quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A ecologia do absurdo (excerto)



(...)
Desde as origens, as destruições foram sempre próprias dos organismos vivos: todas as formas de vida modificam o seu meio ambiente e contribuem para criar um outro. O que é, nesse caso, o respeito pelo sacrossanto equilíbrio dos ecologistas, quando se sabe que nada existe de imutável mas que, pelo contrário, o desenvolvimento das formas de vida na terra é um perpétuo movimento feito de destruições sucessivas seguidas por novos equilíbrios sempre diferentes? Teremos que considerar que a existência da menor raça animal, da menor floresta, do menor espaço aquático é indispensável ao homem? Que a sua sobrevivência depende da reintrodução do urso nos Pirenéus ou do lince nos Vosges? Quem decretará o “bom” equilíbrio demografia/recursos? Ou, ainda, que tal arquitectura ou tal urbanismo é uma chaga na paisagem? Até que ponto se poderá consumir tal ou qual energia? Eis outras tantas questões às quais a ecologia não pode dar, por si só, uma resposta, tal como não o podem o cientista ou o perito, a não ser que queiram decidir e governar “o melhor dos mundos”.
                Porque as respostas a estas questões dependem das necessidades sentidas pelos seres humanos. E essas resultam do modo de produção em vigor, não das admoestações da ciência ou de uma ideologia qualquer, nem de considerações sobre a natureza humana e sobre os constrangimentos que lhe deveriam ser impostos. O que produz essas necessidades? Porquê estas? Como substituí-las por outras e porque meios? –eis as questões a que nos devemos dedicar ligando-as a estas outras: porquê precisamente estas actividades, estas produções, estes comportamentos, estas relações com a natureza?
(...)

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Quem cozinhou a sopa em Hong Kong?


por M K Bhadrakumar [*]
A sensacional reportagem da BBC revelando que os protestos em Hong Kong conhecidos como Occupy Central na realidade não foram espontâneos nem internos, mas sim coreografados cuidadosamente dois anos atrás e executados por forças estrangeiras e que cerca de 1000 activistas chineses poderiam ser "manifestantes treinados" corrobora as reportagens vindas de Moscovo há poucas semanas – as reportagens russas sem hesitações apontam o dedo aos EUA como mentor de tal empreendimento.

Em retrospectiva, Pequim parece ter lido as folhas de chá correctamente, tendo retirado grande quantidade de conclusões acerca da alquimia do misterioso fenómeno conhecido como as "revoluções coloridas" patrocinadas pelos EUA na última década. A ucraniana, naturalmente, é apenas a mais recente numa cadeia que começou na Geórgia em 2003 e é um facto mais ou menos estabelecido que estes chamados movimentos são realmente geopolíticos no seu carácter e inextricavelmente ligados às estratégias globais e políticas regionais dos EUA.

A Rússia tem sido o alvo principal e é interessante que agora na China também tenha sido feito um teste no terreno. É concebível que as "revoluções coloridas" constituam um tópico na cooperação de segurança Rússia-China, especialmente na região da Ásia Central.

O cronograma do empreendimento em Hong Kong pode ter tido algo a ver com a cimeira APEC (Asia-Pacific Economic Cooperation) em Pequim, programada para 10 de Novembro. As intenções podiam ter sido embaraçar o governo chinês ou mesmo testar seus nervos e impeli-lo a utilizar força para suprimir os protestos.

Por outro lado, pode ter havido expectativas no ocidente de que os protestos pudessem atear fogo ao tecido sócio-económico na "China continental". Alguns sabichões indianos na televisão estatal chegaram a visualizar um tal cenário apocalíptico.

Se assim é, o empreendimento fracassou quanto ao efeito desejado. A reportagem da BBC empana o Occupy Central quase irremediavelmente e qualquer agência de inteligência estrangeira saberia que os protestos se tornaram um "caso acabado" a partir de agora.

Na verdade, o mais impressionante é que a BBC tenha feito uma tal reportagem – agrupando os manifestantes de Hong Kong com sujeitos tão desacreditados como o grupo punk Pussy Riot da Rússia e um desertor da Coreia do Norte. É lógico que a Grã-Bretanha chegou à conclusão de que o Occupy Central fracassou para além da recuperação possível e a coisa certa a fazer sem mais tardar será distanciar-se do protesto.

A Grã-Bretanha saberia que pouco importando quaisquer aberrações na ordem política em Hong Kong, a verdade histórica é que a democracia em qualquer forma aparecer pela primeira vez na história de Hong Kong só depois de a cidade mudar de mãos e ficar sob o controle da China.

Na verdade, Pequim actuou com a cabeça fria. Ali não houve nada da brutalidade com que nós dispersámos Baba Ramdev da área de Ramlila dois anos atrás. Contudo, a abordagem de Pequim é na realidade dura como um prego. Muitos factores actuaram em favor de Pequim.

Na verdade Pequim deixou o caos seguir seu curso e estimou correctamente que em algum ponto mais cedo ou mais tarde a opinião pública em Hong Kong incrementalmente actuaria contra a resultante confusão e desordem. Aquela abordagem mostrou-se válida.

Pequim podia permitir-se uma abordagem tão calibrada por duas razões. Uma, porque Hong Kong já não é a locomotiva de crescimento para a economia da China. A cidade não é mesmo um dos vagões principais do comboio. Shanghai e várias outras regiões no Leste ultrapassaram Hong Kong em dinamismo e prosperidade. Basta dizer que a importância de Hong Kong para a economia chineses (e sua política externa) diminuiu consideravelmente e esta tendência só pode acentuar-se ao longo do tempo.

A segunda e mais importante razão é que a "opinião pública do continente" encarou os protestos em Hong Kong como um acto de petulância da "crianças mimadas" da cidade (as quais já desfrutam um excesso de democracia) ao invés de arautos da democratização da sociedade chinesa. Há igualmente uma forte probabilidade de que a opinião pública do continente acredite no papel da "mão estrangeira".

Pequim na verdade adoptou uma posição dura ao recusar a negociar sua prerrogativa para determinar o ritmo e a direcção da democratização da China. Ela também assinalou um nível de auto-confiança em dispersar uma operação da inteligência estado-unidense sem explodir de raiva. (De modo interessante, a calma compostura com a qual Pequim observou a estadia do Dalai Lama na América do Norte na véspera da cimeira APEC também é notável.)

A partir de agora, a utilização de métodos coercivos em Hong Kong compara-se favoravelmente com as medidas de força maciças nos protestos Occupy Wall Street, nos EUA, dois anos atrás. Parece que os diabos estrangeiros na Estrada da Seda calcularam mal.
 
27/Outubro/2014
 

[*] Antigo embaixador da Índia.

O original encontra-se em blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2014/10/27/who-cooked-the-hong-kong-broth/


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


aqui:http://resistir.info/asia/hong_kong_27out14.html 

Cancro: sou contra - és contra o quê?

terça-feira, 28 de outubro de 2014

Nações Unidas condenam o embargo a Cuba pela 23.ª vez


O ministro Bruno Rodríguez, que já tinha representado Cuba na Assembleia Geral da ONU, em setembro, apresentou a resolução contra o embargo
O ministro Bruno Rodríguez, que já tinha representado Cuba na Assembleia Geral da ONU, em setembro, apresentou a resolução contra o embargo Fotografia © Arquivo Reuters/Eduardo Munoz


EUA e Israel foram os dois únicos países de um total de 193 a votar contra a resolução intitulada "Necessidade de acabar com o embargo económico, comercial e financeiro imposto pelos EUA contra Cuba".


aqui:http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4206424

Que é o TTIP?

Dispara o negócio do armamento

por Manlio Dinucci


A guerra, tragédia para milhões de seres humanos, é chorudo negócio para a indústria armamentista. É dos livros que, em período de crise geral do capitalismo, tal negócio de destruição e morte se intensifica.

Há apenas um ano, com a retirada das tropas que se encontravam no Iraque e no Afeganistão e os cortes anunciados no orçamento militar, os grandes accionistas da indústria armamentista estado-unidense viam negro o futuro dos seus lucros. Mas agora, com as operações militares do Pentágono na Síria e Iraque e o novo confronto com a Rússia, o futuro parece novamente radioso.

Em 23 de Setembro de 2014, primeiro dia dos bombardeamentos aéreos na Síria, 2 barcos de guerra estado-unidenses lançaram 47 misseis Tomahawk, com um custo de 1,4 milhões de dólares cada um, para destruir instalações petroleiras e outras infra-estruturas sírias com o pretexto de que se encontravam nas mãos do Emirato Islâmico.

Uns dias depois, a firma Raytheon, fabricante dos Tomahawk, obteve um contrato que atinge 251 milhões de dólares para a entrega de mísseis novos, e o valor das suas acções subiu mais de 4% em menos de um mês, apesar da tendência geral da Bolsa registar uma descida de 2%.

Os demais grandes contratadores do Pentágono também registaram aumentos similares ou inclusivamente superiores, como Northrop Grumman com + 4% e General Dynamics com + 4,5%. As acções de Lockheed Martin, fabricante entre outros dos mísseis Hellfire, cada vez mais utilizados como armamento dos drones Reaper de General Atomics, registaram uma subida record de 9,5%. Em 18 de Outubro, Lockheed lançou o sétimo navio de guerra de litoral (LCS) que, altamente manobrável e capaz de navegar em águas pouco profundas, pode aproximar-se das costas inimigas para assestar golpes em profundidade. Pouco antes, em Abril, tinha feito entrega à US Navy do primeiro dos 10 barcos de assalto anfíbio da nova classe America, dos quais podem inclusivamente levantar voo os aviões de guerra F-35 da Lockheed.

A frente espacial também traz excelentes notícias para o negócio da guerra. Em 10 de Outubro a General Dynamics fez um ensaio de ligação entre um avião em voo sobre o Pacífico e uma base nos Estados Unidos, com uma capacidade de transmissão 10 vezes superior à anterior, através do sistema de satélites Muos, que conta com 4 estações terrestres – incluindo uma na localidade siciliana de Niscemi.

Em 14 de Outubro a Marinha de Guerra dos Estados Unidos instalou o sistema de armas Aegis, da firma Lockheed (já instalado em 74 dos seus navios de guerra), na base de Deveselu (Roménia), que se converte assim na primeira base terrestre (a segunda estará na Polónia) do «escudo» antimísseis dos Estados Unidos na Europa dotada de um radar Spy-1 e de uma bateria de mísseis Sm-3. O Pentágono assegura que esses mísseis «não terão capacidade ofensiva e apenas interceptarão mísseis balísticos lançados de países hostis». Faz também uma clara referência à Rússia, que teria que confiar na palavra do Pentágono quando este último afirma que os mísseis instalados na Roménia e Polonia não terão capacidades de ataque nuclear.

Em 17 de Outubro aterrou na base de Vandenberg (Califórnia), depois de passar 22 meses em órbita, o avião espacial robot X-37B, fabricado por Boeing. Lançado no espaço por um míssil, este avião de 9 metros de largura e 5 toneladas de peso é capaz de regressar autonomamente. Embora não tenha sido divulgado qual seria a sua missão, há razões para pensar que é concebido para destruir os satélites inimigos como acção prévia ao início de um ataque nuclear ou inclusivamente para levar armas nucleares para o espaço.

Retirando de qualquer valor à promessa da administração Obama de reduzir o orçamento militar, o Pentágono declara que, como «os Estados Unidos têm que continuar a ser capazes de projectar o seu poderio em áreas às quais nos é negado acesso e liberdade para operar, conservaremos uma ampla panóplia de capacidades militares».

E desse modo continuarão a engordar, com centenas de milhares de milhões de dólares provenientes de fundos públicos, as carteiras dos patrões da indústria militar.

Il Manifesto / Red Voltaire

aqui:http://www.odiario.info/?p=3441

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Soros e a CIA agora apostando em Neves para derrotar Dilma Rousseff

por Wayne Madsen

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Arminio Fraga Neto e Aecio Neves

Depois que a mídia corporativa e os manipuladores da CIA e George Soros tentaram engendrar a candidatura de Marina Silva, anteriormente ligada ao Partido Verde, à presidência do Brasil pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) após o clássico assassinato aéreo conforme os livros da CIA do presidenciável Eduardo Campos do PSB, essas mesmas forças estão outra vez na disputa, agora usando o nome de Aécio Neves, candidato do Partido Social-Democrata Brasileiro (PSDB). Embora Neves estivesse colocado em segundo lugar nas pesquisas eleitorais, tendo a Presidente brasileira Dilma Rousseff a primeira colocação, antes do primeiro turno da eleição presidencial em 5 de outubro, a morte de Campos e de seus assessores em um acidente de avião altamente suspeito, em 13 de agosto, rebaixou Neves para o terceiro lugar nas pesquisas. Silva, a favorita de Soros e de sua rede internacional de liberação de dinheiro para Organizações Não-Governamentais, foi impulsionada para o segundo lugar [1].

No entanto, graças a uma imprensa brasileira de jornalismo investigativo consciente, as conexões de Silva a Soros e sua equipe de intervencionistas e magnatas de fundos de cobertura (‘hedge funds’) foi exposta. Com os eleitores brasileiros cientes dos cordões de marionetes de Soros e outros banqueiros globais com relação a Marina Silva, ela conseguiu apenas o terceiro lugar em 5 de outubro. Silva posteriormente endossou Neves, segunda selecão de Soros para assumir as rédeas do poder presidencial no Brasil, hoje nas mãos de Dilma Rousseff.

O principal conselheiro econômico de Neves e o homem que se tornaria Ministro das Finanças em uma presidência de Neves é Arminio Fraga Neto. Um antigo amigo íntimo e associado de Soros e seu fundo de cobertura Quantum, Fraga espera que a presidência de Neves abra o Brasil às "forças do mercado," as forças mesmas que declararam guerra econômica à Venezuela e estão tentando trapacear a Argentina através de fundos abutre dirigidos pelos amigos de Soros na Wall Street. Fraga, um habitué anual do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, é também um ex-executivo da Salomon Brothers e ex-presidente do Banco Central do Brasil. Fraga também foi ligado à Goldman Sachs através de um negócio imobiliário em Manhattan envolvendo a compra de um condomínio de US $ 7,5 milhões de um ex-executivo da Goldman Sachs e do Lehman Brothers. A associação de Fraga ao elitista Conselho de Relações Exteriores e ao Grupo dos 30 o coloca no mesmo campo dos vilões da Wall Street como Alan Greenspan, David Rockefeller, antigo presidente de Banco de Israel Jacob Frenkel, apologista/colunista da Wall Street/ Paul Krugman e antigo Secretário do Tesouro americano Larry Summers.

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Arminio Fraga Neto e George Soros

A fácil vitória de Dilma Rousseff em 5 de outubro levou a Wall Street e seus meios de comunicação, opostos aos planos de Dilma de criar um banco de desenvolvimento alternativo entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul para competir com o Banco Mundial, a recorrer ao artifício da extrema propaganda. Questionáveis pesquisas sugerindo que Dilma Rousseff e Aécio Neves estão competindo empatados em 26 de outubro, à medida em que a segunda rodada eleitoral se aproxima, aparecem como notícias plausíveis pelos patéticos "estenógrafos" usuais da Wall Street disfarçados de jornalistas no The Wall Street Journal, Financial Times, Bloomberg News e Forbes.

O avô de Aécio Neves, Tancredo Neves, uma ameaça de centro-esquerda à ditadura militar brasileira há muito tempo, caiu gravemente doente quando estava para ser empossado como Presidente em 15 de março de 1985. A doença de Tancredo Neves resultou na ascenção do candidato a vice-presidente José Sarney, mais conservador e menos brilhante, o qual foi empossado como presidente. Tancredo Neves nunca se recuperou do que foi dito ser diverticulite, e morreu em 21 de abril. Mais tarde, foi revelado que Neves tinha um tumor canceroso que não havia sido descoberto até que fosse tarde demais. A doença súbita de Dilma após o debate com Aécio Neves a 16 de outubro, na televisão, alarmou os brasileiros que se lembram do destino de Tancredo Neves.

Além de a Agência Central de Inteligência organizar convenientes acidentes de avião tais como aqueles que mataram o primeiro-ministro português Francisco Sá Carneiro, o líder panamenho Omar Torrijos e o presidente equatoriano Jaime Roldos, tudo em um período de seis meses entre dezembro de 1980 e abril de 1981 [após a eleição de Ronald Reagan como presidente dos Estados Unidos e o retorno ao poder dentro da CIA dos pistoleiros notórios de George H W Bush e William Casey], a divisão de serviços técnicos da Agência continuou a desenvolver armas biológicas, incluindo armas de câncer, para assassinar seus alvos políticos.

Nos últimos anos, um número de líderes latino-americanos tem sido abatido ou tem sido atingido com câncer ou ataques cardíacos. As duas vítimas mais notáveis foram o presidente venezuelano Hugo Chávez e o presidente argentino Nestor Kirchner. Foi noticiado que a esposa de Kirchner, a presidente argentina Cristina Fernandez de Kirchner, estava com câncer de tireóide, o que mais tarde foi negado por seus porta-vozes. O aparecimento súbito de diferentes graus de câncer também atormentou líderes latino-americanos tais como o antigo presidente paraguaio Fernando Lugo (mais tarde deposto por um golpe de engenharia da CIA), o antigo presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente colombiano Juan Manuel Santos (depois que ele assinou um acordo de paz com a guerrilha FARC de esquerda), e recentemente o reeleito presidente Evo Morales da Bolívia.

O Presidente Forbes Burnham da Guiana morreu de câncer na garganta e o Presidente Bernard Dowiyogo de Nauru morreu de um súbito ataque cardíaco enquanto sendo cuidados em hospitais de Washington, DC. Suspeitas rodearam as duas mortes nos hospitais da Universidade de Georgetown e George Washington, respectivamente.

O macabro cientista-chefe judeu-húngaro da CIA Dr. Sidney Gottlieb desenvolveu uma série de armas biológicas para o programa MK-ULTRA da CIA durante seus mais de 20 anos de serviço na agência. Uma era uma toxina biológica que foi colocada dentro de um tubo de pasta de dente a ser usado pelo primeiro-ministro Patrice Lumumba e outra um lenço infectado com botulismo a ser entregue ao líder iraquiano, General Abdul Karim Kassem.

Quanto a Aécio Neves, abandonar as credenciais de centro-esquerda de seu avô representa um outro aspecto das operações de influência da CIA. Aécio Neves representa os interesses de Wall Street, que se manifestam pela presença de Fraga como seu principal conselheiro econômico. Os abutres da Wall Street, incluindo Soros e outros associados de Fraga em Nova York, querem privatizar a estatal brasileira Petrobras. Portanto, Aécio Neves tem sido regiamente comprado pelos mesmos interesses financeiros globalizados que tentaram forjar Marina Silva na presidência. Com a derrota, essas mesmas forças previsivelmente contemplaram Neves.

Para a CIA, o sangue não é mais espesso que a água. Na verdade, não importa a Aécio que a CIA possa ter desempenhado um papel no assassinato de seu avô. O filho de Omar Torrijos, Martin Torrijos, tornou-se presidente do Panamá apenas para assinar um acordo de livre comércio pro-Wall Street com Washington. Martin Torrijos também alegremente obedeceu as ordens dos banqueiros globais para aumentar a idade de aposentadoria e reformar a previdência social do Panamá. Martin Torrijos também tornou-se um aliado próximo do Presidente dos EUA George W. Bush, ainda que o pai de Bush, George H W Bush, provávelmente tenha autorizado a operação da CIA para assassinar seu próprio pai.

O líder favorito da oposição asiática de George Soros, Aung San Suu Kyi, não parece se importar com o fato de que foram os amigos de Soros no escritório dos Serviços Estratégicos da CIA que ordenaram a inteligência britânica a assassinar seu pai Aung San. Estava previsto que Aung San, um dos fundadores do Partido Comunista da Birmânia, se tornaria o primeiro líder da Birmânia independente após sua independência. Aung San foi morto por terroristas trabalhando para o ex-primeiro ministro pró-britânico da Birmânia, U Saw. As armas para os assassinos vieram diretamente do capitão do Exército Britânico David Vivian, o qual conseguiu, com a "ajuda" de alto nível do governo birmanês, escapar de uma prisão birmanêsa em 1949.

O líder do Partido Liberal do Canadá Justin Trudeau, filho do ex-primeiro-ministro Pierre Elliott Trudeau, tem, ao contrário de seu pai, se aproximado dos Estados Unidos, da Wall Street e da causa da globalização. Justin Trudeau e Aécio Neves são exemplos de como a águia da CIA abriga sob suas asas a descendência dos esquerdistas ícones para alcançar seus objetivos.

As políticas da Presidente Dilma Rousseff criaram poderosos inimigos dentro das paredes da CIA em Langley, Virginia, e entre as salas da diretoria de Wall Street e dascorporações mais poderosas do Ocidente. Ela conseguiu provar que as as enquetes e os especialistas estavam errados em 5 de outubro; mas 26 de outubro permanece ainda um outro obstáculo. O povo do Brasil vai votar em 26 de outubro como se suas vidas dependessem disso. Para os pobres e para a nova classe média do Brasil, uma vitória de Neves destruirá seus meios de subsistência, bem como suas próprias vidas.
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Tradução
Marisa Choguill
Fonte
Strategic Culture Foundation

aqui:http://www.voltairenet.org/article185312.html

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

EUA são o maior estado terrorista do planeta

por Noam Chomsky


Imaginem que o Pravda publicasse na primeira página os resultados de um estudo feito pela KGB que tivesse avaliado os resultados de todas as grandes operações terroristas que o Kremlin tivesse comandado ao redor do mundo, como parte do esforço para descobrir o que levou cada 'ação' dessas ao sucesso ou ao fracasso, e estudo que, no final, concluísse que, desgraçadamente, atos terroristas raramente 'dão certo' e de tal modo tendem a 'dar errado' que, hoje, seria muito mais recomendável [o Kremlin recomendando!] repensar a política e as vias políticas, em vez de fazer terrorismo.

Imaginem também que o artigo citasse o presidente Putin, o qual dissesse que havia encomendado esse estudo à KGB para descobrir casos de “financiamento e apoio com armas e munição a insurgentes ativos dentro de país estrangeiro e que tivessem realmente dado certo. E a KGB [Putin falando] não conseguiu encontrar grande coisa.” E que, por isso [Putin] relutava um pouco em repetir novos esforços terroristas.

Se – embora seja quase inimaginável – artigo desse tipo aparecesse publicado na imprensa, se ouviriam muitos gritos de ultraje e indignação que clamariam aos céus; e a Rússia seria amargamente criticada, condenada (e até coisa pior!) não só pelo terrível currículo como terrorista ativíssimo, afinal abertamente confessado, mas, também, por a classe política russa não mostrar nenhuma preocupação e nenhuma indignação, exceto pelo fato de o terrorismo de estado russo funcionar muito mal, e para ordenar que as práticas terroristas fossem aprimoradas.

Tudo isso é muito difícil de imaginar. Artigo desse tipo nunca seria publicado. O problema é que o tal artigo existe e foi publicado. De diferente, só um pequeno detalhe: apareceu publicado no New York Times – e é quase exatamente o tal artigo impossível.

Dia 14/10, a matéria de primeira página do New York Times tratava de um estudo feito pela CIA em que a Agência examina as principais ações terroristas comandadas pela Casa Branca em todo o mundo, num esforço para conhecer os fatores que levaram cada ação terrorista ao sucesso ou ao fracasso; e a CIA concluiu que, que, desgraçadamente, atos terroristas raramente ‘dão certo’ e de tal modo tendem a ‘dar errado’ que, hoje, seria indispensável repensar a política e as vias políticas, em vez de fazer terrorismo. 

E o artigo cita o presidente Obama, o qual diz que havia encomendado esse estudo à CIA para descobrir casos de “financiamento e apoio com armas e munição a insurgentes ativos dentro de país estrangeiro e que tivessem realmente dado certo. E a CIA [é Obama falando] não conseguiu encontrar grande coisa.” E que, por isso [Obama] relutava um pouco em repetir novos esforços terroristas.

Não se ouviu nenhum grito de ultraje; indignação zero, nada.

A conclusão é clara. Na cultura política ocidental dá-se por natural e adequado que o Líder do Mundo Livre governa um estado-bandido terrorista e pode proclamar abertamente sua eminente liderança na prática de tais crimes. E dá-se por perfeitamente natural e adequado que o professor de Direito Constitucional e laureado com o Prêmio Nobel da Paz que tem as rédeas do poder só se deva preocupar com praticar com mais eficácia, o mesmo velho terrorismo de sempre.

Basta examinar mais de perto, para ter certeza que as conclusões a extrair são exatamente essas.

O artigo começa citando abertamente as operações [terroristas] dos EUA “de Angola a Nicarágua e a Cuba.” Acrescentemos um pouco do que o jornal omitiu.

Em Angola, os EUA uniram-se à África do Sul no apoio crucial ao UNITA, exército do terrorista Jonas Savimbi, e continuaram a apoiar aqueles terroristas mesmo depois de Savimbi já ter sido completamente derrotado numa eleição livre e cuidadosamente fiscalizada e até depois de a própria África do Sul já ter deixado de apoiar aquele “monstro cuja ânsia de poder trouxe terrível miséria para seu próprio povo” – nas palavras do embaixador britânico em Angola Marrack Goulding, secundado pelo chefe da estação da CIA na vizinha Kinshasa, o qual já alertara que “não foi boa ideia” apoiar o citado monstro, “por causa da extensão dos crimes de Savimbi. Era homem terrivelmente brutal.”

Apesar das operações terroristas extensivas e violentíssimas apoiadas pelos EUA em Angola, forças cubanas conseguiram expulsar do país os agressores sul-africanos, os obrigaram a deixar também a Namíbia que ocupavam ilegalmente, e abriram caminho para a eleição em Angola na qual, depois de derrotado, Savimbi “desconsiderou completamente a avaliação feita por quase 800 observadores estrangeiros que acompanharam as eleições, para os quais as eleições haviam sido livres e justas” (New York Times), e continuou a sua guerra terrorista com o apoio dos EUA.

Os feitos heroicos dos cubanos na libertação da África e no fim do apartheid foram saudados por Nelson Mandela, quando afinal deixou a prisão. Dentre seus primeiros atos, Mandela declarou que “durante todos os meus anos de prisão, Cuba foi uma inspiração, e Fidel Castro, uma torre de fortaleza (...)[as vitórias cubanas] destruíram o mito da invencibilidade do opressor branco e inspiraram as lutas de massas da África do Sul (...) ponto de virada para a libertação de nosso continente – e do meu povo – do flagelo do apartheid. (...) Que outro país pode apresentar histórico de mais desapego e desprendimento que Cuba, em suas relações com a África?”

Bem diferente disso, o comandante terrorista Henry Kissinger ficou “apoplético” ante a insubordinação do “pipsqueak” [nulidade;  zé-ninguém; meia-leca] Castro, que tinha de ser “esmagado”, como registram William Leogrande e Peter Kornbluh em seu livro Back Channel to Cuba, a partir de documentos recentementes liberados para conhecimento público.

Voltando à Nicarágua, é preciso não esquecer a guerra terrorista de Reagan, que prosseguiu ainda bem depois de a Corte Internacional de Justiça ter ordenado a Washington que cessasse seu “uso ilegal da força” – quer dizer: terrorismo internacional – e pagasse reparação substancial, e depois de já haver projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU conclamando todos os estados (de fato, só os EUA) a respeitar a lei internacional, que foi vetada por Washington.

Mas é preciso reconhecer que a guerra terrorista de Reagan contra a Nicarágua – à qual Bush-pai, “o Bush estadista” – não foi tão destrutiva quando o terrorismo de estado que o mesmo Reagan patrocinara entusiasticamente em El Salvador e na Guatemala.  A Nicarágua teve a vantagem de contar com um exército para enfrentar as forças terroristas comandadas pelos EUA, enquanto nos países vizinhos os terroristas que assaltavam a população eram as forças de segurança armadas e treinadas por Washington.

Em algumas semanas estaremos comemorando o Grand Finale das guerras terroristas de Washington na América Latina: o assassinato de seis importantes intelectuais latino-americanos, sacerdotes jesuítas, por uma unidade terrorista de elite do exército salvadorenho, o Batalhão Atlacatl, armado e treinado por Washington, agindo sob ordens explícitas do Alto Comando, e com longo currículo de massacres das vítimas de sempre.

Esse crime chocante, cometido dia 16/11/1989, na Universidade Jesuíta em San Salvador foi o ápice da terrível praga terrorista que se espalhou pelo continente depois que John F. Kennedy mudou a missão dos militares latino-americanos, de “defesa hemisférica” – relíquia já ultrapassada da 2ª Guerra Mundial – para “segurança interna”, o que significa: guerra contra a população doméstica, dentro de cada país.

Resultado disso aparece descrito sucintamente por Charles Maechling, que comandou o planejamento da contrainsurgência e defesa interna dos EUA, de 1961 a 1966.  Ele fala da decisão de Kennedy, em 1962, como mudança de “tolerância com os roubos e a crueldade entre os militares latino-americanos”, para “cumplicidade direta” nos crimes dos mesmos militares, a ponto de os EUA garantirem apoio “aos métodos de Heinrich Himmler dos esquadrões-da-morte.”

Tudo isso está esquecido, exceto “o tipo certo de fatos”.

Em Cuba, as operações terroristas de Washington foram lançadas a pleno furor pelo presidente Kennedy, para punir os cubanos por terem derrotado a invasão da Baía dos Porcos comandada pelos EUA.  Como escreve o historiador Piero Gleijeses, JFK “ordenou a seu irmão, o advogado-geral Robert F. Kennedy (RFK), que comandasse o grupo de alto nível inter-agências que concebeu a Operação Mongoose [fuinha], um programa de operações paramilitares, guerra econômica e sabotagem, que ele lançou no final de 1961, para impor ‘os terrores da Terra’ a Fidel Castro, ou, dito mais prosaicamente, para derrubá-lo do governo.”

A expressão “terrores da terra” é citada pelo historiador Arthur Schlesinger, sócio de RFK, na biografia semioficial que escreveu dele. RFK informou à CIA que o problema cubano passava a ser “a principal prioridade do governo dos EUA – tudo o mais é secundário –, e não se deve desviar nenhum minuto, nenhum esforço, nenhuma capacidade humana” do esforço para derrubar o governo de Castro e levar ‘os terrores da Terra’ a Cuba.”

A guerra terrorista lançada pelos irmãos Kennedy não foi coisa pequena. Envolveu 400 norte-americanos, 2 mil cubanos, uma esquadra privada de barcos rápidos e orçamento anual de $50 milhões, controlado em parte por uma base da CIA que operava em Miami, em violação do Ato de Neutralidade e, presumivelmente, violando também a lei que proíbe operações da CIA dentro dos EUA. As operações incluíram bombardeamento de hotéis e instalações industriais, afundamento de barcos pesqueiros, envenenamento de rebanhos e de plantações, contaminação de estoques de açúcar exportados, etc. Algumas dessas operações não foram especificamente autorizadas pela CIA, mas executadas pelas forças terroristas que a CIA fundara e financiava, diferença que nada significa no caso de ação contra inimigos oficiais.

As operações terroristas Mongoose foram comandadas pelo general Edward Lansdale, que tinha ampla experiência em operações terroristas comandadas pelos EUA nas Filipinas e no Vietnã. O trabalho da “Operation Mongoose” era gerar “revolta aberta e derrubar o regime comunista” em outubro de 1962, o que, para “sucesso definitivo exigirá intervenção militar decisiva dos EUA”, depois que o terrorismo e a subversão tivessem preparado o terreno.

Outubro de 1962 é, claro, momento muito significativo na história moderna. Naquele mês, Nikita Khrushchev enviou mísseis para Cuba, desencadeando a crise dos mísseis que chegou ameaçadoramente perto de uma guerra nuclear terminal. Especialistas reconhecem hoje que Khrushchev foi motivado em parte pela imensa preponderância dos EUA em termos de força, depois que Kennedy respondeu aos seus pedidos para reduzirem as armas ofensivas, aumentando ainda mais a vantagem dos EUA, e em parte por preocupação de que os EUA pudessem invadir Cuba.  Anos depois, o secretário de Defesa de Kennedy, Robert McNamara, reconheceu que Cuba e Rússia tiveram razões para temer um ataque. “Se eu estivesse no lugar dos cubanos ou soviéticos, teria pensado como eles” – disse McNamara numa conferência internacional nos 40 anos da crise dos mísseis.

O muito respeitado analista político Raymond Garthoff, que teve muitos anos de experiência direta na inteligência dos EUA, relata que, nas semanas antes de a crise de outubro eclodir, um grupo de cubanos terroristas que operavam da Flórida com autorização dos EUA executou “um ousado ataque com barcos rápidos contra um hotel cubano próximo ao mar, nos arredores de Havana, onde se sabia que se reuniam técnicos militares soviéticos, matando grande número de russos e cubanos.” E pouco depois, continua Garthoff, as forças terroristas atacaram navios cargueiros britânicos e cubanos e outra vez invadiram Cuba, dentre outras ações cuja frequência aumentava no início de outubro. Num  momento tenso da ainda não solucionada crise dos mísseis, dia 8 de novembro, uma equipe de terroristas enviada pelos EUA explodiu uma instalação industrial em Cuba, depois de as operações Mongoose já estarem oficialmente suspensas. Fidel Castro disse que 400 trabalhadores morreram nesse ataque, guiado por “fotografias feitas por aviões espiões”. Atentados para tentar assassinar Castro e outros ataques terroristas continuaram a acontecer imediatamente depois de a crise estar terminada, e escalaram novamente em anos posteriores.

Houve algumas poucas notícias de uma parte bem menor da guerra terrorista, muitos atentados para assassinar Castro, em geral deixadas rapidamente de lado como trapalhadas infantis da CIA.  Além disso, nada do que aconteceu jamais atraiu muito interesse ou comentários nos EUA.

A primeira investigação séria, em idioma inglês, sobre o impacto daquelas ações sobre os cubanos foi publicada em 2010 pelo pesquisador canadense Keith Bolender, em seu Voices From The Other Side: An Oral History Of Terrorism Against Cuba, estudo valioso, largamente ignorado.

Os três exemplos considerados na matéria do New York Times sobre o terrorismo norte-americano são só a ponta do iceberg. Mesmo assim, é útil ver esse muito claro e significativo reconhecimento de o quanto Washington é dedicada a operações do terrorismo mais mortífero e destruidor, e do pouco, praticamente nada, que essa ação terrorista dos EUA significa para a classe política, que aceita como normal e adequado que os EUA se apresentem ante o mundo como superpotência terrorista, imune a leis e normas civilizadas.

Muito estranhamente, o mundo não pensa como a classe política norte-americana. Pesquisa internacional distribuída ano passado pelo Worldwide Independent Network/Gallup International Association (WIN/GIA) descobriu que os EUA ocupam o primeiro lugar, de longe, como “maior ameaça contra a paz mundial hoje”, muito à frente do Paquistão, segundo colocado (certamente inflado pelo voto dos indianos), e nenhum outro país sequer se aproxima desses dois.

Felizmente, os norte-americanos foram poupados, e não tiveram de tomar conhecimento dessa informação insignificante.

Fonte: Telesur.

aqui:http://www.diarioliberdade.org/opiniom/outras-vozes/51996-eua-s%C3%A3o-o-maior-estado-terrorista-do-planeta.html

Geopolítica da guerra contra a Síria e contra o Daesh

Nesta análise, nova e original, Thierry Meyssan expõe as razões geopolíticas do fracasso da guerra contra a Síria e os objectivos reais da pretensa guerra contra o Daesh(E.I.-ndT). Este artigo é particularmente importante para compreender as relações internacionais actuais e a cristalização dos conflitos no Levante (Iraque, Síria e Líbano).


aqui:http://www.voltairenet.org/article185670.html

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Em 2015 os portugueses pagarão mais €2.006 milhões de impostos e as empresas menos €892 milhões

Marx chamava-lhe um "figo"

Conseguirá Washington fazer limpar etnicamente o Norte da Síria?

Em Kobané e na sua região, onde mais de 300 000 Curdos sírios estão ameaçados de extermínio pelo Emirado islâmico, todos podem avaliar a duplicidade da Otan. Enquanto o comandante em chefe da Coligação americana declara lutar contra o Emirado islâmico, um membro da Otan, a Turquia, fornece-lhe a assistência militar e médica de que necessita, impede os civis de fugir e os combatentes do PKK de vir em seu socorro.

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No teatro grego antigo, todos os espectadores conheciam de antemão o fim trágico da peça. As personagens, cegas pelos Deuses, prosseguiam por actos aquilo que pretendiam negar por palavras. Mas, o coro revelava aos espectadores os projectos do Destino.

A tragédia que se joga em Kobané (em árabe Aïn al-Arab) foi escrita para se concluir pelo genocídio anunciado de 300. 000 Curdos sírios. O Emirado Islâmico já tomou o contrôlo de vários quarteirões da cidade e de numerosas aldeias em redor. Se o Exército Árabe Sírio não conseguir franquear as linhas do Emirado islâmico para os salvar, eles serão todos massacrados.

A população curda é defendida pelo PYG (partido autonomista apoiante da República árabe síria), mas a Turquia fechou a sua fronteira de modo a que os civis não possam fugir e que os reforços do PKK turco (partido independentista ligado ao PYG) não possam chegar.

As forças curdas são comandadas por Mahmoud Barkhodan, assessorado por Narine Afrine (de seu verdadeiro nome Mayssa Abdo). A escolha de uma mulher como comandante-adjunto semeou o pânico no seio do Emirado islâmico, já que os jihadistas estão convencidos que eles não poderão entrar no paraíso se forem mortos por uma mulher.

Face à resistência curda, o Emirado islâmico transferiu o grosso da suas forças para a Síria para esmagar Kobané.

Segundo a nossa análise, muitas vezes repetida nestas colunas e em numerosas emissões de rádio e de televisão na América latina, na Rússia e no mundo muçulmano, o Emirado islâmico é uma criação dos Estados Unidos, encarregue de limpar etnicamente a região de maneira a este poder remodelá-la. Todos podem constatar que as declarações tranquilizadoras dos dirigentes norte-americanos são desmentidas pela sua acção militar no terreno, não contra mas sim em favor do Emirado islâmico.

A Coligação (Coalizão-Br) procedeu a seis vagas de bombardeamentos em Kobané. Ela nunca visou as posições do Emirado islâmico e não lhe causou nenhuma perda. Ela mantêm, pelo contrário, à distância, mais ao Sul e ao Oeste, o Exército árabe sírio que não consegue abrir uma brecha para ir salvar a população.

O Governo regional do Curdistão iraquiano (pró-Israelita) recusa ajudar os Curdos sírios, com os quais está em conflito desde há muito. Ele argumenta não ter acesso directo à Síria para justificar a sua passividade.
Membro da Otan, a Turquia recusa dar assistência às populações ameaçadas de genocídio, enquanto os Curdos sírios não renunciarem ao seu estatuto autónomo na Síria e não se juntarem ao combate da Otan contra a República árabe síria, e ao seu presidente eleito Bachar el-Assad.

Segundo os combatentes do PYG, a Turquia fornece quotidianamente armas ao Emirado islâmico e trata os seus feridos nos seus hospitais, enquanto eles próprios têm as maiores dificuldades em encaminhar os seus feridos curdos para a Turquia, afim de aí poderem ser tratados.

Na Turquia, o grupúsculo islamista curdo Hür Dava Partisi (antigamente denominado Hezbolla, de modo a criar uma confusão com a resistência libanesa) entrou em guerra contra o PKK (partido curdo maioritário no país). O Hüda-Par (abreviatura do Hür Dava Partisi) é apoiado, por trás da cortina, pelo AKP do presidente Recep Tayyip Erdoğan, tanto para lutar contra o independentismo curdo como para apoiar os Irmãos muçulmanos.

A 30 de agosto, um chefe do Emirado islâmico, Hikmet, e dois dos seus guarda- costas foram mortos pelo PKK, em Istambul, onde estavam alojados a convite do Hüda-Par e sob a protecção da polícia turca.
Num SMS enviado a todos os seus militantes, o PKK deu instruções para a eliminação física de todos os membros du Hüda-Par, acusados de trabalhar para o governo turco e de ajudar o Emirado islâmico.

Estabelecendo uma comparação com o massacre de Srebrenica (Iugoslávia, 1995), o enviado especial da ONU para a Síria, Staffan de Mistura, responsabilizou a 10 de outubro a Turquia em caso de queda de Kobané, e de genocídio da sua população. Ele exigiu, em vão, que a Turquia abra a sua fronteira.

O chefe da Coligação norte-americana, o general John Allen, também apelou, publicamente, à Turquia para abrir a sua fronteira e impedir o genocídio dos curdos de Kobané. Todavia, não parece que a recusa turca tenha alterado as relações entre Washington e Ancara, pelo contrário.

O novo ministro das Relações Exteriores da Turquia, Mevlüt Çavuşoğlu, afirmou que o seu país não iria intervir enquanto a Coligação formada pelos Estados Unidos contra o Emirado Islâmico (da qual a Turquia faz parte) não se decidir a impôr uma zona de exclusão aérea no norte da Síria, e não se fixar como objectivo o derrubar a República Árabe da Síria.

Além disso, o parlamento turco autorizou o governo a combater tanto o Emirado Islâmico como o PKK.

Ao receber Mr. Çavuşoğlu em Paris, o ministro dos Negócios Estrangeiros(Relações Exteriores-Br) francês, Laurent Fabius, apoiou a ideia da criação de uma «zona de segurança» no Norte da Síria, sem precisar exactamente o que queria dizer com isso, mas sublinhando a sua concordância com a Turquia.

A França, igualmente membro da Otan, fornece directamente armas ao Governo regional separatista do Curdistão iraquiano, sem autorização do Governo Central iraquiano. O Governo regional do Curdistão iraquiano expandiu o seu território em 40%, de maneira coordenada com o Emirado Islâmico, quando este se apoderou da zona árabe sunita iraquiana. Em anos anteriores a França apoiava politicamente o PKK turco (pró-Sírio), sendo que agora ajuda militarmente o Governo regional do Curdistão iraquiano (pró-Israelita).

Actualmente, o espaço aéreo no norte da Síria é controlado pela coligação liderada pelos Estados Unidos. O Emirado Islâmico dispõe de aviões (Mig.s roubados à Síria e F-15 roubados ao Iraque), mas tem poucos pilotos e pessoal técnico para os utilizar. A criação de uma zona de exclusão aérea pela Otan no território da Síria, além de constituir uma violação flagrante do direito internacional, não teria, pois, nenhum impacto sobre os combates em curso.

A ideia da criação de uma zona de exclusão aérea na Síria foi promovida por Israel, que aí vê um meio de desmembrar, a prazo, este país, copiando o modelo do que foi feito de 1991 a 2003 no Iraque (em proveito do actual Governo regional do Curdistão). No entanto, a única comparação válida deverá ser feita com a zona tampão imposta em 1983, durante a guerra civil libanesa. Sentida como uma recolonização aberta do Líbano, ela transformou-se num fiasco após a eliminação de 300 soldados norte-americanos e franceses.
Na Turquia, o PKK multiplica as manifestações para forçar o governo Erdoğan a reabrir a fronteira. Já foram mortas 31 pessoas pela polícia durante a repressão destas manifestações.

A única questão é a de saber quanto tempo, ainda, os Curdos sírios poderão resistir sozinhos aos jihadistas armados e financiados pelos Estados Unidos, de acordo com um voto do Congresso, reunido em sessão secreta em janeiro 2014. Por outras palavras: Em quanto tempo é que Washington e os seus aliados conseguirão fazer limpar etnicamente o norte da Síria pela sua criatura, o Emirado Islâmico?
Tradução
Alva



aqui:http://www.voltairenet.org/article185639.html

France24 tenta negar a foto de John McCain com Ibrahim al-Baghdadi

Não há pior cego que aquele que não quer ver. France24 tenta abafar o incêndio e convencer os telespectadores que as nossas informações, sobre o apoio dado por Washington ao Emirado Islâmico, são falsas. Não sómente, a sua argumentação não é convincente, como ela revela a sua má fé.

| Washington, D. C. (Estados Unidos)

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Nesta fotografia, difundida em maio de 2013, para provar o seu encontro com o Estado-maior do Exército Sírio Livre, vemos o senador McCain a conversar com um indivíduo de múltiplas identidades: procurado pelo departamento de Estado dos Estados Unidos sob o nome Abu Du’a, pelas Nações Unidas sob o nome de Ibrahim al-Baghdadi, e pertencendo ao estado- maior do ESL sob o nome de Abu Youssef.

Na sua crónica "Les Observateurs (os observadores -ndT), a France24 desmente o apoio dado pelo senador John McCain ao futuro califa Ibrahim [1]. No entanto, o seu raciocínio limita-se a dizer que este escândalo é impossível, porque é muito escandaloso.

Segundo o canal de televisão público francês, o senador McCain teve, em maio de 2013, «um encontro em Azaz, na Síria, com combatentes da facção do Exército Livre da Síria (ESL) "Tempestade do Norte", apresentada pelos especialistas como uma brigada laica pró-ocidental. Difícil, pois, imaginar Baghdadi nas fileiras desta brigada sabendo que os principais inimigos dos combatentes sírios eram, na época, os jihadistas do Estado Islâmico no Iraque e no Levante, tornada agora a organização do Estado islâmico.»
Problema: contrariamente às alegações da cadeia Tv, em maio de 2013, o ESL (Exército Sírio Livre -ndT) tinha excelentes relações com o Estado islâmico no Iraque e no Levante. Os dois grupos só entraram em conflito armado, em janeiro de 2014.

De maneira a apresentar a sua visão das coisas como uma evidência partilhada por quase todos, o canal trata o nosso trabalho como uma simples afirmação «na Internet». Pouco importa, pois, o número de sítios que o têm retomado no decurso dos últimos três meses, pouco importa o número de jornais em papel que o retomaram, pouco importa o número de canais de televisão que o retomaram. A maioria destes média (mídia-Br) são publicados em países que não chamam a nossa atenção, da Venezuela à Rússia.

De passagem, Thierry Meyssan é falsamente descrito como tendo dito que « o 11 de setembro foi orquestrado pelos Estados Unidos» (sic), quando, precisamente, se tratou para ele de um golpe orquestrado por uma facção do complexo militar- industrial e não de uma decisão da administração Bush, e muito menos de um atentado islamita [2].

Para adormecer o espírito crítico dos seus telespectadores, o canal enquadra o seu tratamento desta informação por outros assuntos que destilam, eles próprios, pura propaganda, para os atribuir assim, a todos, aos «teóricos da conspiração».

O canal termina a sua reportagem atribuindo, nisto, toda a desinformação ao Irão (Irã- Br). Novamente má malha: a afirmação segundo a qual Edward Snowden teria difundido revelações comprometedoras sobre o califa não Ibrahim não vêm do Irão, mas, pelo contrário, do jornal quotidiano do Barein [3]. Nós, fomos os primeiros a denunciar esta fraude, precisamente no final do artigo consagrado à fotografia de John McCain.

Nós escrevemos:
 
«Numerosa intox (desinformação-ndT) circula a propósito do Emirado islâmico e do seu califa. O quotidiano Gulf Daily News pretendeu que Edward Snowden teria feito revelações a este propósito. Ora, verificação feita, o antigo espião norte-americano não publicou nada sobre este assunto. O Gulf Daily News é publicado no Barein, um estado ocupado por tropas sauditas. O artigo visou apenas limpar a Arábia Saudita e o príncipe Abdul Rahman al-Faisal das suas responsabilidades». [4].
Desde o início da crise síria, a France24 escolheu fabricar falsas informações para induzir os seus telespectadores em erro, e participar no esforço de guerra. Assim, a 7 de junho de 2011, o canal transmitia a voz de uma pessoa pretendendo ser a embaixatriz da Síria em Paris, Lamia Chakkour, anunciando a sua demissão e acusando a República árabe Síria de crimes contra a humanidade [5]. Tratava-se, na realidade da voz de uma jornalista da cadeia, falando a partir de um outro estúdio. Quando a verdadeira embaixatriz pediu uma rectificação, responderam-lhe que tinham acabado, exactamente, de lhe dar a palavra. Durante todo o dia, os canais aliados (BBC, Sky, CNN, Al-Jazeera e Al-Arabiya) transmitiram a notícia da sua «demissão». O Quai d’Orsay telefonou aos embaixadores sírios no mundo para os pressionar «igualmente» à demissão, sem sucesso. Por fim, a Sra. Chakkour conseguiu falar em canais francófonos não-franceses, depois na BFM TV. A France24 difundiu, então, apenas um desmentido do seu enredo.

No caso Chakkour, não se tratava de um erro de interpretação, como pode acontecer a qualquer um, mas de falsa informação fabricada pelos jornalistas da France24 em ligação com o Quai d’Orsay e cadeias de TV aliadas, no quadro da guerra de quarta geração.

É de notar que o canal não trata outras informações que publicamos sobre o Emirado Islâmico:



- como a entrega pela França e pela Turquia de armas à Frente Al-Nosra (Al-Qaida) em janeiro 2014 [6];
- a realização de uma sessão secreta do Congresso dos Estados Unidos para financiar e armar o Emirado Islâmico [7];
- a reivindicação pelo canal público saudita al-Akbhariya do comando do Emirado Islâmico pelo príncipe Abdul Rahman al-Faisal [8];
- as revelações pelo chefe da inteligência militar israelita(israelense-Br), o general Aviv Kochavi, da presença de três bases de treino da Al-Qaida na Turquia [9];
- as revelações pelo PKK de duas reuniões preparatórias para a invasão do Iraque, nas quais participaram o Emirado Islâmico e o Governo regional do Curdistão iraquiano, a convite de Washington [10].

E, ainda uma vez mais, não se trata senão de informações recentes escondidas aos telespectadores da France24. Isto só podendo ser compreendido, se colocado em perspectiva com os escritos dos estrategas norte-americanos desde 2001, e com um entendimento do funcionamento dos Serviços Secretos norte-americanos (e inclusive da NED, na qual John McCain dirige o ramo «republicano»), que parecem faltar aos jornalistas do canal.

Este debate não é fútil: o Emirado Islâmico prossegue o plano norte-americano de limpeza étnica previsto desde 2001, no quadro da «remodelagem do Médio-Oriente alargado» [11]. Quaisquer que sejam as conclusões de uns e outros, é preciso responder às questões de base :
- Porque é que, em violação de uma resolução das Nações Unidas, a União Europeia compra, ainda, o petróleo roubado pelo Emirado Islâmico e pelo Governo regional do Curdistão do iraquiano, (financiando assim o Emirado Islâmico que ela é suposta combater ) ?
- Porquê é que a Turquia, (membro da Coligação), fechou a sua fronteira com a Síria, ajudando assim o Emirado Islâmico, (que é suposta combater), no massacre dos Curdos sírios do PYG?
- Porque é que a coligação formada pelos Estados Unidos contra o Emirado Islâmico, não conseguiu até ao presente NENHUM dos resultados anunciados?

Tradução
Alva

aqui:http://www.voltairenet.org/article185638.html
[1] «Un soldat américain chez l’EI ? Non, une manipulation des théoriciens du complot», Ségolène Malterre, Les Observadores France24, 8 de outubro de 2014. Arquivo do artigo de France24 no site da Rede Voltaire.
[2] « Treze anos após o 11 de Setembro, a cegueira persiste », por Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 11 de setembro de 2014.
[3] «Baghdadi ’Mossad trained» (Ing- « Baghdadi treinado pela Mossad »-ndT), Gulf Daily News, 15 jul 2014.
[4] “John McCain, chefe de orquestra da «primavera árabe», e o Califa”, Thierry Meyssan, Tradução Alva, Rede Voltaire, 18 de Agosto de 2014.
[5] «Le mystère de la «démission» d’une diplomate syrienne» (Fr-« O mistério da "renúncia" de um diplomata sírio »-ndT), por Tristan Vey, Le Figaro, 8 juin 2011.
[6] Ver o documento entregue ao Conselho de Segurança pelo embaixador da Síria na reunião de 14 de julho de 2014.
[7] Ver o despacho da agência britânica Reuters,”Congress secretly approves U.S. weapons flow to ’moderate’ Syrian rebels" (Ing-« Congresso aprova secretamente fluxo de armas americanas para os rebeldes sírios "moderados" »-ndT), por Mark Hosenball, 27 janeiro de 2014.
[8] Ver o extracto de vídeo de Al-Akhbariya.
[9] Ler este outro despacho da Reuters: “Israeli general says al Qaeda’s Syria fighters set up in Turkey” (Ing-«general israelita diz que combatentes da Al Qaída na Síria foram treinados na Turquia »-ndT), por Dan Williams, 29 de janeiro de 2014.
[10] "Yer: Amman, Tarih: 1 Konu: Musul" Akif Serhat, Özgür Gündem, 06 de julho de 2014.
[11] “Stability, America’s Ennemy” (Ing-« « Estabilidade, inimigo dos Estados Unidos»-ndT), Coronel Ralph Peters, Parameters, Winter(Inverno) 2001-02, pp. 5-20, Strategic Studies Institute, US Army(Instituto de Estudos Estratégicos), do Exército dos EUA.


quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Cretinismo parlamentar e democracia oligárquica


por Daniel Vaz de Carvalho

 
"O cretinismo parlamentar consistia numa espécie de delírio que acometia as suas vítimas, as quais acreditavam que todo o mundo, o seu passado e o seu futuro se governavam por uma maioria de votos ditada por aquela assembleia (…) e tudo o que se passava fora daquelas quatro paredes muito pouco ou nada significavam ao lado dos debates importantes".
Marx, Revolução e Contrarrevolução na Alemanha

Et leur bulletin dans les urnes
Et le mépris dans un placard!
Ils ont voté et puis, après?
(…) Le jour de gloire est arrivé!

Canção de Léo Ferré 
 

Cartoon de Yannis Iannou.  















1 – O CRETINISMO PARLAMENTAR

Marx considerava o cretinismo parlamentar "a forma não de dar expressão á vontade do povo, mas de bloquear essa vontade". Pretende-se reduzir a luta de classes a uma retórica de que o povo é alheado, acabando por ficar desiludido, desenganado, face às ações dos que deveriam ser os seus representantes.

Mas será que segundo o marxismo a legalidade, a democracia, enfraquece a revolução e os revolucionários? Engels, considera que pelo contrário "nós os revolucionários, os "elementos subversivos", prosperamos muito mais com os meios legais que com os ilegais. Os partidos da ordem, como eles se designam, afundam-se com a legalidade criada por eles próprios". [1]

É neste sentido que Marx afirma: "Os partidos da ordem burguesa só podem conter o avanço dos partidos revolucionários mediante a violação das leis e a sua subversão." [2] O que se aplica totalmente ao governo de direita/extrema-direita do PSD-CDS que desgoverna o país pela subversão das leis e em continuada afronta à Constituição.

A transição para o socialismo far-se-á portanto no aprofundamento da democracia e não na sua supressão, o que passa pela superação do "cretinismo parlamentar". Para Marx o que distingue os indivíduos é a sua "qualidade social", não a cor da pele, religião, etc. Não há seres humanos em abstrato, há modos de existência, resultantes, no fundamental, do modo e condições de produção prevalecentes. Neste sentido, a atividade social de cada pessoa, de cada cidadão, torna-se política seja pela participação seja pela indiferença. A abstenção política é, pois, um ato negativo em termos marxistas.

O cretinismo parlamentar tornou-se a forma de garantir a rotatividade de partidos enfeudados aos interesses oligárquicos: a troika interna, que a propaganda difunde como "o arco do poder". Uma falácia, pois o poder nestas condições reside efetivamente nas oligarquias e na burocracia europeia ao seu serviço.

A república parlamentar (…) era a condição indispensável para o domínio comum (das diversas fações da burguesia) a única forma de governo na qual o interesse geral da classe podia submeter não só as reivindicações das diferentes fações como as das demais classes da sociedade" [3]

Neste sentido, procura-se manter a opinião pública num nível de ignorância e preconceitos políticos que impeçam uma análise objetiva e minimamente aprofundada da realidade. Procura-se que as pessoas estejam política e socialmente desinformadas e confusas, para poderem ser facilmente convencidas da ideia que não há alternativas senão entregar o poder ao grande capital e à burocracia europeia.

A oligarquia, a direita procuram que o proletariado não tenha consciência da dialética do processo social, de modo a deixar-se iludir por falsas promessas e discursos fascizantes contra "os políticos" e contra os partidos "todos iguais e sem alternativas". Como se sabe, a propaganda (e a repressão) fascista tinha como objetivo as pessoas não se "meterem na política".

O PS é um partido democrático, porém rendido ao "cretinismo parlamentar", consequência de na sua ação prática não possuir referências ideológicas. Nas críticas ao governo do PSD-CDS, a veemência das palavras cresceu à medida que se tornavam inúteis. Baixava de tom ou calava-se sempre que seria necessário juntar-se às forças populares em ações concretas. Tal foi e é evidente, apesar da mudança de liderança, por exemplo, no caso da exigência de demissão deste governo.

Com medo de surgir como fator de instabilidade dos interesses oligárquicos não hesita em demarcar-se ou mesmo hostilizar as forças à sua esquerda na contestação aos ditames do imperialismo e das burocracias da UE. O chamado "arco do poder" não passa então duma disfarçada coligação pró-oligárquica, a troika interna, que adota conceitos e fundamentos políticos idênticos, limitando-se a procurar "pessoas mais competentes", pondo de parte a alteração das relações de produção, condição essencial para a da saída da crise e o progresso económico e social.

2 – A DEMOCRACIA OLIGÁRQUICA

"Nos países ocidentais a democracia está atacada por uma casta, na realidade entramos num regime oligárquico. Nesta forma de fazer política o poder está reservado a um pequeno grupo de pessoas que formam uma classe dominante." [5] J. Saramago fez notar que "a democracia parece ser tão intrinsecamente boa que nela se pode fazer de forma não democrática, tudo o que não é democrático. (…) A democracia é apenas uma fachada que mantém as aparências." [6]

O crescente poder do dinheiro no sistema político é evidenciado por Stiglitz: "o sistema é mais semelhante a "um dólar um voto" que "uma pessoa um voto". [4] Escreveu Aldous Huxley: "Oligarcas plutocráticos aspiram a governar sob a capa das instituições democráticas impessoalmente e sem responsabilidades. Explorar a democracia viram eles é mais fácil e rendoso que opor-se a ela. Deixem que muitos votem, mas conforme lhes disserem os poucos opulentos que são donos dos jornais" [7]

A oligarquia e seus burocratas ditam a nível europeu até ao pormenor as políticas a serem seguidas, arrogam-se o direito de inspecionar os OE, podem mover processos a instituições soberanas dos Estados. Decidem sobre o económico e o social. As reivindicações dos trabalhadores, as políticas sociais e progressistas são consideradas "devaneios utópicos com os quais há que acabar" [8]

A Igualdade política foi subvertida pela privatização da sociedade e pelos mecanismos da alienação, garantido a desigualdade social. A mentira tornou-se um ato de gestão corrente do governo. É o que nos contava Diderot: "Um ministro do rei de França, que tem engenho por cinco provou-nos que não há nada mais útil aos povos que a mentira, nem nada tão nocivo como a verdade." [9]

A propaganda fala em "responsabilidade social" da empresa privada, porém trata-se de uma mistificação, pois confronta-se com a dura realidade de que as empresas privadas estão submetidas à lei da maximização do lucro e segundo declaram os seus próceres "não são instituições de beneficência". Então quem? A falácia adotada foi a da "flexisegurança", neologismo rapidamente atirado para a valeta das imposturas e transformado em "flexibilidade" para os trabalhadores e segurança para o grande capital, à custa do resto da sociedade.

Apesar do estrondoso falhanço destas políticas, os interesses rentistas dos monopólios e da finança, são apresentados como eficientes e "criação de riqueza", justificação para as políticas do BCE que colocam os destinos dos povos nas mãos de usurários e especuladores.

A "ciência económica" adotada não passa de uma metafísica, ou pior, uma superstição, com seus anátemas, destinada a subordinar os povos e o funcionamento das economias nacionais aos interesses de uma minoria transacionais e seus bilionários. Sob o lema da "modernidade" foi imposto um drástico retrocesso das condições sociais, caminhando-se para níveis do século XIX sob a tutela da UE. O oportunismo da social-democracia começou por defender: o "movimento é tudo", agora "o retrocesso é tudo". A direita promove-o com o sofisma de ser contra o "imobilismo"!

Raul Proença escrevia em 1928 na Seara Nova, acerca dos sofismas liberais, que a liberdade económica não é mais que a capacidade "que alguns indivíduos têm de se oporem em nome dos interesses criados à liberdade de todos os outros". É justamente o que caracteriza a democracia oligárquica.

A democracia oligárquica procura unir a oligarquia e dividir o povo. A ideologia dominante veiculada nas Universidades e mesmo no ensino secundário tem o objetivo de produzir jovens desprovidos de espírito universal, aptos a estabelecerem o antagonismo entre classes e camadas sociais, o ódio ao coletivo, ao social. Procuram-se "homens práticos", ao serviço da oligarquia.

A ministra das Finanças exibiu na AR mais uma vez o seu rancor ao que é público, a tendência para escamotear a verdade e proteger a especulação financeira, ao declarar que o comprometimento de dinheiro do Estado no escandaloso caso BES, eram "os custos de ter um banco público". Zeinal Bava, que levou a PT à ruina foi sucessivamente considerado gestor de excelência a nível europeu, foi condecorado pelo PR (tinha de ser!), abandonou o cargo com 5,4 milhões de euros, a empresa perdeu num ano metade do valor em bolsa e continua em queda…

Os oligarcas são promovidos a heróis da "eficiência" e do "sucesso" de que os casos BES, BPN, BPP, BANIF, PT, etc, são paradigmáticos. Mas a oligarquia só consegue apresentar gente sem dimensão, os seus políticos e comentadores refletem a pequenez da sua visão e a incipiência das suas teses, mas são promovidos ao estrelato da erudição e da clarividência.

Gente que manipulava contas como qualquer vigarista de vão de escada, era escutada em S. Bento e Belém, determinava como o país devia funcionar. O povo é depois chamado a pagar os seus desmandos e a sacrificar-se para suportar o seu estatuto de grandes senhores. Governadores do B de P e outros responsáveis nada vêm. Incompetência? Desonestidade? Não, estão ao serviço dos interesses financeiros ligados por critérios de economia política totalmente falsos e contraproducentes, da qual, lamentamos, o PS não se demarca.

Uma maioria de direita servil a esses interesses estabeleceu um governo que mente, humilha a dignidade das pessoas na sua condição de trabalhadores e destrói ou permite a destruição do que melhor o país tem ou teve, enquanto as propostas das forças consequentemente de esquerda são rejeitadas e escamoteadas do grande público.

O objetivo é reduzir a força de trabalho às antigas condições da ditadura. As tão faladas "reformas estruturais", nunca se dizendo concretamente em que consistem, são apenas isto: o retorno ao passado na saúde, na educação, na precariedade das relações laborais. Os salários diminuem, mas a parte que cabe ao grande capital é cada vez maior.

As desigualdades sociais são fatores de crise económica e social, assim o revela não só a teoria económica como a própria História dos povos. Para o neoliberalismo, como para o malthusianismo, as desigualdades representam, pelo contrário, fator de criação de riqueza. As falências financeiras da banca têm sido um processo de o património dos pequenos acionistas e contribuintes ir parar às mãos da oligarquia. No caso BES, enquanto o governo, o PR e o B de P enganavam a opinião pública garantindo que tudo estava bem, os grandes acionistas (como a Goldman Sachs…) vendiam ações, dias depois consideradas lixo!

A democracia oligárquica é a forma de garantir os interesses da finança e dos monopólios, quando para o progresso dos povos é necessário combater esses interesses, como sempre se verificou no passado. Dizia Marx: "a emancipação do proletariado é a abolição do crédito burguês. O crédito público e o crédito privado são o termómetro pelo qual se pode medir a intensidade de uma revolução. Na mesma medida em que aquele baixe sobem o calor e a força criadora da revolução". [10]

A libertação do domínio da oligarquia em que o poder do dinheiro vale mais que o poder do voto, passa, pois, por reconquistar a soberania monetária, lançar impostos sobre as transações financeiras e o grande capital. O país não suporta mais a atual "democracia oligárquica", escudada na ditadura da UE, controlada pelo imperialismo alemão com o seu euro.
15/Outubro/2014
 

Notas
[1] Introdução de Engels à "Luta de Classes em França", para a edição de 1895, Obras Escojidas de Marx e Engels, Ed. Progresso, Moscovo, 1973, p. 206.
[2} idem, p. 207
[3] O 18 do Brumário de Luís Bonaparte, obra citada, p. 469
[4] Joseph Stiglitz, The price of inequality, Ed. W. W. Norton, p.14
[5] www.legrandsoir.info/...
[6] J. Saramago, em diálogo com I. Ramonet, Le Monde Diplomatique , julho 2010
[7] Aldous Huxley, Sobre a Democracia, Livros do Brasil, p. 131.
[8] Marx, O 18 do Brumário de Luís Bomaparte, obra citada, p. 414
[9] Diderot: O Sobrinho de Rameau
[10] A Luta de Classes em França, obra citada, p. 221

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