domingo, 15 de setembro de 2013

De Hiroshima à Síria: O inimigo cujo nome não ousamos pronunciar

por John Pilger

Na minha parede está a primeira página do Daily Express de 5 de Setembro de 1945 e as palavras: "Escrevo isto como uma advertência ao mundo". Assim começava a reportagem de Wilfred Burchett de Hiroshima. Foi o furo do século. Devido à sua jornada perigosa e solitária que desafiou as autoridades de ocupação estado-unidenses, Burchett foi posto no pelourinho, inclusive pelos seus colegas incorporados [a actuarem junto às forças de ocupação dos EUA]. Ele advertiu que um acto de assassínio em massa premeditado numa escala gigantesca lançara uma nova era de terror.

Agora, quase diariamente confirma-se o que ele disse. A criminalidade intrínseca do bombardeamento atómico fica patente através dos US National Archives e das décadas subsequentes de militarismo camuflado como democracia. O psicodrama da Síria exemplifica isto. Ainda mais uma vez somos mantidos reféns da perspectiva de um terrorismo cuja natureza e história é negada até pela maior parte dos críticos liberais. A grande coisa proibida de menciona é que o mais perigoso inimigo da humanidade reside do outro lado do Atlântico.

A farsa de John Kerry e as piruetas de Barack Obama são temporárias. O acordo de paz da Rússia sobre armas químicas será, no devido tempo, tratado com o desprezo que todos os militares reservam à diplomacia. Com a Al-Qaida agora entre os seus aliados, e os golpistas armados pelos EUA seguros no Cairo, os EUA pretendem esmagar os últimos estados independentes no Médio Oriente. A Síria primeiro, a seguir o Irão. "Esta operação [na Síria]", disse em Junho o antigo ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Roland Dumas, "remete-nos a tempos distantes. Ela foi preparada, pré-concebida e planeada".

Quando o público está "psicologicamente marcado", como descreveu o repórter do Channel 4 Jonathan Rugman a hostilidade esmagadora do povo britânico a um ataque à Síria, reforçar o é proibido mencionar torna-se urgente. Seja Bashar al-Assada ou os "rebeldes" que utilizaram gás nos subúrbios de Damasco, são os Estados Unidos e não a Síria os mais prolíficos utilizadores do mundo destas armas terríveis. Em 1970, o Senado relatou: "Os EUA despejaram sobre o Vietname uma quantidade de produtos químicos tóxicos (dioxina) equivalente a seis libras [2,72 kg] por cada habitante". Isto foi a Operação Inferno (Operation Hades), posteriormente rebaptizada com o nome mais amistoso de Operation Ranch Hand: a fonte do que médicos vietnamitas chamam um "ciclo de catástrofe fetal". Vi gerações de crianças com suas habituais deformidades monstruosas. John Kerry, com o seu próprio registo de guerra ensopado em sangue, as recordará. Vi-as também no Iraque, onde os EUA utilizaram urânio empobrecido (depleted uranium) e fósforo branco, tal como fizeram os israelenses em Gaza, despejando-o sobre escolas e hospitais das Nações Unidas. Para eles, nenhuma "linha vermelha" de Obama. Para eles, nenhum psicodrama decisivo.

O debate repetitivo sobre se "nós" deveríamos "actuar" contra ditadores seleccionados (isto é, apoiar os EUA e seus acólitos em ainda outra orgia de matança aérea) faz parte da nossa lavagem cerebral. Richard Falk, professor emérito de direito internacional e Relator Especial das Nações Unidas sobre a Palestina, descreve isto como "um écran legal/moral farisaico, unilateral, com imagens positivas de valores ocidentais e a inocência descrita como ameaçada, validando uma campanha de violência política irrestrita". Isto "é tão amplamente aceite de modo a ser virtualmente incontestável".

Isto é a grande mentira: o produtos de "realistas liberais" na política, na academia e nos media anglo-americanos os quais nomeiam-se a si próprios como os administradores da crise do mundo, ao invés de causadores de uma crise. Despindo a humanidade do estudo de nações e congelando-a com jargão que serve desígnios do poder ocidental, eles marcam estados "falhados", "patifes" ("rogue") ou "maléficos" ("evil") para "intervenção humanitária".

Um ataque à Síria ou ao Irão ou a qualquer outro "demónio" dos EUA inspirar-se-ia numa variante da moda, a "Responsabilidade de proteger" ("Responsability to Protect, ou R2P), cujo fanático pregador público é o antigo ministro dos Negócios Estrangeiros australiano Gareth Evans, co-presidente de um "Global Centre" com sede em Nova York. Evans e seus lobbistas generosamente financiados desempenham um papel vital e insistir com a "comunidade internacional" para atacar países onde "o Conselho de Segurança rejeita uma proposta ou deixa de tratar num período de tempo razoável".

Evans tem antecedente. Ele aparece no meu filme de 1994 Morte de uma nação (Death of a Nation) a elevar sua taça de champanhe ao seu homólogo indonésio quando voavam sobre Timor Leste num avião australiano, tendo acabado de assinar um tratado que pirateava o petróleo e o gás daquele país abatido onde o tirano da Indonésia, Suharto, matou ou esfaimou um terço da população.

Sob o "fraco" Obama, o militarismo ascendeu talvez como nunca antes. Sem um único tanque sobre o relvado da Casa Branca, verificou-se um golpe militar em Washington. Em 2008, enquanto seus devotos liberais secavam os olhos, Obama aceitou todo o Pentágono do seu antecessor, George Bush: suas guerras e crimes de guerra. Quando a constituição é substituída por um emergente estado policial, aqueles que destruíram o Iraque com pavor e choque, e acumularam montanhas de escombros no Afeganistão e reduziram a Líbia a um pesadelo hobbesiano, estão a dominar toda a administração estado-unidense. Por trás da sua fachada decorada, mais antigos soldados dos EUA estão a matar-se a si próprios do que a morrer sobre campos de batalha. No ano passado, 6.500 veteranos acabaram com as suas próprias vidas. Arriem mais bandeiras.

O historiador Norman Pollack chama a isto "fascismo liberal". "Para os que marcham a passo de ganso", escreveu ele, "substitui a aparentemente mais inócua militarização da cultura total. E para o líder bombástico, temos o reformador falhado, alegremente a trabalhar no planeamento e execução do assassínio, sorrindo o tempo todo". Toda terça-feira, o "humanitário" supervisiona pessoalmente uma rede mundial de terror com drones que corrompem pessoas, aqueles que as resgatam e as choram. Nas zonas de conforto do Ocidente, o primeiro líder negro da terra da escravidão ainda se sente bem, como se a sua própria existência representasse um avanço social, pouco importando o seu rastro de sangue. Esta reverência a um símbolo quase destruiu o movimento anti-guerra nos EUA: a façanha singular de Obama.

Na Grã-Bretanha, os diversionismos da falsificação de imagem e da política de identidade não tiveram êxito completo. Uma comoção já principiou, embora a consciência do povo devesse acelerar-se. Os juízes de Nuremberg foram sucintos: "Cidadãos individuais têm o dever de violar leis internas para impedir crimes contra a paz e a humanidade". As pessoas comuns da Síria, e de incontáveis outros países, e o nosso auto-respeito, não merecem nada menos neste momento.
11/Setembro/2013
O original encontra-se em The Guardian e em johnpilger.com/...

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

daqui:http://resistir.info/pilger/pilger_11set13.html

domingo, 8 de setembro de 2013

A indústria da mentira, parte da máquina de guerra do imperialismo

por Domenico Losurdo

Na história da indústria da mentira, parte integrante do aparelho industrial militar do imperialismo, 1989 é um ano de viragem. Nicolae Ceausescu ainda está no poder na Roménia. Como derrubá-lo? Os meios de comunicação ocidentais difundem de modo maciço junto à população romena informação e imagens do "genocídio" cometido em Timisoara pela polícia por indicação de Ceausescu.

1. Os cadáveres mutilados

O que acontecera na realidade? Beneficiando da análise de Debord sobre a "sociedade do espectáculo", um ilustre filósofo italiano (Giorgio Agamben) sintetizou de modo magistral a história de que aqui se trata:

"Pela primeira vez na história da humanidade, cadáveres sepultados ou alinhados sobre mesas das morgues foram desenterrados às pressas e torturados para simular frente às câmaras o genocídio que devia legitimar o novo regime. O que o mundo viu em directo como verdade real, no écran da televisão, era a não verdade absoluta. Embora a falsificação fosse óbvia, ela todavia era autenticada como verdadeira pelo sistema mundial dos media, porque estava claro que agora a verdade não era senão um momento do movimento necessário do falso. Assim, a verdade e a mentira tornaram-se indiscerníveis e o espectáculo legitimava-se unicamente mediante o espectáculo.

Timisoara é, neste sentido, a Auschwitz da sociedade do espectáculo:   e como já foi dito que depois de Auschwitz é impossível escrever e pensar como antes, da mesma forma, depois de Timisoara não será mais possível ver um écran de televisão do mesmo modo" (Agamben, 1996, p. 67).

No ano de 1989 a transição da sociedade do espectáculo para o espectáculo como técnica de guerra manifestou-se à escala planetária. Algumas semanas antes do golpe de Estado, ou seja, da "revolução Cinecittà" na Roménia (Fejtö 1994, p 263), a 17 de Novembro de 1989, a "revolução de veludo" triunfava em Praga agitando uma palavra de ordem de Gandhi: "Amor e Verdade". Na realidade, um papel decisivo coube à divulgação da notícia falsa de que um aluno fora "brutalmente assassinados" pela polícia. Vinte anos mais tarde, revela satisfeito um "jornalista e líder da dissidência, Jan Urban", protagonista da manipulação:  a sua "mentira" havia tido o mérito de suscitar a indignação em massa e o colapso de um regime já periclitante (Bilefsky 2009).

Algo semelhante acontece na China: em 08 de Abril de 1989 Hu Yaobang, secretário do PCC até há um par de anos, sofreu um enfarte durante uma reunião da Comissão Política e morreu uma semana depois. Para a multidão na Praça da Paz Celestial a sua morte está ligada ao duro conflito político verificado no decorrer naquela reunião (Domenach, Richer, 1995, p 550.), De qualquer modo ele se torna vítima do sistema que se tenta derrubar. Em todos os três casos, a invenção e a denúncia de um crime são chamados a suscitar a onda de indignação de que o movimento de revolta tem necessidade. Se se consegue o êxito completo na Checoslováquia e na Roménia (onde o regime socialista havia-se seguido ao avanço do Exército Vermelho), esta estratégia falhou na República Popular da China que brotou de uma grande revolução nacional e social. E aqui é que tal fracasso se torna o ponto de partida de uma nova e mais maciça guerra mediática, que é desencadeada por uma superpotência que não tolera rivais ou potenciais rivais e que ainda está em pleno desenvolvimento. Fica definido que o ponto da viragem histórica está em primeiro lugar em Timisoara, "a Auschwitz da sociedade do espectáculo".

2. A "anunciar bebés" e o corvo marinho

Dois anos depois, em 1991, verificou-se a primeira Guerra do Golfo. Um corajoso jornalista estado-unidense explicou como se deu "a vitória do Pentágono sobre o media", ou seja, a "derrota colossal dos media por obra do governo dos Estados Unidos" (Macarthur 1992, pp. 208 e 22).

Em 1991, a situação não era fácil para o Pentágono (nem para a Casa Branca). Tratava-se de convencer da necessidade da guerra um povo sobre o qual ainda pesava a memória do Vietname. E então? Espertezas várias reduziram drasticamente a possibilidade de jornalistas falarem directamente com os soldados ou reportarem directamente a partir da frente. Na medida do possível, tudo deve ser filtrado: o fedor da morte e sobretudo o sangue, o sofrimento e as lágrimas da população civil não devem invadir as casas dos cidadãos dos EUA (e dos habitantes do mundo inteiro) como no tempo de guerra Vietname. Mas o problema central mais difícil de resolver era outro: como demonizar o Iraque de Saddam Hussein, que ainda há alguns anos era considerado digno aos olhos dos EUA, agredindo o Irão que brotara da revolução islâmica e anti-americana de 1979 e inclinado a fazer proselitismo no Oriente Médio. A demonização teria sido muito mais eficaz se ao mesmo tempo a sua vítima fosse angelical. Operação nada fácil, e não apenas pelo facto de no Kuwait ser dura e impiedosa a repressão de todas as formas de oposição. Havia algo pior. Para executar as tarefas mais humildes os imigrantes eram sujeitos a uma "escravatura de facto" e uma escravatura de facto que muitas vezes assumia formas sádicas: não despertou particular emoção casos de "servos arremessado a partir do terraço, queimados ou cegados ou espancados até a morte " (Macarthur 1992, pp. 44-45).

E ainda assim... Generosamente ou fabulosamente recompensada, uma agência de publicidade encontra remédio para tudo. Essa denunciou o facto de que os soldados iraquianos cortavam as "orelhas" dos kuwaitianos que resistiam. Mas o golpe de teatro desta campanha era outro: os invasores haviam irrompido num hospital, "removendo 312 bebés das suas incubadoras e deixando-os morrer no chão frio do hospital de Kuwait City" (Macarthur 1992, p 54). Proclamada repetidamente pelo presidente Bush Sr., confirmado pelo Congresso, endossado pela imprensa de referência, e até mesmo pela Amnistia Internacional, esta notícia tão horripilante, mas mesmo assim circunstanciada para indicar com precisão o número de mortes, não poderia deixar de provocar uma onda avassaladora de indignação: Saddam Hussein era o novo Hitler, a guerra contra ele era não só necessária como também urgente e aqueles que se opusessem a ela ou fossem recalcitrantes deveriam ser considerados como cúmplices mais ou menos conscientes do novo Hitler! A notícia era obviamente uma invenção habilmente produzida e distribuída, mas foi para isso que a agência de publicidade bem merecera o seu dinheiro.

A reconstrução desta história está contida em um capítulo do livro aqui citado com um título adequado: "Publicitar bebés" (Selling Babies). Na verdade, o "anunciado" não foram apenas os bebés. Logo no início das operações militares foi difundida por todo o mundo a imagem de um corvo marinho que se afogava no petróleo a jorrar de poços explodidos pelo Iraque. Verdade ou manipulação? A causa da catástrofe ecológica era Saddam? E há realmente corvos marinhos naquela região do globo e naquela estação do ano? A onda de indignação, autêntica e habilmente manipulada, varreu a última resistência racional.

3. A produção do falso, o terrorismo da indignação e o desencadeamento da guerra

Façamos um novo salto alguns anos em frente e chegamos assim à dissolução, ou melhor, ao desmembramento da Jugoslávia. Contra a Sérvia, que historicamente fora a protagonista do processo de unificação deste país multi-étnico, nos meses que antecederam o bombardeamento total desencadeou-se uma onda de bombardeamentos multimedia. Em Agosto de 1998, um jornalista americano e um alemão

"Referem-se à existência de valas comuns contendo 500 cadáveres de albaneses, incluindo 430 crianças, perto de Orahovac, onde se combateu duramente. A notícia foi retomada por outros jornais ocidentais com grande destaque. Mas era tudo falso, como evidenciado por uma missão de observação da UE " (Morozzo Della Rocca 1999, p. 17).

Nem por isso a fábrica de falsificações entrava em crise. No início de 1999, os meios de comunicação ocidentais começaram a bombardear a opinião pública internacional com fotografias de cadáveres empilhados no fundo de um penhasco e, por vezes, decapitados e mutilados; as legendas e artigos que acompanhavam tais imagens proclamavam que se tratava civis albaneses inermes massacrados pelos sérvios. Só que:

"O massacre de Racak é horrendo, com mutilações e cabeças decepadas. É um cenário ideal para despertar a indignação da opinião pública internacional. Mas alguma coisa parece estranha nesta modalidade de carnificina. Os sérvios matam habitualmente sem fazer mutilações [...] Como ensina a guerra na Bósnia, as denúncias de brutalidade sobre corpos, sinais de tortura, decapitações, são uma arma da propaganda difundida [...] Talvez não fossem os sérvios, mas sim os guerrilheiros albaneses que mutilaram os corpos" (Morozzo Della Rocca 1999, p. 249).

Ou, talvez, os corpos das vítimas de um dos inumeráveis confrontos entre grupos armados tivessem sido submetidos a um tratamento sucessivo, a fim de fazer acreditar numa execução a frio e num desencadeamento de fúria bestial, da qual era imediatamente acusado o país que a NATO se preparava para bombardear (Saillot 2010, pp. 11-18).

A encenação de Racak foi apenas o culminar de uma campanha de desinformação obstinada e cruel. Alguns anos antes, o bombardeamento do mercado de Sarajevo havia permitido à NATO erguer-se como suprema autoridade moral, que não se podia permitir deixar impune a "atrocidade" sérvia. Hoje em dia pode-se ler, mesmo no Corriere della Sera, que "foi uma bomba de paternidade muito duvidosa a fazer o massacre no mercado de Sarajevo provocando a intervenção da NATO" (Venturini 2013). Com este precedente anterior, Racak aparece hoje como uma espécie de reedição de Timisoara, uma reedição prolongada por alguns anos. E no entanto, também neste caso, houve êxito. O ilustre filósofo que em 1990 havia denunciado "o Auschwitz da sociedade do espectáculo" verificado em Timisoara, cinco anos depois alinhava-se ao coro dominante, trovejando de forma maniqueísta contra "o deslizamento repentino da classe dirigente ex-comunista no racismo mais extremo (como na Sérvia, com o programa de limpeza étnica)" (Agamben 1995, pp. 134-35). Depois de haver agudamente analisado a trágica indiscernibilidade da "verdade e falsidade" na sociedade do espectáculo, ele acaba, involuntariamente, por confirmá-la, aceitando de modo precipitado a versão (ou seja, a propaganda de guerra) difundida no "sistema mundial dos media", que anteriormente apontara como a fonte principal da manipulação. Depois de ter denunciado a redução do "verdadeiro" para "momento do movimento necessário do falso", feito pela sociedade do espectáculo, ele limitava-se a conferir uma aparência de profundidade filosófica a esse "verdadeiro" reduzido a "momento do movimento necessário do falso".

Por outro lado, um elemento da guerra contra a Jugoslávia, mais do que em Timisoara, nos leva de volta à primeira Guerra do Golfo. É o papel desempenhado pelas relações públicas:

Milosevic. "Milosevic é um homem tímido, não gosta de publicidade, não gosta de se mostrar ou fazer discursos em público. Parece que aos primeiros sinais de desagregação da Jugoslávia, a Ruder&Finn, empresa de relações públicas que trabalhara para o Kuwait, em 1991, apresentou-se a oferecer os seus serviços. Foi recusada. A Ruder&Finn foi ao invés contratada de imediato pela Croácia, pelos muçulmanos da Bósnia e pelos albaneses do Kosovo por 17 milhões de dólares por ano, a fim de proteger e promover a imagem dos três grupos. E ela fez um óptimo trabalho!

James Harf, diretor da Ruder&Finn Global Public Affairs , afirmou numa entrevista [...]:

"Fomos capazes de fazer coincidir na opinião pública sérvio e nazista [...] Nós somos profissionais. Tínhamos um trabalho a fazer e fizemos. Não somos pagos para fazer moral" (Toschi Marazzani Visconti 1999, p. 31).

Chegamos agora à segunda Guerra do Golfo:   nos primeiros dias de Fevereiro de 2003, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, mostrava à plateia do Conselho de Segurança da ONU as imagens de laboratórios móveis para a produção de armas químicas e biológicas que o Iraque dispunha. Algum tempo depois o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, redobrava a dose:   não só Saddam tinha essas armas como já havia feito planos para usá-las e era capaz de activá-las "em 45 minutos." E mais uma vez o espectáculo, nada mais que o prelúdio para a guerra, constituía o primeiro acto de guerra, pondo em guarda contra um inimigo de que o género humano se devia absolutamente desembaraçar.

Mas o arsenal das armas da mentira executadas ou prontas para o uso foi muito além disso. A fim de "desacreditar o líder iraquiano aos olhos do seu próprio povo", a CIA propunha-se a "divulgar em Bagdad, um filme revelando que Saddam era gay. O vídeo devia mostrar o ditador iraquiano tendo relações sexuais com um garoto. "Devia parecer feito a partir de uma câmara oculta, como se fosse uma gravação clandestina". A ser estudada estava também "a possibilidade de interromper a transmissão da televisão iraquiana com uma pretensa edição extraordinária do telejornal contendo o anúncio de que Saddam havia renunciado e que todo o poder fora retirado de seu filho Uday, temido e odiado" (Franceschini 2010).

Se o Mal deve ser mostrado e marcado em todo o seu horror, o Bem deve aparecer em todo o seu esplendor. Em Dezembro de 1992, fuzileiros navais dos EUA desembarcaram na praia de Mogadiscio. Para maior exactidão, desembarcaram duas vezes e a repetição da operação não se deveu a dificuldades militares ou logísticas imprevistas. Era preciso mostrar ao mundo que, mesmo antes de ser um corpo militar de elite, os fuzileiros eram uma organização beneficente e caridosa que trazia esperança e um sorriso ao povo somali devastado pela miséria e pela fome. A repetição do desembarque-espectáculo destinava-se a emendá-lo nos seus pormenores errados ou defeituosos. Um jornalista e testemunha explicou:

"Tudo o que está a acontecer na Somália e que se verá nas próximas semanas é um show militar-diplomático [...] Uma nova época na história da política e da guerra começou realmente, na noite bizarra de Mogadíscio [...] A "Operação Esperança" foi a primeira operação militar não apenas filmada em directo pelas câmaras, mas pensada, construída e organizada como um show de televisão" (Zucconi 1992).

Mogadíscio era a contrapartida de Timisoara. Há alguns anos de distância da representação do Mal (o comunismo que finalmente desmoronou) seguiu-se a representação do Bem (o império americano, que emergia do triunfo alcançado na Guerra Fria). São agora claros os elementos constitutivos da guerra-espectáculo e do seu êxito.

Referências bibliográficas

Giorgio Agamben 1995
Homo sacer. Il potere sovrano e la nuda vita, Einaudi, Torino

Giorgio Agamben 1996
Mezzi senza fine. Note sulla politica, Bollati Boringhieri, Torino

Dan Bilefsky 2009
A rumor that set off the Velvet Revolution, in International Herald Tribune del 18 novembre, pp. 1 e 4

Jean-Luc Domenach, Philippe Richer 1995
La Chine, Seuil, Paris

François Fejtö 1994 (em colaboração con Ewa Kulesza-Mietkowski)
La fin des démocraties populaires (1992), tr. it., di Marisa Aboaf, La fine delle democrazie popolari. L'Europa orientale dopo la rivoluzione del 1989, Mondadori, Milano

Enrico Franceschini 2010
La Cia girò un video gay per far cadere Saddam, "la Repubblica", 28 maggio, p. 23

John R. Macarthur 1992
Second Front. Censorship and Propaganda in the Gulf War , Hill and Wang, New York

Roberto Morozzo Della Rocca 1999
La via verso la guerra, in Supplemento al n. 1 (Quaderni Speciali) di "Limes. Rivista Italiana di Geopolitica", pp. 11-26

Fréderic Saillot 2010
Racak. De l'utilité des massacres, tome II, L'Hermattan, Paris

Jean Toschi Marazzani Visconti 1999
Milosevic visto da vicino, Supplemento al n. 1 (Quaderni Speciali) di "Limes. Rivista Italiana di Geopolitica", pp. 27- 34

Franco Venturini 2013
Le vittime e il potere atroce delle immagini, in Corriere della Sera del 22 agosto, pp. 1 e 11

Vittorio Zucconi 1992
Quello sbarco da farsa sotto i riflettori TV, in la Repubblica del 10 dicembre
04/Setembro/2013
O original encontra-se em http://www.domenicolosurdo.blogspot.it/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Ataque unilateral à Síria: Obama decidiu ser mais seguro comprar o Congresso do que avançar só

por Paul Craig Roberts


Enquanto continua a reclamar poderes ditatoriais para iniciar uma guerra por conta própria, Obama adiou seu ataque unilateral à Síria ao receber uma carta de mais de 160 membros da Câmara dos Deputados recordando-o que levar o país à guerra sem aprovação do Congresso é ofensa punível com o impedimento (impeachment). Além disso, teve de adiar quando viu que nenhum país poderia servir como cobertura para um crime de guerra, pois nem mesmo o governo fantoche britânico e os estados fantoches da NATO apoiariam a anunciada agressão militar da América contra a Síria. 

No ataque à Líbia Obama conseguiu escapar sem um OK do Congresso porque utilizou fantoches da NATO e não forças militares dos EUA. Aquele estratagema permitiu a Obama afirmar que os EUA não estavam directamente envolvidos. 

Agora que a falta de cobertura e o desafio do Congresso levou o aspirante a tirano Obama a adiar seu ataque à Síria, o que se pode esperar? 

Se Obama fosse inteligente – e evidentemente alguém que indica Susan Rice como sua conselheira de segurança nacional não é inteligente – ele simplesmente deixaria o ataque à Síria desvanecer-se e morrer até o Congresso retornar do recesso em 9 de Setembro para enfrentar os problemas insolúveis do défice orçamental e do tecto da dívida. 

Uma administração competente perceberia que um governo incapaz de pagar as suas contas sem a intensa utilização das máquinas de impressão está com demasiada perturbação para se preocupar com o que está a acontecer na Síria. Nenhuma administração competente arriscaria um ataque militar que pudesse resultar numa conflagração do Médio Oriente e uma ascensão nos preços do petróleo, piorando portanto a situação económica enfrentada por Washington. 

Mas Obama e a sua colecção de incapazes demonstraram não terem competência. O regime também é corrupto e todo o edifício repousa sobre nada, excepto mentiras. 

Agora que a Casa Branca percebeu que Obama não pode cometer um crime de guerra sem cobertura, eis o que provavelmente podemos esperar. A argumentação mudará da utilização ou não de armas químicas por Assad e tornar-se-á que o Congresso não deve minar o prestígio e a credibilidade dos EUA deixando de apoiar o presidente Obama, o homem frontal para guerras de agressão americanas. 

A Casa Branca subornará, seduzirá e intimidará o Congresso. O argumento do regime será que o prestígio e a credibilidade da América estão em causa, portanto o Congresso deve apoiar o presidente. O presidente e o secretário de Estado fizeram declarações inequívocas acerca da culpabilidade de Assad e da sua determinação em puni-lo. Dada a insanidade de Washington, o modo como Washington pune Assad por (alegadamente) matar sírios com armas químicas é matar sírios com mísseis de cruzeiro. 

Se isto não faz sentido para si, é porque não pertence ao governo de Obama ou aos media americanos e você nunca poderia ser um neoconservador. 

A Casa Branca argumentará que Obama se comprometeu junto ao Congresso ao deixá-lo votar sobre a decisão e que parte do compromisso do Congresso é dar-lhe apoio. Encontramo-nos a meio caminho, dirá a Casa Branca. 

O Lobby de Israel, Susan Rice, o neocons e belicosos como os senadores John McCain e Lindsey Graham argumentarão que a falta de apoio para o ataque de Obama prejudica a credibilidade da América, ajuda os "terroristas" e "deixa a América indefesa". Já é bastante mau, argumentarão, que Obama tenha mostrado indecisão com a espera da aprovação do Congresso e irresolução ao substituir por um ataque limitado o plano original de mudança de regime. 

Confrontados com ameaças de um corte nas generosas doações de campanha do Lobby de Israel e do complexo militar/segurança, a Câmara e o Senado podem ser postos na ordem para "apoiar o país" quando ele comete mais um crime de guerra. A combinação de subornos, intimidação e apelos patrióticos para apoiar o prestígio da América pode inclinar o Congresso. Ninguém realmente sabe se os 160 e tantos membros da Câmara são sinceros acerca da advertência a Obama, ou se eles simplesmente queriam alguma coisa. Talvez quisessem apenas que Obama gaguejasse a pedir a sua aprovação. 

Se o Congresso dá o seu apoio a mais este crime de guerra americano, o primeiro-ministro britânico David Cameron pode voltar ao Parlamento e dizer-lhe que Obama "agora pôs o Congresso na ordem, portanto providenciem cobertura e se o Parlamento não for em frente será privado do dinheiro". 

Poucos políticos britânicos, além de George Galloway, ficam confortáveis ao serem privados do dinheiro. 

Se Cameron arrebanha o Parlamento, os outros países NATO podem decidir embarcar no comboio da alegria (bandwagon) dos pagamentos. A regra predominante da civilização ocidental é que mais dinheiro é melhor do que nenhum dinheiro. 

Washington e seus fantoches europeus da NATO criticarão a Rússia e a China por utilizarem seus vetos no Conselho de Segurança para impedir a ONU de levar justiça, liberdade e democracia à Síria. Estes falsos argumentos serão utilizados pela prostituída imprensa ocidental para minimizar a importância da oposição do Conselho de Segurança ao ataque de Washington à Síria. Por que deveria Washington ser dissuadida pelos membros do Conselho de Segurança que apoiam a utilização de armas químicas por Assad?, perguntarão os media prostituídos dos EUA. Os prostitutos que compõem os media estado-unidenses farão tudo o que podem para assegurar que Washington mate ainda mais sírios. Matar é a característica inconfundível da América. 

Como prova a história da humanidade, as pessoas farão qualquer coisa por dinheiro. Excepções notáveis são Edward Snowden, Bradley Manning e Julian Assange. Se qualquer destes homens que dizem a verdade tivesse ido a Washington e dissesse "compre-me", em troca do seu silêncio Washington lhes teria proporcionado grandes fortunas com as quais poderiam viver uma vida confortável. 

Considerando quão corrupto é o governo dos EUA e como Washington está determinada no seu caminho, os inspectores de armas químicas da ONU estão em risco. É improvável que venham a ter um acidente como SEAL Team Six [1] . Mas a menos que sejam sequestrados como um júri, eles são alvos para corrupção. Se o relatório da ONU não apoiar a posição da Casa Branca, o secretário-geral será pressionado a tornar o relatório inconclusivo. Afinal de contas, Washington preenche os cheques que mantêm a ONU no negócio. 

Ninguém deverá esperar que o Congresso dos EUA vote com base nas provas. Além disso, o Congresso até agora não mostrou qualquer entendimento de que tenha ou não Assad utilizado armas químicas, é um crime de guerra os EUA cometerem uma agressão aberta contra a Síria, um país que não atacou os EUA. Não é assunto de Washington como o governo sírio deita abaixo os esforços dos extremistas da al-Nusra para derrubá-lo. 

O argumento de Obama de que está certo matar pessoas com fósforo branco e urânio empobrecido, como fazem os EUA e Israel, mas não com gás sarin, não tem lógica. www.washingtonsblog.com/... 

A própria Washington tem planos de contingência para utilizar armas nucleares destruidoras de bunkers contra instalações subterrâneas de energia nuclear do Irão. Se Washington acredita que não são permissíveis armas de destruição em massa, por que tem tantas delas e planos de contingência para utilizá-las? Será que Washington lamenta ter lançado duas bombas nucleares sobre civis em cidades japonesas no próprio momento em que o governo japonês fazia tudo ao seu alcance para a rendição? 

Mesmo depois de terminada a Guerra-fria, a guerra quente permaneceu a base da política externa dos EUA. George H.W. Bush atacou o Iraque depois de a embaixadora de Bush ter dado sinal verde a Saddam Hussein para atacar o Kuwait. Clinton atacou a Sérvia com falsos pretextos e sem qualquer autoridade constitucional ou legal. George W. Bush atacou o Afeganistão e o Iraque na base de mentiras. Obama renovou o ataque ao Afeganistão e atacou também o Iémen, o Paquistão e a Somália – e agora pretende impedir a derrota dos seus mercenários mediante o ataque à Síria. 

Washington está a construir uma cadeia de bases militares em torno tanto da Rússia como da China. Estas bases são extremamente provocadoras e prenunciam guerra nuclear. 

Os EUA, um país com um vasto arsenal de armas nucleares, cujos líderes políticos são tanto como corrupto como insanos, constituem um grande perigo para a vida sobre a terra. Que Washington é o perigo número um para o mundo é agora universalmente reconhecido, excepto pelos americanos que exibem manifestações exteriores de ultra-patriotismo. São estes crédulos tolos que possibilitam a morte da humanidade através da guerra. 

Até a economia dos EUA entrar em colapso, Washington ainda imprime dinheiro e pode comprar aquiescência para os seus crimes. Washington pode confiar nos media prostituídos para que contem as suas mentiras como seu fossem factos. O mundo não estará seguro enquanto o castelo de cartas americano não entrar em colapso. 

Sinto pena por aqueles americanos desinformados que pensam viver no melhor país do mundo. Demasiadamente poucos americanos se importam em que o seu governo tenha destruído vidas incontáveis desde a América Central e o Vietname até o Médio Oriente e a África. Os militares dos EUA rotineiramente assassinam civis no Afeganistão, Paquistão, Iémen, Somália e são responsáveis por até 1.000.000 de mortos e 4.000.000 deslocados iraquianos. A definição americana do "melhor país do mundo" é o país que pode assassinar o máximo de pessoas inocentes, pessoas que nunca atacaram a América, pessoas que outrora encaravam a América como a esperança do mundo e agora vêem-na como uma ameaça mortal. 

Demasiados americanos não fazem ideia de que um quinto dos seus concidadãos estão dependentes do apoio governamental ou, se souberem, culpam os infelizes por serem sanguessugas do dinheiro dos contribuintes. Nos EUA os salários e as oportunidades de emprego estão a declinar. Não há restrições ao saqueio de cidadãos por instituições financeiras. Não há constrangimentos para a ilegalidade e brutalidade da polícia e nenhum limite para as mentiras que mantêm a população americana presa na Matrix inconsciente da realidade. 

Como um tal povo poderá manter a liberdade ou restringir um governo comprometido com a guerra puxa pela imaginação. 

Aqueles republicanos que se preocupam acerca do fardo da dívida dos nossos filhos e netos estão preocupados com um futuro que pode nunca acontecer. A arrogância de Washington está a empurrar o mundo rumo para a guerra nuclear. 

"O melhor país do mundo" é a força do mal que está a destruir as vidas e as perspectivas de muitos povos diferentes e ainda pode destruir toda a vida sobre a terra. 

02/Setembro/2013

O original encontra-se em www.globalresearch.ca/... 

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

terça-feira, 3 de setembro de 2013

De Carmona a Cavaco e à "salvação nacional"


por Daniel Vaz de Carvalho

 
Implantando entre nós o sistema de enfeudar os serviços públicos a companhias de especuladores, o cabralismo obedecia ao princípio da sua formação: era uma clientela de ricos. (…) A sua grande falta, a sua fraqueza invencível, eram a ausência de um princípio moral, porque nem a ordem imposta pela força nem a riqueza criada contra a justiça chegam a ser princípios.
Oliveira Martins, Portugal Contemporâneo, vol.II, pág. 130 e 131. Ed. Europa América

O povo emudece; negam-lhe a palavra, não o consultam, nem se conta já com ele. Com quem se conta é com a aristocracia palaciana, com uma nobreza cortesã, que cada vez se separa mais do povo pelos interesses e pelos sentimentos e que de classe tende a transformar-se em casta. (…) Por isso decai também a vida económica: a produção decresce, a agricultura recua, estagna-se o comércio, desaparecem uma por uma as indústrias nacionais; a riqueza é uma riqueza faustosa e estéril, enquanto a miséria se alarga pelo país.
Antero de Quental, Causas da Decadência dos Povos peninsulares, Ed. Contexto, p.22
1 – RECORDAR O PASSADO

É sabido que quem esquece as lições do passado está destinado a repeti-lo. Por isso vale a pena debruçar-nos sobre situações ocorridas aquando da instauração do fascismo salazarista e situações atuais. Trazer à memória aqueles tempos dramáticos não parece irrelevante tanto mais que persiste o seu branqueamento, parecendo que o único problema seria a "censura", apresentada sobretudo nos seus aspetos mais ridículos.

Perante o golpe militar de 28 de maio de 1926, no mesmo dia, um então pequeno partido, o PCP, é o único a caracteriza-lo como um golpe fascista. No golpe participavam o comandante Mendes Cabeçadas, um histórico da instauração da Republica, deseja manter o regime constitucional republicano, mas está conotado com a direita; o general Gomes da Costa, homem da Grande Guerra, assume-se como líder da direita, aspira a uma ditadura presidencialista.

Carmona só adere ao movimento a 2 de junho. É quase um burocrata militar, mas é o homem de confiança da oligarquia. Evidenciara-se como procurador no Tribunal Militar que julgou os responsáveis pelo golpe contra a Republica em 18 de abril de 1925, ao assumir não o papel de acusador mas de defensor: "Por que estão sentados no banco dos réus? Porque a Pátria está doente e manda julgar e acusar os seus melhores filhos". (TCP – 153 ou S FN, vol.1, p.288). Pode dizer-se que traía as suas funções, o Estado e a Constituição que tinha a obrigação de defender. Num julgamento similar, os sediciosos do "19 de julho" são também ilibados, ante os protestos da esquerda.

Mendes Cabeçadas assume de início a presidência e a chefia do governo, um golpe de Gomes da Costa demite-o e prende-o a 17 de junho; Carmona é nomeado chefe do governo. Gomes da Costa em 9 de julho é também demitido e exilado para os Açores. Carmona torna-se assim o chefe da ditadura fazendo-se eleger Presidente da Republica, como candidato único, em 1928. A então "Ditadura Militar" passa a "Ditadura Nacional". Estava escancarada a porta à instauração do fascismo.

O "paternal" Carmona intensifica a repressão, a máscara de tolerância que pusera para os golpistas absolvidos não se aplica aos democratas: milhares de adversários são presos, muitos deles deportados para Angola e Timor: políticos, militares republicanos, sindicalistas, comunistas.

Como se chegou aqui? Em 1924, o governo de direita de Álvaro de Castro para equilibrar as contas públicas aplica medidas de "austeridade", muito semelhantes às atuais: despedimento de funcionários públicos, fecho de tribunais, redução de efetivos e despesas militares, extinção ou redução de pessoal em consulados, cortes nas diversas despesas do Estado.

José Domingues dos Santos. Perante a contestação, o governo cai numa moção de confiança. A 22 de novembro de 1924 toma posse José Domingues dos Santos [1] , um homem da esquerda republicana. A sua noção de equilíbrio das contas públicas é diferente. Promove a remodelação e intervenção no sistema bancário para "o desviar das operações especulativas" e "repatriar fortunas evadidas"; legisla a expropriação de terras declaradamente deixadas incultas; apresenta um projeto de reforma agrária; pretende canalizar os recursos do país para aplicações produtivas, tem um programa de justiça social, assistência e previdência. (TCP p.149 e S FN, vol1, 262) Revoga a "lei das associações", que proibia as federações sindicais e impunha autorização policial para reuniões sindicais. (HP vol.6 p. 230) Anuncia o reconhecimento da URSS. (idem p. 627)

PCP, Sindicatos, Cooperativas Operárias, o Socorro Vermelho, apoiam o governo em grandes manifestações em Lisboa. Numa delas, na praça do Município, Domingues dos Santos declara: "O governo da Republica colocou-se abertamente ao lado dos explorados contra os exploradores" "O povo tem sido explorado pelo alto comércio e pela alta finança". (TCP p.150)

A União dos Interesses Económicos (UIE) desencadeia intensa campanha de insídia contra o governo, Domingos dos Santos reage, a Associação Comercial de Lisboa é encerrada por rebelião. A UIE faz campanha contra os "políticos", "os exagerados impostos", protesta porque "o povo que vive mal" e proclama que "é preciso impormo-nos aos políticos". O populismo atual ao serviço da oligarquia não se exprime de maneira diferente.

Domingues dos Santos, procura construir um bloco baseado no antifascismo, porém a 11 de fevereiro o governo cai. A direita do seu partido, o Partido Democrático (PD), com o objetivo prioritário de "combater a Legião Vermelha" retira-lhe a confiança. (HP p.631e 628). O novo governo "moderado", também do PD, tenta conciliar medidas do anterior com os desejos da UIE. (TCP p.149) Nas eleições seguintes ainda em 1925 o PD tem maioria absoluta; monárquicos e católicos perdem lugares.

A direita "liberal" e a UIE apostam decididamente no golpe. Temem a ascensão da esquerda e a mobilização popular bem viva com Domingos dos Santos. Querem a passagem urgente do liberalismo oligárquico praticado pela maioria dos governos republicanos, anti-populares e instáveis, para a ditadura oligárquica, dominada pelos interesses dos monopólios e latifúndios. O seu lema era a "Salvação da Pátria", isto é, dos seus exclusivos interesses como se viu. Hoje, o lema é a "Salvação Nacional", os objetivos não são muito diferentes.

2 –O PAPEL DE CARMONA E OS OBJETIVOS DA OLIGARQUIA

Carmona foi PR de julho de 1926 a abril de 1951, data do seu falecimento. A propaganda fascista fazia dele uma personagem bondosa, um simpático e inofensivo "corta fitas" fazendo festinhas às crianças. Esta imagem é falsa. Carmona tornou-se de facto um adorno do salazarismo, depois de ter colocado Salazar no poder absoluto e ser instaurado o fascismo.

O papel político de Carmona foi o de um exemplar intriguista, eliminando a contestação republicana e simples vestígios de democracia até a ditadura ser implantada com o apoio da oligarquia financeira, monopolista e latifundiária e da hierarquia católica. Salazar contestado pelos sectores civis e militares republicanos deve a sua ascensão a Carmona: tinha sido o homem escolhido pela UIE e pela alta hierarquia católica, mesmo a nível do Vaticano.

Um padre encarregado de informar confidencialmente o Papa sobre a situação da Igreja e sobre as personalidades que pudessem ajudar a sua causa estava em Portugal. É este padre que diz a Salazar: "A mim não me enganas. Por detrás dessa frieza, há uma ambição insaciável". Perante as hesitações de Salazar em aceitar o cargo de ministro das Finanças em 1928, insta-o a "que não pode furtar-se ao cumprimento do seu dever" (S FN, vol 1, p.330 e 337)

A Republica deixara as contas públicas equilibradas, a ditadura entre 1926 e 1928 leva-as ao descalabro. Salazar, é promovido a "mago das finanças" com poderes absolutos, a democracia "suspensa" e a repressão assumida como forma de gestão pública.

Sob a mão de Carmona lugares chave nas forças armadas, no aparelho de Estado, nas forças de segurança, são entregues a apoiantes do fascismo. A nível político tratava-se de estabelecer um consenso anti-operário como a UIE pretendia, liquidando o sindicalismo e o PCP que alargava a sua influência.

De 1927 a 1933, portanto sete anos sob o domínio direto de Carmona, há registos de 1.972 presos e 1.511 deportados, um total de 3.483 pessoas; além de 200 mortos em combates e 990 feridos. Porém, pelo menos os quantitativos de presos e deportados estão grandemente subavaliados. Assim, por exemplo, em anos de intensa repressão, os registos são claramente insuficientes: em 1926 não há quaisquer registos de presos ou deportados; em 1930 20 presos e 20 deportados, que se referem unicamente a uma nota de 3 de dezembro; em 1932 ano de grande repressão, apenas quatro presos. Em 1928 contam-se 150 presos para o ano inteiro, porém ente número refere-se a uma única data: a revolta do 4 de julho!

Só com a criação da PVDE em 1933 (antecessora da PIDE) há registos mais ou menos sistemáticos das prisões. Assim, entre o golpe de 1926 e 1939, registam-se por motivos políticos mais de 13 mil presos e deportados, cálculo muito subavaliado que não tem em conta as prisões, espancamentos, brutalidade policial e outras vítimas extra judiciais no período. Há ainda registos de 1.500 deportados para as colónias ou para os Açores, 210 mortes em combates e 24 nas prisões. (HP vol 7, p. 208)

Era esta a "salvação nacional" e a "ordem nas ruas e nos espíritos" que o regime estabelecia. Carmona, concretizava assim um programa fascista, protagonizado por Salazar. A sua ação vai desenvolver-se em três frentes:

a) Repressão e perseguição aos democratas, destruir o movimento sindical organizado e o PCP "a grande heresia dos tempos modernos", no dizer de Salazar, justificando assim a instauração de uma nova, mas não menos cruel, inquisição.
b) Unir as direitas em torno de um projeto comum.
c) Neutralizar os militares republicanos mesmo de direita (SP p.70 e seguintes).

Ao contrário do que propaganda fascista veiculava, bem como o branqueamento atual, de 1926 a 1932-33, viveu-se um período de intensa contestação e luta contra o fascismo pelas correntes militares republicanas, pelo movimento operário, pela intelectualidade progressista. A sua derrota deve-se sobretudo a conceções de "golpismo" alheado das massas e voluntarismo anarquista.

Devido à intensa luta contra a ditadura, além das dissidências no seu interior, apenas em 1932 Salazar é chefe do governo. Carmona apoia-o sempre, até ao ponto de rutura com seus apoiantes da primeira hora. Em 1933, é plebiscitada nova Constituição, num ambiente de censura, perseguições, exílios. O "corporativismo" fascista é formalmente instaurado, com a designação de "Estado Novo".

3 - O QUE SE OBTEVE?

A teoria política de Salazar está bem expressa no seguinte: A "adulação das massas" pela criação do "povo soberano", não deu ao povo nem influência na marcha dos negócios públicos, nem aquilo que o povo – soberano ou não – mais precisa, que é ser bem governado". (HP vol 7, p. 198) Sabemos o que foi ser "bem governado", mas estas mesmas ideias estão presentes nas objurgatórias de certos "comentadores".

O "Estado Novo" exprimia confessadamente o ódio classista à iniciativa popular que a revolução republicana permitira. O país mergulha na repressão, atraso, miséria: foi o resultado da entrega do país aos "interesses económicos".

O lema do clerical fascismo salazarista era: Deus, assente na superstição e ignorância popular; Pátria, entregue à oligarquia nacional e estrangeira com o povo submetido a cruel repressão; Família, vegetando na pobreza, miséria, tuberculose e alcoolismo.

Eis a "ordem" oligárquica: A propaganda fascista chamava a isto: "Caminhando para uma vida melhor". Salazar falava na "restauração e desenvolvimento dos valores espirituais". Mas que valores espirituais? A propaganda esclarece: pretende-se "contra as ambições doentias do homem das cidades" a "simplicidade da vida nas aldeias" "onde a miséria total é mais rara, não há dinheiro, falta por vezes a roupa necessária, mas há sempre uma côdea de pão e um caldo" (António Ferro). (P 30, p. 157)

O que se obteve foi uma "onda lamacenta de miséria", como constatava a "Indústria Portuguesa" (P 30, p 123), e repressão policial. Eis o êxito do "mago das finanças".

Relatórios confidenciais das autoridades distritais dão conta "do enriquecimento de alguns, da grande falta de trabalho, da miséria cada vez maior" ou "da extrema situação de miséria da classe operária no Alentejo (PPG, p 169). Um relatório da DG Indústria falava da existência miserável dos operários, escaveirados e maltrapilhos vivendo sem quaisquer condições de salubridade (PPG, p. 208). Ao mesmo tempo diplomatas franceses falam da fome e da "população miserável" portuguesa, o embaixador britânico menciona a corrupção e as condições caóticas do mercado interno. (PPG, p. 276, 277)

"Centenas de milhares de indivíduos (os mendigos) fervilham por toda a parte, bandos de pedintes infantis, legiões de prostitutas, crianças a fazer a ronda dos caixotes do lixo" (PPG, p.343). Marcelo Caetano referia-se no início dos anos 40 a: "analfabetismo, alcoolismo, doenças contagiosas". (PPG, p. 368)

Em Braga o governador Civil relatava que a situação económica apenas se tinha agravado para os pobres "desencadeando calamidades quanto a habitação, mendicidade, jogo, prostituição, hospitalização". (PPG, p. 344, 345)

A "obra grandiosa do Estado Novo" refletia-se na carência de cuidados de saúde e hospitais, mortalidade infantil e maternal, esperança média de vida ao nível do "terceiro mundo". Eis o resultado do "equilíbrio das contas públicas" hoje aplaudido pela direita. A filosofia era que só eram pobres porque não queriam trabalhar; hoje porque lhes falta "empreendedorismo".

O ensino público regride para três anos. Salazar explica: "Considero até mais urgente a constituição de vastas elites do que ensinar toda a gente a ler. É que os grandes problemas nacionais têm de ser resolvidos, não pelo povo, mas pelas elites enquadrando as massas" (SP, p.180) Vemos em todos estes aspetos, seja no ensino seja na questão da pobreza e do desemprego, esteios do atual pensamento da direita.

Em "Rumo à Vitória", de 1965, Álvaro Cunhal, traça exemplarmente o quadro da situação de atraso, repressão e miséria em que o país permanecia apontando causas e soluções. Centenas de milhares de portugueses emigram, em grande parte de forma clandestina, fugindo à miséria, à repressão, à guerra colonial, ao desemprego nos campos. O analfabetismo campeia. Em 1970, 15 % do PIB eram remessas de emigrantes.

O país sob o regime do "maior estadista" torna-se alvo de troça e desprezo na Europa. Mesmo nos finais dos anos 60 a escassos quilómetros de Lisboa, o ambiente era como se dizia "terceiro mundista". Um francês manifestava então ao autor a sua opinião sobre Portugal: "com este governo, vocês tornam-se o museu dos povos primitivos na Europa".

Hoje propagandistas da direita exibem na TV gráficos elogiando o "equilíbrio" das contas públicas nesse período…

4 – ONTEM E HOJE

As semelhanças entre a política de direita e a do fascismo são gritantes. Salazar definia então como princípio fundamental para o trabalhador consciente "trabalhar mais e consumir menos". (PPG, p.362) Eis em toda a linha expressas as políticas de austeridade.

O objetivo da direita de "Reestruturar o Estado", não anda longe do "Estado Novo", que se definia com "não parasitário nem social, no sentido de ter como finalidade distribuir a riqueza nacional", pois "o social não pode sobrepor-se aos "interesses nacionais". (PPG 367) Argumentos muito semelhantes aos de hoje para destruírem as funções sociais do Estado, sempre colocadas em termos de "não há dinheiro", exceto para satisfazer a especulação e a fraude e sem tributar o grande capital.

A filosofia era que "a melhoria das condições de vida da classe trabalhadora é sobretudo um problema de aumento da produção e de organização dos mercados e não um problema de redistribuição de riqueza". Aos trabalhadores havia simplesmente que proporcionar "um salário humanamente suficiente" (!) "criando no operariado a função de colaborador consciente do seu chefe" (PPG 362) Formulações que em nada se distinguem das que atualmente a direita difunde.

Com o movimento sindical perseguido, os trabalhadores sujeitos a privações, o argumento dos "custos no trabalho" servia para os trabalhadores serem levados a aceitar o que quer que fosse para manterem o emprego.

O mesmo argumento encontramos hoje nas confederações patronais para manterem a precariedade sem limites legais e liquidarem a contratação coletiva já que, ontem como hoje, a direita considera ser melhor ter emprego precário e mal pago que não ter nenhum.

Como se vê, o objetivo ideológico da direita é sempre procurar nivelar pelo mais baixo possível e que os explorados assumam como estratégia de sobrevivência os critérios dos exploradores.

O "diálogo corporativo" com "sindicatos nacionais" de obediência ao governo e a prepotência patronal com o poder do seu lado, foi uma ficção: desrespeito pelos horários de trabalho, baixa de salários, despedimentos arbitrários, condições de saúde e segurança desprezados.

A atual concertação social do governo da direita já pouco ou nada se distingue da conciliação de classes que o corporativismo pretendia. A negociação é inexistente ou mera cosmética para o governo impor os ditames da oligarquia, agora escudada na troika.

Os ordenados mínimos fixados em 1935, serviram (ontem como hoje) para o patronato baixar salários. Em 1947 e em 1949, um homem do regime, Daniel Barbosa, evidenciava que os salários tinham descido abaixo do mínimo de sobrevivência. (PPG 356 e 357)

Numa "Mensagem ao sr. Presidente do Conselho" os Sindicatos Nacionais nos anos 40 exprimiam "a miséria de muitos em contraste com poderio financeiro e o enriquecimento desenfreado de um reduzido escol" e "o crescimento da riqueza de alguns à custa de todos". Pediam então para o governo "mudar de políticas". (PPG 364) Faz-nos lembrar a UGT, nos seus apelos ao governo no mesmo sentido. Mas a UGT, com linguagem muito mais suave…

Apesar da repressão fascista, as greves e reivindicações sucedem-se, os grevistas são acusados de "minar a ordem económica e social estabelecida". As gentes da "situação" procuravam demonstrar a "sem razão" das reivindicações operárias, "ainda por cima por parte de sectores dos mais bem pagos". (PPG 377)

Eis o que nos traz aos dias de hoje, com a propaganda contra as greves e lutas de "privilegiados" que têm contratos coletivos de trabalho e salários acima da média, prejudicando os desempregados. A hipocrisia política da direita parece não ter limites…

A crise que a oligarquia originou não é um acidente, é uma consequência direta das suas políticas neoliberais tornando-se uma oportunidade para combater a democracia, as iniciativas e ações populares.

Ontem como hoje temos o "elogio da pobreza virtuosa", que o desenvolvimentista Ferreira Dias contestava (PPG 424), com o governo a elogiar "os sacrifícios dos portugueses", escamoteando, que esses sacrifícios não são apenas inúteis mas contraproducentes.

Apesar das duras condições em que eram realizadas, as lutas dos trabalhadores conseguem melhores condições e melhores salários, obrigam o regime a recuar. O temor pelo seu recrudescimento e pela crescente influência do PCP, obriga o governo a cedências.

Certos sectores industriais compreendem que o aumento da produtividade e da produção de mais-valia, não era compatível com as condições de semi-escravatura dos trabalhadores e vão aceitando reivindicações de melhores condições de trabalho e salários. Compare-se com a atual situação na "concertação social" acerca do aumento do salário mínimo: apesar do acordo das confederações patronais não é aceite pelo governo.

5 - HOJE E ONTEM

Cavaco e a sua "salvação nacional" foi uma tentativa de comprometer o PS num mesmo programa político dominado pela direita, instituindo o partido único neoliberal. Declara então: "os portugueses tirarão as suas ilações sobre os agentes políticos se não houver acordo". A direita diz que "foram lançadas sementes"…De quê?

Cavaco tentava assim criar um sucedâneo da União Nacional salazarista ou da ANP marcelista, com políticas à partida definidas pela agenda de total submissão à troika e aos "mercados" da especulação e usura, sempre em nome do "superior interesse nacional".

Passos Coelho, a quem o PS dispondo-se ao "consenso" ofereceu credibilidade e uma renascida segurança, tirando o governo e o próprio PR do atoleiro para onde as suas políticas os tinham levado, fala sem pudor em "união nacional". Não é uma maneira de falar, é muito pior: é uma maneira de pensar, associando-se ao branqueamento e à difusão de expressões conotadas com o salazarismo.

Situação que conduziria, tal como no salazarismo, a eleições sem permitirem alternativas políticas, à Constituição alterada de acordo com os desejos da oligarquia, podendo ainda ser subvertida por leis avulsas.

O PS não entende que a UE é uma entidade reacionária, que já se encaminhou para o domínio neocolonial-neofascista da potência hegemónica, a Alemanha. Os tratados da UE estabeleceram uma "contra revolução preventiva" "uma construção visando contrariar preventivamente os reveses que a ordem capitalista poderia ter da parte dos movimentos sociais e políticos da classe trabalhadora" " A UE é "uma entidade política de soberania fragmentada, que não vê a sua unidade política senão garantida pela burocracia de Bruxelas submetida à finança internacional" (EFFE p.27 e 90)

A Revolução de ABRIL trouxe para Portugal respeito, admiração, progresso. Hoje, a política de direita faz-nos regressar a situações da ditadura. O desprezo pelo nosso país exprime-se no qualificativo de PIGS, preguiçosos e gastadores, que a direita europeia pôs a circular para os povos mais vulneráveis submetidos às suas iníquas políticas.

P. Coelho, assume-se como defensor dos interesses dos especuladores internacionais: "O país não precisa de gente que acalente a perpétua vontade do Norte da Europa passar a pagar as nossas dívidas" – declarou em julho perante o CN do PSD, a que a comunicação social assistiu. Sublinhe-se a expressão de conteúdo fascista: "o país não precisa de gente". Eis como um governo sem legitimidade real trata os que se opõem às suas políticas de submissão aos interesses estrangeiros.

O governo neoliberal de Cavaco criou nos anos 80 as condições para a destruição da indústria e da agricultura e o desmantelamento das pescas, a troco das transferências de verbas da CE (UE). A condecoração de ex-pides e a recusa de subvenção a Salgueiro Maia, mostraram ser o homem com que a oligarquia mais podia contar.

Cartoon de Fernão Campos. Neste contexto, não surpreende que António Borges (ex-assessor do governo e ex-quadro superior da megafraudulenta Goldman Sachs), que afirmara "não ser possível fazer reformas com a gritaria da oposição", tenha merecido elogio fúnebre como "um dos maiores economistas da sua geração". No entanto, a morte de Urbano Tavares Rodrigues, um dos maiores escritores da sua geração, internacionalmente prestigiado, tenha sido ignorada em Belém.

Hoje, um governo com o apoio de Cavaco, assume-se perante a atual "UIE" como o garante do projeto anticonstitucional, formalizando a destruição do projeto económico e social da revolução portuguesa. Um governo que encaminha o país para o subdesenvolvimento económico, político, social e cultural, numa via semelhante à do fascismo: um país sem cidadãos, ou antes, cidadãos marginalizados, potencial ou realmente perseguidos.

Pelo espírito de sacrifício e dedicação sem limites à causa da liberdade e do progresso do nosso povo e do nosso país, o PCP tornou-se "na longa noite fascista" o Partido da esperança. Esperança que hoje se expressa na defesa dos valores de ABRIL.
[1] Domingues dos Santos participa em 1927 num golpe contra a ditadura, reprimido num banho de sangue. Na sequência desta derrota vai para Paris. Só regressa a Portugal em 1954, morrendo em 1958 com 73 anos. Até ao fim da vida lutou contra o fascismo.

FFE – En finir avec l'Europe , Cédric Durant , Ed. La Fabrique, 2013
HP – História de Portugal, coord. José Matoso, Ed. Circulo de Leitores 1994
P 30 – O Estado Novo Anos 30, Fernando Rosas, Ed. Estampa, 1986
S FN - Salazar, Franco Nogueira, Atlântida Editora, 1977
SP – Salazar e o Poder, Fernando Rosas, Ed. Tinta da China, 2012
PPG – Portugal entre a Paz e a Guerra, Fernando Rosas, Ed. Estampa, 1990
TCP – Tesouros da Caricatura Portuguesa (1856 - 1928), Paulo Madeira Rodrigues, Ed. Circulo de Leitores 1977


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
 

daqui:http://resistir.info/portugal/de_carmona_a_cavaco.html

Nova censura em Portugal condiciona e manipula a opinião pública

por Eugénio Rosa

O semanário “Expresso” publicou na sua edição de 24 de Agosto de 2013, um extenso artigo de opinião do secretário de Estado da Administração Pública, Hélder Rosalino, em que este, procurando objetivamente condicionar o Tribunal Constitucional através da opinião pública, fazia uma apologia da chamada lei de «requalificação» da Função Pública, que de «requalificação» apenas tinha o nome para enganar, já que visava o despedimento de dezenas de milhares de trabalhadores. E para isso, utilizava um conjunto de mentiras pois afirmava, entre outras coisas, que a lei da «requalificação» era mais justa que a anterior lei (a da mobilidade), que visava «promover a recolocação dos trabalhadores após a realização de um plano de formação»; que constituía «uma garantia adicional para os trabalhadores em funções públicas», etc. etc..

E como tudo isto não fosse suficiente, o próprio «Expresso» reforçava as posições do governo com uma longa coluna enquadradora não assinada, portanto da responsabilidade do próprio jornal, do texto de Hélder Rosalino repetindo os argumento do governo e, logo no inicio, escrevia que «o modelo de requalificação dos funcionários do Estado é verdade que permite os despedimentos mas é baseado em critérios objetivos, rigorosos, e escrutináveis do ponto de vista judicial. Mais ainda, mantém a proteção do direito dos trabalhadores à estabilidade no emprego».

Tudo mentiras como era evidente e como o próprio Tribunal Constitucional veio confirmar, e qualquer leitor poderá concluir também pela leitura do acórdão que está disponível no «site» do tribunal.
Tendo em conta que participei na «negociação» com o governo, como assessor dos sindicatos da Função Pública da Frente Comum, e por isso analisei atentamente o projeto de lei do governo e as suas consequências para os trabalhadores, e face a esta clara tentativa de manipular e enganar a opinião pública sobre uma matéria importante para os milhares de trabalhadores da Administração Pública e também importante para todos os portugueses, já que está em perigo serviços essenciais para a população (sem trabalhadores não há sistemas públicos de saúde, educação e segurança social) enviei diretamente ao diretor do Expresso um pequeno texto, onde procurava repor a verdade e solicitava ao abrigo de uma informação objetiva que o Expresso afirma e que consta do seu estatuto editorial e a que os seus leitores têm direito, o que pressupõe o contraditório, a sua publicação.

No entanto, o Expresso, optou por manter no engano os seus leitores não publicando uma opinião que não coincidia com a do governo. Por isso, decidi divulgá-la.

Durante o fascismo, tivemos a censura politica, e esta não permitia a publicação de tudo aquilo que desagradava o governo ou o poder económico. Isso era assumido, já que os jornais traziam escrito «Visado pela censura». Agora, já não têm o «Visado pela censura», nem existe comissão de censura criada pelo governo, mas muitos órgãos de informação praticam também uma censura, já que só publicam principalmente aquilo que agrada ao governo e grupos económicos, e procuram silenciar todas as opiniões contrárias (metendo-as na gaveta) ou eliminam das suas colunas todos aqueles que poderão incomodar o poder económico e politico. É também uma forma de censura, embora mais subtil e menos visível, mas não menos eficaz.

E o Expresso é um bom exemplo dessa nova forma subtil de censura já que a esmagadora maioria daquilo que é nele publicado ou daqueles que nele escrevem não incomodam, naquilo que é essencial (nos interesses essenciais), o poder político e económico dominante, embora não deixe de utilizar a pequena intriga para vender o jornal.

Mensagem enviada ao director do Expresso solicitando a publicação do texto visando a reposição da verdade sobre a Lei

Exmo. Sr. Diretor do Expresso
Dr. Ricardo Costa
No Expresso de 24.8.2013 foi publicado um extenso artigo de opinião do dr. Hélder Rosalino, SE da Administração Pública em que defende o chamado «sistema de requalificação» utilizando um conjunto de inverdades.
Em defesa de uma informação objetiva que penso que o Expresso defende, o que pressupõe o contraditório, solicito a publicação do texto que envio em anexo.
Agradeço já a atenção que merecer
Com os meus cumprimentos
Eugénio Rosa
(Economista, Assessor dos sindicatos da Função Pública da Frente Comum)

A resposta ao secretário de Estado da Administração Pública que o «Expresso» não publicou
A Antecâmara do despedimento na Função Pública criada pelo governo

O Expresso publicou em 24.8.2013 um extenso artigo do SE da Administração Publica, Hélder Rosalino, defendendo o «Sistema de requalificação», que é assim designado para ocultar os seus verdadeiros propósitos, que é o de despedir milhares de trabalhadores da Função Pública (uma verdadeira antecâmara de despedimentos). E para isso utilizou inverdades.
Hélder Rosalino afirma que o novo sistema é melhor que o anterior (o de mobilidade), e uma das razões que apresenta é que permitirá aos trabalhadores aumentar as suas competências para poder ocupar novos cargos na Administração Pública, pois assegura formação profissional o que não acontecia no anterior (o que é falso).

Durante a negociação do diploma em que participamos, como assessor dos sindicatos, propusemos, no caso de racionalização, reorganização, ou fusão de serviços, que os trabalhadores antes de serem colocados na «situação de requalificação» pudessem fazer formação profissional para obter as competências para poderem ocupar cargos nos novos serviços. Mas o governo recusou respondendo que isso só teria lugar depois de serem colocados na situação de requalificação (artº 260% do projeto de Lei GTFP).
Mas nessa altura os lugares já estarão preenchidos. A esmagadora maioria dos trabalhadores que forem colocados na situação de requalificação não terão qualquer possibilidade de serem colocados na Administração Pública. E isto porque o governo e «troika» pretendem destruir a Administração Pública (reduzi-la ao mínimo). Segundo a DGAEP do Ministério das Finanças, entre Jun./2012 e Jun./2013 (um ano), o número de trabalhadores da Função Pública sofreu uma redução de 28.222, ou seja, de 4,7%, portanto, 2,35 vezes superior à prevista no «Memorando de entendimento» assinado em Maio de 2011 (2%). E o governo considera que é pouco e pretende acelerar essa redução.

Para isso publicou a Portaria 221-A/2013 e está a fazer uma pressão/chantagem muito grande sobre os trabalhadores para que aceitem o despedimento por mútuo acordo, «oferecendo» uma compensação, em que uma parte é já «comida» pelo IRS, sem direito a subsidio de desemprego, e ocultando o facto do trabalhador, se recusar o despedimento voluntário, mesmo que seja despedido (se for e não se sabe quando) terá direito a uma indemnização que, somada ao subsidio de desemprego a que tem direito, é superior à compensação que agora o governo pretende pagar.

Portanto, o objetivo do novo sistema não é «requalificar e recolocar», como afirma Hélder Rosalino, mas sim despedir. E colocado na «situação de requalificação», o trabalhador durante o 1º semestre recebe apenas a 66,7% da remuneração e, no 2º, somente a 50% (no sistema de mobilidade, segundo a Lei 53/2006 que o criou, tinha direito a 100% da remuneração durante 60 dias; 83,3% durante 10 meses e depois 66,7%); para além disso, se não for colocado, é despedido (artº 259 do projeto de LGTFP), o que não acontecia no sistema anterior de mobilidade, configurando, por isso, um despedimento sem justa causa, portanto inconstitucional.

Afirmar, como escreveu Hélder Rosalino, que o novo sistema «constitui uma garantia adicional para os trabalhadores em funções públicas» e é melhor que o anterior, é faltar à verdade.

Eugénio Rosa

(Economista, Assessor dos sindicatos da Frente Comum)

daqui:http://www.odiario.info/?p=3006

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

MAIS UM GURU EM PRAÇA…

por Daniel Vaz de Carvalho

Basta dizer o que a oligarquia quer ouvir, para terem as antenas abertas, sem o mínimo contraditório. Fazendo companhia ao sr. Gonçalo Lourenço, que continua a a dar lições de como ser pobre mas estar contente (pobrete, mas alegrete, como no fascismo…e ai daqueles que…) o sr. J. Gomes Ferreira até tem “programa de governo” posto em livro e tudo.

Vejamos o que considera a medida prioritária: ver os impostos que cobramos e limitar a despesa ao que existe. O Estado limitado “à educação” (qual e como?) “saúde” (qual e como?) e “segurança nas ruas” (a repressão escondida no lema securitário, em lugar de se cuidar das causas). Quanto ao resto, cortar no Estado, “fechar departamentos que não servem para nada.” Tal como explicou no canal ETV. Como se percebe, é fácil, é barato e dá milhões…Tão simples e evidente, como o Sol girar à volta da Terra.
Mas a despesa pública são só salários e pensões? E os juros, que atingem 100% do défice? E os benefícios e “incentivos” ao grande capital? E as perdas da banca? E as PPP, e os SWAP, e o BPN, e o BANIF? Nisto não se toca. Então o que sobrar lá vai a educação, para a saúde, que cada qual terá conforme poder pagar. E não há investimento público? nem para conservação das estradas? Privatisa-se tudo? Então quem paga aos privados?
Tudo isto está mal explicado, pois com juros ao nível do que o BCE faz à banca privada, sem benefícios e isenções ao grande capital, tributando (nem que fosse como “contribuição especial”) os lucros acima de determinado valor, como proposto pela CGTP e também pelo PCP, as contas públicas seriam largamente excedentárias.
Quer dizer, o povo sacrifica-se, o país regride, para 0,1% encherem os bolsos.
Está mais que provado (até pela presente crise capitalista) que quando o Estado abandona as suas funções de regulação e controlo democrático (não burocrático, frise-se bem), se o Estado abandona ao mercado as suas funções a corrupção instala-se, os povos vivem sob a lei do mais forte, isto é, dos que têm mais dinheiro.
Mas o que faria o “governo” do sr. JGF aos departamentos que fecham? Há departamentos que funcionam mal os não funcionam de todo, mas o que se quer fazer não é reorganizar, coordenar e dinamizar as funções económicas e sociais do Estado, é fecha-los, como se fossem caixas vazias ou repletas de lixo, neste caso pessoas tratadas como tal. Mas as pessoas não contam, pois como disse P. Coelho “o país não precisa de gente que quer que os países do norte paguem as nossas dívidas”, isto é, "gente" que não quer submeter-se à especulação. Gente que comete o "crime" de pôr os minteresses nacionais acima dos da finança..
Então e os negócios estrangeiros, as finanças, e a segurança social, as funções económicas e sociais do Estado? Não importa, se não houver dinheiro, fecham, passam para o sector privado, é o que for. Primeiro a banca, o capitalismo rentista da usura e dos monopólios. Poderá isto provocar contestação social? Não há que ter medo, diz o sr., é fazer o que é preciso. Mas preciso o quê e para quem?
Para a direita, Portugal já deixou de ser um Estado soberano. É uma mera colónia cujo objetivo é satisfazer as exigências tributárias a prestar à finança internacional.
Por último, o sr. JGF e demais gurus da treta neoliberal, omitem que Portugal tem das mais baixas percentagens  de funcionários públicos no emprego total da UE, mesmo da OCDE, e que os países mais ricos são os que têm maior percentagem.
 

domingo, 1 de setembro de 2013

Defende-a, ataca-os

O Tribunal Constitucional (TC) bloqueou esta semana o meio mobilizado pelo governo para atingir um objectivo desgraçado: proceder a um colossal despedimento sem justa causa de trabalhadores do Estado. A Constituição da República Portuguesa (CRP) ainda contribui para proteger o emprego, ajudando assim, uma vez mais, a proteger a economia nacional de alguns dos piores desmandos da austeridade num país que não tem, antes pelo contrário, demasiado emprego público. Em resposta o governo confirma que só conhece a política do medo e da chantagem, procurando transferir para outros a responsabilidade por um segundo resgaste que, na realidade, está inscrito na lógica da austeridade recessiva e das reformas estruturais regressivas, políticas que acentuam a dependência do país face a estranhos pouco bondosos.

De resto, esta é mais uma decisão do TC que pode contribuir modestamente, ainda que de forma não intencional, para reeditar um processo com pergaminhos históricos em que aqui tenho insistido: até porque o que não pode ser pago não será pago, os valores e as prioridades de Estados que se querem soberanos e democráticos têm de acabar por chocar com, e superar, as anti-democráticas tutelas dos credores externos e as governamentais correias de transmissão internas que aplicam as suas políticas. Não foi por acaso que o banco JP Morgan chamou recentemente a atenção para o problema das constituições que têm a marca do antifascismo, das lutas sociais pela democracia: afinal de contas, diz a CRP que “Portugal é uma República soberana, baseada na dignidade da pessoa humana e na vontade popular e empenhada na construção de uma sociedade livre, justa e solidária”. Como costuma acontecer, um problema para a banca internacional é uma solução para os povos.

Os Estados Unidos vão bombardear a Síria


«Decidi que os EUA devem atuar militarmente na Síria» - informou Barack Obama no sábado. «Sei-acrescentou - que posso fazê-lo sem a autorização do Congresso, mas seremos mais eficazes se pedirmos a sua aprovação».

O Congresso está de férias, mas o Presidente esclareceu que já conversou com os líderes democratas e republicanos das duas Camaras.

A humanidade aguarda, portanto, com angústia, que a máquina de guerra estadunidense lance os primeiros misseis contra a terra milenar da Síria, dando inicio a mais um monstruoso crime do imperialismo.
O ato de barbárie repetirá noutras circunstâncias, e com outro estilo, aqueles que atingiram o Afeganistão, o Iraque e a Líbia.

O pretexto invocado foi concebido com muita antecedência. O governo sírio é acusado de ter utilizado armas químicas em bombardeamentos que causaram mais de um milhar de vítimas nos subúrbios de Damasco.

As «provas» sobre a origem das armas químicas utilizadas que os EUA citam para justificar o ataque não provam nada. São falsas, foram forjadas como as que atribuíam ao Iraque a posse de armas de extinção massiva.

O secretário de Estado John Kerry e o Presidente falaram de «elevada confiança» e «elevada certeza» ao atribuir ao governo de Bachar al Assad o uso das armas químicas. Mas, à cautela, Obama decidiu não esperar pelo relatório dos inspetores da ONU, que, segundo Ban Ki moon, pode demorar duas semanas. Aliás, como reconheceu o secretário de Estado John Kerry «a investigação da ONU não esclarecerá quem usou armas químicas. Esse não é o mandato da missão».

A única certeza, comprovada por um relatório oficial russo (ver artigo de Finian Cunningham, odiario.info 28.8.13), é a de que os bandos terroristas que combatem o governo de Bashar al Assad utilizaram armas químicas no bombardeamento da cidade de Khan al-Assad. Provado está também que a Turquia, o Qatar e a Arabia Saudita continuam a financiar os «rebeldes» e a fornecer-lhes armas.

O presidente dos EUA deixou transparecer surpresa e consternação pelo facto de o Parlamento Britânico ter votado contra o envolvimento militar do Reino Unido no ataque à Síria, numa atitude que expressou a oposição do povo inglês à submissão do governo Cameron a Washington. Diferente foi a posição do presidente Hollande que se comporta como um lacaio ao alinhar com a agressão dos EUA, condenada por 64% dos franceses. Manifestações contra a intervenção militar estão a ser convocadas em muitos países.

Não tendo conseguido – por oposição da Rússia e da China – que o Conselho de Segurança aprovasse uma Resolução que abrisse a porta à agressão, os EUA, mais uma vez decidiram iniciá-la sem mandato do mais alto órgão das Nações Unidas.

Tal como aconteceu no caso da Líbia, uma campanha mediática de desinformação de proporções mundiais precedeu a decisão de intervir militarmente. A opção pela guerra foi apresentada como iniciativa humanitária empreendida em defesa de um povo oprimido por um regime despótico. Mas de facto nenhuma lei internacional legitimaria a agressão contra a Síria ainda que os factos fossem verdade. Por outro lado, esta agressão só adiciona e prolonga o sofrimento e morticínio de que o povo sírio tem sido vítima às mãos das intervenções externas em curso; e, pelas suas ramificações, tornará mais problemática e distante a resolução política do conflito.

O discurso de Obama que pretende justificar o crime em preparação caracteriza bem o farisaísmo da estratégia imperialista. Afirmando combater o terrorismo, tripudia sobre o Direito Internacional. Como as milícias de mercenários islamitas fanáticos, agora seus aliados, estavam a ser derrotadas pelo exército sírio, optou pela intervenção armada unilateral.

Mas a hipocrisia do presidente dos EUA não atingiu o objetivo: em dezenas de países, organizações e personalidades de prestígio internacional condenam a iminente agressão ao povo sírio como crime contra a humanidade.

É transparente que esta nova guerra imperial se insere na estratégia de domínio universal de Washington que visa a recolonizar todo o Médio Oriente.

OS EDITORES DE ODIÁRIO.INFO

daqui:  http://www.odiario.info/?p=3003 

Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...