quarta-feira, 19 de outubro de 2016

O preço da descida

por Thierry Meyssan

 Washington tenta manter as suas posições sem ter que desencadear a Terceira Guerra Mundial. Mas a aposta parece impossível de manter. Moscovo oferece-lhe uma porta de saída na Síria e no Iémene. Mas, caso os Estados Unidos escolhessem essa via teriam que abandonar alguns dos seus aliados.

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Uma águia calva, símbolo dos Estados Unidos.
Desde a ruptura de acordo da cessação das hostilidades da festa do Eid, cava-se um fosso entre a atmosfera despreocupada das sociedades ocidentais e o conservadorismo das sociedades russa e chinesa.

Em Moscovo, a televisão difunde reportagens sobre os abrigos anti-atómicos e de jogos com equipas de «corridas de obstáculos». Enquanto em Washington se zomba da paranóia dos russos que acreditam na possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial.

Ora, os dois Grandes trocam mensagens de pôr os cabelos em pé. Após as ameaças norte-americanas de ataques à Síria, Moscovo rompeu o acordo sobre a limitação dos stockes (estoques-br) de plutônio e afinou o seu sistema de lançamento de bombas nucleares disparando três mísseis inter-continentais.

O porta-voz do exército russo avisou os seus homólogos, e anunciou que o seu armamento estava à altura de destruir qualquer aeronave dos EU, quer se trate de mísseis de cruzeiro ou aviões mesmo que furtivos. O Chefe do Estado Maior do Exército dos Estados Unidos orgulhosamente replicou que, em caso de guerra frontal, as forças aéreas e marinhas dos dois exércitos seriam rapidamente neutralizadas, e que Washington ganharia em terra. O seu discurso militarista impressionou pouco os Russos, mas inquietou os membros do Congresso, a tal ponto que 22 dentre eles escreveram ao Presidente Obama para lhe pedir que se comprometesse a não ser o primeiro a desencadear a guerra nuclear. Moscovo deu instruções aos seus diplomatas colocados em países da OTAN para repatriar as suas famílias e estarem prontos a voltar a casa também.

No passado os Romanos garantiam que «Se queres a paz, prepara a guerra!» (Si vis pacem para bellum). A ideia é que aquando de um desacordo internacional, a vitória será obtida sem guerra por aquele que parecer capaz de prevalecer pelas armas.

Ora, o facto é que a população russa está-se preparando para a guerra (por exemplo, esta semana 40 milhões de Russos participam em exercícios de evacuação de edifícios e de luta contra incêndios), enquanto os Ocidentais se divertem nos centros comerciais.

Pode-se evidentemente esperar que a razão prevaleça e que se evitará a Guerra Mundial. Seja como fôr, estas fanfarronices atestam que o que está em jogo aqui na Síria, desde há cinco anos, não é aquilo que nós pensamos. Se no início, se tratava para o Departamento de Estado de executar o seu plano da «Primavera Árabe», quer dizer o derrube dos regimes laicos da região e a sua substituição pelos Irmãos Muçulmanos, a Rússia e a China concluiram rapidamente que o mundo não podia continuar a ser governado pelos Estados Unidos; que estes últimos não podiam mais decidir a vida e a morte dos Povos.

Ao cortar a Rota da Seda histórica na Síria, depois a nova rota da seda na Ucrânia, Washington parou o desenvolvimento da China e da Rússia. Ela empurrou-os para os braços um do outro. A resistência imprevista do Povo sírio forçou os Estados Unidos a arriscar o seu domínio mundial. O mundo, que se tornara unipolar em 1991 com a «Tempestade do Deserto», está prestes a bascular e a tornar-se bipolar, e talvez em seguida multipolar.

Em 1990-91, a mudança na ordem mundial dera-se sem guerra (a invasão do Iraque não foi a causa disso, mas a conseqüência), às custas do colapso interno da União Soviética. O nível da vida dos ex-Soviéticos caiu de maneira drástica; as suas sociedades foram profundamente desorganizados; as suas riquezas nacionais pilhadas a pretexto de ser privatizadas; e a sua esperança de vida recuou mais de 20 anos. Depois de ter acreditado que esta derrota era a do sovietismo, sabemos agora que a queda da URSS foi também —talvez sobretudo— o fruto da sabotagem da economia pela CIA.

Não é, pois, impossível alcançar um reequilíbrio mundial sem confrontação generalizada. E, para evitar a Guerra Mundial, a discussão entre John Kerry e Sergey Lavrov deslocou-se da batalha de Alepo para um cessar-fogo geral, ao mesmo tempo, para toda a Síria e para o Iémene. Assim, acaba de ser anunciada uma trégua de 8 horas em Alepo e de 72 horas no Iémene.

O problema é que os Estados Unidos não podem rebaixar, de um primeiro lugar incontestável —do qual eles se tinham apoderado e que tão mal utilizaram— para uma igualdade com a Rússia sem pagar o devido preço, eles ou os seus aliados.

Estranhamente os cinco Estados árabes, a Turquia e o Irão, que foram convidados no sábado para Lausana, por Kerry e Lavrov, sairam satisfeitos da reunião. Ora, era do seu futuro que se tratava.
Nenhum dentre eles parece pensar que irão rolar cabeças, tal como cairam as dos dirigentes do Pacto de Varsóvia. Na situação actual é possível absterem-se de aniquilar uma parte da Humanidade, mas, a importância do declínio norte-americano será medido pelo número e pela importância dos aliados que eles irão sacrificar.
Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)

aqui:http://www.voltairenet.org/article193792.html

terça-feira, 18 de outubro de 2016

Quem vive e se bate em Alepo-Leste?


Enquanto os Estados ocidentais e o Secretário-geral da ONU falam de 250 à 300. 000 habitantes em Alepo-Leste, as autoridades sírias referem a 25 à 30. 000 pessoas. Quem fala a verdade?

Enquanto os Estados ocidentais e o Secretário-geral da ONU garantem que os combatentes no local são de nacionalidade síria, e são moderados, que se batem pela Democracia, as câmaras da Tv Russia Today mostraram a presença de bandeiras da Al-Qaida e do Daesh (E.I.) na zona.

Acima de tudo, ninguém contesta que o actual chefe dos combatentes de Alepo-Leste não é sírio, e que é o xeque Abdullah al-Muhaysini (foto), juiz supremo do Tribunal da Charia do Exército da conquista (Jaish al Fatah). Este último é composto por uma coligação incluindo, oficialmente, os membros da al-Qaida. É composto por jiadistas estrangeiros, principalmente sauditas, koweitianos, tunisinos, russos, chineses e alguns sírios.

Nos seus discursos, o xeque Saudita Abdullah al-Muhaysini aponta o inimigo: segundo ele são todos os xiitas, sejam eles duodécimanos ou não (ou seja, não só os xiitas Iranianos e o Hezbolla libanês, mas também os Alauítas e os Drusos). Em inúmeras ocasiões, ele apelou para o massacre de todos, mulheres e crianças incluídas.

A 18 de Setembro de 2016, em plena «cessação das hostilidades» e quando 200 civis acabavam de se evadir de Alepo-Leste com a ajuda das forças russas, o tribunal da Charia do “Exército da conquista”(Jaish al Fatah) anunciou que qualquer habitante de Alepo-Leste —sem distinção de idade ou sexo— que tentasse alcançar o território nas mãos das tropas governamentais seria abatido. Uma quarentena de pessoas foram efectivamente assassinadas por snaipers(atiradores especiais) quando tentava fugir.

É o que o Presidente francês, François Hollande, chama um «líder sírio moderado».

Tradução
Alva

aqui:http://www.voltairenet.org/article193720.html

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

Confirmações na Síria

por Thierry Meyssan

 Após cinco anos de guerra na Síria, as máscaras caíram. A difusão do texto do acordo russo-americano revela as intenções escondidas dos dois Grandes : cortar a «Rota da Seda» para Washington, liquidar os jiadistas para Moscovo. Por outro lado, o falhanço deste acordo e os debates no Conselho de Segurança atestam o surrealismo da retórica do Presidente Obama : em cinco anos, ele não conseguiu formar o menor grupo de oposição «moderada» e não se encontrava, pois, em condições de os apresentar, contrariamente ao estipulado no texto do acordo. Os Estados Unidos não estão à altura de honrar a sua assinatura.

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O falhanço do acordo russo-americano de 9 de Setembro e os debates no Conselho de Segurança que se seguiram permitem confirmar várias hipóteses.

O actual objectivo estratégico dos Estados Unidos na Síria é sobretudo o de cortar a «Rota da Seda». Ao ter preparado durante vários anos e depois ao colocar no poder o Presidente Xi Jinping, em Maio de 2013, a China fez da restauração deste eixo histórico de comunicação o seu principal objectivo.
 Entretanto, ao ter-se a China tornado no principal produtor industrial no mundo Xi previu dobrá-la por uma «Nova Rota da Seda», passando pela Sibéria e pela Europa Oriental antes de chegar à União Europeia.

Logicamente, os Estado Unidos montaram actualmente duas guerras por “proxies” (fantoches-ndT), no Levante por um lado, e na Ucrânia por outro. A instalação do caos na Síria e no Donbass não visa satisfazer as teorias cínicas de Leo Strauss, mas, sim, exclusivamente cortar os dois trajectos da Rota. Não surpreende, pois, que o Presidente ucraniano Petro Porochenko tenha vindo participar no Conselho de Segurança para apoiar a delegação norte-americana acusando a Rússia de ter bombardeado um comboio humanitário sírio.

Por outro lado, o acordo russo-americano previa que os Estados Unidos separariam os combatentes «moderados» dos «extremistas»; depois, que estes «moderados» participariam com os dois Grandes e o Exército Árabe Sírio na neutralização dos «extremistas»; por fim, que um governo de unidade nacional seria formado em Damasco, sob a Presidência de Bashar el-Assad, integrando representantes dos «moderados» que tivessem participado na batalha final contra os «extremistas».

Ora, nada foi feito neste sentido. O compromisso do Secretário de Estado, John Kerry, mostrou não ser mais que um voto piedoso. Washington não encontrou combatentes para desempenhar o papel de «moderados». Na realidade, todos os «moderados» são «extremistas». Foi portanto necessário saltar sobre a ocasião –- ou, aliás, encenar –- do comboio humanitário queimado para escapar às suas próprias contradições. A retórica do Presidente Obama, segundo a qual apoia Sírios que se batem pela Democracia face a um regime que os reprime, não corresponde à realidade. Em 2013, o Presidente Vladimir Putin tinha razão em ridicularizar os Ocidentais que consideravam como «moderados» os canibais do Exército Sírio Livre (que num vídeo comiam o fígado de inimigos- ndT).

Finalmente, este acordo mostra que o objectivo da Rússia é o de esmagar os jiadistas, que se preparam aqui para ir depois atacá-la no Cáucaso. A solução negociada era ideal para Moscovo: ela punha fim aos sofrimentos do seu aliado sírio, abria uma via de comunicações para o seu aliado chinês, e assegurava-lhe o liquidar do jiadismo internacional. A contrario, Moscovo acaba de verificar que, desde a guerra do Afeganistão, o jiadismo é uma arma norte-americana virada contra si e que Washington não a vai abandonar. É claro, os novos jiadistas não estão cientes disso, mas aqueles que se batem com a ajuda dos Estados Unidos, nos últimos 38 anos, não podem ignorar que não passam de auxiliares do Pentágono.

Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)

aqui:http://www.voltairenet.org/article193559.html

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