domingo, 29 de junho de 2014

Bunker Roy - Universidade dos Pés-Descalços

Em Rajasthan, na Índia, uma escola ensina mulheres e homens do meio rural -muitos deles analfabetos- a tornarem-se engenheiros solares, artesãos, dentistas e médicos nas suas próprias aldeias. Chama-se Universidade dos Pés-Descalços, e o seu fundador, Bunker Roy, explica como funciona.



sexta-feira, 27 de junho de 2014

Leituras

Poderá a diplomacia de Putin prevalecer sobre a coerção de Washington?


por Paul Craig Roberts
. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, está a tentar salvar o mundo da guerra. Deveríamos ajudá-lo.

Hoje [24/Junho] o secretário presidencial de imprensa, Dmitry Peskov, informou que o presidente Putin pedira ao parlamento russo para revogar a autorização para utilizar força que lhe fora concedida a fim de proteger os residentes de antigos territórios russos que actualmente fazem parte da Ucrânia da raivosa violência russofóbica que caracteriza o governo fantoche de Washington instalado em Kiev.

Os neoconservadores de Washington estão eufóricos. Eles encaram a diplomacia de Putin como um sinal de fraqueza e de medo e instam por passos mais fortes para forçar a Rússia a devolver a Crimeia e a base naval no Mar Negro.

No interior da Rússia, Washington está a estimular suas quintas colunas de ONGs a solapar o apoio de Putin com a propaganda de que ele teme defender russos e abandonou a população russa da Ucrânia. Se esta propaganda ganhar terreno, Putin será distraído pelos protestos de rua. A aparência de uma fraqueza interna de Putin fortaleceria Washington. Muitos membros da jovem classe profissional são influenciados pela propaganda de Washington. Basicamente, estes russos, com cérebros lavados pela propaganda estado-unidense, estão alinhados com Washington, não com o Kremlin.

Putin colocou o seu futuro e o do seu país na aposta de que a diplomacia russa pode prevalecer sobre os subornos, ameaças, chantagens e coerção de Washington. Putin está a apelar aos europeus ocidentais. Ele está a dizer: "Eu não sou o problema. A Rússia não é o problema. Somos razoáveis. Estamos a ignorar provocações de Washington. Queremos fazer as coisas bem feitas e encontrar uma solução pacífica".

Washington está a dizer: "A Rússia é uma ameaça. Putin é o novo Hitler. A Rússia é o inimigo. A NATO e os EUA devem começar uma preparação militar contra a Ameaça Russa, enviar tropas e jactos de combate para bases da NATO na Europa do Leste na fronteira da Rússia. As reuniões do G-8 devem ser efectuadas sem a Rússia. Sanções económicas devem ser aplicadas à Rússia pouco importando os danos que as sanções façam à Europa". E assim por diante.

Putin diz: "Estou aqui à disposição. Vamos terminar com isto".

Washington diz: "A Rússia é o inimigo".

Putin sabe que o Reino Unido é um total estado vassalo-fantoche, que Cameron já foi comprado e pago tal como Blair antes dele. A esperança de Putin na diplomacia ao invés da força assenta na Alemanha e na França. Ambos os países enfrentam o orçamento da Europa e as agruras do emprego, e ambos os países têm relações económicas significativas com a Rússia. Os interesses dos negócios alemães são um contrapeso à fraca subserviência do governo Merkel à Washington. Washington estupidamente irritou os franceses ao tentar roubar US$10 mil milhões do maior banco da França. Este roubo, se tiver êxito, destruirá o maior banco da França e entregará a França à Wall Street.

Se o desejo de soberania nacional ainda existe nos governos alemão e francês, um ou ambos podia apontar o dedo a Washington e declarar publicamente que recusam que o seu país seja arrastado ao conflito com a Rússia por causa do Império de Washington e da hegemonia financeira de bancos americanos.

Putin está a apostar neste resultado. Se a sua aposta for má e a Europa fracassar não só para com a Rússia mas para com ela própria e o resto do mundo acomodando-se ao impulso de Washington pela hegemonia mundial, a Rússia e a China terão submeter-se à hegemonia de Washington ou estarem preparadas para a guerra.

Como nenhum dos lados pode permitir-se perder a guerra, a guerra seria nuclear. Como cientistas têm tornado claro, a vida sobre a terra cessaria, pouco importando se o escudo ABM (Anti-Ballistic Missile) de Washington funciona.

Eis porque oponho-me às políticas de Washington e falo abertamente contra a arrogância e o excesso de confiança que define a Washington de hoje. O resultado mais provável da busca de Washington da hegemonia mundial é a extinção da vida sobre a terra.
 
25/Junho/2014


O original encontra-se em paulcraigroberts.org e em www.globalresearch.ca/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


aqui:http://resistir.info/crise/roberts_25jun14.html 

O Iraque, de novo

por JOSÉ MANUEL PUREZA

Há trinta anos chamavam-lhes Mujahedin ou combatentes da liberdade, no Afeganistão. Agora afivelam-lhes o estigma de jihadismo ou fundamentalismo islâmico, como se antes - quando eram úteis às estratégias de dividir para reinar dos financiadores ocidentais e dos seus aliados mais espúrios - tivessem sido outra coisa qualquer. Na verdade, o jihadismo do Exército Islâmico do Iraque e do Levante é apenas o resultado mais recente do longo conúbio entre a gestão imperial do Médio Oriente pelos sucessivos inquilinos da Casa Branca e os sheiks das petroditaduras do Golfo.

Quem manda no mundo nunca hesitou em servir-se de atores assim para os seus propósitos, ao mesmo tempo que sobre eles lançou a mais inflamada das condenações. O uso da Irmandade Muçulmana contra Nasser, a recuperação do Hamas contra Arafat por Israel ou a criação da Al-Qaeda contra os soviéticos no Afeganistão são ilustrativos episódios anteriores de uma novela que tem agora no Exército Islâmico do Iraque e do Levante o seu ator em destaque.

A instrumentalização de necessidades sociais profundas é o seu ADN. De há três décadas a esta parte, o jihadismo tornou-se no dispositivo de inclusão privilegiado de milhões de pessoas situadas num lumpemproletariado totalmente excluído de direitos por monarquias cleptocráticas no mundo árabe. São massas humanas cuja pobreza as torna totalmente disponíveis para uma lealdade cega para com quem lhes dê um sentido para uma vida privada dele pela acumulação de marginalizações. Agora é assim no Iraque. Sem surpresa: num país destruído por uma guerra sem quartel que a intervenção ocidental deixou como principal legado, são seis milhões de pessoas que vivem nos limites da miséria e para os quais não há nenhum horizonte que retire razão à guerra como modo de vida. É aí que está boa parte da comunidade sunita, a quem o Governo de Al Maliki excluiu e agrediu como contraface das benesses dadas aos seus.

Como no Afeganistão, na Líbia ou na Síria, é a estes despojados que é dado prosseguir o que as invasões externas deixaram apenas começado. Trata-se de uma espécie de legião estrangeira do integrismo islâmico que, como todos os grupos de mercenários, não faz aceção de aliados: lutou ao lado da NATO na Líbia, juntou-se aos que cumpriram a estratégia anti-Assad na Síria e é agora ponta-de-lança na guerra antixiita no Iraque. São os mesmos, viajam de terra para terra, em nome de uma bandeira difusa que lhes dá pão e sentido para existir.

Dúplices parecem ser os que deles se servem: fazem aliança com o jihadismo contra Assad na Síria, fazem dele seu inimigo no Iraque. Talvez só na aparência haja duplicidade, no entanto. Obama usou na Síria e na Líbia a mesma tática de estímulo das divisões sectárias que o seu antecessor iniciara criminosamente no Iraque. Agora, o efeito das táticas de um e de outro rebenta às portas de Bagdad. E subitamente ficam criadas as condições para cumprir o plano de federalização sectária do Iraque, aprovado pelo Senado em 2007 sob iniciativa do atual vice-presidente Joe Biden e do republicano Brownback. A divisão do Iraque, começada por Bush, será consumada por Obama e somar-se-á ao desmantelamento da Síria para impor o redesenho das fronteiras de todo o Médio Oriente como afinal desejavam os neocons que empurraram Bush para a irresponsável invasão do Iraque em 2003.

Entretanto ouviremos os donos do mundo dizer do jihadismo que ele é o mal absoluto. Quanto pior disserem maiores serão as suas cumplicidades. Afinal de contas, os donos do mundo há muito nos habituaram a dar a mão ao diabo para que os seus negócios fiquem a salvo. Que importam uns milhões de iraquianos, de sírios e de líbios pobres diante da garantia de que as moedas continuarão a tilintar?  

aqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3994533&seccao=Jos%E9%20Manuel%20Pureza&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Resposta ao documento da FIFA "Acabar com mal entendidos"


por Eddie Cottle [*]
Cartoon de Latuff. Em 10 de Junho de 2014 a FIFA divulgou o panfleto "Acabar com o mal entendidos" ("Setting the Record Straight") com perguntas e respostas que pretendem esclarecer concepções incorrectas acerca do papel da FIFA e do impacto sócio-económico da sua Copa do Mundo. A divulgação do panfleto é significativa pois é a primeira vez que a FIFA é forçada por protestos em massa, e graças aos brasileiros, a vir a público e defender-se a si própria e à sua imagem empanada. Os acontecimentos no Brasil foram muito além da onda de greves maciças na África do Sul a exigir que a FIFA aceitasse uma agenda de "trabalho decente" . Esta é, afinal de contas, a primeira vez na história da Copa do Mundo que se verificou uma revolta contra a FIFA e isso num país que ama o futebol! Não só o tom do panfleto é defensivo como também deixa perceber como a FIFA está a decair da sua posição de voz hegemónica do futebol mundial.

Num esforço para defender a sua reputação social no Brasil e no mundo como um todo, o panfleto começa com uma posição cómica mas franca. Admite que, dos US$15 mil milhões em infraestrutura, "os contribuintes pagaram a conta, a FIFA não gastou nada" e é responsável apenas pela cobertura dos custos operacionais do evento – não em proporcionar a infraestrutura. Mas o que a FIFA não reconhece é que o contribuinte está a pagar um mega-subsídio público precisamente porque a FIFA não gasta nada! Apesar de esta ser uma das muitas dádivas, o fedelho mimado da FIFA exige uma enormidade de concessões dos países que abrigam a Copa Mundial da FIFA em mecanismos legais de garantias do estado e nas notórias Leis da FIFA.

As Leis da FIFA constituem a chave para assegurar a operação a complexa acumulação da FIFA no desporto pela qual ela e seus parceiros comerciais, os bancos, firmas de construção e engenharia locais e internacionais, asseguram para si próprias e seus accionistas uma taxa garantida de mega-lucros. O mecanismo deste regime de acumulação de capital é precisamente utilizar a avenida dos fundos públicos e dos subsídios e isenções do estado para acumular milhares de milhões em poupanças sem ter de gastar directamente um centavo do dinheiro do contribuinte. O representante do grande capital, o estado, faz isto por conta da FIFA. Na África do Sul isto foi bem documentado no livro South Africa's World Cup: A Legacy for Whom?

A FIFA está correcta em que não há uma isenção fiscal geral mas há uma extensa "série de isenções de impostos federais concedidos exclusivamente: (i) à própria FIFA e entidades relacionadas residentes no exterior; (ii) à subsidiária brasileira da FIFA e à Brazilian Broadcasting Source; (iii) a fornecedores de serviços à FIFA estabelecidos no Brasil; e (iv) a indivíduos não residentes contratados ou empenhados em trabalhos nos eventos" . As isenções incluem todas as receitas, lucros, rendimentos, despesas, custos, investimentos, folhas de pagamento e toda e qualquer espécie de pagamentos, em cash ou de quaisquer outras formas.

Há isenções fiscais limitadas no tempo sobre importações executadas pela própria FIFA, por subsidiárias brasileiras da FIFA, confederações da FIFA, membros de associações estrangeiras da FIFA, parceiros de negócios estrangeiros e fornecedores de serviços da FIFA e emissões primárias de rádio e TV da FIFA

Há também pagamentos únicos de prémios de US$44 mil (livres de impostos) bem como um estipêndio mensal a jogadores que fizeram parte das equipes vencedoras do Brasil nas Copas do Mundo de 1958, 1962 e 1970. Estes pagamentos serão feitos através do Ministério do Desporto e do Ministério do Bem Estar Social e provirão de fundos públicos.

As Leis da FIFA declaram que todos "os vistos em passaportes e permissões de trabalho" relacionados com o evento serão livres de encargos para centenas de milhares de delegações da FIFA, associados da imprensa e parceiros comerciais incluindo todos os torcedores que tiverem bilhetes para os jogos. Portanto, milhões em receitas públicas foram perdidas mesmo antes de os jogos começarem.

Há maciça despesa pública do estado para impor direitos de propriedade intelectual da FIFA em que "a FIFA será libertada do pagamento de quaisquer taxas ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) até 31 de Dezembro de 2014" . Esta imposição também inclui uma "bolha isenta de impostos" de 2 km de raio em torno de locais oficiais de desporto o que basicamente proíbe a livre competição e impede qualquer um de extrair um rendimento sem obter uma licença da FIFA. As leis são tão extremas que um bar ou restaurante local não pode sequer utilizar as palavras "Copa Mundial", "Brasil 2014", "2014 Brasil", muito menos "FIFA", para atrair clientes. Isto efectivamente exclui a maioria dos comerciantes informais e negócios locais desejosos de vender seus produtos durante a Copa do Mundo. A FIFA portanto está a enganar o público quando diz que não "remove comerciantes de rua" pois as novas condições (criadas após protestos maciços pela entrada dos comerciantes de rua na África do Sul) ainda são limitadas ao "ambiente imediato do estádio".

A FIFA mais uma vez chora que não ordenou ao Brasil "construir 12 estádios dispendiosos". Apesar de nunca podermos saber quantos estádios a FIFA realmente ordenou a questão que permanece é que a FIA exige os "estado-da-arte, estádios modernos e belos". O documento de 228 páginas da FIFA, " Football Stadiums: Technical Recommendations and Requirements" , o qual é considerado como o modelo para os estádios de futebol do século XXI, deixa uma impressão de que os estádios não podem ser senão horrendamente dispendiosos. Veja-se a exigência de que o salão VIP da FIFA deve ser suficientemente grande para acomodar 500 hóspedes por partida durante campeonatos e 2000 nas partidas de abertura e encerramento dos campeonatos. Isto vai além do que a hospitalidade exige, o que só pode ser encarado como uma despesa com um luxo monstruosamente perdulário. Na África do Sul foi bem documentado que a FIFA exigiu que um moderno estádio todo novo fosse construído em Cape Town simplesmente devido ao seu preconceito de classe em relação a Athione, uma comunidade de trabalhadores onde já havia um estádio factível.

Agora a FIFA diz que não é culpada por remoções forçadas, o que é só uma meia verdade. A questão é que remoções forçadas frequentemente verificam-se antes de Copas Mundiais da FIFA, como parte da síndrome elitista "World Class City" que tem infectado países de todo o mundo.

Finalmente, a FIFA está a esforçar-se por explicar que não deixa o país hospedeiro com "problemas sociais, económicos e ecológicos" e de facto gastou US$182 milhões com legados desportivos na África e que os jogos foram ambientalmente compatíveis. Não só a FIFA na África do Sul ganhou o máximo de dinheiro na história da copa do mundo – uns US$2,3 mil milhões – como houve ultrapassagens de custos de 1.708% no total. Apesar de manter todas as regulamentações ambientais, a Copa do Mundo de 2010 também foi considerada como o torneio mais intensivo em carbono até então.

Para todos os efeitos, a Copa do Mundo Brasil 2013 ultrapassará o legado da África do Sul e afundará na história como o torneio mais e mais intensivo em carbono da história da FIFA.
 

Ver também:

  • Soccer Is Democratic. The World Cup Is Oligarchy.

  • A luta dos trabalhadores triunfa sobre o espectáculo

    [*] Editor do livro South Africa's World Cup: A Legacy for Whom? e investigador no Labour Research Service em Cape Town.

    O original encontra-se em http://mrzine.monthlyreview.org/2014/cottle180614.html


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  •  
  • aqui:http://resistir.info/brasil/fifa_18jun14.html 
  • segunda-feira, 23 de junho de 2014

    Pentágono prepara-se para massiva agitação civil


    No final da Guerra Fria, um escândalo sacudiu as universidades nos Estados Unidos: professores renomados e laboratórios de pesquisa foram secretamente financiados pelo Pentágono. Por um lado, os pareceres de peritos foram contaminados e, por outro lado, suas pesquisas foram encaminhadas para aplicações militares. Essa época está de volta: o Pentágono agora é o principal patrocinador das ciências sociais nos Estados Unidos. Ele visa principalmente compreender como os cidadãos se envolvem em um movimento político a fim de manipulá-lo e controlá-lo.



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    Um programa de investigação do Departamento de Defesa (‘Department of Defense’ – DoD) financia universidades para modelar a dinâmica, os riscos e os pontos de inflexão da agitação civil em grande escala em todo o mundo, sob a supervisão de várias agências militares dos EUA. O programa de vários milhões de dólares é projetado para obter "conhecimentos militantes relevantes" imediatos e a longo prazo para altos funcionários e legisladores na "comunidade de política de defesa" e para informar a política implementada pelos "comandos combatentes".

    O DoD lançou o Programa Minerva de Iniciativa de Pesquisa em Parceria com Universidades" em 2008 – o ano da crise global do sistema bancário –“para melhorar a compreensão básica do Departamento de Defesa das forças sociais, culturais, comportamentais e políticas que moldam as regiões do mundo de importância estratégica para os EUA.”

    Entre os projetos premiados para o período 2014-2017 figura um estudo feito pela Universidade de Cornell e gerenciado pelo Escritório de Investigação Científica da Força Aérea que visa desenvolver um modelo empírico "da dinâmica da mobilização do movimento social e seus contágios". O projeto irá determinar "a massa crítica (‘tipping point’ – ponto de inflexão)" do contágio social, estudando seus "vestígios digitais" nos casos "da revolução egípcia de 2011, das eleições russas para o Duma em 2011, da crise nigeriana de subsídio de combustíveis de 2012, e dos protestos na Turquia do parque de Gazi de 2013."
    "As mensagens postas no Twitter e as conversas serão examinadas para "identificar indivíduos mobilizados em um contágio social e quando eles se tornam mobilizados."

    Outro projeto premiado este ano para a Universidade de Washington "procura descobrir as condições sob as quais se originam movimentos políticos que visam a mudança política e econômica em grande escala", juntamente com suas "características e conseqüências". O projeto, gerenciado pelo Escritório de Pesquisa do Exército dos EEUU, centra-se em "movimentos em grande escala envolvendo mais de 1.000 participantes em duradoura atividade" e irá abranger 58 países no total.

    No ano passado, a Initiativa Minerva do Ministério da Defesa financiou um projeto para determinar ’Quem Não se Torna Um Terrorista e Por Quê?’ que, no entanto, funde ativistas pacíficos com "adeptos da violência política", que são diferentes dos terroristas somente no fato de que eles não embarcam em "militância armada" por si próprios. O projeto visa explicitamente estudar ativistas não-violentos:
    "Em cada contexto, encontramos muitos indivíduos que compartilham o fundo demográfico, familiar, cultural e/ou sócio-econômico de quem decidiu envolver-se em terrorismo mas que se absteve de partir para a militância armada, mesmo que simpatizando-e com as metas finais dos grupos armados. O campo de estudos do terrorismo não tem, até recentemente, tentado olhar para esse grupo de controle. Este projeto não é sobre terroristas, mas sobre os apoiantes de violência política."

    Cada um dos 14 estudos de caso do projeto "envolve extensas entrevistas com dez ou mais ativistas e militantes de partidos e organizações não governamentais que, embora solidários com causas radicais, escolheram o caminho da não-violência."
    Eu entrei em contato com o investigador principal do projeto, Profa. Maria Rasmussen da Escola Naval de Pós-Graduação, e perguntei por que ativistas não-violentos, a trabalhar para ONGs, foram equiparados aos apoiantes da violência política – e quais "partidos e ONGs" estavam sendo investigados – mas não recebi nenhuma resposta.

    Da mesma forma, funcionários do programa Minerva se recusaram a responder a uma série de perguntas semelhantes, que lhes fiz, incluindo perguntas como de que forma "causas radicais" promovidas pelas ONGs pacíficas constituíam-se em uma ameaça potencial à segurança nacional de interesse para o DoD.
    Entre minhas perguntas estavam as seguintes:
    "O Departamento de Defesa dos EUA vê os movimentos de protesto e ativismo social em diferentes partes do mundo como uma ameaça à segurança nacional dos EUA? Em caso afirmativo, por quê? O Departamento de Defesa considera os movimentos políticos visando a mudança política e econômica em grande escala como uma questão de segurança nacional? Em caso afirmativo, por quê? Ativismo, protesto, ’movimentos políticos’ e, claro, as ONGs são um elemento vital de uma sociedade civil saudável e democrática - por que é que o DoD está financiando pesquisas para investigar tais questões?"

    O diretor de programa da Iniciativa Minerva Dr Erin Fitzgerald disse "Eu aprecio suas preocupações e estou contente que você tenha-nos procurado para nos dar a oportunidade de esclarecer" antes de prometer uma resposta mais detalhada. Em vez disso, recebi a seguinte instrução branda da Assessoria de Imprensa do Ministério da Defesa:
    "O Departamento de Defesa leva a sério seu papel na segurança dos Estados Unidos, de seus cidadãos e dos aliados e parceiros. Enquanto cada desafio de segurança não causa conflito e nem todo conflito envolve os militares dos EEUU, o programa Minerva ajuda a prover fundos básicos de pesquisa em ciências sociais que ajudam a aumentar a compreensão do Departamento de Defesa do que causa instabilidade e insegurança em todo o mundo. Compreendendo melhor esses conflitos e suas causas previamente, o Departamento de Defesa pode melhor preparar-se para o ambiente de segurança dinâmica do futuro.

    Em 2013, o programa Minerva financiou um projeto da Universidade de Maryland, em colaboração com o Laboratório National do Pacífico Noroeste (‘Pacific Northwest National Laboratory’), do Departamento de Energia, para avaliar o risco de agitação civil devido às alterações climáticas. O projeto de três anos, de US $1,9 milhões, está desenvolvendo modelos para antecipar o que pode acontecer às sociedades sob uma variedade de possíveis cenários de mudança climática.

    Desde o início, o programa Minerva foi programado para fornecer mais de US $75 milhões para pesquisa em ciências sociais e comportamentais, em cinco anos. Só este ano, ele recebeu um orçamento total de US $17,8 milhões do Congresso dos EUA.

    Uma comunicação interna de- pessoal do programa Minerva, mencionada em uma Dissertação de Mestrado de 2012, revela que o programa é voltado para produzir resultados rápidos que são diretamente aplicáveis às operações de campo. A dissertação foi parte de um projeto financiado pelo programa Minerva sobre "discurso muçulmano anti-radical [reacionário – NT]" na Universidade Estadual do Arizona.
    Um e-mail interno do professor Steve Corman, um investigador principal do projeto, descreve uma reunião organizada pelo programa de Modelagem Social Cultural e Comportamental Humana (‘Human Social Cultural and Behavioural Modeling ‘ – HSCB), do Ministério da Defesa, em que altos funcionários do Pentágono disseram que sua prioridade era "desenvolver capacidades que sejam rapidamente utilizadas" sob a forma de "modelos e ferramentas que possam ser integradas com as operações."

    Embora o supervisor do Escritório de Pesquisa Naval Dr. Harold Hawkins tenha assegurado aos pesquisadores da universidade desde o início que o projeto era meramente "um esforço de pesquisa básica, portanto não devíamos estar preocupados com a aplicação", a reunião de fato mostrou que o DoD está procurando "fomentar resultados" em "aplicações", Corman disse no e-mail. Ele aconselhou seus pesquisadores a "pensar em moldar os resultados, relatórios, etc, a fim de que eles [DoD] possam ver claramente sua aplicação em ferramentas que podem ser levadas para o campo."

    Muitos estudiosos independentes são críticos do que eles vêem como os esforços do governo dos EUA para militarizar a ciência social a serviço da guerra. Em maio de 2008, a Associação Antropológica Americana (AAA) escreveu para o governo dos EUA notando que o Pentágono não tem "o tipo de infra-estrutura para a avaliação de pesquisa antropológica [e de outras ciências sociais]" de uma forma que envolva "revisão pelos pares (‘peer review’) rigorosa, equilibrada e objetiva", pedindo para que essa investigação seja em vez disso gerenciada por agências civis como a National Science Foundation (NSF).

    No mês seguinte, o DoD assinou um memorando de entendimento (ME) com a NSF para cooperar na gestão do Minerva. Em resposta, a AAA alertou que, apesar de que as propostas de pesquisa agora iriam ser avaliadas por painéis de revisão de mérito da NSF, "funcionários do Pentágono terão poder de decisão sobre quem senta nos painéis":
    "... permanecem preocupações no seio da disciplina de que a pesquisa somente será financiada quando suportar a agenda do Pentágono. Outros críticos do programa, incluindo a Rede de Antropólogos Interessados (‘Network of Concerned Anthropologists’), têm levantado preocupações de que o programa iria desencorajar a investigação em outras áreas importantes e minar o papel da Universidade como um lugar para discussão independente e crítica dos militares".

    De acordo com o Prof. David Price, um antropólogo cultural na Universidade de S. Martin em Washington DC e autor de Antropologia Transformada em Arma: Ciências Sociais a Serviço do Estado Militarizado, "quando olhamos para os pedaços individuais de muitos desses projetos, eles meio que parecem como ciência social normal, análise textual, pesquisa histórica e assim por diante; mas, quando somamos esses pedaços, todos eles compartilhavam temas de legibilidade com todas as distorções da simplificação excessiva. Minerva está colhendo as peças do produto para o Império de uma forma que pode permitir que indivíduos desassociem suas contribuições individuais do projeto maior."

    O Prof Price expôs anteriormente como o programa de Sistemas de Terreno Humano (HTS) do Pentágono – projetado para incorporar os cientistas sociais em operações militares de campo – rotineiramente realizaram cenários de treinamento em regiões "dentro dos Estados Unidos".
    Citando uma síntese crítica do programa enviado a diretores do HTS por um ex-funcionário, Price relatou que os cenários de treinamento do HTS "adaptaram o programa COIN [COntra-INsurgência] para Iraque/Afeganistão" a situações domésticas "nos"EUA, onde a população local foi vista, do ponto de vista militar, como uma ameaça ao equilíbrio estabelecido de poder e influência, e um desafio à lei e à ordem.

    Um jogo-de-guerra, disse Price, envolveu ativistas ambientais protestando contra a poluição de uma fábrica de carvão perto de Missouri, alguns dos quais eram membros da conhecida ONG ambiental Sierra Club. Os participantes foram incumbidos de "identificar aqueles que eram ’solucionadores-de-problemas’ e aqueles que eram ’causadores-de-problemas’, e o resto da população que seria alvo das operações de informação para mover seu Centro de Gravidade em direção àquele conjunto de valores e pontos de vista, que era o ’desejado estado final’ da estratégia militar."

    Tais jogos-de-guerra são consistentes com um grupo de documentos de planejamento do Pentágono que sugerem que a vigilância em massa da Agência de Segurança Nacional (‘National Security Agency’ – NSA) é parcialmente motivada para preparar para o impacto desestabilizador de um futuro choque ambiental, de energia e econômico.

    James Petras, Professor Bartle de Sociologia na Universidade de Binghamton, em Nova York, concorda com as preocupações de Price. Os cientistas sociais financiados pelo programa Minerva, ligado às operações de contra-insurgência do Pentágono, estão envolvidos no "estudo das emoções para alimentar ou sufocar movimentos ideológicos", ele disse, incluindo como "neutralizar movimentos populares".
    O programa Minerva é um excelente exemplo da natureza profundamente intolerante e derrotista da ideologia militar. Pior ainda: a falta de vontade dos funcionários do Departamento de Defesa para responder às questões mais básicas é sintomática de um fato simples – em sua inabalável missão para defender um sistema global cada vez mais impopular, servindo os interesses de uma minoria, as agências de segurança não têm dúvidas em pintar o resto de nós como potenciais terroristas.
    Tradução
    Marisa Choguill
    Fonte
    The Guardian (Royaume-Uni)

    sábado, 21 de junho de 2014

    Crise no Iraque: criada por Bush e Blair, financiada pela Arábia Saudita

    Passos Coelho delira e diz que “não há precariedade laboral”

    O populismo: antecâmara do fascismo (2)


    por Daniel Vaz de Carvalho [*]

     
    Fariseus, limpais o exterior do copo e do prato, mas o vosso interior está cheio de rapina e maldade. Insensatos!. Lucas, 11 - 39
    Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão e não reparas na trave que está na tua própria vista. Lucas, 6 - 41
    4 – O POPULISMO "ERUDITO"

    O populismo é uma máscara. Eis algumas: a do justicialista, a do moralista, a do "erudito". A ciência económica do populismo "erudito", resume-se a que salários e pensões têm de descer, direitos laborais serem suprimidos – a "flexibilização" – para os lucros subirem e se tornarem "atrativos para o capital". Além disto são incapazes de acertar ou cumprir as suas próprias previsões.

    Escutados sem contraditório e mesmo com veneração, a comunicação social controlada exibe uma legião de propagandistas alinhados com o fundamentalismo neoliberal, cuja erudição se manifesta prioritariamente em manipular dados económicos.

    No seu catecismo está inscrito como dogma que tudo que é público é mau, ineficiente. O que dá lucro deverá ser privatizado, quanto aos sectores socialmente apoiados, terão rentabilidade garantida à custa do OE e dos preços aos utentes. É esta a sua versão de eficiência: monopólios, oligopólios, capitalismo rentista a coberto da concorrência "livre e não falseada".

    Entregar as funções económicas do Estado a interesses privados, liquidar as funções sociais, são objetivos prosseguidos pelo governo anti Constituição PSD/CDS, insistentemente veiculados como "mudança de paradigma", "reformas" e "ímpeto reformista".

    Do alto da sua arrogância o populismo "erudito" manipula dados. Para "provar" a insustentabilidade do sistema de pensões inclui neste grupo apoios sociais que não fazem parte do sistema contributivo. São as prestações sociais para minorar a miséria provocada pelo sistema capitalista a centenas de milhares de pessoas. Apesar disto afirmam: "as pensões e salários pagos pelo Estado ultrapassam os 70% da despesa pública, logo é aí que se tem que cortar".

    Estes "sábios" mentem, ao omitir que naquele valor está incluída receita de impostos e contribuições [1] . Não deixa de espantar o afã com que defendem como "sem alternativa", medidas que fomentam o desemprego, o empobrecimento, a exclusão do sistema produtivo, pelo desemprego e pela emigração, de centenas de milhares de trabalhadores.

    As despesas do Estado, desde que orientadas por adequado plano económico, como a Constituição prescreve, representam consumo e investimento, mas estes objetivos são relegados perante o desiderato de "honrar os nossos compromissos, custe o que custar", para com a agiotagem financeira, revestida com a dignidade do deus "mercados". Perante isto, as funções sociais do Estado e direitos laborais, fundamentos da própria cidadania, são considerados "privilégios" e apresentados como vícios de subsídio dependência do povo português – tese racista, cara ao populismo "erudito".

    Concentrando atenções nas pequenas regalias dos menos favorecidos, incutem-se sentimentos sociais negativos para escamotear, as rendas e lucros monopolistas, os SWAP, as PPP e concessões, em que os interesses do Estado e dos contribuintes são defraudados. Tal como são ignoradas as abismais remunerações dos corpos executivos das empresas privatizadas e dos oligopólios, a corrupção, a livre circulação de capitais, as regras da UE totalmente inadequadas ao nosso desenvolvimento económico e social. Os escandalosos benefícios fiscais aos grandes grupos económicos são verdadeiras evasões fiscais legalizadas. [2]

    O rigor orçamental alicerçado na ditadura burocrática da UE é a roupagem para um crescimento baseado em altos lucros e baixos salários, afinal características estratégicas do fascismo salazarista. Revestindo os paramentos de uma falsa ciência económica construída na base de axiomas que a evidência demonstra errados, [3] os populistas "eruditos" assumem a missão de convencer cidadãos impreparados, levados pelo medo dos "mercados", de que "não há alternativas" e devem submeter-se à "superior capacidade intelectual" dos "eruditos" e às políticas de saque do neoliberalismo…

    5 – O POPULISMO JUSTICIALISTA E O MORALISTA

    Podíamos designar estas formas de populismo, como populismo farisaico. Esmera-se em trocar o essencial pelo acessório e assume com falsa superioridade ares moralistas contra os "políticos, todos eles". O ataque aos abusos costuma ser uma forma de dissimular os objetivos do populismo.

    Actua de dedo em riste na procura de culpados a eliminar: o "Estado despesista", o "consumir acima das possibilidades", os sindicalistas "que só querem que se ganhe mais trabalhando menos". Abusos, embora irrelevantes em termos financeiros, são ampliados como causas primordiais dos défices, as rendas monopolistas e os juros agiotas ignorados ou menorizados.

    As incitáveis exceções de alguns abusos são feitos regra e generalizados para justificar rigorosas e burocráticas formas de controlo e cortes no social. Pelos mesmos critérios, os benefícios fiscais seriam retirados à banca, grande parte dela estaria nacionalizada e a funcionar segundo critérios de maximização dos benefícios sociais.

    O discurso contra os "políticos", mas não contra as políticas, favorece e iliba a oligarquia, é meio caminho andado para modelos fascizantes. Os deputados são atacados como tal, não pelo que concretamente propõem, aprovam ou rejeitam. O objetivo é deixar as pessoas vazias de conceitos, disponíveis para absorver o que o populista lhe apresenta como "novo paradigma" e como solução.

    Fazem-se campanhas contra "os políticos" – "que vão para a AR dormir", promove-se a redução do número de deputados, para tornar irrelevante a oposição às políticas de direita e defraudar o sufrágio universal. Gente ignorante ou de má-fé, compara o número de deputados em Portugal com os do poder central em Estados federais ou regionalizados.

    As taxas de abstenção mostram que mais de 60% do eleitorado faz por ignorar o que se passa na AR: os avanços do populismo, são retrocessos da democracia. Foram difundidas mentiras sobre a AR em que o restaurante VIP, normalmente para convidados e visitas, em particular internacionais, era associado ao preço da cantina normal para funcionários e deputados. Apesar do desmentido a mentira continuou a circular.

    Omite-se que a AR tem funções de soberania e representação externa. As despesas da AR incluem o pagamento aos seus funcionários e a manutenção do edifício. Ora, as despesas da AR representam no OE de 2014 apenas 0,12% da despesa; 0,17% em 2013. Compare-se com os juros da dívida que se prevê atingirem este ano quase 10% da despesa. O que não parece incomodar tão indignados cidadãos.

    Foi divulgado como escandaloso um aumento de 91,8% do vencimento dos deputados para 2014. Na realidade, incluíam no vencimento dos deputados a reposição dos subsídios de férias e Natal dos funcionários. O vencimento daqueles não aumentava. Esta manobra de manipulação dos números mostra o nível dos populistas. A boçalidade destes ataques tem um cariz análogo aos ataques dos fascistas à República democrática.

    O populismo não se inibe de criticar o governo da direita, mas é uma armadilha. No fundo, a crítica reside em o governo não ser nesses casos tão de extrema-direita como pretendem. Daí os ataques descabelados contra a Constituição e a defesa das políticas da troika. Nisto se resume o seu "inconformismo".

    As empresas municipais são atacadas: "não servem para nada e têm Administradores a auferir milhares de euros". Ora, se há corrupção e nepotismo ele vem dos partidos que têm governado o país à direita, porém o que é proposto é a destruição de serviços públicos e a sua entrega a monopólios privados – caso das águas. A máscara moralista de indignação pela corrupção tem sempre um ponto fraco: escusam-se a algo que belisque o grande capital.

    6- POPULISMO: A VIA NEOFASCISTA

    A coberto do descalabro das políticas de direita o populismo cavalga o descontentamento torna-se uma via para o neofascismo. Procura destruir a organização do Estado democrático definido na Constituição, para estabelecer configurações políticas antidemocráticas e corruptas: neofascismo por via neoliberal. Utiliza à velha maneira do fascismo salazarento a hipocrisia puritana, promovida por gente que sempre se identificou com os "partidos responsáveis", mas que vai dizendo na oportunidade o que à oligarquia mais convenha.

    O populismo é sempre uma ameaça às liberdades democráticas. O objetivo da direita/extrema-direita, de que este governo é expressão, é ter uma Constituição em que direitos, liberdades, garantias, separação dos poderes mesmo constitucionalmente consignados, estejam sempre condicionados pela "lei", isto é, pela vontade do governo, á velha maneira salazarista, como recentemente a dirigente do PSD, sra. Teresa Leal Coelho expressou.

    É isto que reivindicam. Maiorias obtidas com base na propaganda e na mentira, uma "democracia" cristalizada em formalismos, estabelecendo um Estado repressivo sobre os trabalhadores, ao serviço dos interesses privados, de que as revisões do Código do Trabalho são já um instrumento.

    A lógica populista é simples: pegue-se em dois fenómenos que ocorrem simultaneamente, um deles é uma preocupação da generalidade das pessoas, o outro algo que vai contra as reais intenções populistas, torne-se um causa do outro, faça-se por ignorar que a verdadeira causa reside num terceiro fenómeno que não é mencionado. A veemência das afirmações substitui a verdade dos factos. A ideia é voltar o descontentamento das pessoas contra a democracia e os democratas.

    Verdadeiramente o populismo não tem programa. Promove a imbecilidade coletiva para defender a grande corrupção. Usa o irracional, a mentira, o insulto, a vociferação que esconde o vazio de conteúdos e as verdadeiras intenções. É a boçalidade ao serviço do ódio e da divisão. Qualquer que seja a sua máscara está sempre ao serviço da exploração: é uma antecâmara do fascismo.

    Prometem ao povo felicidade e abundância em troca de não participar, não se envolver coletivamente na defesa dos seus interesses e direitos. Basicamente dizem: têm o capitalismo, conformem-se, sejam felizes com o que lhes dão ou desapareçam.

    Dizia Bertold Brecht que não há passo para a frente mais difícil de dar para um povo que o retorno à razão. É este o drama que o populismo traz aos povos. Contra isto só há uma solução: "Resistir sempre. Muitas vezes teria sido mais fácil desistir. Teria sido poupada a murros e pontapés. Mas não te deixes abater. Sê mais forte. Não desistas. Nunca, nunca desistas." [4] Sim, e resistir, significa: 25 de Abril sempre, fascismo nunca mais.
     

    NOTAS

    [1] Falácias e mentiras sobre pensões , por António Bagão Félix . Sobre este tema, também em resistir.info os artigos de Eugénio Rosa.

    [2] Talvez os "Incentivos Fiscais à I&D Empresarial" expliquem coisas inexplicáveis, tais como os 160 investigadores do Grupo José de Mello, SGPS, ou os 144 investigadores do Grupo Porto Editora, ou os 131 investigadores do BCP, ou os 100 investigadores da Liberty Seguros, ou os 100 investigadores do Barclays Bank, ou os 232 trabalhadores afetos a I&D do BPI, ou os 32 investigadores do BANIF, todos em 2011. Mesmo para a PT, será razoável aceitar o valor de 208 milhões de euros de investimento em I&D em 2012? Como é isto compaginável, por exemplo, com os 71 investigadores do Instituto de Soldadura e Qualidade, os 69 investigadores da BIAL, ou os 44 investigadores da EID-Empresa de Investigação e Desenvolvimento de Eletrónica, entidades que efetivamente desenvolvem atividades de I&D. (segundo texto do eng. Fernando Sequeira)

    [3] Ver Os tabus e as alternativas

    [4] Do livro 3096 Dias , Natasha Kampush, Ed. ASA, p. 147, 185. Relato da menina austríaca sequestrada dos 10 aos 18 anos por um neonazi, sofrendo como uma prisioneira de campo de concentração.


    [*] Autor de "Girassóis", uma história de antes, durante e depois do 25 de Abril. A obra pode ser obtida na secção livros para descarregamento

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/v_carvalho/populismo_2.html 

    O populismo: antecâmara do fascismo (1)


    por Daniel Vaz de Carvalho [*]

     
    Sabe Vossa Excelência qual é o nosso mal? Não é má vontade dessa gente; é muita soma de ignorância. Não sabem nada. Eles não são maus, mas são umas cavalgaduras!
    Os Maias, Eça de Queiroz.

    Não sei se são estúpidos por serem maus, se são maus por serem estúpidos.
    Anónimo
    1 – A POLÍTICA AO SERVIÇO DO LOGRO E DA EXPLORAÇÃO

    O populismo é sem dúvida um dos maiores perigos para os povos. Ontem como hoje, perante o descalabro económico e social a que conduziram as crises capitalistas a tentação fascizante está presente, o populismo é o seu veículo. As elevadas taxas de abstenção representam um triunfo do discurso populista contra os "políticos" para que as reais alternativas sejam escamoteadas, não passem para a opinião pública, não se tornem suas.

    Convém, precisar o sentido das palavras. O populismo, sendo uma máscara, assume formas diversas, nem sempre é de caracterização fácil. Os fascismos, as cruéis ditaduras sul-americanas, asiáticas ou africanas foram e são populismos ao serviço das oligarquias, tentando iludir as contradições que o próprio sistema gera com mitos como os "desígnios nacionais", "choque de civilizações", o ódio racial e anticomunista.

    Os protagonistas das políticas de direita, perdidos nas suas mentiras, apelidam de populista a defensa dos interesses populares e da soberania nacional. Hugo Chavez, Maduro, Evo Morales, foram e são qualificados de "populistas". Também, perante o descalabro da UE e do seu euro, construídos na base de mentiras e falsificações, já sem argumentos, as propostas consequentes contra a moeda única e as políticas da UE são acusadas de "populistas" e "extremistas".

    Uma política progressista distingue-se do populismo pelo apelo à participação e à iniciativa popular institucionalizada nas suas organizações de classe e de base, contribuindo ativamente nos processos de reconstrução nacional anti-monopolista e anti-imperialista. O populismo visa o contrário.

    Concretamente, o populismo ignora ou contesta a existência de classes e camadas sociais com reais interesses diferenciados, contraditórios e muitas vezes antagónicos. Estas contradições seriam, na sua versão, criadas por elementos acusados de retrógrados, antissociais e extremistas ao defenderem os seus direitos e a soberania nacional numa perspetiva de progresso social.

    O populismo é a máscara a que as oligarquias recorrem para adiar a sua liquidação e manterem os povos sob o seu domínio. O populismo corresponde, pois, ao enunciar de propostas e objetivos aparentemente sedutores, atraentes para o comum das pessoas, mas sem que haja real intenção de os levar à prática.

    Dá à expressão "povo" um sentido abstrato, desligado das condições materiais de existência, construindo um discurso demagógico, alimentando divisões entre as diversas camadas sociais e entre os povos, escondendo nuns casos intenções imperialistas, noutros a subserviência perante o imperialismo,

    A verdadeira natureza do populismo revela-se na omissão ou na rejeição de tudo o que de perto ou de longe possa melindrar o grande capital e a finança. Nestas alturas, aparece o seu verdadeiro rosto de intolerância e arrogância classista.

    Populistas são Passos Coelho mentindo despudoradamente quando candidato ou P. Portas, o Paulinho das feiras, prometendo tudo a todos. São-no à semelhança de outros líderes da UE, de Sarkozy a Hollande, passando por Berlusconi, sejam da direita ou da social-democracia/socialismo reformista, proclamando "crescimento e emprego", ao mesmo tempo que juram submissão aos compromissos para com a agiotagem internacional expressa nos tratados da UE, no BCE, no euro, enfim no neoliberalismo.

    2 – OS MIXORDEIROS DA POLÍTICA

    O populista é o mixordeiro da política. A mesma mistela das milagrosas soluções neoliberais é diariamente servida: o falso mercado perfeito, a austeridade sobre os que menos têm e sobre as camadas médias.

    Proclamam bons princípios, equidade, justiça social, a sua moral centra-se no "nivelar por baixo". Há trabalhadores com mais regalias que outros? A "justiça social" faz-se então retirando-as a todos. Não ter precariedade laboral é um "privilégio", os populistas são contra os privilégios – mas apenas para quem trabalha: nivele-se então por baixo e que a precariedade seja a condição geral.

    Reduzam-se salários e prestações sociais, aumentem-se os impostos, anulem-se os direitos laborais, nisto se resume a política neoliberal. Nada de mexer na fiscalidade ao grande capital, nem nos intocáveis benefícios fiscais das SGPS, nos juros agiotas, nas PPP, nos SWAP. Aceita-se, é claro, alguma retórica e alguma cosmética sobre o tema. O ruído inconsequente faz parte da estratégia populista.

    Populistas proclamam a intransigente defesa dos interesses nacionais, podem usar bandeirinhas na lapela, Portas queria que se cantasse o hino nacional nas escolas, mas promovem a desnacionalização económica, a entrega de sectores básicos e empresas economicamente estratégicas a grupos transnacionais.

    Seguem a mais canónica das tradições conservadoras e reacionárias. Publicamente querem parecer inconformados, rebeldes, com as suas "reformas estruturais" o seu "ímpeto reformista". Na realidade, defendem tenazmente o status quo neoliberal.

    O populismo pretende iludir o descalabro das políticas do capital, pela procura de culpados, seja o movimento sindical, seja o Tribunal Constitucional, sejam a contratação coletiva, tudo serve desde que com o aparato emocional de encenada indignação.

    Por muito que se queiram apresentar como da "modernidade" ou "reformistas", o seu ideal é o "bom povo" venerador e obediente aos seus "chefes"; alheado da "política", permanentemente entorpecido com ilusões, a acreditar que "os sacrifícios são para todos"; que a culpa é dos outros trabalhadores – que não merecem o que ganham, por isso é que se ganha pouco – sem que se ouça que Portugal é dos países da OCDE com maior nível de desigualdades.

    O que o populismo promete é sempre anulado pelos condicionalismos que defende ou põe em prática e que representam o seu contrário. È ocaso do famigerado tratado orçamental da UE, suprema contradição dos autoproclamados partidos do "arco da governação".

    O populista quando pretende atingir um dado objectivo, procede à sua camuflagem com palavras e ações de sinal contrário. Assim, o seu discurso vale-se de contradições nos termos (oximoros). Por exemplo: pretender "crescimento e emprego" com políticas de austeridade; sem proteção à produção nacional e com livre circulação de capitais; querer proteger as famílias e defender a flexibilidade laboral. E assim por adiante.

    Apesar da intensa retórica e verbalismo, as reais intenções dos populistas ficam evidenciadas pela forma rebuscada como no parlamento justificam as votações contra propostas que em nada contradizem o que perante a opinião pública veementemente defendem ou defenderam. Parafraseando Shakespeare, as suas promessas são sempre: "muito barulho para coisa nenhuma", ou antes, para fazer o contrário.

    3 – COMO SE FAZ UM FASCISTA

    Não é difícil. São o subproduto do populismo. Reduz-se o entendimento da realidade a simplismos, [1] transforma-se a frustração em ódio, canaliza-se esse ódio para alegados culpados, tal como se açulam cães de fila. Trata-se de fazer interiorizar esses ódios desenvolvendo uma identidade que, embora negativa, funciona como espírito de pertença a um grupo que se supõe superior, mas totalmente alienado da realidade objetiva.

    É a integração do indivíduo marginalizado no processo que o marginaliza, a passagem do oprimido para o que tem possibilidade de oprimir. Sabe-se como a vítima de agressão pode tornar-se agressor, reproduzindo comportamentos de que foi vítima, como forma de recuperar uma certa auto-estima feita de ódios e recalcamentos.

    Para que as vítimas da exploração e marginalização percam a consciência de classe, é necessário que passem a considerar os da sua condição como causa do que lhes ocorre. Trata-se de encontrar culpados entre os conhecidos e aceitar que "são os que menos trabalham os que têm mais direitos". O objetivo é convencer reformados, desempregados no limite da subsistência e camadas sociais intermédias em condições de insegurança, que a culpa das suas dificuldades é dos sindicalistas, dos "comunistas", da própria democracia.

    "É fácil controlar alguém quando o mantemos esfomeado. Eu tinha interiorizado as suas fantasias psicopáticas há muito tempo, elas eram a minha realidade" [2] É o que se passa em situações no limite da subsistência ou com a perda de identidade social pelo desemprego, pela insegurança, por uma reforma invetivada como forma de parasitismo.

    O indivíduo é encaminhado para ligações sociais feitas na base de recalcamentos, que as próprias contradições da sociedade capitalista promovem e induzem contra outras vítimas. Com isto procura-se que as pessoas fiquem disponíveis para aceitar como sem alternativa e sem reivindicações, as regras ditadas pelos monopólios e pela finança, deixando funcionar o "mercado" e a "livre empresa". O resto viria por si. Esta tem sido a receita dos mais poderosos para tudo dominarem em função dos seus exclusivos interesses. São os mecanismos da alienação a funcionar.

    Nos espaços de "antena aberta" das rádios e TV não é raro ouvirem-se indivíduos vociferar contra a "democracia", "os sindicalistas esses malandros", "os trabalhadores que não querem trabalhar, só querem receber ordenado", "que se recusam a fazer horas extraordinárias".

    A realidade é-lhes tão agressiva e estranha que deixou de ser tida em conta, entram no domínio do irracional: isso dá-lhes uma sensação de poder e por paradoxal, de liberdade: a liberdade de deixarem de pensar nas contradições de que também são vítimas. È um raciocínio análogo ao do toxicodependente ao afirmar que sob ação do psicotrópico "sou livre, não penso em nada". Não era capaz de reconhecer a sua escravidão.

    O objetivo do populismo como veículo fascizante consiste em reduzir as camadas populares na sua precariedade e insegurança a "lúmpen proletariado": "esse produto passivo das camadas mais baixas da velha sociedade. Em virtude das suas condições de vida está bem mais disponível para vender-se à reação, para servir as suas manobras". (Marx)

    Trata-se de criar outra realidade para as pessoas considerarem normal o que é doentio e perverso; adotarem os sentimentos odiosos do fascismo, como o racismo e o anticomunismo, como porta de saída para as frustrações que o próprio sistema cria. A capacidade de discernimento é colocada num nível extremamente baixo, mudando a compreensão sobre o que ocorre consigo próprio e com a sociedade.

    É fácil odiar o vizinho sindicalista, o judeu, o muçulmano, o comunista, difícil é atribuir o que está mal aos oligarcas com fortunas nos paraísos fiscais, escondidos pela "mão invisível" dos "mercados". A abstração é um processo mental complexo.

    Jovens desenraizados, socialmente frustrados, desprovidos materialmente, vão encontrar no populismo fascista uma razão para a sua existência, mas também meios para viver, como se passou com as SA nazis, e se passa com os mercenários na Venezuela que a comunicação social controlada designa como "estudantes", ou com a Guarda Nacional nazi na Ucrânia [3] , ou com os mercenários na Síria e em outras partes do mundo.

    Perguntando-se a mestre Aquilino Ribeiro o que era para si o cúmulo da miséria moral – do célebre questionário de Proust – disse então: "é ser um cão tinhoso da plebe, curvar-se perante o rei, beijar o anel do bispo, segurar a espada do nobre e mesmo assim ter medo do Inferno".

    É este o ideal de ser humano que o populismo, como antecâmara do fascismo, promove.
     

    Notas
    [1] Usamos o termo "simplismo" com o sentido de defeito de raciocínio que consiste em encarar um problema pelo seu aspeto aparentemente mais simples, pondo de parte dados fundamentais. Neste sentido, as declarações do PR Cavaco Silva sobre os "consensos partidários" e o "interesse nacional" resumem-se a simplismos.
    [2} 3096 Dias, Natash Kampush, Ed. ASA, p.167, 168. Relato da menina austríaca sequestrada dos 10 aos 18 anos por um neonazi, sofrendo como uma prisioneira de campo de concentração.
    [3] Para formação da qual e criação de condições para a sua atuação, os EUA gastaram 5 mil milhões de dólares. Além do despendido por ONGs como a Fundação Adenauer.


    [*] Autor de Girassóis, uma história de antes, durante e depois do 25 de Abril. A obra pode ser obtida na secção livros para descarregamento .

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/v_carvalho/populismo_1.html 

    segunda-feira, 16 de junho de 2014

    Desporto e mercantilização

    – Corrupção e espectáculo no Mundial de Futebol


    por Marco A. Gandásegui

    Tela de Alex Frechette.
    A corrupção que corrói a organização da Copa Mundial de Futebol, inaugurada em São Paulo, não surpreendeu. O que criou incerteza e preocupação nos círculos financeiros foi a falta de capacidade política dos governantes desse país para conter o descontentamento popular. Os gastos se controle em obras suntuárias provocaram uma recusa generalizada da parte da população. Há várias décadas a economia mundial tende a passar de crise para crise. O sector produtivo – que era o motor do desenvolvimento – cedeu o lugar às actividades financeiras e especulativas. Em lugar de medir o crescimento económico com base na produção, agora mede-se o "progresso" com base na transferência das poupanças dos trabalhadores para os bancos.

    Actualmente, tudo tem um preço, tudo se mercantiliza. "A política deixou de ser um serviço e converteu-se num negócio". O desporto não é excepção. Ao contrário, converteu-se numa das áreas que mais riqueza gera. Há um século os desportos foram sequestrados pelo crime organizado (máfia e governo, associados) e postos ao serviço dos ladrões que realizavam lucros extraordinários mediante actividades ilícitas (as apostas e outras manobras). Aquilo que era considerado próprio do "submundo", agora faz parte do mundo dos negócios. Em fins do século XX, inclusive, os jogos olímpicos foram profissionalizados para fins mercantilistas. Os atletas competem por melhores remunerações. As sedes e suas autoridades competem pelas comissões e pelo prestígio. Os financistas competem pela apropriação dos milhares de milhões de dólares que se investem nas obras e nos "sobrecustos".

    O evento desportivo mais cotado é sem dúvida o dos Jogos Olímpicos. Geram milhares de milhões de dólares que o Comité Olímpico Internacional (COI) manobra com a banca financeira mundial. O COI consegue, com esmero, projectar uma imagem que o relaciona com seus fundadores dos fins do século XIX. Supostos cavalheiros que tencionavam ressuscitar o espírito olímpico da antiga Grécia: A cada quatro anos as cidades gregas suspendiam suas guerras para que a sua juventude competisse em justas desportivas. Esse espírito tão nobre foi esquecido.

    No caso da Copa Mundial, a Federação Internacional de Futebol (FIFA) tocou uma fibra que se converteu num dos negócios com mais êxito. A FIFA factura anualmente vários milhares de milhões de dólares. O Mundial que ela organiza no Brasil gerará quase 5 mil milhões de dólares, grande parte pela venda de direitos de televisão à escala mundial. A FIFA cobra comissões por todos os direitos vendidos pelos seus membros. Inclusive campeonatos nacionais e regionais. Por cada camisola, meia ou ténis que se vende algo cabe à FIFA. Do total de 5 mil milhões de dólares que gerará o Mundial no Brasil, a FIFA fica com 90 por cento.

    "DESAPOSSAR" O POVO BRASILEIRO

    Os protestos das mais diversas organizações em todas as cidades brasileiras são plenamente justificados. O governo está a investir mais de 20 mil milhões de dólares na construção de estádios, ampliação de aeroportos e desenvolvimento de infraestrutura que beneficiará a FIFA, os especuladores e financistas brasileiros e internacionais. Parafraseando o sociólogo inglês David Harvey, o Mundial de Futebol serviu para "desapossar" o povo brasileiro. Aqueles que protestam não aceitam que suas riquezas e poupanças sejam entregues aos empreiteiros, financistas e especuladores sem receber compensação alguma. Neste saqueio sistemático, a FIFA serve só de intermediário. Há que reconhecer que espectáculo que apresenta é fora de série: Ronaldo, Messi, Neymar e tantas outras super-estrelas repartidas em 32 equipes, 62 partidas num mês que a tecnologia de ponta leva ao último rincão do mundo.

    Os brasileiros obviamente não se opõem ao futebol nem ao Mundial. São os penta-campeões, os melhores jogadores sobre a terra. Mas recusam a forma tão arrogante como a FIFA e a banca internacional chegaram ao seu país para saquear o seu povo com a aparente cumplicidade do governo. A lição que é preciso aprender dos protestos no Brasil é que o desporto não pode continuar a ser manipulado pelos especuladores. Em 2016 o governo brasileiro enfrentará novamente o povo por ocasião dos Jogos Olímpicos do Rio, onde novamente serão feitos gastos que não beneficiam o povo desse país sul-americano.
     

    Ver também:

  • Mondial, J-1: les communistes brésiliens (PCB) dans la rue ... face à un ministre des Sports à l'étiquette "communiste" (PCdoB) !
  • A explosão social bate às portas do Brasil , Edmilson Costa
  • A luta dos trabalhadores triunfa sobre o espectáculo , James Petras

  • Mobilizações tomam as ruas do Brasil no primeiro dia da Copa do Mundo , Marcela Belchior

    O original encontra-se em www.argenpress.info/2014/06/corrupcion-y-espectaculo-en-el-mundial.html


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  •  
  • aqui:http://resistir.info/brasil/copa_corrupcao.html 
  • Moda: atrás do vestido, nada

    segunda-feira, 9 de junho de 2014

    Neoliberalismo europeu: Eurofagia

    por Sandra Monteiro

    Na União Europeia, quem vive apenas do seu trabalho empobrece, trabalhando cada vez mais e de forma cada vez mais precária. Quem cai no desemprego conta os dias que faltam até perder qualquer protecção social e ser abandonado pelos poderes públicos à sua sorte ou, enquanto essa almofada ainda existir, ter de recorrer ao apoio de familiares e amigos. Numa situação de desemprego estrutural, o desespero ou o destemor herdado de aproximações cosmopolitas levam centenas de milhares a procurar na emigração um futuro negado no país de origem. Mesmo receando ser objecto de discriminações, racismos e xenofobias. Os que ficam, sem conseguir para si e para as suas famílias mínimos de subsistência para uma vida decente, desaprendem a esperança ao mesmo tempo que se desvinculam de uma comunidade política cuja forma de organização e cujas escolhas parece contorná-los, sem sequer os ver, cada vez que fala de liberdade, igualdade ou democracia. Umas vezes explodem ao mínimo contacto, outras implodem quase em segredo.

    Esta Europa é o espaço de uma união monetária disfuncional e de tratados para-constitucionais, como o Tratado Orçamental, que amarram as políticas públicas, com o auxílio da austeridade e da dívida, a políticas de estagnação ou recessão económica e a políticas anti-sociais de empobrecimento e desigualdade crescentes, que empurram os povos para a rejeição insubmissa como única forma de obter mudanças significativas. Esta Europa é a que se prepara, depois do roubo dos rendimentos dos trabalhadores, através dos poderes públicos e em grande benefício do sistema financeiro, para dar um novo passo nesse saque por via da criação do Grande Mercado Transatlântico. Com efeito, aprova-se em grande segredo um acordo de comércio livre com os Estados Unidos que fará com que os Estados sejam processados pelas multinacionais, em milhares ou milhões de euros, sempre que, por exemplo, as disposições laborais, sociais, ambientais ou sanitárias públicas prejudiquem os lucros que elas pensam ter direito a arrecadar (ver, nesta edição, o extenso dossiê sobre este tema).

    Mesmo na sua diversidade, os resultados das eleições de Maio para o Parlamento Europeu só são surpreendentes para quem não tiver em conta que o projecto europeu está a revelar aos povos um rosto claramente eurofágico. E nem sequer se trata apenas de uma eurofagia aguda, como alguns picos que entram pelos olhos adentro podem fazer crer – esta eurofagia é crónica. Os poderes económicos e políticos que controlam a configuração da arquitectura institucional e monetária europeia trabalham estruturalmente no sentido de governar em segredo, dispensando ou contrariando a participação popular. O alheamento dos povos em relação às eleições europeias, que a generalidade da comunicação social instiga, traduz-se há muitos anos em níveis recorde de abstenção. Quaisquer que sejam as razões para os cidadãos não exercerem o seu direito de voto, são inevitáveis as consequências negativas que isso tem para o exercício do músculo democrático e para o enfraquecimento da soberania popular. A este elemento, que não é novo, juntou-se agora, em particular em países como Portugal, a grande dimensão dos votos brancos e nulos, que é difícil dissociar de uma não identificação com a oferta da representação ou, pelo menos, de uma descrença na sua capacidade de efectivar mudanças positivas.

    A crescente rejeição que as políticas neoliberais inspiram, sobretudo nos países mais afectados pelo austeritarismo, não impediu que as forças que as representam mantivessem condições para exercer a sua hegemonia, sendo até reforçadas por outras forças que, mesmo com designações como «nacionalista», «populista», «extrema-direita» ou «direita extrema», aí estarão para intensificar as políticas de classe que acumulam riqueza entre os privilegiados ao mesmo tempo que despedaçam os povos. A derrota europeia de forças socialistas ou sociais-democratas, que terão pensado poder defender valores (democracia, igualdade) e construções do pós-guerra (Estado social, serviços públicos, emprego) sem responder à ofensiva liberal no terreno institucional, monetário e económico, impõe profundas reflexões sobre a falta de vocação (ou incapacidade) do projecto europeu e neoliberal para proteger as populações europeias. A mesma reflexão se impõe às forças políticas e sociais claramente opostas às alavancas europeias e nacionais que enriquecem a finança e as multinacionais. Elas continuam a ter dificuldades em chegar aos lugares de poder que lhes permitiriam deixar a sua marca em políticas de afronto à construção em curso e participar nas difíceis escolhas que podem garantir níveis de bem-estar material às populações (emprego, salário, serviços públicos, prestações sociais).

    Há aqui uma urgência, que impõe a consideração de três tempos e a intervenção em todos eles, em simultâneo. O tempo daqueles cujas vidas são estilhaçadas para alimentar a acumulação do capital é um tempo curto, muito curto. Quando se sobrevive dia a dia, semana a semana, mês a mês, as respostas têm de surgir já e, quando isso não acontece da parte das esquerdas, não será de espantar que a esperança, mesmo que vã, se desloque para os lobos que não se importam de lhe vestir a pele. O tempo da conjuntura em que se preparam e ocorrem eleições, em que se negoceiam orçamentos e acordos, não pode ser alheio àquela urgência nem contar apenas com os desafogos conjunturais que advêm de decisões pontuais como a do Tribunal Constitucional português, que tanto desorientam a Troika, o governo e os Fernandos Ulrichs nacionais. É certo que elas aliviam algum sufoco na vida dos cidadãos e que, aumentando a procura interna, estimulam a economia. Mas são melhorias episódicas, e o garrote da dívida e dos tratados logo ressurge. E por fim, a esta escala, o tempo longo da estrutura é aquele em que se tem aprofundado a neoliberalização europeia. Sem atacar esta arquitectura, qualquer futuro digno é um lugar longínquo e, no presente, os trabalhadores e os desempregados terão sido completamente sacrificados para garantir a liberdade financeira e comercial.

    O processo acelerado de eurofagia neoliberal, que no futuro deverá fazer os historiadores questionarem o uso que temos dado a palavras como «europeístas» e «eurocépticos» (quais destroem a possibilidade de um projecto europeu?), pode ter vários desfechos. Sociedades e territórios cada vez mais polarizados entre ricos e pobres, em que a liberdade é apenas apanágio das mercadorias e do capital, e em que os cidadãos são carne para canhão – talvez não em guerras no terreno militar, mas numa guerra económica sem quartel –, não pode ser uma possibilidade para quem entende que os vínculos que nos ligam uns aos outros têm de servir para a emancipação individual e colectiva de cada ser humano, de cada comunidade. É tempo, é sempre tempo, de arregaçar as mangas e de usar as forças que temos para alimentar as forças dos que connosco partilham esperanças de um futuro digno.

    sexta-feira 6 de Junho de 2014

    aqui:http://pt.mondediplo.com/spip.php?article995

    quinta-feira, 5 de junho de 2014

    A luta dos trabalhadores triunfa sobre o espectáculo

             por James Petras

           
    Durante décadas críticos sociais lamentaram a influência do desporto e de espectáculos de entretenimento que "distraíam" trabalhadores da luta pelos seus interesses de classe. Segundo aqueles analistas, a "consciência de classe" era substituída pela consciência de "massa". Argumentavam eles que indivíduos atomizados, manipulados pelos mass media, eram convertidos em consumidores passivos que se identificavam com heróis milionários do desporto, com protagonistas de novelas e celebridades do cinema.

    O culminar desta "mistificação" – a ilusão em massa – era os campeonatos mundiais observados por milhares de milhões por todo o mundo, patrocinados e financiados por corporações bilionárias: as World Series (baseball), a Copa do Mundo (futebol) e a Super Bowl (futebol americano).

    Hoje, o Brasil está a viver a refutação desta linha de análise cultural-política. Os brasileiros têm sido descritos como "loucos por futebol". Suas equipes venceram o maior número de Copas Mundiais. Seus jogadores são cobiçados pelos proprietários das equipes mais importantes da Europa. Dizem que seus torcedores "vivem e morrem pelo futebol" ... Ou assim nos diziam.

    Mas foi no Brasil que os maiores protestos na história da Copa do Mundo tiveram lugar. Já um ano antes dos jogos, programados para Junho de 2014, houve manifestações em massa de até um milhão de brasileiros. Apenas nas últimas semanas, proliferaram greves de professores, polícia, trabalhadores da construção e empregados municipais. O mito dos espectáculos de mass media a hipnotizar as massas foi refutado – pelo menos no Brasil dos dias de hoje.

    Para entender porque o espectáculo de massa foi um fracasso de propaganda é essencial entender o contexto político e económico no qual foi lançado, bem como os custos e benefícios e o planeamento táctico de movimentos populares.

    O contexto político e económico: A Copa do Mundo e as Olimpíadas

    Em 2002, o candidato do Partido dos Trabalhadores (PT), Lula da Silva, venceu as eleições presidenciais. Seus dois mandatos (2003 – 2010) foram caracterizados por um caloroso abraço do capitalismo de livre mercado juntamente com programas populistas de [alívio da] pobreza. Ajudado por influxos em grande escala de capital especulativo, atraído por altas taxas de juro, e pelos altos preços das commodities para as suas exportações agro-minerais, Lula lançou um programa maciço quanto à pobreza proporcionando cerca de US$60 por mês a 40 milhões de brasileiros pobres, os quais constituíram parte da base de massa eleitoral de Lula. O Partido dos Trabalhadores reduziu o desemprego, aumentou salários e apoiou empréstimos com juros baixos ao consumidor, estimulando um "boom do consumidor" que levou a economia em frente.

    Para Lula e seus conselheiros, o Brasil estava a tornar-se uma potência global, atraindo investidores de classe mundial e incorporando os pobres no mercado interno.

    Lula foi louvado pela Wall Street como um "esquerdista pragmático" e como um estadista brilhante pela esquerda!

    De acordo com esta visão grandiosa (e em resposta a um amontoado de bajuladores presidenciais, de Norte e a Sul), Lula acreditou que a ascensão do Brasil à proeminência mundial exigia que "hospedasse" a Copa do Mundo e as Olimpíadas e embarcou numa campanha agressiva... O Brasil foi escolhido.

    Lula enfeitava-se e pontificava: o Brasil, como hospedeiro, alcançaria o reconhecimento simbólico e os prémios materiais que uma potência global merecia.

    A ascensão e a queda das grandes ilusões

    A ascensão do Brasil foi baseada em fluxos de capital estrangeiro condicionados pelo diferencial (favorável) de taxas de juro. E quando as taxas mudam, o capital flui para fora. A dependência do Brasil da alta procura pelas suas exportações agro-minerais baseou-se no prolongado crescimento económico com dois dígitos na Ásia. Quando a economia da China arrefeceu, a procura e os preços caíram e, assim, os ganhos do Brasil com exportações.

    O "pragmatismo" do Partido dos Trabalhadores significou aceitar as estruturas políticas, administrativas e regulamentares herdadas dos regimes neoliberais anteriores. Estas instituições eram permeadas por responsáveis corruptos ligados a empreiteiros de construção notórios por derrapagens de custos e longos atrasos em contractos com o estado.

    Além disso, a "pragmática" máquinas eleitoral do Partido dos Trabalhadores foi construída sobre comissões debaixo da mesa e subornos. Somas vastas foram desviadas dos serviços públicos para bolsos privados.

    Inchado pela sua própria retórica, Lula acreditou que a emergência económica do Brasil na cena mundial era um "negócio feito". Ele proclamou que os seus faraónicos complexos desportivos – os milhares de milhões de dinheiro público gastos em dúzias de estádios e infraestrutura custosa – "pagar-se-iam por si mesmos".

    O fatal "efeito demonstração": A realidade social derrota a grandeza global

    A nova presidente do Brasil, Dilma Rousseff, protegida de Lula, concedeu milhares de milhões de reais para financiar os maciços projectos de construção o seu antecessor: estádios, hotéis, auto-estradas e aeroportos para acomodar uma prevista inundação de torcedores estrangeiros de futebol.

    O contraste entre a disponibilidade imediata de quantias maciças de fundos públicos para a Copa do Mundo e a perene falta de dinheiro para deteriorados serviços públicos essenciais (transporte, escolas, hospitais e clínicas) foi um enorme choque para os brasileiros e uma provocação para a acção em massa nas ruas.

    Durante décadas, a maioria dos brasileiros, que dependiam de serviços públicos para transporte, educação e cuidados médicos (as classes superiores e média podem permitir-se serviços privados), foi dito que "não havia fundos", que os "orçamentos tinham de ser equilibrados", que um "excedente orçamental era necessário para cumprir acordos com o FMI e atender o serviço da dívida".

    Durante anos fundos públicos foram desviados por nomeados políticos corruptos para pagar campanhas eleitorais, levando a um transporte asqueroso, superlotado, frequentemente avariado, e a atrasos nas viagens diárias em autocarros abafados e a longas filas nas paragens. Durante décadas, escolas estiveram em ruínas, professores corriam de escola em escola para compensar os seus miseráveis salários mínimos levando a uma educação de baixa qualidade e desprezada. Hospitais públicos eram sujos, perigosos e superlotados, médicos mal pagos frequentemente aceitavam pacientes privados nas horas vagas, medicamentos essenciais eram escassos nos hospitais públicos e super-caros nas farmácias.

    O público foi ultrajado pelo contraste obsceno entre a realidade de clínicas dilapidadas com janelas partidas, escolas superlotadas com goteiras e transporte de massa não confiável para o brasileiro médio e os enormes novos estádios, hotéis luxuosos e aeroportos para os torcedores e visitantes estrangeiros ricos.

    O público foi ultrajado pelas óbvias mentiras oficiais: a afirmação de que "não havia fundos" para professores quando milhares de milhões de reais ficaram instantaneamente disponíveis para construir hotéis de luxo e atraentes camarotes nos estádios para torcedores ricos do futebol.

    O detonador final para o protesto em massa nas ruas foi o aumento nas tarifas de autocarros e comboios para "cobrir perdas" – depois de aeroportos e auto-estradas públicas terem sido vendidas a baixo preço a investidores privados que elevaram as portagens e comissões.

    Os manifestantes que marchavam contra o agravamento das tarifas de autocarros e comboios foram apoiados amplamente pelas dezenas de milhares de brasileiros que denunciavam as prioridades do governo: Milhares de milhões para a Copa do Mundo e migalhas para a saúde pública, educação, habitação e transporte!

    Desatento às exigências populares, o governo avançou na tentativa de acabar seus "projectos de prestígio". No entanto, a construção de estádio ficou atrás do programado por causa da corrupção, incompetência e má administração. Empreiteiros de construção, que foram pressionados, reduziram padrões de segurança e pressionaram trabalhadores mais duramente, levando a um aumento de mortes e lesões nos estaleiros de obras. Trabalhadores da construção entraram em greve protestando pela aceleração e deterioração da segurança do trabalho.

    Os esquemas grandiosos do regime Rousseff provocaram uma nova cadeia de protestos. O Movimento das Pessoas sem Teto ocupou lotes urbanos próximos a um novo estádio exigindo "habitação social" para o povo ao invés de novos hotéis cinco estrelas para estrangeiros ricos adeptos do desporto.

    A escalada dos custos com os complexos desportivos e o aumento das despesas governamentais atearam uma onda de greves sindicais para exigir salários mais altos superiores aos objectos do regime. Professores e trabalhadores da saúde foram apoiados pelos trabalhadores fabris e empregados assalariados em greve em sectores estratégicos, tais como o transporte e os serviços de segurança, capazes de desestabilizar gravemente a Copa do Mundo.

    A adopção pelo PT dos espectáculos desportivos grandiosos, ao invés de enfatizar o "arranque do Brasil como potência global", pôs em destaque o amplo contraste entre os dez por cento ricos e seguros nos seus condomínios de luxo no Brasil, em Miami e em Manhattan, com acesso a clínicas privadas de alta qualidade e escolas privadas exclusivas para seus rebentos, com a massa de brasileiros médios, fincados durante horas em auto-carros cheios de suor e superlotados, em encardidas salas de espera para conseguir meras aspiras de médicos não existente e em dilapidar os futuros dos seus filhos em salas de aula dilapidadas sem professores adequados e a tempo inteiro.

    A elite política, especialmente o círculo em torno da presidência Lula-Rousseff, caiu vítima das suas próprias ilusões de apoio popular. Eles acreditaram que pagamentos de subsistência (cabazes alimentares) para os muito pobres lhes permitiria gastar milhares de milhões de dinheiro público em espectáculos de desporto para entreter e impressionar a elite global. Eles acreditaram que a massa de trabalhadores estaria tão fascinada pelo prestígio de abrigar a Copa do Mundo no Brasil que ela passaria por alto a grande disparidade entre despesas do governo para grandes espectáculos da elite e a ausência de apoio para atender as necessidades quotidianas dos trabalhadores brasileiros.

    Mesmo sindicatos, aparentemente ligados a Lula, que alardeavam o seu passado de liderança dos metalúrgicos, rompeu as fileiras quando perceberam que "o dinheiro era para fora" – e que o regime, pressionado pelos prazos finais de construção, podia ser pressionado a elevar salários a fim de ter o trabalho feito.

    Os brasileiros, sem dúvida, são voltados para o desporto. Eles seguem entusiasticamente sua equipe nacional. Mas eles também são conscientes das suas necessidades. Não se contentam e aceitar passivamente as grandes disparidades sociais reveladas pela actual corrida louca para encenar a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil. A vasta despesa do governo com os jogos tornou claro que o Brasil é um país rico com uma multidão de desigualdades sociais. Eles perceberam que há vastas somas disponíveis para melhorar serviços básicos da vida diária. Perceberam que, apesar da sua retórica, o "Partido dos Trabalhadores" estava a jogar um jogo esbanjador de prestígio para impressionar uma audiência capitalista internacional. Perceberam que têm poder estratégico para pressionar o governo e tratar de algumas das desigualdades em habitação e em salários através da acção de massa. E eles agarraram-na. Perceberam que merecem desfrutar a Copa do Mundo em habitações públicas adequadas e a preços acessíveis e viajar para o trabalho (ou para um jogo ocasional) em auto-carros e comboios decentes. A consciência de classe, no caso do Brasil, triunfou sobre o espectáculo de massa. O "Pão e circo" cedeu aos protestos em massa.
    03/Junho/2014


    Ver também:
  • A explosão social bate às portas do Brasil , Edmilson Costa

  • Brasil: O capitalismo extractivo e o grande salto para trás , James Petras

    O original encontra-se em www.globalresearch.ca/...


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  • aqui:http://resistir.info/petras/brasil_03jun14.html                   
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