quinta-feira, 28 de agosto de 2014

A Cannabis poderá ser útil no tratamento de um grande número de cancros

A Economia Parasitária


(...)
Nessa comunicação, as palavras já não têm importancia nenhuma. A repetição fastidiosa, o martelar das mesmas coisas ou o emprego quantificado dos vacábulos dão-lhe um conteúdo efémero. Muitas palavras desaparecem como se a realidade que designam se tivesse sumido. É assim que já não há exploradores nem explorados. É assim que capitalismo se tornou um termo fora de moda. É assim que a burocracia, tal como a máfia, precisa de mostrar que não existe. Outras palavras mudam de natureza, como sob o efeito de manipulações genéticas. É assim que falar de «privilégios» remete, não para os prebendados da administração gestora, mas para os trabalhadores e desempregados, cujos salários, reformas e subsídios prejudicam a rendibilidade dos investimentos estatais e privados.
(...)

As primorosamente balanceadas conversações de Minsk sobre a Ucrânia


por M.K. Bhadrakumar [*]
 
Parada militar realizada pela junta de Kiev. A missão da chanceler Angela Merkel em Kiev era longe de fácil. Merkel ali foi sob a pressão do presidente Barack Obama, efectuada na véspera da sua viagem. Bastante obviamente, os EUA sentiram-se excluídos dos esforços para o estabelecimento da paz. Washington imediatamente condenou no Conselho de Segurança da ONU a decisão do Kremlin para evitar as tácticas de adiamento dos EUA, afirmando que a entrega de abastecimentos humanitários ao Leste da Ucrânia era um acto em "violação do direito internacional" e retoricamente exigiu que o comboio retornasse à Rússia (embora ele realmente já tivesse retornado).

Merkel no entanto continuou a sua missão. Sua escolha do dia 23 de Agosto para visitar Kiev foi, afinal de contas, altamente simbólica. Ela observou publicamente que um chancelar alemão visitou a Ucrânia numa data tão pungente da história, o que mostrava como as coisas haviam mudado no período de 75 anos decorrido desde o pacto de não agressão Molotov-Ribbentrop de 23/Agosto/1939.

Moscovo ficará satisfeita com o resultado da missão de Merkel. Ela endossou fortemente as conversações em Minsk na quinta-feira entre o presidente russo Vladimir Putin e seu homólogo ucraniano Petro Poroshenko, ela enfatizou a necessidade de um cessar-fogo no Leste da Ucrânia. Ainda mais importante: ela apelou a mudanças constitucionais na Ucrânia que permitissem autonomia para o Leste da Ucrânia. Aqui há uma identidade de vistas entre Moscovo e Berlim.

As observações da chefe da política externa da União Europeia, Catherine Ashton, também são muito oportunas e enormemente significativas – que nas conversações de Minsk pretendia aconselhar Poroshenko a que a Ucrânia mantivesse "boas relações com seus vizinhos russos". ( aqui )

O cenário das conversações de Minks parece prometedor. Naturalmente, nenhuma mudança radical é provável, como acautelou Merkel, mas um cessar-fogo nas operações militares no Leste da Ucrânia é provável, o qual está no topo da agenda da Rússia. Merkel insistiu na necessidade do cessar-fogo.

Poroshenko, que esta constantemente a ser incitado pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, a avançar com as operações militares no Leste da Ucrânia, nesta altura também estaria a sentir que o conflito está a tornar-se demasiado sangrento e que é do seu próprio interesse político efectuar as eleições parlamentares em Outubro numa atmosfera de calma. Em suma, como sugerem as notícias , as coisas estão um tanto quanto delicadamente equilibradas.

Contudo, a grande questão permanece. Será que os EUA desistirão de minar o processo de Minsk? Claramente, é uma desmoralização que os EUA fiquem do lado de fora da tenda. Mas então, este embaraço é uma situação difícil auto-infligida e uma correcção de rumo ajudaria.

A maior parte dos peritos concorda que as três suposições sobre as quais as políticas dos EUA foram baseadas revelaram-se ilusórias – que Putin ficaria "isolado" e render-se-ia ao diktat do Ocidente; que as sanções aterrorizariam o Kremlin e o forçariam a gritar "ó tio"; e que os militares ucranianos teriam êxito em tomar o controle do Leste da Ucrânia. ( aqui )

A parte mais triste é que os EUA nada alcançaram em nome da "democracia" ao derrubarem o governo eleito de Viktor Yanukovish. Um conjunto de oligarcas detestados foi substituído por outro igualmente repulsivo. Disto simplesmente, os oligarcas continuam a clamar por tiros na Ucrânia e desta vez sob todos os aspectos é o Ocidente que está a ter de carregar com a embrulhada (can of worms).

Não há dúvida, a Ucrânia destaca-se como um dos mais bizarros fracassos de política externa da administração Obama. Mas por outro lado, as raízes são profundas e se há um par de pessoas a serem responsabilizadas, não é tanto o próprio Obama, pode-se argumentar, mas o duo do antigo presidente Bill Clinto e sua famosa "mão russa" (e amigo dos dias de Oxford) Strobe Talbott, o qual arruinou as infinitas possibilidade da era pós Guerra fria de criar uma ordem mundial harmoniosa.

John Mearcheimer, o respeitado académico especializado em Rússia da Universidade de Chicago, escreveu um ensaio brilhante intitulado "Porque a crise na Ucrânia é a falha do Ocidente; As ilusões liberais que provocaram Putin" ("Why the Ukraine Crisis Is the West's Fault: The Liberal Delusions That Provoked Putin)" no último número da revista Foreign Affairs, delineando como de uma perspectiva histórica e no contexto imediato da Ucrânia, o conluio Clinton-Talbott na Casa Branca deveria ser considerado responsável pela crise de hoje.

Mearsheimer cita nada menos que a figura icónica da era soviética, o diplomata-académico George Kennan, a advertir contra a desastrosa ideia brilhante de Talbott de pressionar pela expansão da NATO para Leste – "Penso que os russos reagirão gradualmente de modo bastante adverso e isto afectará suas políticas. Penso que é um erro trágico. Não havia qualquer razão para isto. Ninguém estava a ameaçar o outro".

A questão hoje reduz-se a se Obama tem o desejo, o capital político (ou o temperamento) para forçar sua vontade sobre a estranha aliança entre os neocons e os liberais em DC e para desactivar a bússola dos laços com a Rússia. Mearsheimer escreve: "Entretanto, há uma solução para a crise na Ucrânia – embora exigisse que o Ocidente pensasse acerca do país de um modo fundamentalmente novo. Os EUA e seus aliados deveriam abandonar seu plano para ocidentalizar a Ucrânia e, ao invés, dela fazer um amortecedor (buffer) entre a NATO e a Rússia, semelhante à posição da Áustria... Isto não significaria que um futuro governo ucraniano teria de ser pró russo ou anti NATO. Ao contrário, objectivo deveria ser uma Ucrânia soberana que não caia nem no campo russo nem no ocidental. Para alcançar este fim, os EUA e seus aliados deveriam publicamente descartar a expansão da NATO tanto à Geórgia como à Ucrânia... E o Ocidental deveria limitar consideravelmente seus esforços de engenharia social no interior da Ucrânia. Já é tempo de acabar com o apoio ocidental a outra Revolução Laranja".

Isto pode soar como uma abordagem razoável e certamente factível, mas ela parece enganosamente simples e pode, portanto, permanecer improvável na medida em que a questão da expansão da NATO também envolve o futuro da parceria transatlântica e o papel de liderança dos EUA no século XXI.

Certamente Merkel está a andar numa linha fina. Na sua conversação telefónica com Obama pouco antes de sair para Kiev, este último não disse nem uma palavra de apoio às próximas conversações em Minsk. Ao contrário, Obama parecia fazer-lhe uma exortação.

Dito isto, Obama é um pragmático por excelência. De forma alguma é um guerreiro frio no molde ideológico de Talbott. Segundo Patrick Cockburn do jornal Independent, aqui , Obama permitiu que informações da inteligência dos EUA chegassem ao regime sírio para suas operações militares contra o Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Por uma estranha coincidência, os EUA aparentemente utilizaram o canal da inteligência alemã para alcançarem o regime sírio.
25/Agosto/2014
 

Ver também:

  • Pourquoi les Ukrainiens ne se soulèvent-ils pas dans le reste de l’Ukraine?   Où en est la contre-offensive de la Nouvelle Russie?

    O original encontra-se em
    blogs.rediff.com/mkbhadrakumar/2014/08/25/minsk-talks-on-ukraine-finely-poised/


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  •  
  • aqui:http://resistir.info/ucrania/bhadrakumar_25ago14.html 
  • quinta-feira, 14 de agosto de 2014

    As contas do sr. Medina Carreira


    por Daniel Vaz de Carvalho

     
    "Se quisermos compreender a realidade íntima e o movimento profundo da economia capitalista não se pode ficar ao nível das aparências, deve-se igualmente descobrir e explorar a face oculta dos fenómenos.   Os fenómenos visíveis são os rendimentos obtidos por diferentes pessoas ou empresas.   A realidade oculta é a maneira como estes rendimentos são criados".
    Jacques Gouverneur, Compreender a Economia , Ed. Avante, p. 14 e 16.
    .  
    1 – UMA HISTÓRIA SOBRE COMO SE FAZEM CONTAS

    Acontecia os navios que cruzavam o Atlântico carregados de escravos negros a caminho das Américas demorarem mais que o previsto devido a tempestades ou calmarias. O comandante tinha então de fazer as seguintes contas:   X dias de viagem que faltam, para Y quantidade de água e mantimentos, dão para Z pessoas, temos Z+N.   Há pois N negros a mais.   N negros eram então atirados borda fora servindo de refeição aos tubarões que, animais inteligentes e normalmente pacíficos (como se pode ver no Oceanário), se tornavam companhia habitual destes navios, os "negreiros".

    As contas do comandante estavam erradas? Ninguém o poderia dizer considerando inalteráveis os navios mal equipados, mal abastecidos, com lotação insuficiente para a "carga" remotamente humana. Além disso, os que os atiravam ao mar bem poderiam dizer que eram defensores dos escravos… e da escravatura. Esta a metáfora da "austeridade".

    Ninguém pensava, pois, utilizar navios maiores, devidamente abastecidos ou alterar o curso para rotas mais previsíveis, até porque os mais fortes sobreviviam e se diminuía a quantidade aumentava a qualidade e o preço, pelo que o resultado final do "negócio" não ficaria desfavorecido, muito pelo contrário. As contas estavam portanto certas… abstraindo que falamos de pessoas, algo que os escravos só muito remotamente eram considerados como tal e apenas para trabalhar.

    Há portanto várias formas de fazer contas e todas elas certas em termos matemáticos. Mas a matemática e a econometria sua derivada nada têm que ver com a ética, a economia política sim e é esta que abordamos ao fazer contas.

    2 – AS CONTAS DA DESPESA

    Conforme apresentado pelo sr. Medina Carreira [1] , entre 1970 e 1990 o PIB cresceu a uma média anual de 4,3%, mas a despesa primária 6,8%; entre 1990 e 2010 o PIB cresceu a 1,9% e a despesa a 4,0%. As despesas sociais cresceram entre 1970 e 2010, a uma média anual de 6,5%, mas o PIB 3,0%. Assim em percentagem do PIB as despesas sociais passam de 7,8% em 1970 para 30,2% em 2010, representando em 1970, 39% dos impostos, em 2010, 88%. Há assim um excesso de despesas sobre as receitas sendo necessário cortar 6 000 M€ até 2018 (com crescimento de 1,5%), segundo o DEO 7 000 M€ até 2019.

    Quando se diz que 38% dos impostos são para pagar pensões está-se a ignorar que reformas e pensões pagam impostos e são o resultado de anterior regime contributivo entregue ao Estado, não podendo ser tratadas como esmolas ou, pior, como "roubo". "Roubo", mas ao capital rentista das PPP e concessões, aos monopolistas das privatizações, aos especuladores dos SWAP, à agiotagem internacional que recebe do BCE a 0,5 ou 0,25% e empresta sem risco a 3%, 4% ou mais.

    A questão da não sustentabilidade da Segurança Social é uma falácia como bem demonstrado nos livros coordenados por Raquel Varela [2] ou nos textos de Eugénio Rosa, entre outros. Só o ambiente de não contraditório em que as opiniões são difundidas permitem ignorar estes trabalhos.

    Quanto às prestações do Sistema de Proteção Social de Cidadania (não contributivo) (por ex. complemento para idosos, antigos combatentes, etc) representa solidariedade cidadã – e não caridade. Mas mesmo assim é uma solidariedade interessada (não interesseira…) pois é também um contributo a dinamização económica, que em 2011 correspondia a 3 620 M€. Contra isto se voltam os defensores do "rigor", dizendo que não há dinheiro, ao mesmo tempo que de repente aparecem 4 900 M€ para fingir que se "salva" o BES. Formas diferentes de fazer contas e ser "rigoroso".

    Sem prestações sociais quase 50% da população estaria na pobreza, mesmo assim Portugal foi o país da UE onde em 2013 mais aumentou a "severa privação material". Apesar disto, o valor das prestações sociais é apresentado como uma causa da estagnação e endividamento, quando é uma consequência de políticas erradas que a isso conduziram: o modelo de integração na UE e no euro, a ruir nos seus pés de barro.

    Sem se temer a grosseria, as prestações sociais são qualificadas de "eleitoralismo" para satisfazer "interesses limitados", "para agradar a funcionários, reformados, doentes" (!?). É a moral do navio negreiro, moram os que não podem pagar saúde, incluindo a alimentação adequada. Fazer comparações elogiosas com o salazarismo ofende o simples bom senso, mesmo que não se disponha de conceitos humanistas. Acaba por ser a sedução por uma sociedade oprimida, analfabeta, com fome, vegetando no obscurantismo e na repressão, com a inteligência perseguida, mortalidade infantil e materna ao nível de países do "terceiro mundo". [3]

    3 – ACERCA DA DESPESA SOCIAL

    Em 2011, a despesa com prestações sociais em Portugal correspondia a 26,5% do PIB quando a média na UE-28 era de 29% do PIB; em euros por habitante, era na UE-28 de 6.666 €, em Portugal, apenas de 3.890€, ou seja, 58% da média da UE. Note-se que a produtividade (PIB por trabalhador) era 62% da média da UE (dados AMECO).

    Despesas sociais são consumo e investimento. Educação e saúde são também investimentos, fundamentais para o futuro do país e seu desenvolvimento. Pelo seu efeito multiplicador na economia estas despesas transformar-se-iam em novo investimento, assim houvesse como determina a Constituição um Plano Económico voltado para o desenvolvimento da produção nacional.

    Há despesas reprodutivas e não reprodutivas. O investimento e as prestações sociais são (podem ser) reprodutivos, mas os "contratos leoninos" das PPP (prof. Carlos Moreno), a especulação dos SWAP, os juros de dívida ilegítima, ilegal ou odiosa [4] , os lucros das SPGS colocados em paraísos fiscais, as rendas monopolistas, não são reprodutivos.

    Não há uma compreensão do que representam as despesas sociais como fatores de equilíbrio económico e social. Na realidade os cortes destinam-se a permitir satisfazer a gula dos "mercados", máscara que a oligarquia nacional e estrangeira assume para oprimir e explorar os povos da UE, respaldada em tratados iníquos e num conjunto de dogmas totalmente desacreditados.

    Por ação da crise em 2008 o crescimento real foi nulo, em 2009 caiu 2,9%. Há um enorme aumento da despesa e uma diminuição da receita, em 2009 de 3 970 M€. Assim, de 2006 para 2010 o défice público passou de 7 400 para 17 000 M€, a dívida de 102 000 para 162 000 M€.

    Embora a despesa em salários da função pública em 2010 fosse apenas 0,7% superior à de 2006. As despesas sociais tiveram significativo aumento devido ao número de trabalhadores empurrados para reformas antecipadas na função pública e nas empresas privadas, pois a palavra de ordem era reduzir pessoal, com o argumento da "eficiência"! Bem alertava a CGTP para o que se estava a criar. O crescente desemprego e os apoios à pobreza foram fontes adicionais de encargos. Além disto, de 2005 para 2010, as despesas com juros, consumos intermédios, subsídios e outras despesas correntes aumentaram 26,8%.

    Com a troika, em quatro anos, de 2011 a 2014, a austeridade somou 28 247 M€, os juros 28 528,8 M€, os défices orçamentais 34.646,2 M€; a dívida pública passou de 94% em 2010 para 133% do PIB no 1º trimestre de 2014. Estes números configuram uma economia totalmente fora de controlo. Perante este descalabro, não se descortina mais do que prosseguir na via caótica da "austeridade".

    4 – PARA ONDE VAI O DINHEIRO

    Dizer-se que não podemos influenciar a economia, aumentar mais o nível de impostos, fazer moeda, pedir mais dinheiro emprestado, só há para cortar salários e prestações sociais, não passa de tautologia, um raciocínio redundante e falacioso, cuja lógica interna é à partida definida sem saídas. Tudo está perfeito na UE, imutável como leis divinas, este assim é o melhor dos mundos possíveis, temos é que nos adaptar a ele e… cortar nos salários e prestações sociais. Pelos vistos há quem nunca tenha ouvido falar em renegociação da dívida…

    A responsabilidade da situação cabe então ao TC que se baseia em "ideias vagas e nebulosas" como o princípio da "igualdade e da confiança e não deixa baixar a despesa" (?!). É espantoso considerar "ideias vagas e nebulosas", "coisas esquisitas", princípios validados desde o século XVIII…

    Nenhuma análise é válida se não tiver em conta os contextos quer internos quer externos. Conhecer apenas um lado da questão é, como disse Espinosa, não a conhecer de todo. Com base nos relatórios do Banco de Portugal o saldo do que sai do país em juros de privados, dividendos, lucros e transferências com a UE atingiu de 2000 a 2013 um valor negativo de cerca de 11 mil milhões de euros, uma média anual de 766 M€, que de 2007 a 2013, atingiu 1 430 M€.

    A estes valores devemos somar os juros pagos pelo Estado: entre 2000 e 2013, 69 500 M€, uma média anual de 4 964 M€ ano, que se agravou nos anos da troika para 7 130 M€. O "ajustamento" é tão só um processo de garantir transferência de riqueza para a oligarquia usurária e monopolista.

    Segundo a CMVM, entre 2010 e 2013, o valor das ações das empresas cotadas na bolsa subiu de 193 224 milhões de euros para 229 285 milhões de euros, os seus proprietários aumentaram 36 061 M€ as suas fortunas (21,7% do PIB). O Governo recusa-se a lançar impostos sobre estas gigantescas mais-valias que, excluindo as pequenas poupanças, são transferidas para paraísos fiscais.

    As dívidas à Segurança Social, muitas delas referentes a descontos feitos nos salários dos trabalhadores, faz perder todos os anos mais de 3.000 M€ de receitas. [6] A renegociação da dívida permitiria libertar até 5 600 M€; em 2013 foram entregues por conta das SWAP 1 008 M€ existindo 1 200 M€ de perdas potenciais que o Supremo Tribunal de Justiça confirmou ser uma dívida ilegítima. Em 2012 os benefícios fiscais às SPGS, escondidos pelo governo, mas revelado pelo Tribunal de Contas, ascenderam a 1 045 M€.

    Relativamente ao orçamento de 2014, a CGTP elaborou um estudo em que sem austeridade poderia haver um aumento de receita do Estado de 10 313,5 M€. Tratava-se de tributar o grande capital, grandes lucros, transferências financeiras, progressividade do IRC. O documento previa também um desagravamento fiscal no IRS e no IVA permitindo aumentar o rendimento disponível das famílias em 3.482,4 M€, ou seja, um saldo de 6.831,1 M€. [7]

    Mesmo que apenas 80% daquele montante se concretizasse, não seria necessária mais austeridade, seria possível repor o que foi anteriormente cortado e concretizar investimento público produtivo. Em abril de 2013 a CGTP calculava uma redução da despesa, no valor de 10.373 M€, nomeadamente com poupança nos juros da dívida, eliminação da sobretaxa da "ajuda" da troika (1.744,9 M€), eliminação de potenciais perdas do Estado com o BPN, eliminação dos benefícios fiscais e da dedução de prejuízos no sector financeiro, redução da TIR das PPP rodoviárias. [8]

    A economia de um país deve ser avaliada pela forma como procede para a maioria da população. O seu nível civilizacional pela forma como trata os seus velhos, as suas crianças, os seus jovens. São estes, e os "doentes", que são considerados "interesses limitados".

    Depois de uma década de estagnação, brutal agravamento dos défices da Balança Comercial, acumular de dívida, perda de potencial produtivo, a situação tornava-se insustentável como foi desde logo clarificado, sendo ridicularizado como "a cassete". A "solução" dos partidos da troika interna, perdidos no naufrágio neoliberal, foi aprovarem sucessivos PEC até ao pedido de intervenção da troika externa que só agravou o que então se propunha sanear.

    Como no caso do navio negreiro, mantendo tudo igual era necessário atirar ao mar gente viva. O caminho seria evidentemente outro, mas quem põe de parte a análise marxista dificilmente entende que as conjunturas resultam das estruturas produtivas e modos de produção existentes.
     

    Notas
    [1] TVI-24, Olhos nos Olhos , 28/07/2014
    [2] A segurança social é sustentável ,   Quem paga o Estado Social em Portugal? , Ed. Bertrand.
    [3] De Carmona a Cavaco e à "salvação nacional
    [4] Alternativas à dívida e sua renegociação ,
    [5] O que o governo quer comemorar em 17/Maio/2014 , Eugénio Rosa
    [6] A ignorância e a mentira na campanha de manipulação da opinião pública contra a Segurança Social , Eugénio Rosa
    [7] Propostas da CGTP-IN para a política fiscal, Por uma repartição justa dos rendimentos e da riqueza, Contra a Exploração e o Empobrecimento , Lisboa, 25/Outubro/2013
    [8] Propostas da CGTP. In Contra a Exploração e o Empobrecimento, Uma vida melhor , Abril/2013


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/v_carvalho/contas_m_carreira.html 

    segunda-feira, 11 de agosto de 2014

    A degradação ideológica da direita: três componentes (3)


    por Daniel Vaz de Carvalho [*]

     
    Um homem de cultura é simplesmente aquele que tem consciência da era em que vive. Essa tomada de consciência exige uma ampla compreensão da História da humanidade, não apenas para bem do conhecimento, mas para permitir ao homem de cultura perceber a inevitabilidade do progresso histórico e até contribuir para ele. [1]
     
    3 – Obscurantismo, a cultura como "não utilidade"

    Podemos dizer que o objetivo principal do obscurantismo é impedir os trabalhadores de reconhecerem as relações económicas e sociais, as relações de produção, em que estão inseridos. Toda a economia política do sistema capitalista está baseada na alienação do conceito de valor, na alienação dos resultados do trabalho: "Trabalho alienado, significa vida alienada, ser humano alienado, ser humano desapossado." [2] O obscurantismo está ao serviço da alienação.

    O ódio à cultura manifesta-se no ataque aos professores, na programada destruição do ensino público igualitário e inclusivo, no abandono do apoio das atividades culturais para ficarem entregues ao "mercado". Nos cortes de verbas para a investigação, alegadamente para serem entregues a empresas. No desprezo com que trata os investigadores, ditos "bolseiros", em condições de precariedade, insegurança e salários de miséria para as suas funções e qualificação.

    Para o governo do PSD-CDS, cultura é "despesa", educação é "despesa", a investigação é "despesa", tal como o são a saúde ou eliminação da pobreza. São estas afinal as "gorduras do Estado" de que farisaicamente falavam. Em contrapartida, baixar o IRC, subsídios e benefícios fiscais ao grande capital passam a ser "investimento".

    As universidades debatem-se com falta de verbas e funcionários. A política é serem postas em concorrência umas com as outras e funcionarem de acordo com os interesses das empresas. Para a direita/extrema-direita no governo o quadro social foi perdido, procurando-se que a cultura seja submetida aos interesses do capital.

    O grande matemático e democrata (um comunista) Bento Jesus Caraça, no seu texto "A cultura integral do individuo", fala-nos da cultura globalmente entendida como fator decisivo na capacidade de evoluir e melhorar humana e materialmente. Eram estas as teses a ser ensinadas e divulgadas nas escolas. Mas não, o que temos são as doutrinas utilitaristas e elitistas do ministro Crato.

    Propagandista do ultraliberalismo e do governo, o sr. Camilo Lourenço afirmava que os professores de História não são necessários, pois a História não tem utilidade para a economia. Muito provavelmente foi isto que aprendeu nos cursos que frequentou nos EUA [3] A importância das disciplinas ditas de humanidades é fundamental para o desenvolvimento económico. A produção e o seu desenvolvimento implicam um trabalho de equipa. A necessidade de compreensão dos fatores humanos é um dado fundamental da gestão e do progresso. Não entende-lo é uma boçalidade.

    A especulação, os "mercados", são totalmente alheios à condição humana, as suas considerações e estratégias estão num vazio moral: homens e mulheres vistos como coisas, peças de uma máquina para dar lucro, em que a sua "utilidade" se valoriza na medida em que se reduzam os seus custos salariais. É a moral da "herren volk", a moral de senhores, uma moral da propriedade e do dinheiro para a qual direitos laborais são "privilégios" e a Constituição não é para aplicar no que prejudique a oligarquia.

    O desprezo pelos interesses do país e do seu povo é justificado porque "Portugal é como alguém que esteve a beber durante 10 anos e que depois entra o médico e diz você vai ter de deixar de beber e fazer dieta. Antes sentíamo-nos bem. Estando sóbrios a falta da bebida faz-nos sentir mal. (Agora) é preciso cortar mais para pagar juros" [4]

    Os gregos acreditavam que os deuses enlouqueciam os mortais para os levar à perdição. Pelos vistos, os "mercados" "embebedam-nos". O obscurantismo faz o seu caminho, deformando a realidade, usando a boçalidade, um humor soez, inconsequente, agressivo na ausência de argumentos. É uma estratégia típica da extrema-direita.

    Para a direita/extrema-direita a bebedeira ter-se-á iniciado no 25 de Abril: "Há 40 anos que andamos nisto" [5] É como quem diz: queriam saúde, educação pública para todos? Emprego com direitos? Salários e reformas decentes? Tudo isto como manda a Constituição? Só podiam estar bêbados! No capitalismo isso é para quem pode e a prioridade é para a agiotagem e a especulação.

    Sim, para esta gente agora estamos sóbrios, cumprimos os "nossos compromissos". Em 2009 pagámos de juros 4 800 M€, de 2014 a 2018 está previsto pagar em média cerca de 7 800 M€ e até 2019 cortar mais 7 000 M€ de austeridade, tudo para satisfazer uma corrupta e insaciável finança. Entretanto com a nossa "sobriedade" a dívida passou de 94% para 133% do PIB. Quanto mais pagamos mais devemos!

    Os trabalhadores com contratos de trabalho são diabolizados. É afirmado que "os transportes públicos funcionam bem para quem lá trabalha, com bons salários, reformam-se cedo. Numa empresa privada é preciso agradar aos clientes, têm de ser competitivos: numa empresa pública é diferente: os incentivos em empresas públicas são para quem trabalha lá porque são os que podem fazer greve. Quando há tanta gente que se emprega no Estado não há incentivo a que se trabalhe bem. [4]

    O ódio aos trabalhadores e seus direitos revela-se na boçalidade e na mentira. As lutas dos trabalhadores do sector privado são escamoteadas da opinião pública tal como antes do 25 de Abril. Escondem-se lutas travadas nas indústrias do papel, na alimentar, metalurgia, material elétrico e eletrónico, na têxtil etc. Nas cantinas, nos hotéis, nos correios, nas empresas privadas de transporte de passageiros, na comunicação social, etc. Tal como as lutas pelos baldios, dos produtores de leite, dos vitivinicultores do Douro, dos estudantes, etc.

    Escamoteia-se que as empresas privadas de transportes públicos são sorvedouros de dinheiros públicos, enquanto adequados financiamentos e compensações são negados às empresas públicas. Propagandeia-se a superioridade da iniciativa privada um mito desmentido pelas sucessivas fraudes e falências bancárias, como nos casos GES, BPN, BPP, BANIF. Supostos sucessos são feitos à custa do Estado, como as PPP, a GALP, a REN, a ANA, a EDP. [5] A despesa com PPP atinge €1,6 mil milhões em 2014, €1,8 mil milhões em 2015!

    O obscurantismo, promove o ódio ao que é público e coletivo: tudo deve ser privatizado e gerido de acordo com os interesses do grande capital. Ignora a corrupção e as ilegalidades na banca, afirmando-se que há corrupção porque o Estado tem tanto peso, quando é o resultado da captura dos interesses públicos pela oligarquia monopolista e financeira. Como foi divulgado, 25 elementos do GES/BES fizeram parte de governos. Isto sem contar com deputados e outros cargos políticos. No BPN estava alojada toda uma clique do PSD.

    .
    Enquanto a miséria aumenta, centenas de milhares de famílias vêm reformas, salários, contas bancárias penhoradas por dívidas, para a direita/extrema-direita finalmente «estamos a viver de acordo com as nossas possibilidades» afirmando-se que a economia deve ser "libertada do peso crescente do Estado Social".

    A economia tem é de ser libertada da livre transferência de capitais e rendimentos, libertar-se do garrote do euro e dos "paraísos fiscais", paraíso para os oligarcas, inferno para a democracia e os cidadãos. A título de subvenções públicas os apoios estatais em 2012 a empresas e instituições atingiram 2 241 M€. Os "estágios" são mais uma forma dos contribuintes subvencionarem grandes empresas com trabalho a custo zero, à parte uma irrisória verba para transporte. Com outros critérios do BCE poderíamos poupar por ano 4 a 5 mil milhões de euros de juros.

    Exemplo do obscurantismo vigente, é afirmar que um país deve ser gerido como uma boa dona de casa faz. Falso. Ignora-se o que sejam finanças públicas, o papel do OE na economia e a possibilidade de um país criar moeda, o que não acontece à dona de casa. Claro que na UE isso foi entregue *a banca privada, via BCE, sem qualquer justificação teórica e desastrosas consequências práticas orientando o crédito para as atividades especulativas. Se a propaganda diz que a economia política deve ser feita à medida da "dona de casa", para que são necessários pomposos títulos académicos? Para entregar o país às transnacionais e estas dizerem para onde temos de ir e como?

    O obscurantismo serve-se da mentira. Os mercados são considerados entidades absolutas, equilibradas e racionais. Na realidade o que existe são "relações de mercado" correspondentes a determinadas relações de produção e determinadas formações económicas. Mascara-se a existência de monopólios e monopsónios. Os fornecedores das grandes cadeias de distribuição são sujeitos a constrangimentos e pressões para fornecerem os seus produtos. Os descontos e promoções "oferecidos" são pagos pelos fornecedores. Um estudo da Corporatewatch – UK mostrava que os oligopólios da grande distribuição chegam a absorver 88%.do preço final, cabendo apenas 12% à produção;

    Os "mercados" são dominados pela oligarquia, tendo ao seu serviço os políticos neoliberais da troika externa e da interna do "arco da governação". Afirmar que "o mercado somos todos nós", é um exemplo de obscurantismo. Omite-se que na "economia de mercado" há o que se designa por "poder de mercado", o poder financeiro detido pelo grande capital.

    A defesa do euro e dos tratados da UE são exemplos de obscurantismo e manipulação: procura-se mascarar pela coação e o medo a catástrofe em curso. É o argumento dos fanáticos derrotados pela realidade. Não admira, pois, que tal como no fascismo, que encomendava artigos elogiosos a jornais estrangeiros, o governo tenha pago a técnicos da OCDE um texto de propaganda apresentando-o – falsamente – como "um relatório da OCDE"!

    A direita/extrema-direita não se conforma com o regime democrático. Os ataques ao TC são a tentativa de liquidar a Constituição, invocando tratados europeus e, claro, os "mercados", para destruir pela raiz o projeto libertador do 25 de Abril. O sr. C. Lourenço afirmava na TVI em tom indignado contra o TC, que "a troika quando cá chegou devia ter dito: meus senhores, façam favor de mudar a Constituição". Para satisfazer a agiotagem internacional Portugal teria de deixar de ser um Estado de direito democrático.

    Para este programado golpe de Estado, a direita/extrema-direita, reivindicava uma maioria, um governo, um Presidente. Pela mentira e pela alienação promovida pela comunicação social controlada, obtiveram-no. Concluem que não basta: precisam de um TC ao seu serviço. Porém, quando o tivessem, chegariam à conclusão, tal como no fascismo, que não dispunham do povo, quereriam então implementar uma nova PIDE/DGS.

    Com argumentos de um obscurantismo digno do pensamento medieval, uma proposta do PCP para que a Constituição fosse ensinada nas escolas foi rejeitada pela maioria: os alunos não estariam preparados para a entender… A boçalidade chega ao ponto de ser afirmado que países que não têm Constituição funcionam melhor que o nosso. Seria bom dizer quais… Se se referem ao Reino Unido, fazem por ignorar que na Inglaterra a Magna Carta foi instituída no século XIII.

    Onde estão os jovens dos anos 80 e 90 que acreditaram nas tretas dos partidos da troika sobre a "modernidade", o sindicalismo que "não queria saber dos jovens", o crédito fácil e barato da "Europa" e do euro, que dava milhões para consumir o que "livremente" era importado? Muitos deles abstêm-se nas eleições e dizem mal dos "políticos", estão desempregados ou precocemente com reformas de miséria. Mas não serão também muitos dos que apoiaram a galhofa da "cassete dos dinossauros" quando se alertava para a beberagem neoliberal que era impingida?

    A mentira só tem poder se decidimos aceita-la, por isso o obscurantismo e a boçalidade procuram criar medos e exercer chantagem colocando as pessoas em estado passivo, de forma a não tomarem decisões racionais de acordo com os seus interesses, mas sim em função desses medos e dessa chantagem. Tal não se afasta dos preceitos fascistas.

    Leonor Pimentel , a revolucionária portuguesa que no final do século XVIII combateu pela República na Itália, teria dito "Não posso perdoar aqueles que só pensam na sua própria glória ou bem-estar. Pensam ser mais civilizados. São desprezíveis. Malditos sejam todos eles". [7]
     

    Notas
    [1] Naguib Mahfouz, prémio Nobel da Literatura, em entrevista à revista cultural egípcia Prism em 1989.
    [2] Marx, Manuscritos de 1844, p.72 e 71, Ed. Avante
    [3] expresso.sapo.pt/camilo-lourenco-a-historia-e-a-utilidade-economica=f790202 . C L tem cursos de jornalismo pela Universidade de Columbia, Nova Iorque e Michigan; com especialização em jornalismo económico e financeiro.
    [4] Apresentação do livro "O economista insurgente" na RT1 (Portugal no Coração) e TVI (Você na TV) em 20 e 22 de maio, respetivamente.
    [5] Maria João Avilez, observador.pt/opiniao/ja-se-pode-dizer-bem-de-passos-coelho/
    [6] Ver "O mito da gestão privada", www.ionline.pt/iopiniao/mito-da-gestao-privada ,
    [7] Em "A Amante do Vulcão", Susan Sontag, ed. Quetzal, 1992. Leonor foi enforcada em Nápoles após a reação recuperar o poder com apoio britânico.


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/v_carvalho/degradacao_ideologica_3.html 

    sexta-feira, 8 de agosto de 2014

    Imagens

    A degradação ideológica da direita: três componentes (2)


    por Daniel Vaz de Carvalho

     
    Não está no poder dos ricos fornecer aos pobres ocupação e pão e consequentemente os pobres pela própria natureza das coisas não têm obrigação de lhos pedir. Os pobres não têm qualquer direito a serem mantidos. [1]

    Pela vida cara. De todos contra todos, para que dure a idade de ouro para a propriedade. Pela apropriação dos outros. Por uma partilha equitativa dos bens celestes. Por uma partilha injusta dos bens terrestes.
    Bertholt Brecht, Ascensão e queda da cidade de Mahagony
     

    2 – Malthusianismo, o fim do imperativo moral

    As políticas de direita/extrema-direita do governo PSD-CDS, embora proclamem valores morais, têm subjacentes as teses de Malthus. Mas Malthus pretendia ser um moralista afirmando que os males da sociedade se resolveriam combatendo o "vício" e estabelecendo a "restrição moral". Defendia os interesses dos proprietários rentistas, reconhecendo que isso fazia baixar os salários dos trabalhadores e os lucros dos não rentistas (como hoje com as MPME).

    Defendia uma ordem fundada na propriedade e na desigualdade. Opôs-se a leis de proteção aos pobres, pois seriam prejudiciais à liberdade. (!) A desigualdade acabaria por favorecer os pobres, as leis a seu favor aumentariam a pobreza. Argumentos idênticos a estes servem atualmente para cortar prestações sociais, tentar liquidar a contratação coletiva e por outro lado baixar o IRC e dar sob as mais variadas formas subsídios e benefícios fiscais ao capital.

    O desemprego é inerente às políticas neoliberais e assumido como uma forma de reestruturação económica e social. Ministros e propagandistas afirmavam que o desemprego devia ser visto como uma "oportunidade", os trabalhadores deviam de sair da sua "zona de conforto", emigrar ou dedicarem-se ao "empreendedorismo". O responsável do FMI em Portugal, afirmava após a "11ª avaliação", que a situação de endividamento das PME era insustentável e "tinha que haver uma limpeza".

    Também para Malthus a insegurança e os infortúnios constituíam uma categoria de estimulantes necessários pregando a "moderação" das classes trabalhadoras. A "moderação aplicada pelo PSD-CDS revela-se pelo facto de existirem 500 mil trabalhadores abaixo do salário mínimo, já de si abaixo do nível de pobreza.

    Malthus considerava que a miséria se devia não à exploração e desigualdades, mas devido ao aumento demasiado rápido da população. Para o governo PSD-CDS o "ajustamento orçamental" também ajuda a limitar a demografia… e a falsear as estatísticas do desemprego. Porém, a emigração e a baixa natalidade estão a pôr em causa o futuro do país.

    Apenas devido a alterações às leis laborais, o salário médio sofreu cortes anuais de 400 euros. A transferência de rendimentos do trabalho para o capital atingiu por ano mais de 2500 milhões de euros. [2] Parte deste excedente económico é transferido para paraísos fiscais.

    Responsáveis da UE misturam os elogios com ameaças e o que está a ser feito nunca é suficiente. Mais "moderação", mais "flexibilidade". Uma austeridade que é para manter por dezenas de anos: Portugal sob vigilância orçamental até 2045, apesar de, segundo o programa inicial da troika e promessas do governo, já em 2014 não haveria cortes e a economia estaria em crescimento.

    O incessante aumento da pobreza, níveis insustentáveis de desemprego inimagináveis apenas há uma dúzia de anos, estagnação económica, "programas de ajustamento" que se assemelham a tributos de guerra em países ocupados. Tudo isto deveria levar a que se alterassem procedimentos económicos, pois não correspondem às necessidades, exigências e expectativas dos cidadãos e da sua vida em comunidade. Porém os responsáveis da troika e propagandistas continuam a considerar que o consumo português é excessivo.

    A mesma receita malthusiana, aplicada pelos fascismos em Portugal, Espanha, Grécia ou na América Latina, é posta em prática "democraticamente" na UE aos países previamente vulnerabilizados pelos tratados da UE e pelo euro. Impõe-se como "sem alternativa" a baixa dos défices pelo desmantelamento dos serviços públicos, redução das despesas sociais, privatização de empresas, desregulamentação do trabalho. É este o guião que o governo PSD-CDS com o total apoio do PR segue, o resultado é um cada vez mais distante equilíbrio económico social

    Malthus pregava a virtude aos pobres para que os mais ricos o fossem cada vez mais. Os defensores da austeridade neoliberal, em nome dos "mercados", têm a mesma visão. Comentadores e propagandistas preconizam há anos as políticas seguidas pelo governo, mas sempre criticando-as por insuficientes, por não se acabar com a "subsídio dependência" de reformados e pensionistas, dos trabalhadores da função pública, dos pobres que sobrevivem com insuficientes prestações sociais.

    O sr. César das Neves considerava que "esta crise é uma oportunidade de bondade, de caridade e solidariedade. Bendita crise que nos trouxe ao essencial". [3] Talvez, graças á crise a sra. Jonet tenha mais garantido o reino dos céus… Mas em que consiste este "essencial"? Retrocesso civilizacional, incerteza, desespero, para que uma ínfima minoria fique cada vez mais rica e coloque os acrescidos excedentes em paraísos fiscais.

    A oligarquia apropriou-se da riqueza e não a quer largar. Os seus ideólogos justificam-na com argumentos do malthusianismo refletindo total desprezo pela dignidade da classe trabalhadora. Malthus não era apenas um reacionário, a sua filosofia é percorrida por ódio aos trabalhadores que tinham o desplante de afrontar os mais ricos, os mais poderosos, como a frase em epígrafe mostra.

    Para os defensores das políticas atuais os trabalhadores com direitos, passam a "inimigos do Estado Social": "Os principais inimigos do Estado Social foram aqueles que durante décadas acumularam supostos direitos sem se preocuparem com o seu financiamento." [4] Para os ideólogos da direita/extrema-direita, são estes os "inimigos", não os banqueiros corruptos e fraudulentos, nem a agiotagem enfarpelada na mistificação dos "mercados".

    O ataque ao trabalho com direitos vem envolvido numa ladainha de piedade pelos pobres, supostas vítimas dos outros trabalhadores, pois os direitos destes permitem-lhes "amaciar o golpe".[4] O escândalo não é a corrupção, a fraude, o dinheiro espoliado a trabalhadores na precariedade e posto em paraísos fiscais, é que trabalhadores defendam os seus direitos e tentem "amaciar o golpe"!

    Moral da história faça-se justiça: corte-se os direitos a todos. É o que o governo tenta persistentemente concretizar com a ajuda do secretário-geral da UGT cujo papel se assemelha ao de Polichinelo nas encenações de "crescimento e emprego" na dita "concertação social".

    O atual governador do BP, depois de garantir a "estabilidade do sistema financeiro" e que não havia problemas na banca nacional, põe o país perante irregularidades e ilegalidades no BES e mostra-se incapaz de dar credibilidade ao sistema financeiro sujeitando-se a um puxão de orelhas do FMI que o incitava a "uma regulação mais intrusiva".

    Em contraste com evasivas e contradições para proteger as tranquibérnias da elite financeira, o governador do BP promovia a austeridade e acusava os direitos laborais de "rigidez", considerando-os causa do aumento do desemprego. Neste sentido, defendia que o país tinha de estar sempre atento para não "desiludir os mercados" (ridículo vindo de quem vem!). Recorde-se que em Portugal os salários representavam em 2011 apenas 15% do valor das vendas e nas empresas exportadoras ainda menos. Eis um exemplo eloquente do nível de degradação política e ideológica que a direita/extrema-direita "encastelada no poder" atingiu.

    Portugal foi o país da UE cuja população com "severa privação material" mais cresceu, passando de 8,3 para 10,9% entre 2011 e 2013. [6] No entanto, a riqueza da oligarquia não deixou de crescer, o valor do património dos 25 mais ricos representava em 2013, 10,6% do PIB. É isto que o PSD e CDS consideram o país estar melhor. E como, em termos malthusianos, os ricos nada devem aos pobres os cortes nas prestações sociais e salários são para prosseguir…

    O capitalismo tornou-se uma máquina de especulação em que a relação entre os rendimentos do grande capital e o conteúdo de trabalho se perdeu. No final dos anos 80, a relação entre o salário médio de um trabalhador e um administrador de uma grande empresa era de 1 para 30, nos dias de hoje ultrapassa 1 para 200, sem falar nos prémios e outras regalias. "A acumulação de riquezas num polo tem por inverso necessário uma acumulação proporcional de miséria, de onde nascem inexoravelmente as crises económicas." (Marx)

    O ódio ao 25 de ABRIL foi bem evidenciado na AR no debate sobre o Estado da Nação em 02.julho. Quando Jerónimo de Sousa defendeu um efetivo controlo público sobre a banca comercial, incluindo a sua nacionalização, o deputado do CDS, Anselmo Correia, destemperou-se numa objurgatória contra o período revolucionário e a sua estratégia antimonopolista: "esses tempos não voltarão mais", frase que Passos Coelho e o seu séquito de propagandistas não se cansam de repetir.

    Eis o que a reação calunia: apesar da crise do petróleo em 1974 e 1975, o salário mínimo nacional foi implementado e ao fim de um ano sofreu uma atualização de 10%; o abono de família foi aumentado e passou a abranger mais de meio milhão de crianças; mesmo no desemprego passaram a ficar assegurados os benefícios da então Previdência; os valores das pensões sociais foram duplicados para os inválidos e para os maiores de 65 anos; foi implantada a licença de parto; foi alargado o período de férias para 30 dias, as férias passaram a ser pagas e passou a existir o subsídio de Natal; foi reduzido o horário de trabalho; foram tomadas medidas de ajuda aos desempregados; foi criado o embrião do Serviço Nacional de Saúde.

    Um relatório da missão da OCDE que se deslocou a Portugal em dezembro de 1975 viu-se obrigado a dizer: "Portugal goza, inesperadamente, de boa saúde económica, em comparação com outros países da OCDE, a experiência portuguesa não parece muito pior que a média". A experiência portuguesa era até bem melhor, mas isso era insuportável para a direita aliada ao PS, ou vice-versa. Compare-se com a austeridade das troikas internas e externa e os resultados obtidos.

    Há na direita/extrema-direita um indisfarçável saudosismo pelo fascismo. São os elogios ao "equilíbrio orçamental" dos anos 60. São afirmações do sr. César da Neves sobre o Portugal dos anos 60. "Portugal era um país pacato e trabalhador, poupado e prudente, que se sacrificava generosamente, labutando dia e noite para cumprir os deveres". Veio o 25 de Abril e…"Portugal gastou. Criou autarquias e dinamização cultural, comprou frigoríficos e televisões (sic!), fez planeamento económico, exigiu escolas e hospitais." [7] Para o sr. CN a liberdade teve destes horrores… Afinal, o seu "essencial" é o subdesenvolvimento económico e social.

    "Nos anos 60, Portugal não era pacato. Era obediente. E quem não o era, fugindo à norma nacional, era vigiado, perseguido, preso, torturado e até morto. Portugal não era apenas trabalhador. Era escravo. O trabalho infantil era uma banalidade, os horários, as férias e os fins-de-semana um luxo inalcançável. Morria-se cedo, comia-se mal, não se tinha nem saúde nem educação. Era analfabeto, doente, subdesenvolvido. Portugal não era prudente. Tinha medo" "Portugal não era poupado. Era miserável. Os indicadores de saúde eram de um País do terceiro mundo. [8]

    Ao serviço da oligarquia a metafísica do srs. Friedman, Hayek e parceiros foi transformada em "ciência económica" destinada a subordinar os povos e o funcionamento das economias nacionais aos interesses de uma minoria de multimilionários e do imperialismo. Pregam austeridade aos que ganham escassas centenas de euros enquanto fecham os olhos aos salários milionários e aos benefícios fiscais às grandes empresas.

    Porém, "A força de uma economia deve ser sempre avaliada pela forma como afeta a maioria do povo" [9] Por isso, o neoliberalismo deve ser rejeitado como inimigo da civilização e da democracia, um malthusianismo que diaboliza os trabalhadores com direitos para aumentar a extorsão à generalidade da população.

     

    [1] História das Ideias Políticas, J. Touchard, T III, Ed. Europa América, p. 198
    [2] Relatório do Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos sociais da Universidade de Coimbra, dezembro de 2013,
    [3] Revista Visão, 20/12/2012
    [4] César da Neves, Jornal de Negócios on-line, 27/Maio/2013
    [5] idem, 18/Março/2013, Jornal de Negócios
    [6] Material deprivation statistics - early results, epp.eurostat.ec.europa.eu/...
    [7] A gaiola dourada, João César das Neves, DN, 09/setembro/2013
    [8] Daniel Oliveira em expresso.sapo.pt/antes-pelo-contrario=s25282#ixzz2ezd6xfCf
    [9] www.inequality.org , Gene Sperking, democracy Fall, 2007


    A primeira parte encontra-se em resistir.info/v_carvalho/degradacao_ideologica_1.html

    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/


    aqui:http://resistir.info/v_carvalho/degradacao_ideologica_2.html 

    Crime de alta traição na Palestina


      por Christophe Oberlin [*]
     
    Abbas e Dahlan, as marionetes. Ontem, 5 de Agosto de 2014, o sr. Riad Al Maliki, ministro dos Negócios Estrangeiros da Palestina, obteve da sra. Fatou Bensouda, procuradora do Tribunal Penal Internacional, a anulação da queixa apresentada em 25 de Julho de 2014 pelo sr. Saleem Al Saqqa, ministro palestino da Justiça, e pelo sr. Ismaeel Jaber, procurador-geral de Gaza para os crimes de guerra cometidos ali pelo exército israelense.

    Esta queixa, elaborada pelos melhores especialistas em Direito Internacional, havia recebido o apoio de 130 professores de Direito do mundo todo, que haviam afirmado a sua completa receptibilidade nos termos dos estatutos do Tribunal Penal Internacional.

    Desde a publicação da queixa, o presidente palestino Mahmoud Abbas, o representante da Palestina na ONU e a sra. Leila Shahid, embaixadora da Palestina junto à União Europeia, desenvolveram uma estratégia tendo em vista a anulação da queixa. O representante na ONU pretendeu, em uníssono com a parte israelense, que a apresentação da queixa corria o risco de voltar-se contra a resistência palestina, o que é juridicamente falso (artigo 31D do estatuto do Tribunal Penal Internacional). A sra. Leila Shaid avançou no mesmo sentido, provocando em 4 de Agosto uma reacção oficial do Hamas por intermédio do seu porta-voz, Sami Abu Zouhri.
    "Não ouçam nenhuma voz a sugerir que nos oporíamos a uma acção junto ao Tribunal Penal Internacional. Certas pessoas dizem que o Hamas ou outras pessoas resistentes poderiam ser vítimas de uma tal iniciativa, mas isso não é verdade. Isso não passa de propaganda. Nada do que fazemos nos faz medo. Estamos sob ocupação e é nosso direito, conforme a lei, resistir. E é também direito da nossa população ser defendida".
    Estas pressões sobre o Tribunal Penal Internacional, conducentes à anulação da queixa, eram infelizmente previsíveis. Já na sequência da guerra do Inverno de 2008-2009 o sr. Abbas havia despachado o sr. Al Maliki junto ao procurador do Tribunal, o que levou à anulação do procedimento de queixa em curso. Hoje são os mesmos actores que manobram.

    É preciso dizer que a queixa apresentada em 25 de Julho de 2014, além dos crimes de guerra mencionava o crime de colonialismo, o que fazia pesar uma ameaça forte sobre Israel: a partir da queixa transmitida à câmara intermediária, as empresas estrangeiras a trabalharem nos territórios ocupados tornavam-se susceptíveis de processos por cumplicidade. As consequências económicas para Israel teriam podido ser rápidas, bem antes de suceder o julgamento dos responsáveis dos crimes de guerra. Antes mesmo de a batalha das armas estar terminada, o sr. Netanyahu obteve, graças ao sr. Abbas e à sra. Leila Shaid, uma vitória política determinante: a ameaça económica está afastada.

    Como sempre em semelhantes circunstâncias, a comunicação palestina – e em particular a sra. Leila Shaid – pretende ter uma outra estratégia: a de adesão ao Tribunal Penal Internacional. Por que não o ter feito mais cedo? A suposta necessidade de reconhecimento prévio do estado palestino na ONU é uma mentira jurídica. O sr. Abbas e a sra. Shaid teriam podido avançar para o Tribunal desde há cerca de dez anos. Três massacres em Gaza [guerra israelense contra Gaza em 2008/2009, em 2012 e em 2014 – NR] talvez pudessem ser evitados.

    A decisão de fazer calar o Direito submete a uma nova luz o jogo assassino e a natureza real da Autoridade Palestina.

    Serviu ela aos palestinos em 2006 quando, depois de ter perdido as eleições, tenta retomar o poder pelas armas?

    Serviu ela aos palestinos em 2006 quando condenou a captura de um soldado israelense no posto de combate?

    Serviu ela aos palestinos em 2009 quando contribuiu para enterrar o relatório Goldstone sobre os crimes cometidos em Gaza?

    Serviu ela os palestinos quando apoia oficialmente o novo ditador egípcio que está na origem do encerramento do único ponto de passagem de Gaza com o mundo?

    Serviu ela os palestinos quando seu presidente, alguns dias antes do ataque israelense, declarou: "Os túneis entre Gaza e o Egipto são ilegais. Nós (sic) temos tentado destruí-los, nós (sic) construímos um muro de aço subterrâneo, nós (sic) temos tentado afundá-los".

    Todos estes ataques têm de facto como finalidade destruir um partido político com referência cultural muçulmana, o Hamas, e a qualquer que seja o preço para a população palestina.

    Sendo o direito internacional espezinhado, é forçoso observar novamente o direito nacional palestino, também ele espezinhado. O presidente Abbas, segundo leis fundamentais palestinas, terminou seu mandato em Janeiro de 2009. Uma vez que não pode haver eleições, é o presidente do parlamento, Aziz Duwaik, que teria devido substituí-lo. O sr. Duwaik está na prisão. Uma vez que o parlamento teria devido legalmente ver o seu mandato prolongado, numerosos parlamentares foram aprisionados, por vez com o apoio da polícia palestina, e o parlamento está impedido de funcionar.

    Assim, ela anseia hoje, dentre as ditaduras árabes, ser "o melhor inimigo de Israel".

    O presidente actual é portanto tanto ilegal como ilegítimo. O sr. Abbas e a sra. Leila Shaid reinam sobre um campo de ruínas físicas, políticas e morais. Eles servem o interesse do inimigo. A Palestina tem o seu governo de Vichy que não representa os palestinos, não mais do que Vichy representava a França.

    Que aqueles que o contestam ousem organizar eleições livres e não falseadas em Gaza, na Cisjordânia e em Jerusalém-Leste.
     
    06/Agosto/2014
     

    Ver também:

  • Israël peut aller jusqu’à assassiner ses propres soldats
  • Israël informe les USA de ses plans d’asphyxie de l’économie à Gaza (Wikileaks)
  • [Vidéo] Soldats israéliens s’amusant à bombarder les maisons à Gaza

  • Ron Paul: Don’t Palestinians Have a Right to Defend Themselves Too?

    [*] Professor de medicina e cirurgião no Hospital Bichat, em Paris. Efectua desde há dez anos missões humanitárias na faixa de Gaza.

    O original encontra-se em arretsurinfo.ch/...


    Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
  •  
  • aqui:http://resistir.info/palestina/alta_traicao_06ago14.html 
  • Mobilização contra a mentira sobre o clima

    terça-feira, 5 de agosto de 2014

    Quem é o inimigo?


    Todos têm a sua própria opinião para explicar os massacres cometidos pelo Estado de Israel em Gaza. Enquanto nos anos 70 e 80, se via nisso uma manifestação do imperialismo anglo-saxónico, hoje muitos interpretam-no como um conflito entre judeus e árabes. Debruçando-se sobre este longo período —quatro séculos de História —, Thierry Meyssan, consultor junto a vários governos, analisa a origem do sionismo, as suas reais ambições, e determina quem é o inimigo.

    | Damasco (Síria)

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    A guerra, que prossegue sem interrupção desde há 66 anos na Palestina, conheceu uma nova agudização com as operações israelitas «Guardiões dos nossos irmãos», seguida de «Rochedo de Firmeza» (traduzido estranhamente na imprensa ocidental por «Fronteira protetora»).

    À vista, Telavive —que escolheu instrumentalizar o desaparecimento de três jovens Israelitas para lançar estas operações e «arrancar o Hamas pela raiz» afim de explorar o gaz de Gaza, conforme o plano enunciado em 2007 pelo actual ministro da Defesa [1]— foi surpreendido pela reacção da Resistência. A Jihade islâmica respondeu como o envio de roquetes de médio alcance, muito difíceis de interceptar, que se somaram aos lançados pelo Hamas.

    A violência dos acontecimentos, que custaram já a vida a mais de 1.500 Palestinianos e 62 Israelitas(embora os números israelitas sejam submetidos à censura militar e estejam provavelmente diminuídos), levantou uma vaga de protestos no mundo inteiro. Além dos seus 15 membros, o Conselho de segurança, reunido a 22 de julho, deu a palavra a 40 outros Estados que entenderam exprimir a sua indignação diante do comportamento de Telavive e da sua «cultura de impunidade». A sessão, em lugar de durar as 2 horas habituais, durou assim 9 [2].

    Simbolicamente, a Bolívia declarou Israel «Estado terrorista» e revogou o acordo de livre-circulação que o abrangia. Mas, de um modo geral, as declarações de protesto não foram seguidas de uma ajuda militar, à excepção das do Irão (Irã-Br) e simbolicamente da Síria. Ambos apoiam a população palestina via Jihade islâmica, ramo militar do Hamas (mas não o seu ramo político, que é membro dos Irmãos muçulmanos), e a FPLP-CG.

    Contráriamente aos antecedentes (operações «Chumbo endurecido» em 2008 e «Coluna de nuvem negra» em 2012), os dois Estados que protegem Israel no Conselho (os Estados-Unidos e o Reino-Unido), fizeram vista grossa à elaboração de uma declaração do presidente do Conselho de segurança sublinhando as obrigações humanitárias de Israel [3]. De facto, para lá da questão fundamental de um conflito que dura desde 1948, assiste-se a um consenso para condenar no mínimo o recurso de Israel a um emprego desproporcionado da força.

    No entanto, este aparente consenso mascara análises muito diferentes: certos autores interpretam o conflito como uma guerra de religião entre judeus e muçulmanos; outros vêem nela, pelo contrário, uma guerra política segundo um esquema colonial clássico. Que se deve pois pensar a propósito?

     

    O que é que é o sionismo?


    A meio do século XVII, os calvinistas britânicos agruparam-se em torno de Oliver Cromwell e puseram em causa a fé e a hierarquia do regime. Depois de terem derrubado a monarquia anglicana, o «Lorde protector» pretendeu permitir ao povo inglês conseguir a pureza moral necessária para atravessar uma tribulação de 7 anos, acolher o retorno de Cristo, e viver pacificamente com ele durante 1.000 anos (o «Milénio»). Para conseguir realizar isto, segundo a sua interpretação da Bíblia, os israelitas deviam ser dispersos pelos confins da terra, depois reagrupados na Palestina e aí reconstruir o templo de Salomão. Nesta base, ele instaurou um regime puritano, levantou em 1656 a interdição posta aos israelitas de se instalarem em Inglaterra, e anunciou que o seu país se comprometia a criar, na Palestina, o Estado de Israel [4].

    Tendo a seita de Cromwell sido, por seu turno, derrubada no final da «Primeira Guerra civil inglesa», os seus partidários mortos ou exilados, e a monarquia anglicana restabelecida, o sionismo (quer dizer o projeto de criação de um Estado para os israelitas) foi abandonado. Ele ressurgiu no século XVIII com a «Segunda Guerra civil inglesa», (segundo a nomenclatura dos manuais de História do secundário no Reino-Unido), que o resto do mundo conhece como a «guerra de independência dos Estados-Unidos» (1775-83). Contráriamente a uma ideia feita, esta não foi uma acção empreendida em nome do ideal das Luzes, que animou alguns anos mais tarde a Revolução francesa, mas sim financiada pelo rei de França e encetada por motivos religiosos ao grito de «o Nosso Rei, é Jesus!».

    George Washington, Thomas Jefferson e Benjamin Franklin, para citar apenas estes, apresentaram-se como os sucessores dos partidários exilados de Oliver Cromwell. Os Estados-Unidos retomaram, pois, logicamente o seu projeto sionista.

    Em 1868, em Inglaterra, a rainha Victoria designou como Primeiro-ministro, o judeu Benjamin Disraeli. Este propôs-lhe conceder alguns direitos aos descendentes dos partidários de Cromwell, de maneira a poder apoiar-se sobre todo o povo para estender o poder da Coroa no mundo. Sobretudo, propôs aliar-se à diáspora judia para conduzir uma política imperialista da qual ela seria a guarda-avançada. Em 1878, ele fez inscrever «a restauração de Israel» na ordem do dia do Congresso de Berlim sobre a nova partilha do mundo.

    É sobre esta base sionista que o Reino-Unido restabelece as boas relações com as suas antigas colónias tornadas Estados-Unidos, no seguimento da «Terceira Guerra civil inglesa» —conhecida nos Estados-Unidos como a «guerra civil americana», e na Europa continental como a «guerra de Secessão» (1861-65)— que viu a vitória dos sucessores dos partidários de Cromwell, os WASP (White Anglo-Saxon Puritans- inglês para: «Brancos Anglo-Saxónicos Puritanos»-ndT) [5]. Uma vez mais, ainda, é erradamente que se fala deste conflito como uma luta contra a escravatura quando 5 Estados do Norte a mantinham, na altura, também.
    Até quase ao final do século XIX o sionismo é, pois, apenas um projeto puritano anglo-saxónico, ao qual só uma elite judia adere. Ele é fortemente condenado pelos rabinos, que interpretam a Torá como uma alegoria e não como um plano político.
    Entre as consequências actuais desses factos (fatos-Br) históricos, temos de admitir que se o sionismo visava a criação de um Estado para os israelitas, ele é também o fundamento da existência dos Estados Unidos. Portanto, a questão de se saber se as decisões políticas, de conjunto, são tomadas em Washington ou em Telavive tem apenas um interesse relativo. É a mesma ideologia que está no poder em ambos os países. Além disso, tendo o sionismo permitido a reconciliação entre Londres e Washington, colocá-lo em causa é o mesmo que atacar esta aliança, a mais poderosa do mundo.

     

    A adesão do povo judaico ao sionismo anglo-saxão


    Na historiografia oficial de hoje, costuma-se ignorar o período dos XVIIo-XIXo séculos e apresentar Theodor Herzl como o fundador do sionismo. Ora, de acordo com publicações internas da Organização Sionista Mundial, este ponto é igualmente falso.

    O verdadeiro fundador do sionismo moderno não era judeu, mas cristão dispensionalista. O reverendo William E. Blackstone foi um pregador americano, para quem os verdadeiros cristãos não teriam de passar pelas provações no final dos tempos. Ele pregou que estes seriam levados para o céu durante a batalha final (a «ascensão da Igreja», em Inglês «the rapture»). Na sua opinião, os judeus travariam esta batalha e sairiam dela, ao mesmo tempo, convertidos a Cristo e vitoriosos.
    Foi a teologia do reverendo Blackstone, que serviu de base ao apoio incondicional de Washington para a criação de Israel. E, isso, muito antes do AIPAC (o lóbi pró-Israel) ter sido criado e ter tomado o controlo do Congresso. Na realidade, o poder do lóbi não resulta tanto do seu dinheiro e da sua capacidade de financiar campanhas eleitorais, mas mais desta ideologia sempre presente nos EUA [6].
    A Teologia do arrebatamento por muito estúpida que possa parecer é, hoje em dia, muito poderosa nos Estados Unidos. Ela representa um fenómeno (fenômeno-Br) na literatura e no cinema (veja-se o filme Left Behind, com Nicolas Cage, que será exibido a partir de outubro).

    Theodor Herzl era um admirador do magnata dos diamantes Cecil Rhodes, o teórico do imperialismo britânico e fundador da África do Sul, da Rodésia (à qual deu o seu nome) e da Zâmbia (ex-Rodésia do Norte). Herzl não era judeu (no sentido em que não praticava a fé do judaísmo -ndT), e não havia circuncidado o seu filho. Ateu, como muitos burgueses europeus do seu tempo, ele preconizou primeiro a assimilação dos judeus por conversão ao cristianismo. No entanto, retomando a teoria de Benjamin Disraeli, ele chegou à conclusão que a melhor solução era envolvê-los no colonialismo britânico, criando um Estado judaico no actual Uganda ou na Argentina. Ele seguiu o exemplo de Rhodes quanto à compra de terras e na criação da Agência Judaica.

    Blackstone conseguiu convencer Herzl a juntar as preocupações dos dispensionalistas às dos colonialistas. Bastava, para isso, encarar a criação de Israel na Palestina e multiplicar as referências bíblicas a propósito. Graças a esta ideia bastante simples, eles conseguiram fazer aderir a maioria dos judeus europeus ao seu projecto. Hoje, Herzl está enterrado em Israel (no Monte Herzl), e o Estado colocou no seu caixão A Bíblia anotada que Blackstone lhe havia dado.
    O sionismo nunca teve, pois, como objetivo «salvar o povo judeu, dando- lhe um lar», mas sim fazer triunfar o imperialismo anglo-saxónico envolvendo nisso os israelitas. Além disso, não só o sionismo não é um produto da cultura judaica(no sentido de fé, tradições, costumes etc..-ndT), como a maioria dos sionistas nunca foi judaica, enquanto a maioria dos israelitas sionistas não são judeus. As referências bíblicas omnipresentes no discurso oficialista israelita (israelense-Br), não refletem o pensamento da parte crente do país e são destinadas, acima de tudo, a convencer a população dos EUA.

     

    O pacto anglo-saxão para a criação de Israel na Palestina


    A decisão de criar um Estado judaico na Palestina foi tomada em conjunto pelos governos britânico e norte-americano. Ela foi negociada pelo primeiro juiz judaico no Supremo Tribunal dos Estados Unidos, Louis Brandeis, sob os auspícios do reverendo Blackstone e foi aprovada tanto pelo presidente Woodrow Wilson, como pelo primeiro-ministro David Lloyd George, na esteira dos acordos franco-britânicos Sykes-Picot de partilha do «Próximo-Oriente». Este acordo foi sendo progressivamente revelado ao público.

    O futuro Secretário de Estado para as Colónias, Leo Amery, foi encarregado de enquadrar os antigos membros do «Zion Mule Corps» (Corpo sionista de transporte com mulas -ndT) para criar, com dois agentes britânicos Ze’ev Jabotinsky e Chaim Weizmann, a «Legião Judaica» no seio do exército britânico.

    O ministro das Relações Exteriores(Negócios Estrangeiros -Pt), Lord Balfour, enviou uma carta aberta a Lord Walter Rothschild comprometendo-se a criar um «lar nacional judaico» na Palestina (2 de novembro de 1917). O presidente Wilson incluiu entre os seus objetivos de guerra oficiais, (o n ° 12 dos 14 pontos apresentados ao Congresso a 8 de janeiro de 1918), a criação de Israel [7].
    Portanto, a decisão de criar Israel não tem nenhuma relação com a destruição dos judeus da Europa, sobrevinda duas décadas mais tarde, durante a Segunda Guerra Mundial.
    Durante a Conferência de paz de Paris, o Emir Faiçal (filho do xerife de Meca, e mais tarde rei do Iraque britânico) assinou, a 3 de janeiro de 1919, um acordo com a Organização Sionista, comprometendo-se a apoiar a decisão anglo-saxónica.
    A criação do Estado de Israel, que foi feita contra a população da Palestina, foi, pois, também feita com o acordo dos monarcas árabes. Além disso, à época, o xerife de Meca, Hussein bin Ali, não interpretava o Alcorão à maneira do Hamas. Ele não pensava que «uma terra muçulmana não pudesse ser governada pelos não-muçulmanos».

     

    A criação jurídica do Estado de Israel


    Em maio de 1942, as organizações sionistas realizaram o seu congresso no Hotel Biltmore, em Nova Iorque. Os participantes decidiram transformar o «lar nacional judaico» da Palestina em «Commonwealth Judaica» (referindo-se à Commonwealth com a qual Cromwell havia substituído brevemente a monarquia britânica), e autorizar a imigração em massa de judeus para a Palestina. Num documento secreto, foram especificados três objectivos: «(1) o Estado judeu englobaria a totalidade da Palestina e, provavelmente, a Transjordânia; (2) o deslocamento das populações árabes para o Iraque e (3) a tomada em mãos pelos judeus dos sectores do desenvolvimento e do controlo da economia em todo o Médio-Oriente».

    A quase totalidade dos participantes ignorava, então, que a «solução final da questão judaica» (die Endlösung der Judenfrage) tinha justamente começado, secretamente, na Europa.

    Em última análise, ao passo que os britânicos não sabiam como haviam de satisfazer quer os judeus, quer os árabes, as Nações Unidas (que então tinham apenas 46 Estados-membros) propuseram um plano de partilha da Palestina, a partir das indicações de que os Britânicos lhe haviam fornecido. Deveria ser criado um Estado bi-nacional compreendendo um Estado judeu, um Estado árabe, e uma área «sob regime internacional especial» para administrar os lugares santos (Jerusalém e Belém). Este projeto foi aprovado pela Resolução 181 da Assembleia Geral [8] .

    Sem esperar pelo resultado das negociações, o presidente da Agência Judaica, David Ben Gurion, proclamou, unilateralmente, o Estado de Israel, imediatamente reconhecido pelos Estados Unidos. Os árabes do território israelita foram colocados sob lei marcial, os seus movimentos foram restringidos e os seus passaportes confiscados. Os países árabes recém-independentes intervieram. Mas, sem exércitos devidamente constituídos, foram rápidamente derrotados. No decurso desta guerra, Israel procedeu a uma limpeza étnica e forçou, pelo menos, 700.000 árabes a fugir.

    A ONU enviou como mediador, o conde Folke Bernadotte, um diplomata sueco que salvou milhares de judeus durante a guerra (2a guerra mundial-ndT). Ele descobriu que os dados demográficos, fornecidos pelas autoridades britânicas, estavam falseados e exigiu a plena implementação do Plano de Partilha da Palestina. Ora, a Resolução 181 implicava o retorno dos 700. 000 árabes expulsos, a criação de um Estado árabe e a internacionalização de Jerusalém. O enviado especial da Onu foi assassinado, a 17 de setembro 1948, por ordem do futuro primeiro-ministro, Yitzhak Shamir.

    Furiosa, a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou a Resolução 194, que reafirma os princípios da Resolução 181 e, além disso, proclama o direito inalienável dos palestinianos a voltar para suas casas e a ser indemnizados (indenizados-Br) pelos prejuízos que acabavam de sofrer [9].

    Entretanto, Israel, tendo prendido os assassinos de Bernadotte, tendo-os julgado e condenado, foi aceite no seio da Onu com a promessa de honrar as resoluções. Mas, tudo isso não passava de mentiras. Logo após os assassinos foram amnistiados (anistiados-Br), e o atirador tornou-se o guarda-costas pessoal do primeiro-ministro David Ben Gurion.

    Desde a sua adesão à Onu Israel não parou de violar as resoluções, que se acumularam na Assembleia Geral e no Conselho de Segurança. Os seus laços orgânicos com dois membros do Conselho, dispondo do direito de veto, colocam-no à margem do direito internacional. Tornou-se um Estado offshore, permitindo aos Estados Unidos e ao Reino Unido fingir respeitar ambos o direito internacional, enquanto o violam a partir deste pseudo-Estado.
    É absolutamente errado pensar que o problema colocado por Israel só envolve o Médio-Oriente. Hoje em dia, Israel actua militarmente em qualquer lugar do mundo, sob a capa do imperialismo anglo-saxónico. Na América Latina, foram agentes israelitas que organizaram a repressão durante o golpe contra Hugo Chavez (2002) ou o derrube (derrubada-Br) de Manuel Zelaya (2009). Em África, eles estavam presentes, por todo o lado, durante a guerra dos Grandes Lagos, e organizaram a prisão de Muammar el-Qaddafi. Na Ásia, eles dirigiram o assalto e o massacre dos Tigres Tamil (2009), etc. Em todos os casos, Londres e Washington juram não ter nada a ver com tais assuntos. Além disso, Israel controla muitos meios de comunicação e instituições financeiras (tal como a Reserva Federal dos Estados Unidos).

     

    A luta contra o imperialismo


    Até à dissolução da URSS era óbvio para todos, que a questão israelita destacava-se na luta contra o imperialismo. Os palestinianos eram apoiados por todos os anti- imperialistas do mundo – até os membros do Exército Vermelho japonês — que vinham bater-se ao seu lado.

    Actualmente, a globalização da sociedade de consumo, e a perda de valores que se lhe seguiu, fez perder a consciência do caráter colonial do Estado hebreu. Somente os árabes e muçulmanos se sentem postos em causa. Eles mostram empatia com o sofrimento dos palestinos, mas ignoram os crimes de Israel no resto do mundo, e não reagem aos outros crimes imperialistas.

    No entanto, em 1979, o aiatola Ruhollah Khomeini explicava aos seus fieis iranianos, que Israel não era senão como uma boneca nas mãos dos imperialistas e o único verdadeiro inimigo era a aliança dos Estados Unidos e do Reino Unido. Por ter enunciado esta simples verdade, Khomeini foi caricaturado no Ocidente e os xiitas foram apresentados como heréticos no Oriente. Hoje em dia, o Irão (Irã-Br) é o único Estado no mundo a enviar maciçamente armas e conselheiros para ajudar a Resistência palestina, enquanto os regimes sionistas árabes debatem amavelmente, por vídeo-conferência, com o presidente israelita durante as reuniões do Conselho de Segurança do Golfo [10].
    Tradução
    Alva


    [1] «A extensão da guerra do gás no Levante», por Thierry Meyssan, Al- Watan/Rede Voltaire , 21 de julho de 2014.
    [2] « Réunion du Conseil de sécurité sur le Proche-Orient et l’offensive israélienne à Gaza » (Fr-«Reunião do Conselho de Segurança sobre o Próximo-Oriente e a ofensiva israelita na Faixa de Gaza»-ndT), Réseau Voltaire, 22 juillet 2014.
    [3] « Déclaration du Président du Conseil de sécurité sur la situation à Gaza » (Fr-«Declaração do Presidente do Conselho de Segurança sobre a situação na Faixa de Gaza»-ndT), Réseau Voltaire, 28 juillet 2014.
    [4] Sur l’histoire du sionisme, on se reportera au chapitre correspondant (« Israël et les Anglo-Saxons ») de mon livre L’Effroyable imposture 2, Manipulations et désinformations, Edition Alphée, 2007. Les lecteurs y trouveront de nombreuses références bibliographiques.
    [5] The Cousins’ Wars : Religion, Politics, Civil Warfare and the Triumph of Anglo- America, Kevin Phillips, Basic Books (1999) (Ing-«As Guerras dos Primos: Religião, Política, Guerra Civil e o Triunfo da Anglo-América, por Kevin Philips»- ndT).
    [6] Veja especialmente American Theocracy (2006) (Teocracia Americana), de Kevin Phillips, um notável historiador que foi conselheiro de Richard Nixon»
    [7] A formulação do ponto 12 é particularmente crítica. Assim, na época da Conferência de Paz de Paris, em 1919, o Emir Faiçal reclamou o direito dos povos antigos sob o jugo Otomano. Ele disse haver uma escolha entre uma Síria sob um ou vários mandatos. A delegação sionista argumentou que Wilson tinha prometido apoiar a comunidade judaica, para surpresa da delegação dos Estados Unidos. Em última análise, Wilson confirmou a escrita do ponto 12 como um compromisso de Washington para a criação de Israel e a restauração da Armênia.
    [8] « Résolution 181 de l’Assemblée générale de l’Onu » (Fr-«Resolução 181 da Assembleia Geral da Onu»-ndT), Réseau Voltaire, 29 novembre 1947.
    [9] « Résolution 194 de l’Assemblée générale de l’Onu » (Fr-«Resolução 194 da Assembleia Geral da Onu»-ndT), Réseau Voltaire, 11 décembre 1948.
    [10] “O presidente de Israel falou perante o Conselho de Segurança do Golfo em fins de novembro”, Tradução Alva, Rede Voltaire, 8 de Dezembro de 2013.

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