quarta-feira, 20 de setembro de 2017

A Google é a NSA

– Não se deixe espiolhar:   Duckduckgo , o motor de pesquisa que não rastreia


por Phil Butler [*]
 
O Google quer ser os olhos do Big Brothers fitos sobre si. Todos os gurus da Internet sabem isto mesmo antes de a NSA ser descoberta a espionar tudo. Mas agora os rapazes da Moutain View [sede da Google] estão mais determinados do que nunca a filtrar a sua informação e a eliminar qualquer resquício de confiabilidade.

Se eu tivesse iniciado um artigo com o parágrafo acima há cinco anos atrás, instantaneamente teria sido etiquetado como um "teórico da conspiração" ou pior ainda. O que pensa disso, caro leitor? Será a ideia de tecnocratas e dos seus manipuladores enormemente endinheirados enlouquece-lo? Penso que sim. Mas se precisa de prova para além do óbvio, o manual de 160 páginas do Google conta-nos exactamente como eles planeiam alimentar-nos só com as "suas" notícias. O extenso manual é uma leitura pesada para a pessoa média, mas o livro fornece pormenores de uma maquinação orwelliana diferente de qualquer coisa já vista desde o aparelho de propaganda nazi. Preste muita atenção à "instrutiva" página 108 onde a Google dita quem cumpre e não cumpre seus critérios de classificação. A secção Falha de Cumprimento (Fails to Meet, FailsM) é um cilindro compressor da imprensa livre e sugere a ocultação de certas espécies de sítios web:

"Páginas que contradigam directamente factos históricos bem estabelecidos (ex.: infundadas teorias da conspiração), a menos que a consulta indique claramente que o utilizador está à procura de um ponto de vista alternativo".

Como de costume, a Google obscurece suas intenções reais com a ideia de que algum algoritmo super inteligente está a "filtrar" ou "aprender" resultados para ajudá-lo a ter uma vida melhor. Mais uma vez, a Google supõe fazer "o que é bom para nós" através da destruição de algumas fontes e a promoção de outras. Utilizando termos como "graduando linhas orientadoras para pesquisa de qualidade" e "graduando linhas orientadores para páginas de qualidade" os pequenos Maquiaveis da Google providenciam justificação para controlar o que você vê e lê na web. Censura e monopolização da informação e dos negócios na internet – esta é acusação contra os rapazes da Mountain View.

Há também a secção que se refere ao modo como a Google classifica o melhor dentre os melhores sítios de notícias intitulado "Um alto nível de perícia/ autoridade/ fidedignidade" ("A High Level of Expertise/ Authoritativeness/ Trustworthiness", EAT). O acrónimo EAT ("comer") deveria servir de pista acerca do facto de os utilizadores da pesquisa Google estarem prestes a serem comidos por alguma verdade trapalhona. Para os oligarcas da Google, "Páginas de alta qualidade" significam ou que o dono da página paga à Google ou que o sítio em causa serve muito bem aos mestres da Google – ponto. No topo da matriz de fontes estão jornais (High News 1) como The Washington Post e New York Times, seguidos por artigos no interior desses sítios (High News 2). A seguir na lista das páginas de autoridade estão sítios governamentais como o Departamento de Estado dos EUA e a Casa Branca e depois páginas categorizadas (acredite ou não) como "Grande Humor" ("High Humor"). Dessa forma, a Google excluiu a importância da verdade ou mesmo a importância da própria notícia em favor de "quem" a escreveu e da "realidade" que a Google quer que você aceite – a rede do Big Brother.

Melissa Dykes, da Truth Stream Media fez um vídeo acerca do novo esforço do Big Brother e o sítio web Escravos do governo também fez a sua parte. Estes últimos sugerem mesmo alternativas à utilização da Google Search àqueles que recusam as tendências totalitárias a que agora assistimos. Para pessoas que preferem boicotar o mal iminente tais como [os motores de pesquisa] Yandex e DuckDuckGo . Os escravos do governo também listam 400 sítios para noticiário independente fora da MATRIX da Google. Meu conselho para toda a gente é começar já a fazer a transição para longe da Google e do Facebook. A minha própria vasta experiência em tratar com pessoas voltadas para a técnica revelou serem gente sem qualquer moral, desejosas de fazer seja o que for para perpetuarem a sua dominação no digital. A Google destruiu milhões de profissões, rompeu o seu próprio código, seus juristas contornaram regras anti-trust e de práticas justas, evitaram impostos e colaboraram com as agências de inteligência contra o povo dos Estados Unidos. Todas estas afirmações não são apenas divagações do autor deste artigo. Remontando a 2014, John W. Whitehead escreveu acerca da NSA e do Google no Huffington Post :

"Simplesmente olhe em torno. Isto já está a acontecer. Graças a uma parceria insidiosa entre a Google e a National Security Agency (NSA) que se torna cada vez mais invasiva e mais subtil a cada dia que passa, "nós o povo" tornámo-nos pouco mais do que consumidores de dados mercantilizados a serem comprados, vendidos e pagos repetidamente".

Em 29 de Agosto o famoso criador do Zero Hedge, Tyler Durden, escreveu uma peça intitulada "Porque a Google fez a NSA", a qual revelava um projecto chamado INSURGE INTELLIGENCE , um projecto de jornalismo de investigação financiado colectivamente que havia divulgado um artigo sobre como a comunidade de inteligência dos Estados Unidos financiou, alimentou e cultivou a Google como parte de uma iniciativa para dominar o mundo através do controle da informação. Leu isto correctamente. Minhas afirmações anteriores de que Sergey Brin e Larry Page foram "ascendidos" por dinheiro desconhecido provavelmente estavam correctas. Apesar de eu ter presumido que George Soros ou Rockfeller estivessem por trás, é concebível que o Tio Sam fosse o fantasma na retaguarda. A notícia do Zero Hedge investiga um "estado profundo" nunca imaginado nos nossos piores pesadelos. A reportagem revela como o grupo do Pentagon Highlands Forum's está a capturar gigantes tecnológicos como a Google a fim de prosseguir a vigilância em massa. Além disso, a reportagem mostra como a comunidade de inteligência desempenhou um papel chave em esforços secretos para manipular os media e o público. As crises e guerra infindáveis com que nos deparamos são, em grande medida, devidas aos esforços da Google e de outras instituições tecnocráticas. O autor enquadra o modo como a administração Obama realmente consolidou este controle do "Big Brother":

"Com Obama, o nexo do poder corporativo, industrial e financeiro representados pelos interesses que participam no Pentagon Highlands Forum consolidou-se num grau sem precedentes".

Estas pessoas referem-se a sim próprias como "os guardas da portaria" ("the gatekeepers"). A sua arrogância só é ultrapassada pelo seu agnosticismo moral. Os êxito da era da informação, as dúbias minas de ouro do capital de risco de Sillicon Valley, os caminhos misteriosos pelos quais inovadores razoavelmente comuns foram impulsionados para as luzes dos holofotes advertem-nos quanto ao pântano subjacente descrito por Donald Trump. Mas é a imensidade da rede que deveria servir-nos de pista. Imagine o novo presidente a tomar posse e a defender-se de ataques tão bem quanto pode, só para descobrir que toda a máquina do governo dos EUA está influenciada por este controle. Depois de saber tudo isto é fácil teorizar sobre como Trump fez meia volta acerca de muitas questões. Ele deve ter sido subjugado. Ou fazia parte do plano desde o princípio.

Finalmente, se nos estendermos acerca destas notícias e incluirmos outros tecnocratas como Bill Gates ou Jeff Bezos, então o entendimento das crises mundiais provocadas pela má política dos EUA torna-se mais simples. Trata-se de uma corporação – tudo isto é uma corporação para a guerra e o atrito. Bezos a passear com o antigo general dos Fuzileiros Navais e actual secretário da Defesa, "Cão Louco" Mattis, na Amazon é simbólico. O posicionamento de Trump para com Israel, os sauditas ou mesmo a política interna diz-nos que aquelas promessas da campanha afundam na esteira da nau do estado profundo a pleno vapor. Se permitirmos à Google e aos demais actores continuarem sem controle...

Bem, vocês são tão capazes quanto eu de completar a sentença. Só rezo para que não seja demasiado tarde.
 

[*] Investigador e analista político.

O original encontra-se em journal-neo.org/2017/09/04/we-told-you-so-google-is-nsa/


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Washington parece um jardim-de-infância sob o efeito de LSD


por The Saker 
 
As últimas sanções e a resposta retaliatória da Rússia resultaram numa torrente de especulações nos media oficiais e na blogosfera — toda a gente tenta entender uma situação que parece sem sentido. Porque haveria o Senado dos Estados Unidos de adoptar sanções contra a Rússia quando a Rússia nada fez para provocar esse voto? Com a excepção de Rand Paul e Bernie Sanders todos e cada um dos senadores americanos votaram a favor dessas sanções. Porquê? Torna-se ainda mais estranho se pensarmos que o único grande efeito das sanções será provocar uma fractura, e possivelmente ainda mais contra-sanções , entre os Estados Unidos e a União Europeia. Fica claro que estas sanções vão ter efeito nulo sobre a Rússia e não creio que alguém pense a sério que os russos mudem o que quer que seja nas suas políticas. Porém, todos os senadores excepto Paul e Sanders votaram a favor. Será que faz sentido?

Vamos tentar perceber o que se passa.

Primeiro, vamos lembrar que qualquer político norte-americano, desde as municípalidades até ao Congresso, todos os senadores só pensam numa coisa quando votam — o que ganho eu com isso? — A última coisa que preocupa um senador americano é as consequências do seu voto na vida real. Isso quer dizer que para conseguir uma quase unanimidade (98%) numa votação realmente estúpida tinha de haver um lobby muito influente que utilizou "argumentos" muito fortes para conseguir tal voto. Lembremos que os Republicanos no Senado sabiam que estavam a votar contra a vontade do seu Presidente. E no entanto todos à excepção de Rand Paul votaram essas sanções, isso mostra o poder do lobby que os pressionou. Assim, quem teria esse poder?

O site "Business Pundit Expert Driven" felizmente postou um artigo que indica os dez lobbies mais poderosos em Washington D.C. São eles (na mesma ordem do artigo original):

Lobby técnico
Indústria mineira
Indústria da defesa
Indústria do agronegócio
Petróleo
Lobby financeiro
Grandes farmacêuticas
AARP (American Association of Retired Persons)
Lobby pró-Israel
NRA (National Rifle Association)

Ok, por que não? Podemos talvez reordená-los, dar-lhe nomes diferentes, juntar mais alguns (como, Complexo Industrial de Prisões" ou "Comunidade da inteligência", mas na generalidade a lista está bem.

É preciso entender que a maioria destes lobbies precisa de um inimigo para prosperar, será sem duvida o caso do Complexo Militar Industrial e a industria associada de alta tecnologia, e poderíamos pensar que o Petróleo, Minas e Agronegócio vêem na Rússia um competidor potencial. Mas um olhar mais atento aos interesses que estes lobbies representam diz-nos que estão mais interessados na política caseira e que a longínqua Rússia com a sua economia relativamente pequena não é o que lhes importa. O mesmo se passa com as Grandes Farmacêuticas, a AARP e o NRA. O que deixa o lobby de Israel como o único candidato potencial.

"Lobby de Israel claro que é um nome inadequado. O lobby de Israel tem muito pouco interesse em Israel como país, ou sequer o povo israelense. Melhor seria chamar-lhe Lobby Neocon. Aliás, temos de verificar que o Lobby Neocon não está na lista acima referida. Por um lado, não representa os interesses dos Estados Unidos. Por outro, não representa os interesses de Israel. Representa antes os interesses de um grupo específico das elites reinantes dos Estados Unidos, na realidade muito inferior a 1% da população, em que todos partilham uma ideologia comum de dominação mundial típica dos neocons.

São os sujeitos que apesar do seu férreo controlo de cem por cento da media e do Congresso perderam a eleição presidencial para Donald Trump e que estão apostadas no seu impeachment. São indivíduos que simplesmente usam a Rússia, como um fulcro propagandístico para passar a noção de que Trump e o seu meio são agentes russos e o próprio Trump é uma espécie de "candidato presidencial da Manchúria".

Lembremo-nos que o registo histórico mostra que apesar de os neocons serem especialmente motivados não são muito inteligentes. Sim, eles têm a espécie de determinação ideológica raivosa que lhes permite conseguir alcançar uma influencia totalmente desproporcional sobre as politicas dos EUA, mas quando vemos o que realmente escrevem e ouvimos o que dizem, percebe-se de imediato que são indivíduos medíocres com uma mentalidade paroquiana que os torna tanto muito previsíveis como muito irritantes para as pessoas em torno deles. Ultrapassam sempre os seus limites e acabam estupefactos e horrorizados quando todas as suas conspirações e planos desmoronam sobre si.

Creio que é exactamente o que está a acontecer agora.

Primeiro, os neocons perderam as eleições. Para eles foi um choque e um pesadelo. Os "deploráveis" votaram contra as instruções de propaganda, totalmente claras que os media lhes deram. Segundo, os neocons voltaram a sua fúria contra Trump e conseguiram neutralizá-lo, mas só ao custo de enfraquecerem terrivelmente os próprios Estados Unidos! Recapitulemos: em 6 meses de administração Trump os EUA já conseguiram ameaçar directamente o Irão, a Síria, a RDPC e em todos os casos com resultados zero. Pior, o comportamento de Trump para com a Europa e a propaganda anti-Trump dentro da Europa colocaram agora a UE e os EUA numa rota colisão. É espantoso: para a Rússia as tensões actuais entre os EUA e a União Europeia são um sonho realizado e nem sequer fizeram nada para isso — tudo foi feito através da estupidez auto-derrotante dos americanos que criaram esta situação completamente ex nihilo!

Assim enquanto Kim Jong-un lança mísseis no 4 de Julho, o Exército Sírio aproxima-se de Deir ez-Zor, a Ucrânia transforma-se numa Somália, a economia russa volta a crescer e a popularidade de Putin está cada vez mais alta, os neocons estão a ficar totalmente fora de si e, como é típico das pessoas que perdem o controle, não fazem nada com lógica e sim o habitual: esbofetear sanções (mesmo que sejam totalmente ineficazes) e enviar mensagens (mesmo que sejam totalmente ignoradas). Por outras palavras os neocons empenham-se agora em pensamento mágico, optam por iludirem-se acerca do seu poder e influencia e estão a enfrentar o seu fracasso generalizado (full-spectrum) ao pretenderem que os seus votos no Congresso importam. A verdade é que não são.

É aqui que temos de examinar a outra noção errada neste caso, que a reacção russa a estas sanções mais recentes é realmente acerca delas. Não é.

Primeiro, derrubemos o mito de que tais sanções estão a prejudicar a Rússia. Na verdade não estão. Mesmo os da Bloomsberg, 100% russofóbicos começam a perceber que na realidade estas sanções tornaram Putin e a Rússia mais fortes . Segundo, há a questão do tempo: ao invés de reagir com contra-sanções os russos subitamente decidiram reduzir a quantidade de pessoal diplomático norte americano na Rússia e confiscar duas instalações diplomáticas dos EUA numa retaliação clara à expulsão dos diplomatas russos e a ocupação de edifícios diplomáticos por Obama no ano passado. Por que não?

Muitos observadores dizem que os russos são "ingénuos" em relação ao Ocidente e aos EUA, que Putin "deseja" melhores relações e que essa esperança o paralisou. Outros dizem que Putin é "fraco" ou está mesmo "em conluio" com o Ocidente. É um absurdo total.

As pessoas tendem a esquecer que Putin foi um oficial superior dos serviços de inteligência externa do KGB, o chamado "Primeiro Directorado Principal (PGU). Além disso, Putin revelou recentemente que trabalhou na altamente secreta Direcção S do PGU e que era responsável por contactos com uma rede de espiões soviéticos ilegais na Alemanha Oriental (onde Putin actuava sob a cobertura oficial de director Casa da Amizade URSS-RDA). Se o PGU era a "elite da elite" do KGB da sua parte mais secreta, então o Directorado S era a "elite da elite" do PGU e o seu cerne mais secreto. Isto, definitivamente, não é uma carreira para "ingénuos" ou "fracos", para dizê-lo suavemente. E acima de tudo, os oficiais do PGU eram "especialistas no Ocidente" em geral e nos Estados Unidos em especial porque os EUA, eram sempre considerados como o "inimigo principal" (ainda que a maior parte dos responsáveis do PGU considerasse que os britânicos eram o seu adversário mais capaz, perigoso e sorrateiro). Considerando o nível soberbo de educação e treino dado a estes oficiais, diria que os oficiais do PGU estavam entre os melhores especialistas do Ocidente de qualquer parte do mundo. A sua sobrevivência e a sobrevivência dos seus colegas dependia da sua compreensão correcta do mundo ocidental. Quanto a Putin, pessoalmente, sempre actuou de um modo muito deliberado e calculado e não há razão para pensar que desta vez, após as ultimas sanções dos EUA, tenha havido uma erupção emocional no Kremlin. Podem ter a certeza de que esta ultima reacção russa é o resultado de uma conclusão cuidadosa e a formulação de um objectivo preciso e há muito delineado.

Diria que a chave para a compreensão correcta da resposta russa está no facto de as ultimas sanções dos Estados Unidos conterem uma ideia sem procedentes e, francamente, com características chocantes: as novas medidas retiraram ao Presidente autoridade para revogar as sanções. Em termos práticos: se Trump quisesse por em vigor algumas dessas sanções, teria de enviar uma mensagem oficial ao Congresso o qual teria então trinta dias para aprovar ou rejeitar a acção proposta. Por outras palavras, o Congresso agora sequestrou o poder da Presidência para dirigir a politica externa e encarregou-se até da micro-administração da politica externa norte americana.

Isso, meus amigos, é claramente um golpe de estado constitucional e uma grave violação dos princípios da separação de poderes que é o cerne do sistema político dos Estados Unidos.

É também um testemunho vivo da total depravação do Congresso dos EUA que não tomou essas medidas quando o presidente "ultrapassou o Congresso e começou guerras sem a necessária autoridade congressual, mas que agora toma abertamente as rédeas da politica externa americana para impedir o risco de "quebrar a paz" entre a Rússia e os Estados Unidos.

E a reacção de Trump?

Ele declarou que a assinaria a lei. [NR]

Sim, o homem quer por a sua assinatura no texto que representa um golpe de estado ilegal contra a sua própria autoridade e contra a Constituição que jurou defender.

Atenta a isso, a reacção russa é muito simples e compreensível: eles desistiram de Trump.

Não que tivessem muita fé nele, mas sempre sentiram fortemente que a eleição de Trump talvez pudesse dar ao mundo uma oportunidade realmente histórica para mudar a dinâmica desastrosa iniciada pelos neocons no tempo de Obama e talvez devolver às relações internacionais uma aparência de sanidade. Infelizmente, isto não aconteceu. Trump revelou-se uma massa demasiado cozida cujo único feito real era exprimir suas ideias em 140 caracteres ou menos. Mas na coisa crucial, vital, em que Trump precisava absolutamente de ter êxito — esmagar impiedosamente os neocons — ele fracassou totalmente. Pior: a sua única reacção às múltiplas tentativas deles para derrubá-lo foram todas as vezes respondidas com toscas tentativas tontas de apaziguamento.

Para a Rússia isso significa que o presidente Trump foi agora substituído pelo "Congresso Presidente".

Uma vez que é absolutamente impossível fazer qualquer coisa com este Congresso, os russos vão agora empenhar-se em medidas unilaterais vantajosas tais como reduzir dramaticamente o número de diplomatas americanos na Rússia. Para o Kremlin, essas sanções são não tanto uma provocação inaceitável mas sim um pretexto ideal para iniciar uma série de politicas internas russas. Livrarem-se dos empregados americanos na Rússia é apenas um primeiro passo.

A seguir, a Rússia utilizará o comportamento francamente errático dos americanos para proclamar urbi et orbi que estes são irresponsáveis, incapazes de tomarem decisões adultas e basicamente que "foram à pesca". Os russos já fizeram isso quando declararam a dupla Obama-Kerry como недого ворос пособны (nedogovorosposobny: "incapazes de acordos", mais aqui acerca deste conceito). Agora com Trump a assinar a sua própria demissão constitucional, com Tillerson incapaz de calar Nikki nas Nações Unidas e com Mattis e McMaster a lutarem por planos grandiosos para parar a "não vitória" no Afeganistão, a dupla Obama-Kerry começa a parecer quase adulta.

Francamente, para os russos é o momento de ir embora.

Prevejo que os loucos neocons não vão parar até conseguir o impeachment de Trump. Além disso, prevejo que os Estados Unidos não lançarão quaisquer intervenções armadas importantes (até porque os Estados Unidos já não têm países que possam atacar com segurança e com facilmente). Algumas "intervenções pretendidas" (como o malfadado ataque de mísseis na Síria) podem ser bastante possíveis e mesmo prováveis. Este golpe interno em câmara lenta contra Trump irá absorver a maior parte da energia para os realizar e deixar a politica externa como simplesmente uma espécie de subproduto da política interna dos Estados Unidos.

Os europeus do leste estão agora totalmente entalados. Vão continuar a observar incrédulos o desastre crescente da Ucrânia enquanto fazem jogos estúpidos pretendendo serem duros com a Rússia (o último exemplo desta espécie de "ladrar atrás da cerca" pôde ser visto no patético encerramento do espaço aéreo da Roménia a um avião civil que transportava o vice primeiro ministro russo Dmitri Rogozin entre os passageiros). Os europeus reais (do ocidente) gradualmente cairão em si e começarão a fazer negócios com a Rússia. Mesmo Emanuel Macron de Rothschild, da França, provavelmente se demonstrará como um parceiro mais adulto do que o Donald.

Mas a verdadeira acção estará alhures — no Sul, no Leste e no Extremo Oriente. A verdade simples é que o mundo simplesmente não pode ficar à espera de que os americanos recuperem o juízo. Há uma série de assuntos cruciais que precisam de ser urgentemente enfrentados, uma série de imensos projectos que precisam ser realizada e um mundo muito diferente e multi-polar que precisa ser fortalecido. Se os americanos querem recusar-se a salvarem-se disto tudo, se querem deitar abaixo a ordem constitucional que os Pais Fundadores criaram e se querem funcionar apenas no reino do ilusório que nada tem a ver com a realidade — estão no seu direito e é o seu problema.

Washington DC começa a parecer um jardim-de-infância sob o efeito de LSD — algo engraçado e desagradável. Os garotos não parecem muito espertos: uma mistura de valentões e idiotas invertebrados. Alguns deles têm os dedos no botão nuclear e isso é absolutamente assustador. O que os adultos têm de fazer agora é descobrir uma maneira de manter os garotos ocupados e distraídos e distraí-los para que não apertem o maldito botão sem querer. E esperar. Esperar pela reacção inevitável de um país que é muito melhor e mais forte que os seus governantes e que agora precisa desesperadamente de um verdadeiro patriota para acabar com as Feiticeiras de Sabbath em Washington DC.

Vou encerrar esta coluna com uma nota pessoal. Acabei de atravessar os Estados Unidos, literalmente, do Rio Rogue no Oregon à costa leste da Florida. Durante essa longa viagem vi não só paisagens de tirar o fôlego mas também belas pessoas que se opõem ao baile satânico em DC com todas as fibras do seu ser e que querem o seu pais livre dos degenerados poderes demoníacos que se apossaram do Governo Federal. Vivi um total de 20 anos nos EUA e aprendi a amar e apreciar profundamente as muitas pessoas boas, decentes e honradas que aqui vivem. Longe de ver o povo americano como inimigo da Rússia, vejo-o como aliado natural, ainda que seja por termos o mesmo inimigo (os neocons em DC) e nenhuma razão objectiva para conflitos, nenhuma de qualquer espécie. De resto, americanos e russos são muito semelhantes, por vezes de um modo cómico. Tal como durante a Guerra-Fria nunca perdi a esperança no povo russo, agora recuso-me a perder a esperança no povo americano. Sim, o governo federal americano é desgostante, mau, nojento, estúpido, degenerado e absolutamente satânico, mas o povo dos Estados Unidos não é. Longe disso. Não sei se este país conseguirá sobreviver a este regime como EUA unitário ou se vai romper-se em várias entidades diferentes (algo que acho muito possível), mas creio que o povo americano sobreviverá e vencerá tal como o povo russo sobreviveu aos horrores das décadas de 1980 e 1990.

Neste momento os Estados Unidos parecem despenhar-se num precipício muito semelhante àquele em que mergulhou a Ucrânia (aliás não é surpreendente, as mesmas pessoas infligem os mesmos desastre em quaisquer países que infectem com a sua presença). A grande diferença é que o seu imenso e inexplorado potencial irá recuperá-lo. Poderá não ser uma Ucrânia em dez anos, mas será definitivamente um país norte-americano, talvez diferente do único actual ou talvez mesmo com vários estados sucessores derivados.

Mas por enquanto, só posso repetir o que os habitantes da Florida dizem quando um furacão se abate sobre eles "aferrem-se ao chão" e preparem-se para os tempos difíceis e perigosos que estão para vir.
31/Julho/2017 
 
[NR] A lei das sanções contra a Rússia, Irão e Coreia do Norte foi assinada em 02/Agosto/2017.

O original encontra-se em thesaker.is/sanctions-smoke.and-mirrors-from-a-kindergarten-on-lsd/ .
Tradução de MA, revisão de JF.


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

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