões dos Estados Unidos contra a Jugoslávia, Iraque e Líbia, Washington apresentou uma enorme mentira para justificar uma agressão injustificada e ilegal contra o povo sírio.

Na Jugoslávia, o pretexto, que se provou mais tarde ser falso, foi que o governo sérvio estava a cometer um «genocídio» contra a etnia albanesa de Kosovo. Na Líbia, o governo de Moammar Gadhafi foi acusado de estar prestes a cometer um massacre em Bengasi – outra grande mentira inventada pelas forças dos Estados Unidos e daNato. E já todos sabemos que não se encontraram «armas de destruição massiva» no Iraque.

É verdade que há uma terrível guerra civil na Síria. Mas as forças que participam na luta armada contra o governo sírio foram armadas e financiadas pela Arábia Saudita e outras monarquias do Golfo, Turquia e outras potências da NATO – todas aliadas do imperialismo estadunidense. São responsáveis pelas 100.000 mortes e milhões de refugiados deste conflito.

O governo sírio negou categoricamente o uso de gás venenoso. Não temos problema algum de nos unirmos a milhões, se não milhares de milhões de pessoas que em todo o mundo acreditam em Damasco, em vez dos compulsivos mentirosos do campo imperialista. O imperialismo estadunidense tem um historial de inventar qualquer pretexto para justificar as suas agressões. As suas mentiras têm por fim dar cobertura à sua trajectória de gastar biliões de dólares na maquinaria de destruição mais massiva da história, enquanto nada faz pelas massas em todo o mundo.

Em todo o mundo foram exibidos vídeos que mostram muitos civis mortos. Os meios de comunicação imperialistas difundem-nos na esperança de justificar uma intervenção imperialista em nome dos bandos criminosos que lutam contra o governo sírio.

Mostrarão realmente estes vídeos as vítimas do gás sarin? Não há peritos que confirmem esta acusação. E mesmo que sejam verdadeiros, provam que o governo sírio seja o responsável? O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia sustenta que a verdadeira fonte destes assassínios são os próprios «rebeldes» - forças ultra reacionárias contrárias ao governo que são conhecidas por matar civis sírios que pertencem a uma religião ou seita diferente. Atribuem-se aos rebeldes a utilização de gás sarin numa tentativa de culpar o governo de Bashar al-Assad e provocar a intervenção directa do imperialismo.

O próprio momento em que se verificou esta crise também é muito suspeito. Os «rebeldes» tiveram uma série de derrotas militares e conflitos armados entre eles. Não conseguiram criar um comando central. Além disso, uma equipa de inpecção das Nações Unidas acabava de chegar a Damasco. Por que teria o governo sírio escolhido este momento para fazer o que os Estados disseram que originaria uma intervenção?
Só os «rebeldes», ou como Damasco diz, os «terroristas», poderiam beneficiar com isto.

O governo de Washington afirma que «relutante» em intervir directamente. Mas os factos no terreno – e nos marés próximos – apontam para a possibilidade de outra guerra feita pelos EUA na região. Qualquer pessoa que deseje deter este assalto contra o povo sírio – e isto também é um assalto às condições de vida dos trabalhadores e de todas as pessoas pobres nos próprios Estados Unidos – deve estar preparada para fazer frente a esta nova agressão.

Para quem lhe interessar os argumentos contra a versão oficial dos EUA, chamamos a sua atenção para um vídeo preparado por Press TV. Pode ser visto tinyurl.com/mfdcsgu.

Este texto foi publicado em:
http://www.workers.org/articles/2013/08/25/stop-u-s-aggression-syria/

daqui:http://www.odiario.info/?p=2998

terça-feira, 27 de agosto de 2013

EUA utilizam crimes passados para legalizar crimes futuros



por Diana Johnstone [*]

Os falcões da guerra estão a tactear em busca de um pretexto a que possam chamar "legal" para travar guerra contra a Síria e têm sugerido a "Guerra do Kosovo" de 1999.

Isto não é surpreendente na medida em que um objectivo primário daquela orgia de 78 dias de bombardeamento dos EUA/NATO sempre foi estabelecer um precedente para mais guerras assim. O pretexto de "salvar os kosovares" de um imaginário "genocídio" era tão falso como o pretexto das "armas de destruição maciça" para a guerra contra o Iraque, mas a falsificação teve muito mais êxito entre o público geral. Portanto o Kosovo mantém sua utilidade no arsenal de propaganda.

Em 24 de Agosto, o New York Times informou que ajudantes de segurança nacional do presidente Obama estão "estudando a guerra aérea da NATO no Kosovo como um possível plano para actuar sem um mandato das Nações Unidas". (A propósito, a "guerra aérea" não foi "no Kosovo", mas atingiu a totalidade do que era então a Jugoslávia, destruindo principalmente infraestrutura civil da Sérvia e expandindo também a destruição ao Montenegro.)

Na sexta-feira, Obama admitiu que entrar e atacar outro país "sem um mandato da ONU e sem prova clara" levantava questões em termos de direito internacional.

Segundo o New York Times, "o Kosovo é um precedente óbvio para o sr. Obama porque, como na Síria, foram mortos civis e a Rússia tinha laços antigos com as autoridades governamentais acusadas dos abusos. Em 1999, o presidente Bill Clinton utilizou o endosso da NATO e a racionalização de proteger uma população vulnerável para justificar 78 dias de ataques aéreos".

"É um passo demasiado grande dizer que estamos a formular justificações legais para uma acção, uma vez que o presidente não tomou uma decisão", disse um alto responsável da administração, o qual falou na condição de anonimato a discutir as deliberações. "Mas o Kosovo, naturalmente, é um precedente de alguma coisa que talvez seja semelhante".

Ivo H. Daalder, um antigo embaixador dos Estados Unidos na NATO, sugere que a administração podia argumentar que a utilização de armas químicas na Síria equivale a uma grave emergência humanitária, assim como a administração Clinton argumentou em 1999 que "uma grave emergência humanitária" apresentava à "comunidade internacional" a "responsabilidade de actuar".

Isto equivale à legalidade criativa digna do Estado Canalha (Rogue State) número um do planeta.

Uma guerra ilegal como precedente para mais guerra

A guerra dos EUA/NATO contra a Jugoslávia, a qual utilizou força unilateral para fragmentar um estado soberano, destacando a histórica província sérvia do Kosovo e transformando-a num satélite dos EUA, foi claramente em violação do direito internacional.

Em Maio de 2000, a eminente autoridade britânica em direitos internacional, sir Ian Brownlie (1936-2010), apresentou um Memorando de 16 mil palavras , avaliando o status legal da guerra para o Comité sobre Negócios Estrangeiros do Parlamento Britânico.

Brownlie recordou que disposições chave da Carta das Nações Unidas declaram bastante claramente que "Todos os Membros abster-se-ão nas suas relações internacionais da ameaça ou da utilização da força contra a integridade territorial ou a independência política de qualquer Estado, ou em qualquer outra maneira inconsistente com os Propósitos das Nações Unidas".

Brownlie acrescentou que o alegado direito à utilização da força para propósitos humanitários não era compatível com a Carta da ONU.

Durante a década passada, as potências ocidentais inventaram e promoveram um teórico "direito a proteger" ("right to protect", R2P) num esforço para contornar a Carta da ONU a fim de abrir o caminho para guerras cujo propósito final é mudança de regime. A utilização do R2P para derrubar Kadafi na Líbia mostrou o jogo, assegurando a oposição russa e chinesa a qualquer outra de tais manobras no Conselho de Segurança da ONU.

Em relação à guerra do Kosovo, no seu Memorando o professor Brownlie chegou às seguintes conclusões principais:
- A justificação primária para o bombardeamento da Jugoslávia foi sempre a imposição dos planos da NATO para o futuro do Kosovo. Foi neste contexto que a campanha de bombardeamento foi planeada em Agosto de 1998.

- As ameaças de ataques aéreos maciços foram feitas no mesmo contexto e foram tornadas públicas pela primeira vez em Outubro de 1998. Nem o propósito dos ataques aéreos planeados nem a sua implementação relacionaram-se com eventos sobre o terreno no Kosovo em Março de 1999.

- A razão dos ataques aéreos era bastante simples: uma vez que a Jugoslávia não havia cedido às ameaças, as ameaças tinham de ser executadas.

- A base legal da acção, tal como apresentada pelo Reino Unido e outros Estados da NATO, não foi em nenhuma etapa adequadamente articulada.

- Intervenção humanitária, a justificação tardiamente avançada pelos Estados da NATO, não tinha lugar nem na Carta das Nações Unidas nem no direito internacional convencional.

- Se tivesse sido mantida a visão de que os Membros Permanentes do Conselho de Segurança reconheceriam a necessidade de acção humanitária, então sem dúvida uma resolução teria sido exigida.

- As intenções dos Estados Unidos e do Reino Unido incluíam a remoção do Governo da Jugoslávia. É impossível reconciliar tais propósitos com intervenção humanitária.

- A afirmação de estar a actuar em bases humanitárias parece difícil de reconciliar a desproporcionada quantidade de violência envolvida na utilização de munição pesada e mísseis. As armas tinham efeitos explosivos extensos e os mísseis tinham um elemento incendiário. Uma alta proporção de alvos estava em cidades. Muitas das vítimas foram mulheres e crianças. Após sete semanas de bombardeamento pelo menos 1.200 civis foram mortos e 4.500 feridos.

- Apesar das referências à necessidade de uma solução pacífica ser encontrada em Resoluções do Conselho de Segurança, as declarações públicas da sra. Albright, do sr. Cook, do sr. Holbrooke e outros e as ameaças reiteradas de ataques aéreos maciços, tornam muito claro que nenhuma diplomacia comum foi encarada.
O "tratamento Kosovo"

Como sinopse final, Brownlie escreveu uma nota profética sobre a utilização futura do "tratamento Kosovo":
"O autor tem contactos com um grande número de diplomatas e juristas de diferentes nacionalidades. A reacção à campanha de bombardeamento da NATO fora da Europa e da América do Norte geralmente foi hostil. A maior parte dos Estados tem problemas de separatismo e podiam, numa base selectiva, serem os objectos da "gestão de crise" ocidental. A selecção de crises para o "tratamento Kosovo" dependerá da geopolítica e da agenda colateral. É nesta base, e não numa agenda humanitária, que a Jugoslávia está destinada à fragmentação numa base racial, ao passo que a Rússia e a Indonésia não estão".
Ele acrescentou: "Intervenção coerciva para servir objectivos humanitários é uma pretensão possível apenas para Estados poderosos contra os menos poderosos. O destino da Jugoslávia terá provocado dano considerável à causa da não proliferação de armas de destruição em massa".

O Memorando Brownlie para o Parlamento Britânico é a mais completa avaliação do status legal da Guerra do Kosovo. É bastante notável que o falcões da guerra liberais em torno de Obama falem em utilizar aquela guerra como um "precedente legal" para uma nova guerra contra a Síria.

Isto equivale a dizer que um crime cometido uma vez torna-se um "precedente" para justificar o crime a ser cometido na vez seguinte.

Quantas vezes pode você enganar a maior parte do povo?

Se entendida correctamente, a guerra do Kosovo foi na verdade um precedente que deveria actuar como um sinal de advertência.

Quantas vezes podem os Estados Unidos utilizar um alarme falso para começar uma guerra agressiva? "Genocídio" não existente no Kosovo e na Líbia, armas de destruição maciça não existentes no Iraque e agora aquilo que parece para grande parte do mundo como uma "falsa bandeira" de armas químicas no ataque à Síria.

Os Estados Unidos habitualmente anunciam a presença de um casus belli desejado ignorando pedidos de prova concreta.

No Kosovo, os Estados Unidos obtiveram a retirada de observadores internacionais que poderiam ter testemunhado se sim ou não havia evidência de "genocídio" de kosovares. As acusações escalaram durante a guerra e quando, posteriormente, nenhuma evidência de tal assassínio em massa foi encontrada, o assunto foi esquecido.

No Iraque, nunca houve qualquer prova de ADM, mas os EUA foram em frente e invadiram.

Na Líbia, o pretexto para a guerra foi uma declaração citada erroneamente de Kadafi a ameaçar um "massacre de civis" em Bengazi. Isto foi denunciado como uma falsificação mas, mais uma vez, a NATO bombardeou, o regime foi derrubado e o pretexto caiu no esquecimento.

Domingo, assim que o governo sírio anunciou estar pronto a permitir a inspectores internacionais investigarem alegações de utilização de armas químicas, a Casa Branca respondeu: "demasiado tarde!"

Um alto responsável da administração Obama, pedindo anonimato (pode-se razoavelmente admitir que o responsável era a falcoa Conselheira de Segurança Nacional de Obama, Susan Rice) emitiu uma declaração afirmando que havia "muito pouca dúvida" de que forças militares do presidente Bashar al-Assad haviam utilizado armas químicas contra civis e que uma promessa de permitir a inspectores das Nações Unidas terem acesso ao sítio era "demasiado tardia para ser crível".

No mundo para além das grandes auto-estradas, há uma grande dúvida – especialmente acerca da credibilidade do governo dos Estados Unidos quando se trata de encontrar pretextos para ir à guerra. Além disso, estabelecer "armas químicas" como um "limite" ("red line") que obriga os EUA a irem à guerra é totalmente arbitrário. Hás muitas maneiras de matar pessoas numa guerra civil. Seleccionar uma delas como um disparador para intervenção estado-unidense serve primariamente para dar aos rebeldes uma excelente razão para executarem uma operação de "falsa bandeira" que introduzirá a NATO na guerra que eles estão a perder.

Quem realmente quer ou precisa da intervenção dos EUA? O povo americano? Que bem lhe fará ficar envolvido em ainda outra interminável guerra no Médio Oriente?

Mas quem tem influência sobre Obama? O povo americano? Ou é ao invés "nosso mais firme aliado", o qual é o mais preocupado em reconfigurar a vizinhança no Médio Oriente?

"Não se deve permitir que esta situação continue", disse o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, exprimindo notável preocupação por civis sírios "que eram tão brutalmente atacados por armas de destruição em massa".

"Aos regimes mais perigosos do mundo não se deve permitir possuírem as mais perigosas armas do mundo", acrescentou Netanyahu.

Incidentalmente, inquéritos efectuados mostram que para grande parte do mundo, o regime mais perigoso do mundo é Israel, ao qual é permitido possuir as armas mais poderosas do mundo – as armas nucleares. Mas não há probabilidade de que Israel alguma vez obtenha "o tratamento Kosovo".
26/Agosto/2013
Ver também:
  • The Forbidden Truth: The U.S. is Channeling Chemical Weapons to Al Qaeda in Syria, Obama is a Liar and a Terrorist
    (A verdade proibida: Os EUA estão a canalizar armas químicas para a Al Qaeda na Síria, Obama é um mentiroso e um terrorista)
  • False Flag Chemical Weapons Attack on Syria. Pretext for All Out War?
    (Ataque de armas químicas sob falsa bandeira na Síria. Pretexto para guerra total?)
  • Russian foreign ministry: Materials implicating Syrian govt in chemical attack prepared before incident
    (Ministro russo dos negócios estrangeiros: Materiais que implicam governo sírio em ataque químico foram preparados antes do incidente)
  • Expert casts doubt on Syria chemical weapons footage (Video)
    (Peritos lançam dúvida sobre filmagem de armas químicas na Síria)
  • Carla del Ponte: 'Evidently Syrian Rebels used SARIN'
    (Carla del Ponte: "Evidentemente rebeldes sírios utilizaram Sarin")
  • Preliminary Evidence Indicates that the Syrian Government Did NOT Launch a Chemical Weapon Attack Against Its People
    (Evidência preliminar indica que o governo sírio NÃO lançou um ataque com arma química contra o seu povo)
  • Syrian rebels use toxic chemicals against govt troops near Damascus
    (Rebeldes sírios utilizam produtos químicos tóxicos contra tropas governamentais perto de Damasco)
  • The Syria 'Chemical Weapons' Media Hype: Pushing for Military Intervention
    (O alarde dos media acerca de "armas químicas" na Síria: pressionando pela intervenção militar)


  • O Ocidente revida na Síria

    [*] Autora de Fools Crusade: Yugoslavia, NATO and Western Delusions , diana.josto@yahoo.fr

    O original encontra-se em www.counterpunch.org/2013/08/26/us-uses-past-crimes-to-legalize-future-ones/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  •  daqui:http://resistir.info/moriente/siria_kosovo_26ago13.html 
  • segunda-feira, 26 de agosto de 2013

    As organizações de trabalhadores falharam na organização dos trabalhadores. Começar por reconhecê-lo é necessário para mudá-lo

    por  

    A  taxa de sindicalismo no sector privado é de 9%, no público de 18%. Tem vindo sempre a cair. Metade da força de trabalho, desempregada e precária, está fora de qualquer tipo de organização sindical. Os partidos que deveriam representar os trabalhadores têm, apesar da crise da direita e da crise da social democracia, uma escassa representação.  Têm mais representação eleitoral do que social, mas mesmo a nível eleitoral pífia face ao desgaste dos partidos do chamado centrão. O mesmo se passa nos partidos políticos - a maioria dos quadros, não falo de figuras públicas, mas quadros com real capacidade de liderança, está perto dos 60 anos. Há poucos sindicatos, embora haja excepções, com quadros jovens à sua frente, capazes de dirigir . Das duas uma: ou achamos que o povo é estúpido e então propomos como Brecht, trocar o povo e deitar este fora, ou temos que reflectir sobre o porquê de tanta debilidade organizativa.

    Creio que uma das explicações, uma, haverá outras, está no pacto social – esta ideia de que o capitalismo português pós 25 de abril permitiria um modo de produção em que os trabalhadores eram, digamos assim, «matizadamente» explorados não assumindo por isso um confronto directo com o Estado – salários razoáveis, direito a não ser despedido, subsídio de férias,numa palavra, relações de trabalho-padrão. Mas, a maioria da população, sobretudo  jovem não sabe nem o que isso é, o que é ter um contrato de trabalho, nem conseguem ganhar o suficiente para sair de casa dos pais com 35 anos. E por isso não se revêm nas propostas mediadoras deste pacto social ao qual não pertencem. Há um desencontro histórico, ainda, entre as direcções dos sindicatos e partidos e a maioria da população. Pode-se esconder a cabeça na areia e dizer que não é verdade mas então não conseguimos explicar porque há força social para fazer as maiores manifestações da história do país, 3 greves gerais, e o resultado organizativo disso é zero. E, claro, como o resultado organizativo não é nenhum (as manifestações acabam mas as pessoas vão para casa não vão organizar-se como força social num partido, sindicato ou movimento real permanente) , o impacto político é escasso e o governo mais contestado de sempre da história pós 1974 continua de pé.

    Deixo aqui parte da entrevista que dei ao Sindicato dos Enfermeiros portugueses, e o link para as outras partes da entrevista sobre o SNS, a produtividade da força de trabalho e, aquele que acho que é o maior processo de proletarização de Portugal. Maior do que aquele que se verifica no século XIX com a privatização da propriedade, maior do que aquele que se dá nos anos 60 do século XX com a mecanização agrícola.

    Entrevista completa aqui ou aqui

    daqui:http://5dias.wordpress.com/2013/08/26/as-organizacoes-de-trabalhadores-falharam-na-organizacao-dos-trabalhadores-comecar-por-reconhece-lo-e-necessario-para-muda-lo/

    Futuro hipotecado

    por VIRIATO SOROMENHO MARQUES

     Thomas Jefferson, o pai da Declaração de Independência dos EUA, manteve até ao fim da sua vida uma hostilidade incondicional para com a especulação bancária. Ele sabia, pela sua experiência de empresário agrícola, que o crédito se tornava facilmente o veículo de uma escravatura perpétua. Por isso, Jefferson, como estadista, formulou o saudável princípio de que uma dívida pública não deve ser prolongada para além de 19 anos, sob pena de uma geração esmagar a geração seguinte com os custos das suas dívidas. Ficámos a saber que entre 1999 e 2013 as empresas públicas contrataram 1777 swaps com a banca de investimento, sobretudo internacional (onde se encontrava até o Lehman Brothers...). Esses contratos, muitos deles especulativos, atingem o valor astronómico de 335 mil milhões de euros (mais do que quatro resgates da troika). Desde 1992, os governos já tinham alienado uma parte da riqueza nacional futura às grandes famílias económicas que controlam os cordelinhos das parcerias público-privadas (implicando dezenas de milhares de milhões de euros dos contribuintes para as próximas décadas). Agora, através das swaps, constatamos que algumas dezenas de gestores públicos, através de atos que só podem ser considerados como venais ou incompetentes, amarraram os portugueses a uma dívida potencialmente infinita. Sem controlo político nem supervisão técnica. Portugal terá de escolher entre voltar a ser um Estado ou aceitar ser um ativo tóxico da banca especulativa instalada na praça de Londres. É por essa decisão que passa a "reforma do Estado". E não pelo confisco de mais alguns milhões de euros aos que menos têm, como se prepara para acontecer no Orçamento que os regedores de São Bento preparam para 2014.

    daqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3387256&seccao=Viriato%20Soromenho%20Marques&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

    domingo, 25 de agosto de 2013

    Terra reverdece com aumento de dióxido de carbono

    Desconstrução de alguns "programas informativos" da indústria de exploração de animais

    por Rui Pedro Fonseca [*]


    O consumo de carne no Ocidente já não é prática conferidora de status social, nem é hábito exclusivo de grandes festividades. Embora o carnismo esteja culturalmente sedimentado na história pela Religião, Família e Estado, a sua acentuação na época moderna e contemporânea deve-se essencialmente ao legado empresarial / publicitário que têm vindo a incutir nas sociedades, de forma cada vez mais massiva, práticas sociais que legitimam a exploração de animais não humanos. Atualmente são as instituições empresariais que têm moldado os hábitos alimentares, formas de pensar, comportamentos e posturas referentes aos designados "animais para abate".

    Produtos derivados da exploração, os "animais para abate" tornaram-se sinónimos de (falsas) necessidades, mas que não deixaram de ser criadas. Considere-se um dos primeiros exemplos de sucesso da história moderna: quando a empresa alimentar Beech-Nut Packing contratara o pai da propaganda Edward Bernays [1] que, por "indicação científica de 5000 médicos" [2] , implementou, primeiro nos Estados Unidos na década de 1920, e depois noutros países anglo-saxónicos, a prática alimentar do Bacon and Eggs por alegadamente ser um "pequeno-almoço bem composto" em detrimento do "leve pequeno-almoço" "café, sumo de laranja e uma torrada". [3]

    Que benefícios podem existir de uma carne processada (bacon) que é preservada com conservantes químicos, sal, defumação, e que está apinhada de colesterol e gorduras saturadas? Atualmente, o World Cancer Research menciona que benefícios não existem, e considera que quem consumir elevadas quantidades de bacon acarreta 72% de hipóteses de contrair doenças cardiovasculares (como ataques cardíacos) ou cancro do cólon (11%) [4] . O modelo de publicidade "científica" de Bernays, que reconhecera que "a manipulação consciente e inteligente dos hábitos e opiniões das massas é um elemento importante numa sociedade democrática" [5] é ainda hoje amplamente utilizado por empresas de alimentação.

    Um outro exemplo, entre muitos, pode ser dado pela Mimosa – cujo marketing e publicidade são (auto)regulados pelo Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial (ICAP) que, com um "compromisso voluntário" para com os/as consumidores/as, advoga "respeitar e seguir as normas de conduta, promovendo a legalidade e transparência da comunicação publicitária" [6] . Na página do seu sítio oficial, a Mimosa menciona que desenvolve "programas educativos" (um eufemismo de campanhas publicitárias) de lacticínios dirigidos a mulheres, idosos e crianças (públicos-alvo). Pretendem implementar

    "… hábitos de vida saudáveis, desde a infância, sensibilizando para o seu papel estruturante no bem-estar, ao longo de toda a vida (…) e estudar, informar e sensibilizar os portugueses para a importância do leite [de vaca] e produtos lácteos como parte integrante de um estilo de vida saudável." [7]

    Ou seja, pretendem consolidar e intensificar hábitos de consumo de lacticínios desde a infância até à terceira idade, e convencer as populações que consumir leite da espécie bovina é sinónimo de obtenção de "vida saudável". Também já obtiveram o apoio do Estado português para a implementação de um "programa pedagógico" que envolve mais de 100 mil crianças e professores do Ensino Básico de todo o país onde promovem "educação alimentar" com o fim de "contribuir decisivamente para uma geração melhor alimentada e melhor informada sobre uma alimentação saudável" [8] . A nobre missão da Mimosa visa ainda "aconselhar e atacar o colesterol e a osteoporose" , assim como promover "o consumo de leite como aliado na prevenção da obesidade infantil" [9] .

    Mas, inversamente ao que é dito, a "nova geração", alimentada por empresas de exploração pecuária como a Mimosa, indicia elevadas taxas de obesidade e de doenças crónicas, justamente devido ao consumo de lacticínios que possuem elevados níveis de colesterol, lactose, e alto teor de gorduras saturadas. As secreções mamárias de uma vaca são apenas adequadas para os bezerros para que, após 60 dias do seu nascimento, possam pesar em média cerca de 85kg até chegarem à fase adulta com aproximadamente 400kg. O "programa pedagógico" da Mimosa assenta numa intensa doutrina para que o consumo de leite bovino seja considerado "natural", "saudável" e "necessário" – o que torna a espécie humana no único mamífero no planeta que consome leite de uma outra espécie, e em fase adulta. Depois, sedimenta uma crença generalizada de que o cálcio, tão essencial para a saúde humana, só tem origem no leite de vaca. Em cerca de 5.000 espécies de mamíferos que habitam o planeta, não há nenhuma que obtenha cálcio ou outros nutrientes a partir do leite de outra espécie, seja na infância ou na fase adulta: um ser humano que se apropria do leite que advém das glândulas mamárias de uma vaca é um cenário tão bizarro como um felino sugar o leite de um primata, ou de um suíno sugar leite de um canino. Adicionalmente o que se pode esperar de vacas que são sujeitas a uma exploração intensiva para ministrarem carne ou leite, e que são submetidas a antibióticos, vacinas, hormonas sintéticas (dietiletilobestrol e sulfato de sódio) pesticidas, drogas alopáticas variadas, carrapaticidas, em que muitos casos têm toxinas como o escatol, histamina, putrescina, cadaverina, notrosaminas, nitritos e nitratos, formol, adrenalina, adrenocomo e adrenolutina, benzopireno, sagihate, bactérias e vírus diversos; brucelose, tuberculose bovina; substâncias linfocitárias alergenos, antigenos, benzoquereno [10] , mais pus e sangue?

    Certamente os resultados não podem ser positivos. Cada vez mais estudos de investigadores/as e de nutricionistas independentes são unânimes em certificar que os lacticínios têm a sua cota parte nos problemas de saúde pública existentes nos países ocidentais, contribuindo, designadamente, para o surgimento de cancros (mama e próstata), diabetes, osteoporose, obesidade e alergias. Estudos de organizações de referência, como o World Cancer Research e o American Institute for Cancer Research, certificam ligações entre casos de cancro da próstata com o consumo de leite de vaca [11] . Ainda, um estudo levado a cabo pelo Harvard's Physicians (publicado em 2000), no qual foram seguidos 20.885 homens durante 11 anos, revela que consumir duas ou uma porção e meia de produtos lácteos por dia aumentaria o risco do cancro da próstata em 34% [12] .

    Nos últimos trinta anos graças aos "programas informativos" de produtos de origem animal, só nos Estados Unidos, a obesidade infantil dobrou nas crianças e triplicou nos adolescentes entre os 12-19 anos [13] . A percentagem de crianças obesas entre os 6-11 anos passou dos 7% aos 18% em 2010, e de adolescentes entre os 12-19 anos dos 5% aos 18% do mesmo período [14] .

    As tentativas das indústrias de exploração de animais não humanos em aumentar os seus lucros são permanentes. E.g.: o Internacional Business Times noticiou que a International Dairy Foods Association e a National Milk Producers Federation pretendem que a Federal Drug Administration aprove o uso de aspartame no leite de vaca e derivados, sem que as/os consumidoras/es acedam à presença do químico na composição das embalagens [15] . Que utilidade pode ter este adoçante químico em lacticínios do ponto de vista da indústria? Para que criem dependência e, por conseguinte, para que o consumo se intensifique. Que utilidade pode ter o aspartame para outras indústrias, como a farmacêutica? É que também provoca graves problemas de saúde, como alergias, cancros, diabetes, doenças cerebrais degenerativas, a médio e a longo prazo, cegueira, espasmos, dores de cabeça, perda de memória, convulsões, defeitos de nascimento, fadiga crónica, etc. [16]

    Os lobbies do agronegócio não constituem propriamente uma novidade nos países desenvolvidos. Considere-se o exemplo do programa "The investigators" (1997), da Fox News, em que os repórteres Steve Wilson e Jane Akre viram o seu caso de investigação sobre a hormona artificial para crescimento bovino (rBGH) ser "abafado". Esta hormona artificial (a Posilac da Monsanto) foi criada para os criadores a administrarem às vacas e aumentarem a produção de leite. Antes da sua comercialização, a toxicidade do produto haveria sido testada durante 90 dias, em 30 ratos [17] . A Monsanto não cumpriu com os requisitos de segurança que obrigavam a que o período mínimo de estudo sobre a viabilidade do produto tivesse uma duração mínima de dois anos. A Federal Drug Administration (FDA,) que aprovara a circulação de Posilac, não retirou o produto do mercado apesar do aparecimento de estudos que comprovavam que aquele leite adulterado potenciava o aparecimento de cancro do cólon e da mama. Prontamente, Steve Wilson e Jane Akre foram intimados a fazer alterações da peça jornalística de acordo com o guião dos advogados. Por exemplo, na versão da Monsanto a palavra "cancro" deveria ser alterada para "implicações para a saúde humana" [18] . Os advogados da Monsanto prontamente deixaram claro que haveria graves consequências se a história fosse para o ar e foi exigido que a Fox efetivasse as modificações. Num dos faxes enviados aos jornalistas, os advogados da Monsanto mencionaram:

    "Nós acabamos de pagar 3.000.000.000 de dólares a estas estações de televisão. Nós decidimos quais são as notícias. As notícias são aquilo que nós decidirmos." [19]

    Os receios de um processo judicial e de perder o dinheiro da publicidade da Monsanto, obrigara a Fox News a despedir os jornalistas – e a peça não foi para o ar. O caso da Fox News é paradigmático de uma mega estação televisiva, privada, cujos compromissos empresariais limitam a circulação da livre informação. Os serviços editoriais de uma estação televisiva não podem permitir que certas reportagens ou notícias sejam consumadas e divulgadas. Ainda que a tónica informativa se centre por vezes na (ir)responsabilidade dos/as consumidores/as, o financiamento publicitário de grandes multinacionais da pecuária nos intervalos das programações é sinónimo de que os mecenas jamais serão beliscados.

    Um último exemplo de "programas informativos" dirigidos a consumidores/as pode ser dado com a página da marca Iglo, também sediada em Portugal, e que faz referência aos "Douradinhos". É um produto essencialmente dirigido para "crianças, sendo um importante aliado para as mães, ajudando-as a acabar com as "birras" à hora das refeições". A marca manifesta o seu regozijo porque "em Portugal, são consumidos mais de 66 milhões de Douradinhos por ano, ou seja, quase 2 douradinhos a cada segundo". "Os Douradinhos asseguram um crescimento saudável e divertido que começa no prato pois estão cheios de coisas boas": nomeadamente o selénio e o ómega 3 [20] . Embora seja insofismável que muitos peixes possuem selénio e ómega 3 (tal como consta nos pacotes "Douradinhos"), importa expor um mito e revelar uma importante omissão desta marca, e da indústria piscatória em geral, no que à saúde humana diz respeito. Em relação ao mito: é que estes dois imprescindíveis nutrientes para a saúde humana (selénio e Omega 3) estão apenas presentes nos peixes. A castanha de caju, o gérmen de trigo, a levedura de cerveja, as couves de folha escura, os brócolos, e os frutos secos contêm grandes quantidades de selénio. Quanto ao ómega 3 e 6 pode ser encontrado, ainda em melhores proporções que nos peixes, nas sementes de linhaça, nas sementes de chia, nozes, sementes de cânhamo, etc. Estes são truísmos que qualquer licenciado/a em nutrição adquire na academia. Em relação à omissão: para a espécie humana o consumo de peixes é a principal fonte de contacto com o mercúrio que é assimilado pelos peixes devido à poluição dos rios e dos mares. Por sua vez, os humanos que consomem os peixes ( e.g.: cação, atum, sardinha, pescada, salmão, linguado pacu, etc.) também assimilam doses assinaláveis de mercúrio. De acordo com a Organização Mundial de Saúde o mercúrio é um veneno que tem vários efeitos nocivos em adultos, crianças e fetos: para o sistema nervoso, cérebro, sistema imunológico, sistema digestivo, pulmões, rins, pele, olhos [21] . A palavra "mercúrio" não consta nos pacotes da "Douradinhos".

    Nos exemplos de "programas informativos", ou de campanhas publicitárias, mencionados acima, as empresas de exploração de "animais para abate" passam uma imagem positiva dos seus feitos e objetivos: da sua missão digna e útil à sociedade, dos seus cuidados para com o ambiente e para com os animais, de como os seus produtos são saudáveis, naturais e necessários. Estas conceções desfasadas da realidade, que contam com o apoio mediático e estatal, com a falta de regulação dos produtos, com a existência de lobbies , e com a ambição desenfreada em aumentar os lucros, são fatores que, em conjunto, resultam no afastamento da opinião pública dos impactos reais destes produtos na sua própria saúde; nos animais não humanos explorados; no ambiente; e na gestão de recursos naturais.
     
    Notas:
    (1) E. Bernays também elaborou outras campanhas de sucesso, e.g.: fazer com que as mulheres começassem a fumar tabaco como símbolo de emancipação; colaborou na elaboração do Golpe de Estado na Guatemala, sendo contratado pela United Fruit Company para aconselhar Kissinger, Nixon e a CIA.
    (2) O próprio Edward Bernays a falar sobre os alegados benefícios do Bacon and Eggs: www.youtube.com/watch?v=KLudEZpMjKU&feature=player_embedded
    (3) Idem
    (4) Cf. Denis Campbell, "Cancer risk higher among people who eat more processed meat, study finds" The Guardian, 7 March 2013   www.theguardian.com/society/2013/mar/07/cancer-risk-processed-meat-study
    (5) Bernays, Edward (2005) "Propaganda", pág. 35, Brooklyn, New York
    (6) Instituto Civil da Autodisciplina da Comunicação Comercial "Auto Regulação > Declaração de Princípios Comuns > III. Normas recomendadas para as boas práticas de actuação na Auto-Regulação"
    www.icap.pt/...
    (7) Ver sitio da Mimosa em www.mimosa.com.pt/mimosa/iniciativas-com-a-comunidade/
    (8) Idem
    (9) Idem
    (10) Barreto, Suzete "Porque não comer carne?", Saúde Integral; 7 de Junho de 2007   www.saudeintegral.com/artigos/por-que-nao-comer-carne.html
    (11) Cf. Physicians Committee for Responsible Medicine "Milk and Prostate Cancer: The Evidence Mounts" www.pcrm.org/...
    (12) Idem
    (13) Cf. Centers for Disease Control and Prevention, "Chidhood obesity facts" 11/01/2013 www.cdc.gov/healthyyouth/obesity/facts.htm
    (14) Idem
    (15) Christopher Zara, "Aspartame In Milk: Big Dairy Wants To Sneak In Sweeteners Without Labels, But There's One Last Chance To Comment On FDA Petition", Internacional Business Times, May 21, 2013
    www.ibtimes.com/...
    (16) O aspartame seria aprovado pela FDA, com a grande contribuição de Donald Rumsfeld, em 1974. Mais sobre os impactos do aspartame na saúde humana ver, por exemplo: H.J. Roberts "For Aspartame Disease: An Ignored Epidemic", Sunshine Sentinel Press.
    (17) The Corporation (2003) "Monsanto Cancer Milk FOX NEWS KILLS STORY – FIRES Reporters". www.youtube.com/watch?v=gVKvzHWuJRU
    (18) Idem
    (19) Idem
    (20) Cf. Página da Iglo: "Os douradinhos do Capitão Iglo" www.iglo.pt/pt-pt/a-iglo/capitao/douradinhos/
    (21) Cf. World Health Organization, "Mercury (International Programme on Chemical Safety)" (2013) www.who.int/ipcs/assessment/public_health/mercury/en/


    [*] Do Instituto de Sociologia Universidade do Porto

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .


    daqui:http://resistir.info/varios/industria_alimentar.html

    Alguém anda a roubar-nos!

    Raquel Varela, coordenadora do Livro 'Quem Paga o Estado Social em Portugal?' e Paulo Morais, uma das referências em Portugal no estudo da corrupção, falam no programa da SIC.


    sexta-feira, 23 de agosto de 2013

    Bartoon - Luis afonso

    NSA pagou a empresas de Internet para executar o seu programa de vigilância electrónica

    O Estado gangster EUA/Reino Unido

    por Paul Craig Roberts [*]


    Em 23 de Julho escrevi acerca de como os EUA reverteram papeis com a URSS e tornaram-se o tirano que aterroriza o mundo. Temos agora nova confirmação daquele facto. Ela decorre de duas acções extraordinárias do estado britânico, um fantoche de Washington.

    David Miranda, o parceiro brasileiro de Glenn Greenwald, o qual está a informar acerca da espionagem ilegal e inconstitucional da National Stasi [NR] Agency foi detido, sem dúvida por ordens de Washington, pelo governo fantoche britânico na zona de transito internacional de um aeroporto londrino. Miranda não havia entrado no Reino Unido, mas foi detido pelas autoridades britânicas: rt.com/op-edge/uk-gay-greenwald-freedom-police-679/ . Os fantoches britânicos de Washington simplesmente sequestraram-no, ameaçaram-no durante nove horas e roubaram seu computador, telefones e todo o seu equipamento electrónico. Como disse aos media um presunçoso responsável estado-unidense: "o objectivo era enviar uma mensagem".

    Podemos recordar que Edward Snowden ficou enfiado durante algumas semanas na zona de trânsito internacional do aeroporto de Moscovo. O tirano Obama reiteradamente intimou o presidente Putin da Rússia a violar a lei e entregar Snowden. Ao contrário dos britânicos, outrora orgulhosos cumpridores da lei, Putin recusou-se a colocar os desejos de Washington acima da lei e dos direitos humanos.

    O computador que o Guardian, intimidado, resolveu destruir. A segunda violação extraordinária ocorreu quase simultaneamente, com autoridades britânicas a aparecerem no jornal Guardian e com destruição ilegal dos discos duros dos computadores do jornal na vã intenção de impedir que aquele relatasse novas revelações de Snowden acerca da alta criminalidade dos EUA/Reino Unido.

    É elegante nos governos dos EUA e Reino Unido e entre os seus sicofantas falar do "estado gangster da Rússia". Mas todos nós sabemos quem são os gangsters. Os piores criminosos do nosso tempo são os governos dos EUA e Reino Unidos. Ambos são destituídos de toda integridade, de toda a honra, de toda a humanidade. Muitos membros de ambos os governos teriam dado perfeitos funcionários na Rússia estalinista [NR] ou na Alemanha nazi.

    Isto é extraordinário. Foram os ingleses que deram origem à liberdade. Na verdade, em 1215 foi a libertação dos direitos dos barões em relação às transgressões do rei, não a libertação dos plebeus (commoner). Mas uma vez estabelecido o princípio, este propagou-se por toda a sociedade. Em 1680 a revolução legal estava acabada. O rei e o governo estavam sujeitos à lei. O rei e o seu governo já não eram a lei nem acima dela.

    Nas 13 colónias os ingleses que as povoaram herdaram este feito inglês. Quando o governo do rei George recusou às colónias os Direitos dos Ingleses, os colonizadores revoltaram-se e nasceram os Estados Unidos.

    Os descendentes destes colonos agora vivem na América onde as suas protecções constitucionais foram derrubadas por um governo tirânico que afirma estar acima da lei. Este facto elementar não impediu o governo dos EUA ou seus fantoches de continuarem a encobrir o crime de guerra da agressão militar na falsa linguagem do "servir a liberdade e a democracia". Se os governos Obama e Cameron estivessem no banco dos réus em Nuremberg, a totalidade de ambos os governos seria condenada.

    A pergunta é: haverá suficientes pessoas com o cérebro lavado em ambos os países para apoiarem o mito dos EUA/Reino Unido de "liberdade e democracia" são alcançadas através de crimes de guerra?

    Não há escassez de americanos com cérebros lavados que gostam que lhes digam que são "indispensáveis" e "excepcionais" e, portanto, têm o direito de impor a sua vontade ao mundo. É difícil enxergar nestes americanos despistados grande esperança para o renascimento da liberdade. Mas há alguma indicação de que os britânicos, que não herdaram a liberdade mas tiveram de combater por ela durante cinco séculos, possam ser mais determinados.

    O Home Affairs Committee britânico, presidido por Keith Vaz, está a pedir uma explicação ao cãozinho de estimação de Obama, o primeiro-ministro britânico. A sentinela britânica sobre a aplicação do anti-terrorismo, David Anderson, também está a pedir que o Home Office e a polícia britânicas expliquem a utilização ilegal de leis anti-terrorismo contra Miranda, o qual não é um terrorista nem está de qualquer forma ligado ao terrorismo.

    O ministro dos Negócios Estrangeiros do Brasil juntou-se à querela, pedindo a Londres que explique porque o Reino Unido violou a sua própria lei e abusou de um cidadão brasileiro.

    Naturalmente, toda a gente sabe que Washington forçou seu fantoche britânico a violar a lei a fim de servi-lo. Pode-se perguntar se os britânicos alguma vez decidirão que estariam melhor como país soberano.

    A Casa Branca negou o envolvimento no sequestro de Miranda, mas recusou-se a condenar a acção ilegal do seu fantoche.

    Quanto à destruição da liberdade de imprensa no Reino Unido, a Casa Branca também apoia isso. Ela já está a acontecer aqui.

    Enquanto isso, habitue-se à polícia de estado: www.wnd.com/2013/03/now-big-brother-targets-your-fedex-ups-packages/
    21/Agosto/2013
    [NR] Apesar de ter evoluído para posições esclarecidas e progressistas, Roberts conserva fortes preconceitos anti-comunistas. Aparentemente, sente-se obrigado a fazer a despropósito estas ressalvas anti-soviéticas a fim de falar dos crimes agora cometidos pelo seu governo. Será uma forma de se proteger?

    [*] Ex-secretário assistente do Tesouro no governo Ronald Reagan e ex-editor do Wall Street Journal.

    O original encontra-se em www.globalresearch.ca/gangster-state-usuk/5346572


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
     


    daqui:http://resistir.info/eua/roberts_21ago13.html

    quinta-feira, 22 de agosto de 2013

    A narrativa neoliberal não foi de férias

    Por Jorge Bateira


    O colapso que estamos a viver foi gerado ao longo de mais de uma década por mecanismos socioeconómicos criadores de endividamento público e privado


    O discurso de Passos Coelho no Pontal foi mais um episódio de propaganda política, só possível porque as televisões perderam a vergonha. A pretexto de informação em directo, fizeram a transmissão na íntegra de um discurso de comício. Nada que espante, porque hoje a televisão desempenha um papel central na construção de uma narrativa hegemónica da crise, um discurso simples sobre as suas origens, os seus responsáveis e as transformações do Estado que nos farão sair dela. Para executarem o seu projecto político, os partidos que nos governam precisam, no mínimo, de uma generalizada resignação dos cidadãos.
    A forma mais eficaz de a produzir consiste em criar uma larga maioria de fazedores de opinião (jornalistas, economistas, politólogos, deputados, políticos senadores) que sustente nas televisões a mesma narrativa da crise, a narrativa neoliberal.

    O buraco em que caímos - forte e prolongada quebra na produção, desemprego de massa, mais fome e pobreza, crescimento da dívida pública em bola de neve, redução de salários, pensões e prestações sociais, pesado aumento de impostos sobre as famílias - é um fenómeno de interpretação complexa. Aliás, não pode haver uma interpretação indiscutível desta crise, ou de qualquer realidade sociocultural, já que não temos acesso a essa realidade a não ser através de conceitos, teorias, valores, ideologias. Não sendo a realidade um produto das nossas mentes, como sugere um certo construtivismo pós-moderno, ainda assim a narrativa de uma crise é uma mediação essencial porque tem causalidade própria. Quando é politicamente validada, torna-se a fonte inspiradora das decisões de reconfiguração do Estado e das políticas que lançam a sociedade numa nova e duradoura trajectória.


    O colapso que estamos a viver foi gerado ao longo de mais de uma década por mecanismos socioeconómicos criadores de endividamento público e privado (sobretudo este) que, num país de economia frágil e sem moeda própria, se tornaram insustentáveis. Por isso, a crise atinge mais a periferia sul da zona euro. A interpretação neoliberal deste processo explora o senso comum e faz sentido para a maioria das pessoas - "o nosso despesismo sustentou durante décadas um Estado social incomportável, o que nos conduziu a mais uma crise. Vamos na terceira intervenção do FMI, mas, agora dentro do euro, temos mesmo de fazer aquilo que já não é adiável, reduzir o Estado social focando-o nos mais necessitados".
    Esta narrativa integra sem dificuldade alguns factos que chocam o cidadão comum (casos de endividamento para consumo, muita formação profissional ineficaz, obras públicas de duvidosa utilidade, distribuição de empregos no Estado e empresas públicas, corrupção de vários tipos, etc.) ligando-os a má gestão do Estado, "a causa" da crise. É uma narrativa muito forte porque é plausível para o cidadão comum sem formação específica. Assim sendo, seria de esperar que as esquerdas tivessem investido fortemente na elaboração de uma alternativa, até porque a política de austeridade que tem sido seguida produziu uma calamidade social. Infelizmente, apenas foram produzidas narrativas parcelares sem consistência global. Uma contranarrativa teria de explicar em linguagem simples e popular que o endividamento foi gerado pela perda do escudo e que isso conduziu ao crédito fácil e à desindustrialização do país. Teria de dizer que com o euro perdemos as políticas de que precisamos para ir mais além no desenvolvimento. Teria de dizer também que perdemos a liberdade para decidir sobre as diversas vertentes do Estado social porque essas escolhas já estão feitas e inscritas nos tratados, as que a Alemanha aceitou ou mesmo impôs. Teria de dizer que não temos futuro dentro do euro.

    Em Agosto, a narrativa neoliberal não foi de férias.

    Economista, co-autor do blogue Ladrões de Bicicletas 

    daqui:http://www.ionline.pt/iOpiniao/narrativa-neoliberal-nao-foi-ferias

    quinta-feira, 15 de agosto de 2013

    Hoje o capitalismo precisa do Estado para sobreviver e de um Estado cada vez mais forte.

    por Varela

    Entrevista que dei ao Rua de Baixo

    A crise económica é também um vazio de valores sociais. Esta é um das ideias que fica ao falarmos com Raquel Varela a propósito da edição de “A Segurança Social é Sustentável”. Sem “papas na língua”, a autora deste pertinente livro e coordenadora do grupo de estudos de trabalho e dos conflitos sociais do Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa faz uma análise profunda à atual situação económica e lança algumas questões pertinentes. Que a aula de economia comece!

    Numa época verdadeiramente niilista face ao crescimento da economia global foi, de certa forma, a esperança da recuperação financeira que a fez pensar este livro?

    A propaganda governativa tem difundido ideias falsas, sem sustentabilidade nem seriedade, os políticos fingem ignorar os trabalhos feitos na academia sobre a realidade social – há centenas de investigadores nas nossas universidades todos os dias no país a trabalhar sobre economia e sociedade, mas ouvimos os media dizer sempre o mesmo e ouvir sempre os mesmos. Havia que trazer os académicos para este debate em termos públicos, com mais presença. Essa era uma urgência, trazer a ciência e sair do senso comum.

    Trata-se de expor um conjunto de logros e mistificações que têm sido usados como verdade absoluta e inquestionável – não é verdade que haja idosos a mais para o número de trabalhadores, o país não deixou de produzir (há mais produção e mais concentração de riqueza; o número de trabalhadores no sector secundário quase não caiu desde o 25 de abril, o rendimento mínimo, o RSI, é uma benesse mas também é um conselho do Banco Mundial para evitar situações revolucionárias ou disruptivas do processo de acumulação). Estes são alguns exemplos do retrato que damos do país para além do senso comum.
    Pretendia-se reflectir sobre as políticas sociais, económicas e financeiras, que prejudicam a grande maioria das pessoas, e mobilizar os académicos que têm um trabalho amplo sobre estes temas, sério e reflectido.
    Mas não se tratou, nem se trata, de esperança na recuperação de um modelo económico que só traz desesperança. O trauma dos horrores estalinistas não me fez em nada acreditar que o capitalismo é o fim da história. Há história para além do gulag e de Guantánamo! Não há recuperação económica no moderno modo de produção capitalista sem barbárie social. E isso é independente de termos gestores mais ou menos corruptos.

    Creio que estamos a viver uma crise de 29 adiada. Creio que esta crise não é uma crise financeira nem de subprime, mas uma crise cíclica que começa na produção industrial norte-americana e tem o seu sintoma mais evidente ao nível financeiro. Não confundo a pneumonia com a febre. A pneumonia é a contradição entre a produção para as necessidades e o lucro; a febre, o colapso bolsista que significa a desvalorização da propriedade, em virtude da deflação dos preços na produção. Vou dizê-lo sem diplomacia, quem não percebe a lei do valor enunciada n’ O Capitalde Marx não percebe nada da sociedade onde vive. Pode tentar, mas nunca vai dizer nada que não seja superficial. E a prova disso é que 99% dos economistas acha que o dinheiro produz dinheiro. Falam como se as bolsas tivessem vida própria, e mesmo os críticos daquilo a que chama neoliberalismo acham que vivemos numa economia de casino. E a minha pergunta é: se vivemos numa economia dominada pelo sector financeiro, de casino, por que é que as ajudas financeiras não valem nada sem o salário das pessoas? O que aconteceu em 2008 foi uma ajuda maciça ao sector financeiro e 3 meses depois olharam para as populações e disseram: agora são vocês, com as vossas reformas e salários, a pagar! Porque o que provou esta crise é que a produção, o salário e o trabalho são determinantes, o resto, os títulos e as acções, sem isto, sem trabalho, são apenas papel.
    Explorámos esta hipótese, de uma crise de 29 em gestação, no livro Quem Paga o Estado Social em Portugal? (Bertrand, 2012). É uma crise do capitalismo, como haverá outra (maior ou não) daqui a 18, 20 meses? São crises cíclicas.

    E das quais «sair da crise», nos marcos do modo de acumulação baseado em relações mercantis (capitalista), só é possível diminuindo o salário, aumentando a jornada de trabalho, intensificando as tarefas, numa palavra, colocar 1 trabalhador a fazer o trabalho de 2 ou 3 e despedir os restantes. O que vulgarmente se chama na televisão «descer o custo unitário do trabalho», que tem como contrapartida, nunca dita, «aumentar a rentabilidade do capital investido».

    Por outro lado, este livro também surge de uma pergunta que me inquieta e inquieta os autores, embora não tenhamos todos a mesma resposta. Por que é que, numa fase de regressão social, uma população tão escolarizada e urbanizada, e sem a válvula de escape da emigração a funcionar como nos anos 60, como é que com estas condições não há uma revolta social, uma situação revolucionária? A minha primeira resposta é porque há quase 1 milhão de pessoas que está a receber algum tipo de assistência social, uma generalização da «sopa dos pobres» que tem um efeito amortecedor dos conflitos sociais. E quem paga isso é a segurança social. Quem gere isso é o Estado.

    Quando digo que estamos em algo mais próximo a uma crise de 29 do que por exemplo a uma crise como foi a de 1973 (chamada vulgarmente por crise do choque petrolífero) digo-o porque creio que apesar de toda a destruição de capital (fecho de empresas, com recessão e aumento do desemprego) as taxas de lucro não se recuperam facilmente e as taxas de crescimento são anémicas. Isto é, podemos estar numa bifurcação histórica, em que não é mais possível o capital crescer sem espalhar a miséria e a barbárie social agora mesmo entre os sectores médios dos países centrais, isto é, na Europa. Na Alemanha e na França já se fala dos working poor, pessoas cujo único trabalho não lhes permite viver, precisam de acumular com outro trabalho ou parcialmente depender da assistência social (caridade organizada pelo Estado).

    Será a análise histórica uma das melhores formas de compreender a evolução da própria economia? O Estado é, por norma, um bom aluno?

    Essa é uma pergunta para dias (risos).
    Desde logo quero dizer-lhe que acho a metáfora do bom aluno perigosa. Tenta fazer crer que os governantes não têm responsabilidade política nem poder decisório, como se fossem entidades passivas e subservientes, quase como se os infantilizassem.

    A história mostra, claramente, que a economia não é algo natural, e sim o resultado contraditório da cooperação entre os homens. O capitalismo, portanto, foi o resultado, entre outros factores, da própria acção do Estado que, pela força e pelas leis, criou as condições de uma sociedade de mercado, como Marx bem demonstrou no capítulo XXIV d’ O Capital. Assim, pode-se dizer que o Estado foi, desde os primórdios do capitalismo, um sujeito importante na trama do mercado, o que expõe claramente o facto de que a ideia de um Estado não-interventor na economia (liberalismo e neoliberalismo) sempre foi uma falácia, uma ideologia pueril.

    Quando comecei a escrever o artigo que relaciona a gestão da força de trabalho com a segurança social fui ao século XIX à procura da origem da segurança social. Nunca tento compreender um assunto sem procurar o seu, chamemos-lhe assim, antepassado. O que eu queria perceber era a origem da segurança social, mas acabei a perceber que a segurança social tem sido o fundo para precarizar os trabalhadores e que esse papel tem sido levado a cabo pelo Estado que não deixa de intervir na economia, pelo contrário, é cada vez menos neoliberal (conceito por isso errado) e mais interventivo (diria algo como um keynesianismo conservador).

    O que encontrei foi desde logo a distinção entre assistência, protecção e segurança social. No século XIX existe, para a maior parte da população, uma assistência e não uma protecção social, nem sequer uma segurança social. A segurança social, isto é, segurança para todos, universal, com base na ideia da riqueza colectiva, nasce em 1974.

    Mas também me apercebi como a assistência social surge já como gestora dos efeitos da proletarização – os asilos, mais tarde a «sopa dos pobres» do XIX são, de uma forma diferente, o passado das actuais cantinas sociais. É quando o Estado actua para atenuar os efeitos da hoje dir-se-ia precarização – ou seja, quando o trabalhador não recebe do patrão o suficiente para viver ou quando vai para o desemprego em épocas de redução de lucros, é o Estado que mantém o trabalhador vivo, digamos assim. Isto cresceu brutalmente em toda a Europa nos últimos vinte anos! Na Dinamarca e na Suécia um trabalhador precário tem até algo como 80 dias sem trabalho pagos pela segurança social, na Alemanha há centenas de milhares de pessoas que recebem o Hartz IV, por cá chama-se RSI (Rendimento Social de Inserção). Mas quem paga isto? O fundo da segurança social, que é dinheiro dos trabalhadores. E quem gere? O Estado. Para quem? Para manter as taxas de lucro que as empresas consideram apetecíveis.
    E assim voltamos à primeira pergunta – crise significa destruir riqueza para manter lucros, significa recessão programada. «Isto não é a crise», como se gritava nas ruas de Espanha, «isto é o capitalismo». Funciona assim, mas funciona assim usando ajudas estatais maciças, é assim desde a II Guerra Mundial e será cada vez pior, na minha opinião…

    A análise histórica é o único ponto de partida seguro para construir uma compreensão de qualquer aspecto da sociedade. Não o digo porque sou historiadora. É o contrário. Sou historiadora porque acredito que é a forma mais próxima de compreender a sociedade.

    Raquel Varela

    Portugal encontra-se numa posição de fragilidade extrema no contexto europeu. Acha possível uma eventual perda de autonomia do Estado face à dívida crescente?

    O Estado é o instrumento usado para pagar a dívida, isto é, a dívida é paga com a precarização das leis laborais, feitas pelo Estado, com a privatização dos serviços públicos, com os cortes dos salários e com os aumentos dos impostos. Tudo é feito pelo Estado.

    Sobre a autonomia é relativo, creio. Como devemos chamar ao fenómeno de os governantes portugueses acordarem políticas com Bruxelas e Berlim antes de as discutirem com os portugueses? Há algo de perda de autonomia, mas as empresas portuguesas que estão representadas neste governo – exportadoras, EDP, Grupo Mello, BES, etc – têm muito a ganhar e definem com a troika as políticas. Não creio que haja uma colonização do país, diria mais umajoint venture. Quem é o parceiro do Grupo Mello nos hospitais privados, hospitais cuja metade do financiamento vem dos subsistemas públicos? A Siemens alemã!

    O esforço pedido pela Troika é muito exigente. No seu entender existe alguma legitimidade na aplicação das recentes e recorrentes medidas de austeridade por parte do executivo português?

    Os interesses das populações, tal como estão definidos nos diplomas internacionais, são de carácter social, económico e cultural – incluindo a saúde, a educação, a protecção dos carenciados e mais fracos e um nível mínimo de bem-estar definido em diversos diplomas internacionais. Uma vez que todas as medidas de austeridade têm sido aplicadas em nome dos interesses dos credores (sumariamente representados na Troika), com prejuízo flagrante dos direitos e necessidades fundamentais da população, elas são claramente ilegítimas.

    O Governo, neste momento, representa o interesse dos cidadãos?

    É evidente que não. Este Governo tem defendido os interesses patrimoniais de uma ínfima minoria e dos seus grandes grupos económicos; curiosamente, essa ínfima minoria pertence, em parte, à mesma linhagem de gente que foi defendida no tempo do Salazar, como ilustra, e bem, o livro Os Donos de Portugal (Afrontamento).

    Para pegar apenas na questão do pagamento da dívida pública, que é o argumento com que este governo (e os outros que se têm apresentado como opções, em teoria) justifica toda a política económica. Um Estado que promove despedimentos, corta salários e pensões com o argumento de que há uma dívida pública para pagar, enquanto permite a Ricardo Salgado fazer lucros com a dívida pública (825 milhões de euros em 2012), não representa o interesse dos cidadãos, claramente representa o interesse de apenas alguns deles. A quem duplamente protege, quando amnistia dívidas fiscais, enquanto ao cidadão comum cobra multas pelo mesmo motivo.

    Sempre houve corrupção, mesmo em sociedades pré-capitalistas, como é óbvio. Mas hoje o capitalismo precisa do Estado para sobreviver e de um Estado cada vez mais forte. O BPN e talvez toda a banca teriam ido à falência sem ajudas estatais. Que arrecada cada vez mais impostos e que transfere cada vez uma maior fatia do orçamento para o sector privado. Isto eleva a corrupção e a promiscuidade entre a produção, a finança e o poder político, a níveis, diria, sem paralelo na história. Quando se fala de financiamento a campanhas fala-se de milhões! Aliás em certos países, nos mais ricos e desenvolvidos, onde há maior acumulação de capital e a competição entre empresas é maior, não há menos corrupção; pelo contrário, atingiu níveis em que o próprio Estado teve que intervir, regular e arbitrar – chama-se lobbying. Qualquer chorudo maço de notas que se passa em Angola debaixo da mesa são cêntimos comparado com o que a indústria de guerra ou farmacêutica transferem para os partidos Democrata e Republicano nos EUA.

    O Memorando de Entendimento põe em causa o direito dos trabalhadores e traz à tona o fim da ideia de emprego de longa duração e traz em definitivo a precariedade. Onde fica o pleno emprego?

    O pleno emprego só pode ser assegurado na repartição do trabalho, mais gente a trabalhar menos tempo. Aliás, o aumento da produtividade (mais produtos em menos tempo de trabalho, permitido pela utilização de máquinas) logicamente deveria conduzir a este resultado. Tal como nas nossas casas: pomos a roupa a lavar numa máquina para ficarmos com mais tempo livre (para o dedicarmos a coisas preciosas, como cuidar de nós e dos outros). O que impede que isto aconteça nas nossas vidas profissionais é que esta poupança de tempo reverte, sob a forma de lucros, para o capital. Ora o capitalista não investe para suprir necessidades sociais. Investe se acha que poderá obter uma taxa de lucro que ele considere apetecível. O aumento da produtividade significa que se pode fazer o necessário para a vida da sociedade em muito menos tempo. Se a sociedade trabalhasse para suprir as suas necessidades, isso significaria que todos nós precisaríamos de trabalhar menos. Mas com o capitalismo isso significa o quê? Mais desemprego. A precariedade e a insegurança não têm como objectivo tornar as pessoas mais eficazes no seu trabalho, mas baixar os salários e permitir despedi-las mais facilmente.

    Quanto aos efeitos que a precarização tem na segurança social: mais gente a trabalhar com contratos de trabalho dignos significa mais gente a descontar para a Segurança Social, o que é a chave da sustentabilidade, tanto da própria segurança social como das receitas do Estado – o que, nunca é demais lembrar, não são a mesma coisa. Mais gente precária e mais trabalhadores desempregados significa um atentado à sustentabilidade da Segurança Social, isto é à sobrevivência futura das pessoas que estão hoje em idade adulta e capazes para o trabalho. O capitalismo hoje não promove o progresso, mas a barbárie. E a barbárie não é uma abstracção: já a sentem todos aqueles que hoje são atirados para a sarjeta, privados de trabalho e de meios de subsistência. Mas poderá assumir a forma de uma nova guerra, tal como a II Guerra Mundial foi o factor determinante para o capitalismo superar a sua crise de 1929 que se arrastou pelos anos 30, com o seu cortejo de miséria e regimes dominados por associações de criminosos, como os fascismos.

    Afirmou ser a favor da greve dos professores. Numa época em que a agitação social se vê com tanta frequência nas ruas não teme que a banalização destes actos seja uma realidade premente?

    Temos que reflectir sobre isto. A última greve geral foi para fazer cair o Governo e o Governo não caiu, por isso não houve nenhuma vitória nem foi um sucesso, ainda que os transportes tenham paralisado e muita gente tenha perdido um dia de salário. Mas mostrou que esta política não tem apoio social entre quem vive do salário. Aliás até agora salvo, creio, o caso dos médicos (que conseguiram proibir a subcontratação nos termos em que estava, evitando assim uma precarização maior) e dos feirantes (que acamparam na AR) e tirando algo pontual, nenhuma categoria profissional obteve vitórias, somam-se as derrotas. Creio que o método de fazer manifestações ou greves e a seguir ir trabalhar e sentar-se à mesa de negociações – que é o que tem acontecido ao longo de 40 anos de pacto social – está a revelar as suas limitações para impedir a presente regressão social. Isto é: não chega. E pode ser desmobilizador: manifestações gigantes sem qualquer resultado podem fazer as pessoas pensar: «Afinal para que vou manifestar-me?»

    Confesso que fico surpreendida por plataformas chamarem manifestações e não haver plenários, convocação para organização, ou outros métodos que dêem continuidade àquela força social. Na verdade, as plataformas que chamam manifestações limitam-se a ter como saída para a crise eleições, o que não mobiliza, ou mobiliza cada vez menos pessoas – a abstenção cresce, o número de votos brancos e nulos cresce, os partidos de esquerda não aumentam significativamente, apesar do lamaçal em que estão os três partidos do regime, e na minha opinião isso deve-se ao facto de que os partidos de esquerda (BE e PCP) procuram uma saída, eleições, na qual uma parte acredita (a ideia do Governo de esquerda) mas uma outra parte, substancial, e porventura a mais jovem (força de trabalho precária e desempregada e, que por isso esta fora do pacto social) não se revê nisso.

    As grandes manifestações ou greves só terão sucesso, na minha opinião, e olhando os exemplos que temos do passado em Portugal, nomeadamente o período de 1974-1975, que conheço bem porque é a minha área de estudo, se houver organização democrática associada à acção colectiva (greves, manifestações, etc.). Isto é, colocar as pessoas não a depositar o voto e delegar poderes, não a desfilar numa manifestação que acaba ao fim de hora e meia e ao fim de uns minutos 1 milhão de pessoas desaparecem, mas desafia-las a gerirem as suas próprias vidas. Essa é a arte da política. Isto é, as pessoas passarem a funcionar de forma democrática, com dirigentes revogáveis (que possam ser imediatamente demitidos se não respeitam a vontade das bases) e funcionarem assim tomando as decisões importantes, nas escolas, nos bairros, nos hospitais, nos transportes, na produção e na circulação da produção e, claro, no sector bancário e financeiro.

    Acha possível, de facto, a recuperação económica de Portugal?

    Para responder a essa questão é necessário dizermos de que Portugal estamos a falar. Se é do Portugal de Soares dos Santos, Mello, Espírito Santo, Mota Engil, sim, eles até já voltaram aos lucros, já saíram da crise. O capitalismo não morre de colapso final, como era afirmado pelo dogmatismo pró-soviético e pelas leituras estalinistas (leia-se mecanicistas) do marxismo. O capitalismo pode sempre recorrer à barbárie, em última análise à guerra, como fez na II Guerra Mundial em resposta à crise de 1929. Criar uma «economia da destruição». Mas se é do Portugal dos trabalhadores que estamos a falar, ou seja, daqueles que dependem inteiramente da venda da sua força de trabalho para subsistir, eu diria que a crise está longe de ser resolvida e que terá de se encontrada uma força social semelhante a 1974-1975 para mudar o rumo do país.

    daqui: http://5dias.wordpress.com/2013/08/14/hoje-o-capitalismo-precisa-do-estado-para-sobreviver-e-de-um-estado-cada-vez-mais-forte/
     

    domingo, 11 de agosto de 2013

    A verdade sob a mira

    por John Pilger


    O momento crítico no julgamento político do século foi em 28 de Fevereiro, quando Bradley Manning levantou-se e explicou porque havia arriscado a sua vida para revelar dezenas de milhares de documentos oficiais. Foi uma declaração de moralidade, consciência e verdade, as próprias qualidades que distinguem seres humanos. Isto não foi considerado nos noticiários de referência da América; e se não fosse Alexa O'Brien, uma jornalista freelance independente, a voz de Manning teria sido silenciada. Trabalhando toda a noite, ela transcreveu e divulgou todas as suas palavras. É um documento raro e revelador [1] .

    Ao descrever o ataque da tripulação de um helicóptero que filmou civis a serem assassinados e feridos em Bagdad em 2007 , Manning disse:   "Para mim, o aspecto mais alarmante do vídeo era a aparente e deliciada sede de sangue que eles mostravam. Pareciam não dar valor à vida humana referindo-se às vítimas como "bastardos mortos" e congratulando-se mutuamente com a [sua] capacidade para matar em grande escala. Num trecho do vídeo há um indivíduo sobre o chão a tentar arrastar-se para lugar seguro [o qual] está gravemente ferido... Para mim, isto parece semelhante a um criança a torturar formigas com uma lupa de aumento". Ele tinha esperança de que "o público ficaria tão alarmado quanto eu" acerca de um crime o qual, como suas denúncias seguintes revelaram, não era uma aberração.

    Bradley Manning é um denunciante com princípios e um homem que diz a verdade, o qual foi caluniado e torturado – e a Amnistia Internacional precisa explicar ao mundo porque não o adoptou como um prisioneiro de consciência; ou será que a Amnistia, ao contrário de Manning, está intimidada pelo poder criminoso?

    "É um funeral aqui em Fort Meade", disse-me Alexa O'Brien. "O governo dos EUA quer enterrar Manning vivo. Ele é um jovem verdadeiramente sincero sem um grama de falsidade. Os media de referência finalmente vieram no dia da sentença. Eles compareceram para um combate de gladiador – para observar a luva cair e o dedo polegar apontar para baixo.

    A natureza criminosa dos militares americanos é indiscutível. As décadas de bombardeamentos ilegais, a utilização de armas venenosas sobre populações civis, as "rendições" e as torturas em Abu Graib, Guantánamo e alhures, está tudo documentado. Quando era um jovem repórter na Indochina, comecei a perceber que a América exportava suas neuroses homicidas e chamava isso de guerra, até mesmo de nobre causa. Tal como o ataque do Apache, o infame massacre de My Lai em 1968 não foi atípico. Na mesma província, Quang Ngai, reuni provas de carnificinas generalizadas: milhares de homens, mulheres e crianças, assassinadas arbitrariamente e anonimamente em "zonas de fogo livre".

    No Iraque, filei um pastor cujo irmão e toda a sua família haviam sido mortos por um avião americano, abertamente. Isto era desporto. No Afeganistão, filmei uma mulher cuja casa de adobe, e sua família, havia sido obliterada por uma bomba de 500 libras [226,5 kg]. Não havia "inimigo". Minhas latas de filmes estremecem com tais provas.

    Em 2010, o soldado Manning fez o seu dever para com o resto da humanidade e apresentou, a partir de dentro, a demonstração da máquina de matar. Isto é o seu triunfo; e o seu julgamento espectáculo exprime simplesmente o medo permanente do poder corrupto de que o povo saiba a verdade. Este julgamento também esclarece a indústria parasita em torno do que dizem a verdade. O carácter de Manning foi dissecado e insultado por aqueles que nunca o conheceram e afirmam apoiá-lo.

    O publicitado filme "Nós roubamos segredos: a estória da WikiLeaks" (We Steal Secrets: the Story of WikiLeaks) transforma um heróico jovem soldado num "alienado ...solitário ...muito necessitado" caso psiquiátrico com uma "crise de identidade" porque "estava no corpo errado e queria tornar-se uma mulher". Ao assim falar, Alex Gibney, o director, cuja lasciva psico-tagarelice encontrou ouvidos atentos em todos os media demasiado acomodatício ou preguiçosos ou estúpidos para desafiar o alarde publicitário e compreender que as sombras que caem sobre denunciantes podem atingi-los. Desde o seu título desonesto, o filme de Gibney executa um zeloso trabalho de machadinha sobre Manning, Julian Assange e a WikiLeaks. A mensagem era familiar — dissidentes sérios são extravagantes. O meticuloso registo de Alexa O'Brien da coragem moral e política de Manning demole esta difamação.

    No filme de Gibney, políticos dos EUA e o chefe do estado-maior das forças armadas são alinhados para repetir, sem contestação, que, ao publicar as denúncias de Manning, a WikiLeaks e Assange colocaram as vidas de informantes em risco e que tinham "sangue nas suas mãos". Em 1 de Agosto, o Guardian informou: "Nenhum registo de mortes provocadas pelas revelações da WikiLeaks, disse o tribunal". O general do Pentágono que efectuou uma investigação de 10 meses sobre impacto mundial das denúncias informou que nem uma única morte podia ser atribuída às revelações.

    Contudo, no filme, o jornalista Nick Davies descreve um Assange desapiedado que não tinha "plano de minimização de dano". Perguntei ao director de cinema Mark Davis acerca disto. Davis, um respeitado locutor da SBS Austrália, foi uma testemunha ocular, acompanhando Assange durante grande parte da preparação dos documentos divulgados para publicação no Guardian e no New York Times. Ele me disse: "Assange foi o único que trabalhou dia e noite extraindo 10 mil nomes de pessoas que podiam ser visadas pelas revelações nos documentos".

    Enquanto Manning enfrenta a vida na prisão, diz-se que Gibney está a planear um filme em Hollywood. Um filme biográfico de Assange está a caminho, de acordo com uma versão Hollywood do livro de mexericos de David Leight e Luke Harding sobre a "queda" da WikiLeaks. Ao extraírem lucro da coragem, clarividência e sofrimento daqueles que se recusam a ser cooptados e dobrados, todos eles acabarão no caixote de lixo da história. Pois a inspiração dos futuros denunciantes da verdade pertence a Bradley Manning, Julian Assange, Edward Snowden e os jovens notáveis da WikiLeaks, cujos feitos são sem paralelo. O resgate de Snowden é em grande medida um triunfo da WikiLeaks: um filme de suspense demasiado bom para Hollywood porque os seus heróis são reais.
    08/Agosto/2013
    [1] Ler a declaração de Bradley Manning aqui .

    Ver também:

  • wikileaks.org/Bradley-Manning-Trial-FAQ.html


  • www.bradleymanning.org/

    O original encontra-se em www.counterpunch.org/2013/08/08/truth-in-the-crosshairs/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  • daqui: http://resistir.info/pilger/pilger_09ago13.html 
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