sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Em meio à crise capitalista, que ameaça ruir tanto o dólar como o euro, continuam as manobras diversionistas para distrair o mundo do que é essencial. Uma delas está a decorrer agora em Durban, uma conferência acerca do mítico aquecimento global . Absurdamente, continua-se a diabolizar o CO2 – que está presente no ar que respiramos – e a confundir clima com ambiente. Seria mais útil que os bem pagos participantes em conferências desse jaez estimassem quanto de poluição tem sido emitida pelas guerras desencadeadas pelo imperialismo americano e o sub-imperialismo europeu. Mas no jornalismo que se auto-intiula como "referência", expressões como urânio empobrecido (depleted uranium, DU) são tabu.

O défice orçamental fictício de 2011

Tal como aconteceu com Alan Greenspan, ex-presidente da Reserva Federal dos EUA, cuja cegueira ideológica neoliberal o impediu de tomar medidas que evitassem a crise iniciada em 2007, também em Portugal a cegueira ideológica neoliberal que domina Passos Coelho e o ministro das Finanças está a impedi-los de ver que estão a destruir o país. A política de austeridade, assente na ideologia neoliberal, tem como objectivo garantir o pagamento aos credores, que são os grandes grupos financeiros, como afirma o Nobel da economia Joseph Stiglitz. E isto mesmo que seja à custa da destruição da economia e da sociedade.


Apesar da falência de milhares de empresas e do aumento brutal do desemprego e da pobreza em Portugal em 2011, o objectivo de redução do défice para 5,9% não foi atingido porque era irrealista. O défice orçamental de 5,9% em 2011, anunciado triunfalmente pelo governo e pela "troika" estrangeira, não é real. É sim um défice fictício, já que só foi conseguido com a utilização de uma parte dos activos dos fundos pensões dos bancários. O verdadeiro défice de 2011 foi de 7,5% do PIB, o que corresponde a 12.737,5 milhões €. E em 2012, o governo e a "troika" pretendem reduzir o défice orçamental para 4,5%, ou seja, para 7.556,9 milhões €, o que significa uma diminuição de 40,7% (-5.180 milhões €). A redução do défice nesta dimensão, quando Portugal já se encontra em plena recessão económica, só poderá determinar mais destruição da economia, a falência de milhares de empresas, o aumento brutal do desemprego, a generalização da pobreza e da miséria, e sacrifícios enormes para a maioria dos portugueses. É um objectivo que, se for concretizado, só poderá levar o país a um grande retrocesso económico e social.

É urgente reagir ao estado de choque causado pela intervenção estrangeira, e exigir um período mais alargado para fazer a consolidação orçamental, pois quanto maior for o prazo menor será a destruição da economia e da sociedade portuguesa. A análise das medidas para 2012 constantes do Memorando revisto em Dezembro de 2011, à margem da Assembleia da República, entre o governo e a "troika" estrangeira, confirma o carácter irrealista e desumano daquilo que o governo e "troika" pretendem impor aos portugueses em 2012. Governo e "troika" tencionam reduzir os salários do sector público em, pelo menos, 3.000 milhões €, o que vai determinar uma degradação, por falta de pessoal e desmotivação, de serviços públicos essenciais à população (educação, saúde, segurança social, justiça, etc); diminuir as despesas com pensões em 1.260 milhões € o que vai lançar muitos milhares de pensionistas na pobreza; cortar 1000 milhões € nas despesas públicas com a saúde e 380 milhões € nas despesas com educação, o que levará a uma grande degradação dos serviços públicos de saúde e de educação; reduzir o investimento público em 200 milhões €, o que contribuirá para que não se crie emprego; baixar em 100 milhões € as transferências do OE destinadas a prestações sociais, o que fará aumentar a pobreza e a miséria; reduzir as transferências para as Autarquias em 175 milhões € e cortar mais 130 milhões € despesas pública por aumento da eficiência, embora não diga onde e como, etc, etc.

Estes cortes na despesa pública com efeitos negativos nas condições de vida dos portugueses são realizados simultaneamente com um aumento brutal dos impostos em 3.040 milhões €, sendo 2.040 milhões € só no IVA; 265 milhões € no IRS; 180 milhões € em impostos sobre o consumo; 50 milhões € no IMI, etc. Portanto, por um lado, reduz significativamente as despesas públicas com efeitos grandes nas condições de vida dos portugueses (saúde, educação, assim como as prestações sociais destinadas a combater a pobreza e a fome) e, por outro lado, aumenta brutalmente os impostos e apropria-se dos subsídios de férias e do Natal, reduzindo os rendimentos nominais dos portugueses. E tudo isto para garantir os pagamentos aos credores, que são grupos económicos e financeiros. Se juntarmos as privatizações a preço de saldo das partes de capital de empresas estratégicas que eram ainda detidas pelo Estado, entregando o seu controlo a grupos económicos estrangeiros; o aumento do horário semanal de trabalho em 2,5 horas, a redução de dias de férias e de feriados o que, somado, corresponde a mais um mês de trabalho anual gratuito (uma espécie de imposto pago aos patrões com trabalho gratuito, à semelhança de corveia que existiu na Idade Média prestada em trabalho gratuito pelos servos ao senhor feudal), associado à liberalização das rendas, à redução das indemnizações por despedimento e do subsidio de desemprego, ao aumento de preços, etc, pode-se dizer que se está perante um verdadeiro programa de destruição da economia e da sociedade em Portugal.

Como escreveu Naomi Klein em " A doutrina do choque – a ascensão do capitalismo de desastre ", este programa ultraliberal do FMI-BCE-CE, decalcado na escola de Chicago de Friedman, só é possível implementar quando um país está em estado de choque, provocado por uma situação anormal, como foi aquela que levou ao pedido de resgate. E é ainda mais grave quando existe um governo cego pela ideologia neoliberal e uns media que difundem na opinião pública uma mensagem de submissão, de inevitabilidade, de que a única solução é cumprir as imposições da "troika" estrangeira, é ser "bom aluno" como alguns sem dignidade e sem pudor dizem mesmo.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Pobreza

PORTUGAL, onde o PIB per capita correspondia em 2009 e 2010 a 80,1% da média europeia, é o terceiro país mais pobre da zona euro.

Pelo que é difícil compreender que a receita para sair da crise seja o ainda maior empobrecimento do país e do seu povo, como decidiu a ‘troika' e no sentido em que procede o Governo de coligação Lapa / Caldas, com a bênção de Belém e o ámen do Largo do Rato. Num mapa da Europa, Portugal fica no Terceiro Mundo, bem abaixo da Grécia, taco a taco com a Eslovénia e um pouco acima da Eslováquia e da Estónia.

A questão é que a Europa, enquanto existiu como projeto, só funcionou para a burocracia e as diretivas que favoreciam os interesses dos muito grandes e gananciosos. A Europa, que agora quer proibir o défice excessivo nas constituições, nunca emitiu diretivas a proibir a pobreza, o desemprego, a indigência, ou a mandar transpor para a ordem interna dos países o bem-estar e o desafogo. E depois, por motivos meramente estratégicos, juntou num mesmo continente conteúdos tão diversos e tão distantes como a Noruega e a Bósnia-Herzegovina, a Suíça e a Bulgária, ou até mesmo o Luxemburgo e Portugal. A coesão não passou de um ‘slogan' e o Luxemburgo tem um poder de compra médio que representa mais do triplo da média do poder de compra dos portugueses. E Portugal, que o salazarismo reduziu a uma horta estagnada e a contrarrevolução a uma quinta de compadres, entrou para o clube - primeiro da Comunidade Europeia, depois do euro - sem condições para pagar a jóia e malbaratando os fundos europeus.

E hoje, País pobre, Portugal só encontra no maior empobrecimento a saída do beco. Por este caminho, Portugal entrou na crise a par da República Checa e quando sair está ao nível da Albânia.

«DE» de 15 Dez 11

por João Paulo Guerra

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Boicote à Israel

EDP, PT e GALP secam o crédito bancário

As três empresas distribuíram 8.243 milhões € de lucros aos accionistas

- Depois obtiveram 25.589 milhões € de crédito junto à banca
- O crédito obtido foi maior do que o concedido à agricultura + pesca + indústria
- Um imposto extraordinario a aplicar aos lucros distribuidos durante esta crise daria ao Estado uma receita fiscal muito superior à que se prevê obter com o adicional de IRC de 2,5% agora aprovado pelo governo

Os banqueiros e os defensores do pensamento económico neoliberal dominante dizem que o crédito está a ser cada vez mais difícil de obter e a banca aproveitou isso para fazer disparar o valor do spread aumentando os seus lucros. No entanto o credito existente continua a ser mal utilizado, e o crédito disponível é, em grande parte, canalizado para as grandes empresas que, no lugar de investirem os lucros que obtêm, distribuem a maior parte, descapitalizando as empresas, e depois pedem emprestado, reduzindo significativamente o crédito disponível para PMEs, etc.


Num estudo anterior, utilizando dados do Banco de Portugal, mostramos a profunda distorção que existe na concessão do crédito em Portugal já que, entre 2000 e 2010, o credito concedido à agricultura, à pesca e indústria transformadora diminuiu de 11,3% para apenas 7,3% do credito total, enquanto o crédito concedido às empresas de construção, às actividades imobiliárias e à habitação, que tornou possível os preços inflacionados e a especulação que se verificou no sector imobiliário, aumentou de 62,3% para 71,7% do crédito total concedido pela banca. É evidente, a continuar este politica de crédito baseada na procura do lucro elevado e sem risco, em que a maior parcela dos recursos financeiros disponíveis do País não são aplicados em actividades produtivas, que são a base quer da satisfação das necessidades internas quer de uma actividade exportadora séria, o País não sairá certamente da situação de estagnação, de atraso e de crise em que se encontra mergulhado. A má utilização dos escassos recursos financeiros que o País dispõe parece não incomodar nem o governo, nem o Banco de Portugal, nem o pensamento económico neoliberal dominante, nem mesmo os partidos políticos pois ninguém fala disso.

No período 2004-2009, a EDP, a PT e a GALP obtiveram 12.546 milhões € de lucros líquidos, tendo os seus lucros aumentado em 84,4% entre 2004 e 2009. Em 2009, os seus lucros subiram 14% relativamente aos de 2008, o que mostra bem que a crise não está afectá-las muito. No entanto, no lugar de investir os lucros, estas empresas no período 2004-2009 distribuíram 8.243 milhões € (65,7% dos lucros obtidos) aos accionistas, o que descapitalizou as empresas, obrigando-as depois a recorrerem maciçamente ao crédito. No fim de 2009, estas três empresas deviam 25.599 milhões €, que era um valor superior a todo o credito concedido à agricultura, pesca e industria transformadora em Portugal que, no fim de Janeiro de 2010, somava apenas 17.784 milhões €, ou seja, 69,5% do crédito obtido por aquelas três empresas.

Uma medida que devia ser implementada para combater a distribuição exagerada de lucros em período de crise seria aprovar um imposto extraordinário com uma taxa, por ex., de 15% sobre os lucros distribuídos. Esta medida daria certamente uma receita três ou quatro vezes superior à que previsivelmente se obterá com o adicional no IRC de 2,5% (menos de 200 milhões € em 2010), e teria ainda outras vantagens. Tomando como base os lucros obtidos no 1º Trimestre de 2010 por aqueles 8 grupos (5 bancários e 3 empresas não financeiras), e fazendo uma estimativa para todo o ano, obtém-se 4.176 milhões € de lucros líquidos (11,4 milhões €/dia). Se a percentagem de lucros de 2010 distribuídos for idêntica à verificada no passado em relação aos 3 grupos não financeiros – em média 65,7% – a receita obtida só destes 8 grupos com uma taxa extraordinária de 15% seria superior a 400 milhões €, o que torna o adicional de 2,5% de IRC a aplicar às empresas com mais de 2 milhões € de lucros fiscais, e não lucros reais (muitas com lucros inferiores a 2 milhões € não são PMEs, como Sócrates pretendeu fazer crer); repetindo, o adicional no IRC de 2,5% terá um efeito meramente simbólico, porque o impacto nos lucros dos grupos económicos é reduzido. Para além disso aquele imposto extraordinário de 15% teria outras vantagens. Se a receita fiscal obtida fosse inferior à indicada, isso significaria que uma parte maior dos lucros não teria sido distribuída, o que teria duas vantagens. Em primeiro lugar, o investimento com base no auto-financiamento teria aumentado e, consequentemente, a criação de emprego e de riqueza. Em segundo lugar, teria ficado disponível mais crédito que podia ser aplicado em investimento em actividades produtivas, tão necessário para criar riqueza e emprego.


por Eugenio Rosa

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

O Imperio do consumo

O sistema fala em nome de todos, dirige a todos as suas ordens imperiosas de consumo, difunde entre todos a febre compradora; mas sem remédio: para quase todos esta aventura começa e termina no écran do televisor. A maioria, que se endivida para ter coisas, termina por ter nada mais que dívidas para pagar dívidas as quais geram novas dívidas, e acaba a consumir fantasias que por vezes materializa delinquindo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como se esgotam, pouco depois de nascer, as imagens disparadas pela metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas para que outro mundo vamos mudar-nos?

A explosão do consumo no mundo actual faz mais ruído do que todas as guerras e provoca mais alvoroço do que todos os carnavais. Como diz um velho provérbio turco: quem bebe por conta, emborracha-se o dobro. O carrossel aturde e confunde o olhar; esta grande bebedeira universal parece não ter limites no tempo nem no espaço. Mas a cultura de consumo soa muito, tal como o tambor, porque está vazia. E na hora da verdade, quando o estrépito cessa e acaba a festa, o borracho acorda, só, acompanhado pela sua sombra e pelos pratos partidos que deve pagar. A expansão da procura choca com as fronteiras que lhe impõe o mesmo sistema que a gera. O sistema necessita de mercados cada vez mais abertos e mais amplos, como os pulmões necessitam o ar, e ao mesmo tempo necessitam que andem pelo chão, como acontece, os preços das matérias-primas e da força humana de trabalho.

O direito ao desperdício, privilégio de poucos, diz ser a liberdade de todos. Diz-me quanto consomes e te direi quanto vales. Esta civilização não deixa dormir as flores, nem as galinhas, nem as pessoas. Nas estufas, as flores são submetidas a luz contínua, para que cresçam mais depressa. Nas fábricas de ovos, as galinhas também estão proibidas de ter a noite. E as pessoas estão condenadas à insónia, pela ansiedade de comprar e pela angústia de pagar. Este modo de vida não é muito bom para as pessoas, mas é muito bom para a indústria farmacêutica. Os EUA consomem a metade dos sedativos, ansiolíticos e demais drogas químicas que se vendem legalmente no mundo, e mais da metade das drogas proibidas que se vendem ilegalmente, o que não é pouca coisa se se considerar que os EUA têm apenas cinco por cento da população mundial.

"Gente infeliz os que vivem a comparar-se", lamenta uma mulher no bairro do Buceo, em Montevideo. A dor de já não ser, que outrora cantou o tango, abriu passagem à vergonha de não ter. Um homem pobre é um pobre homem. "Quando não tens nada, pensas que não vales nada", diz um rapaz no bairro Villa Fiorito, de Buenos Aires. E outro comprova, na cidade dominicana de San Francisco de Macorís: "Meus irmãos trabalham para as marcas. Vivem comprando etiquetas e vivem suando em bicas para pagar as prestações".

Invisível violência do mercado: a diversidade é inimiga da rentabilidade e a uniformidade manda. A produção em série, em escala gigantesca, impõe em todo lado as suas pautas obrigatórias de consumo. Esta ditadura da uniformização obrigatória é mais devastadora que qualquer ditadura do partido único: impõe, no mundo inteiro, um modo de vida que reproduz os seres humanos como fotocópias do consumidor exemplar.

O consumidor exemplar é o homem quieto. Esta civilização, que confunde a quantidade com a qualidade, confunde a gordura com a boa alimentação. Segundo a revista científica The Lancet, na última década a "obesidade severa" aumentou quase 30% entre a população jovem dos países mais desenvolvidos. Entre as crianças norte-americanas, a obesidade aumentou uns 40% nos últimos 16 anos, segundo a investigação recente do Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Colorado. O país que inventou as comidas e bebidas light, os diet food e os alimentos fat free tem a maior quantidade de gordos do mundo. O consumidor exemplar só sai do automóvel par trabalhar e para ver televisão. Sentado perante o pequeno écran, passa quatro horas diárias a devorar comida de plástico.

Triunfa o lixo disfarçado de comida: esta indústria está a conquistar os paladares do mundo e a deixar em farrapos as tradições da cozinha local. Os costumes do bom comer, que vêem de longe, têm, em alguns países, milhares de anos de refinamento e diversidade, são um património colectivo que de algum modo está nos fogões de todos e não só na mesa dos ricos. Essas tradições, esses sinais de identidade cultural, essas festas da vida, estão a ser espezinhadas, de modo fulminante, pela imposição do saber químico e único: a globalização do hamburguer, a ditadura do fast food. A plastificação da comida à escala mundial, obra da McDonald's, Burger King e outras fábricas, viola com êxito o direito à autodeterminação da cozinha: direito sagrado, porque na boca a alma tem uma das suas portas.

O campeonato mundial de futebol de 98 confirmou-nos, entre outras coisas, que o cartão MasterCard tonifica os músculos, que a Coca-Cola brinda eterna juventude e o menu do MacDonald's não pode faltar na barriga de um bom atleta. O imenso exército de McDonald's dispara hamburguers às bocas das crianças e dos adultos no planeta inteiro. O arco duplo desse M serviu de estandarte durante a recente conquista dos países do Leste da Europa. As filas diante do McDonald's de Moscovo, inaugurado em 1990 com fanfarras, simbolizaram a vitória do ocidente com tanta eloquência quanto o desmoronamento do Muro de Berlim.

Um sinal dos tempos: esta empresa, que encarna as virtudes do mundo livre, nega aos seus empregados a liberdade de filiar-se a qualquer sindicato. A McDonald's viola, assim, um direito legalmente consagrado nos muitos países onde opera. Em 1997, alguns trabalhadores, membros disso que a empresa chama a Macfamília, tentaram sindicalizar-se num restaurante de Montreal, no Canadá: o restaurante fechou. Mas no 98, outros empregados da McDonald's, numa pequena cidade próxima a Vancouver, alcançaram essa conquista, digna do Livro Guinness.

As massas consumidoras recebem ordens num idioma universal: a publicidade conseguiu o que o esperanto quis e não pôde. Qualquer um entende, em qualquer lugar, as mensagens que o televisor transmite. No último quarto de século, os gastos em publicidade duplicaram no mundo. Graças a ela, as crianças pobres tomam cada vez mis Coca-Cola e cada vez menos leite, e o tempo de lazer vai-se tornando tempo de consumo obrigatório. Tempo livre, tempo prisioneiro: as casas muito pobres não têm cama, mas têm televisor e o televisor tem a palavra. Comprados a prazo, esse animalejo prova a vocação democrática do progresso: não escuta ninguém, mas fala para todos. Pobres e ricos conhecem, assim, as virtudes dos automóveis último modelo, e pobres e ricos inteiram-se das vantajosas taxas de juro que este ou aquele banco oferece. Os peritos sabem converter as mercadorias em conjuntos mágicos contra a solidão. As coisas têm atributos humanos: acariciam, acompanham, compreendem, ajudam, o perfume te beija e o automóvel é o amigo que nunca falha. A cultura do consumo fez da solidão o mais lucrativo dos mercados. As angústias enchem-se atulhando-se de coisas, ou sonhando fazê-lo. E as coisas não só podem abraçar: elas também podem ser símbolos de ascensão social, salvo-condutos para atravessar as alfândegas da sociedade de classes, chaves que abrem as portas proibidas. Quanto mais exclusivas, melhor: as coisas te escolhem e te salvam do anonimato multitudinário. A publicidade não informa acerca do produto que vende, ou raras vezes o faz. Isso é o que menos importa. A sua função primordial consiste em compensar frustrações e alimentar fantasias: Em quem o senhor quer converter-se comprando esta loção de fazer a barba? O criminólogo Anthony Platt observou que os delitos da rua não são apenas fruto da pobreza extrema. Também são fruto da ética individualista. A obsessão social do êxito, diz Platt, incide decisivamente sobre a apropriação ilegal das coisas. Sempre ouvi dizer que o dinheiro não produz a felicidade, mas qualquer espectador pobre de TV tem motivos de sobra para acreditar que o dinheiro produz algo tão parecido que a diferença é assunto para especialistas.

Segundo o historiador Eric Hobsbawm, o século XX pôs fim a sete mil anos de vida humana centrada na agricultura desde que apareceram as primeiras culturas, em fins do paleolítico. A população mundial urbaniza-se, os camponeses fazem-se cidadãos. Na América Latina temos campos sem ninguém e enormes formigueiros urbanos: as maiores cidades do mundo e as mais injustas. Expulsos pela agricultura moderna de exportação, e pela erosão das suas terras, os camponeses invadem os subúrbios. Eles acreditam que Deus está em toda parte, mas por experiência sabem que atende nas grandes urbes. As cidades prometem trabalho, prosperidade, um futuro para os filhos. Nos campos, os que esperam vêem passar a vida e morrem a bocejar; nas cidades, a vida ocorre, e chama. Apinhados em tugúrios, a primeira coisa que descobrem os recém chegados é que o trabalho falta e os braços sobram. Enquanto nascia o século XIV, frei Giordano da Rivalto pronunciou em Florença um elogio das cidades. Disse que as cidades cresciam "porque as pessoas têm o gosto de juntar-se". Juntar-se, encontrar-se. Agora, quem se encontra com quem? Encontra-se a esperança com a realidade? O desejo encontra-se com o mundo? E as pessoas encontram-se com as pessoas? Se as relações humanas foram reduzidas a relações entre coisas, quanta gente se encontra com as coisas? O mundo inteiro tende a converter-se num grande écran de televisão, onde as coisas se olham mas não se tocam. As mercadorias em oferta invadem e privatizam os espaços públicos. As estações de auto-carros e de comboios, que até há pouco eram espaços de encontro entre pessoas, estão agora a converter-se em espaços de exibição comercial.

O shopping center, ou shopping mall, vitrina de todas as vitrinas, impõe a sua presença avassaladora. As multidões acorrem, em peregrinação, a este templo maior das missas do consumo. A maioria dos devotos contempla, em êxtase, as coisas que os seus bolsos não podem pagar, enquanto a minoria compradora submete-se ao bombardeio da oferta incessante e extenuante. A multidão, que sobe e baixa pelas escadas mecânicas, viaja pelo mundo: os manequins vestem como em Milão ou Paris e as máquinas soam como em Chicago, e para ver e ouvir não é preciso pagar bilhete. Os turistas vindos das povoações do interior, ou das cidades que ainda não mereceram estas bênçãos da felicidade moderna, posam para a foto, junto às marcas internacionais mais famosas, como antes posavam junto à estátua do grande homem na praça. Beatriz Solano observou que os habitantes dos bairros suburbanos vão ao center, ao shopping center, como antes iam ao centro. O tradicional passeio do fim de semana no centro da cidade tende a ser substituído pela excursão a estes centros urbanos. Lavados, passados e penteados, vestidos com as suas melhores roupas, os visitantes vêm a uma festa onde não são convidados, mas podem ser observadores. Famílias inteiras empreendem a viagem na cápsula espacial que percorre o universo do consumo, onde a estética do mercado desenhou uma paisagem alucinante de modelos, marcas e etiquetas. A cultura do consumo, cultura do efémero, condena tudo ao desuso mediático. Tudo muda ao ritmo vertiginoso da moda, posta ao serviço da necessidade vender. As coisas envelhecem num piscar de olhos, para serem substituídas por outras coisas de vida fugaz. Hoje a única coisa que permanece é a insegurança, as mercadorias, fabricadas para não durar, resultam ser voláteis como o capital que as financia e o trabalho que as gera. O dinheiro voa à velocidade da luz: ontem estava ali, hoje está aqui, amanhã, quem sabe, e todo trabalhador é um desempregado em potencial. Paradoxalmente, os shopping centers, reinos do fugaz, oferecem com o máximo êxito a ilusão da segurança. Eles resistem fora do tempo, sem idade e sem raiz, sem noite e sem dia e sem memória, e existem fora do espaço, para além das turbulências da perigosa realidade do mundo.

Os donos do mundo usam o mundo como se fosse descartável: uma mercadoria de vida efémera, que se esgota como esgotam, pouco depois de nascer, as imagens que dispara a metralhadora da televisão e as modas e os ídolos que a publicidade lança, sem tréguas, no mercado. Mas a que outro mundo vamos nos mudar? Estamos todos obrigados a acreditar no conto de que Deus vendeu o planeta a umas quantas empresas, porque estando de mau humor decidiu privatizar o universo? A sociedade de consumo é uma armadilha caça-bobos. Os que têm a alavanca simulam ignorá-lo, mas qualquer um que tenha olhos na cara pode ver que a grande maioria das pessoas consome pouco, pouquinho e nada, necessariamente, para garantir a existência da pouca natureza que nos resta. A injustiça social não é um erro a corrigir, nem um defeito a superar: é uma necessidade essencial. Não há natureza capaz de alimentar um shopping center do tamanho do planeta.


por Eduardo Galeano
10/Maio/2010

Herr Schmidt

Não queira saber, prezado Schmidt, quanto pagou o seu Estado para manter as nossas terras improdutivas, as nossas fábricas fechadas e os nosso barcos de pesca atracados no porto. Produzimos pouco e importamos quase tudo o que consumimos. Na realidade, o nosso Estado gasta incomensuravelmente menos do que o seu. Os nossos direitos sociais são uma anedota. Os nossos salários são miseráveis. As nossas reformas mal dão para os medicamentos e para a comida. Mas, mesmo assim, estamos endividados. Porque foi essa a vontade dos principais países europeus: pagar para consumirmos o que o meu caro Schmidt produz. Disseram então que éramos o "bom aluno europeu". E, orgulhosos, ficámos com as autoestradas, que também foram pagas por si, e com os bancos, que nos emprestaram dinheiro para continuarmos a viver.

Depois entrámos no euro. Uma moeda feita para si, mas não para nós. Demasiado forte e sobre a qual nada poderíamos dizer. Com uma supermoeda para uma microeconomia, as exportações tornaram-se ainda mais difíceis e as importações mais tentadoras. Não referendámos nem Maastricht, nem o euro, nem o Tratado de Lisboa. Porque não discutimos a autoridade da União e o seu prestígio, não discutimos o diretório e a sua moral, não discutimos a glória do euro e o seu dever. Somos, como disse um representante vosso na troika, "um povo bom".

Quando os resultados da lição que tão bem aprendemos nos explodiu nas mãos, quando nos revelámos tão vulneráveis ao abalo financeiro internacional, explicaram-nos que andámos a viver acima das nossas possibilidades. Que não produzimos o suficiente para manter um Estado Social que, não saberá o senhor Schmidt, é uma amostra daquele a que o senhor tem direito.

Não quero que pense que o culpo a si. Era o que mais faltava. A culpa é nossa. Seria uma conversa longa, mas a nossa afamada simpatia esconde um enorme complexo de inferioridade. Para nós, "lá fora" é um lugar mítico. E estamos convencidos que qualquer burocrata de quinta linha que nos venha dar ordens sabe, melhor do que nós, o que devemos fazer. Seremos, mais uma vez, bons alunos. Destruiremos o poucos a que temos direito, venderemos a saldo as empresas públicas que restam, afundaremos por muitas décadas a nossa economia. E a celebração das exéquias estará a cargo de uma incompetente em quem o meu caro Schmidt poderá ter votado mas que eu nunca elegi para coisa alguma. Restará ao meu País a praia e o sol, que não podem ser deslocalizados. Como vamos passar a trabalhar quase de borla, aproveite para vir cá no verão. Verá que somos gente que não se mete em confusões. Sempre pronta a servir. De bandeja na mão, pano no braço e cabeça baixa.

Acontece que, ao criarmos o euro, fizemos uma jura de sangue. A tragédia começa a chegar às portas de Brandenburgo. E essa parte, tenho de lhe dizer, é culpa de quem o governa a si. Teremos sido, demasiadas vezes, bons alunos. Mas somos alunos de um péssimo professor. Que, como se verá em Bruxelas, nem perante todas as evidências desiste de velhos manuais que já deveria ter rasgado. A minha desgraça será a sua desgraça. Não o digo com satisfação. Digo-o com a leve esperança de que isso sirva para o meu amigo Schmidt despedir a reitora desta escola de maus costumes. E de que nós abandonemos esta degradante postura de aluno submisso. Podemos aprender todos um pouco com isto. O seu povo, alguma humildade. O meu, algum amor próprio.

Publicado no Expresso Online

por Daniel Oliveira







terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Notas acerca de uma década perdida

Guterres pediu sacrifícios aos portugueses prometendo dias melhores para um futuro próximo, em nome da necessidade da adesão ao Euro e da necessidade de se cumprir o "Pacto de Estabilidade e Crescimento". Acabou no "pântano". Seguiu-se-lhe Durão Barroso com o discurso da "tanga", mais sacrifícios pedidos, acabou na doçura do Conselho Europeu. Seguiu-se-lhe o parêntesis de Santana Lopes e depois Sócrates que com a ajuda do Banco de Portugal se serviu outra vez do défice orçamental, para continuar a política de privatizações, de austeridade para com os trabalhadores e de generosos apoios ao grande capital, designadamente ao capital financeiro. Foram mais dez anos de política de concentração de riqueza nas mãos de meia dúzia de famílias e sempre com a lenga lenga do "menos Estado", isto é, menos Estado para os trabalhadores e camadas médias e mais Estado para os grandes senhores do dinheiro.


Em 1987, o PIB per capita em paridade do poder de compra era no nosso país de 76,1 tomando a UE a 27 como 100. Em 2008, o PIB per capita é inferior ao de 1987. Ficou-se em 75,3. Mas isto é apenas uma média. Vejamos então a distribuição desta média, ou seja a distribuição Rendimento Nacional.


Em 1953 esta distribuição era de 55% para o capital e 45% para o trabalho. Entre 1974 e 1976 a distribuição foi a seguinte: 59,5 para o trabalho e 40,5% para o capital. Em 2005 segundo os últimos números disponibilizados, a distribuição foi de 59,4% para o capital e de 40,6% para o trabalho. Isto é, inverteu-se a situação verificada com o 25 de Abril. Estes dados valem por mil palavras. Se paralelamente olharmos para os lucros dos principais grupos financeiros (CGD, BCP, Santander Totta, BES, BPI) verificamos que o total de lucros acumulados entre 2005 e 2008, ultrapassou os 1 545 milhões de euros! No primeiro semestre do ano passado o total de lucros destes Bancos atingiu os 988 milhões de euros! E tudo isto no quadro de crise e da arenga governamental de que todos temos que fazer sacrifícios!

Por sua vez a variação do salário real da Função Pública entre 2000 e 2009 foi sempre negativa à excepção de 2009, ano de eleições e ano em que houve uma previsão errada da evolução da inflação favorável aos trabalhadores! É a lei do funil, larga para uns e estreita para outros!

A evolução desta década nos indicadores oficiais mais relevantes evidência com clareza o que estamos a afirmar.


Entre 2005 e 2009 tivemos um crescimento médio do PIB metade do da zona euro o que significa que em vez de nos aproximarmos da média nos afastámos. Se olharmos para a estrutura do PIB verificamos que em 1986 a indústria contribuía para o PIB com 28,3% e a agricultura e pescas com 9,9% enquanto às actividades financeiras e imobiliárias correspondia uns 10,1%. Qual foi a evolução?

Em 2008 a indústria contribuía apenas com 14,9% e a agricultura e pescas com 2,5%. Paralelamente as actividades financeiras e imobiliárias subiram para 15,3%.

A financeirização da economia, as privatizações e a liquidação do aparelho produtivo traduziu-se num défice da Balança Corrente e de Capital de 9% do PIB em média entre 2005 e 2008! E num endividamento externo líquido em percentagem do PIB que passou de 10,4% em 1996 para 108,5% em 2009!

Estes números falam por si e são, na sua frieza, a condenação de uma política e das teorias económicas que a suportaram.

A taxa de desemprego que era de 3,9% em 2000 atingiu os 9,4% em 2009 e será de 13,1% para 2010, segundo as previsões oficiais.


No plano de emprego constata-se que a população empregada é agora menor do que no início da década. Resumindo: esta década foi também em termos de emprego, como não poderia deixar de ser, uma década perdida já que não houve criação líquida de emprego e o desemprego duplicou. Paralelamente na última década o endividamento das famílias passou de 60% do PIB em 2000, para 96% em 2009, isto é, um aumento de 50%!

Os que afirmam que é necessário desde já reduzir o défice público e que isso passa pela redução da Despesa Corrente, o que estão a pensar é na diminuição dos salários reais dos trabalhadores da Função Pública e nas privatizações das funções sociais do Estado. Nunca se lembram do corte dos benefícios fiscais inaceitáveis, ou nas verbas orçamentadas para a consultoria dos escritórios dos amigos, correligionários e afilhados, ou nas descomunais derrapagens de milhões nas obras públicas.


E quando falam de impostos se se trata de aumentos é para os impostos indirectos e nunca para impostos directos que incidam sobre as mais valias bolsistas, as transacções financeiras ou as grandes fortunas. Se se trata de diminuição no que pensam é no imposto sobre os lucros.

Também nunca se lembram dos offshores: 15 mil milhões de euros, foi quanto os portugueses investiram em offshores desde 1996. Só em 2009, entre Janeiro e Novembro, esse investimento foi de 2 mil milhões de euros!

Não há nenhuma razão para a redução dos défices ser uma urgência europeia. Respondem-nos, mas os mercados reagem mal! E o que é isso dos mercados? Será que os mercados não têm bilhete de identidade? Os mercados, leia-se a banca, o capital financeiro... Como já alguém disse, o procedimento dos "mercados financeiros em relação à Grécia, Portugal e Espanha, faz lembrar a operação George Soros em relação à libra britânica em 1992. [6]




Mas esta operação contra Portugal podia ser abortada imediatamente se a União Europeia ou o BCE quisessem. É de lembrar que a FED pode comprar a dívida pública norteamericana e que o Banco Central Europeu está impedido de o fazer estatutariamente por pressão fundamentalmente da Alemanha! Mas este impedimento pode alterar-se.

Como escreveu o economista Paul Krugman, Nobel de 2008 "se lermos muito do que se tem dito por pessoas respeitáveis, acreditaríamos que os défices são sempre, e em todo o lado, a principal fonte de problemas económicos. Mas, sabemos, que isso não é verdade". Veja-se o caso do Japão e vamos ver qual a sua evolução este ano.

Neste particular também vale a pena convocar a opinião do economista Stiglitz que declarou esta semana na Grécia em 02/02/2010, que a União Europeia e o BCE deveriam criar um mecanismo de crise para ajudar os países mais endividados. O BCE empresta regularmente dinheiro aos Bancos nacionais, a taxas mais baixas do que a dos mercados internacionais mas a mesma opção não se verifica para os governos e, sublinhou Stiglitz "se vós estais disponíveis para emprestar aos Bancos porque não emprestar aos governos?". "A Europa não tem confiança nos governos que a constituem?". E acrescentou que essa ajuda poderia vir por intermédio do BEI ou do BCE, com a emissão de euro-obrigações. Também o Primeiro Ministro Grego defendeu o lançamento de títulos obrigacionistas da União Europeia. Um instrumento deste tipo segundo este, permitia a países como a Grécia e Portugal obter financiamentos a taxas muito mais baixas e muito mais próximas das grandes potências como a Alemanha. Esta proposta do Governo grego não mereceu do Governo português qualquer comentário! Significativo!

A defesa dos interesses nacionais não se concretiza com uma política de subserviência mas com uma política de firmeza na UE e com uma política de ruptura com os dogmas neoliberais, com a política de concentração de riqueza e com as teorias elevadas à categoria de ciência económica e que não passam de charlatanices ao serviço das classes dominantes.


por Carlos Carvalhas







segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Doc by Susan Lindauer 9/11

Golpe de Estado contra a democracia

A 'austeridade' contra a democracia


Vacilante, a democracia faz triste figura e tende a naufragar, contra o pano de fundo de um bipartidarismo institucionalizado a serviço dos rentistas. Por toda a Europa, todos se dirigem para uma mesma política de 'austeridade' desejada pelos tecnocratas do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu. A demonstração faz-se não só pelo exemplo grego (não funciona, com certeza, para a população grega), mas toma-se também a precaução, quando alguém se preocupa com eleições, de entronizar os mesmos políticos, seja o eleito quem for. O povo já nada escolhe. A política econômica está prefixada pelos financistas, como na Irlanda ou em Portugal, desde a véspera das eleições. A troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) impõe suas políticas. Ao candidato vencedor nas urnas só cabe aplicá-las, enganando o eleitor sobre alguma inexistente diferença entre os partidos, em matéria de economia.

Na Espanha, Mariano Rajoy, herdeiro de Aznar, não se atreveu a divulgar as futuras medidas de austeridade que o prejudicariam durante a campanha eleitoral. Nem acabou de ser eleito e já está sendo pressionado para revelar os membros de seu governo, antes até de tomar posse [1] ; e não faz outra coisa além de reunir-se com os grandes banqueiros espanhóis – Isidro Fainé da Caixa, Francisco González do segundo banco espanhol, o BBVA, e Rodrigo de Rato, presidente do Bankia e ex-diretor geral do FMI... Os grandes bancos credores da dívida espanhola comandam as rédeas, Mariano Rajoy gesticula.

Ou se trata de uma ditadura que se vai impondo, como na Grécia, ou a extrema direita fascista (partido Laos) imiscui-se no poder, sem mandato recebido das urnas. Por toda parte, assiste-se a evicção dos responsáveis políticos, os quais, em vez de serem julgados por suas políticas antissociais, as quais jamais mencionaram nos programas eleitorais, são salvos da vingança do povo, apesar do imundo trabalho que fizeram. Aconteceu com Berlusconi, que achou escapatória segura, apesar de muitos, com certeza, preferirem vê-lo atrás das grades pelo muito que fez sofrer o povo, condenado também a reembolsar todo o dinheiro que desviou e roubou do contribuinte italiano.

Banco Central Europeu, Itália, Grécia, a dança das cadeiras dos 'ex' Goldman Sachs

Um paladino da privatização, à testa do Banco Central Europeu

Custe e o que custar, ainda que custe sacrifícios humanos inauditos, a ideologia capitalista ávida de lucros reforça sua dominação em toda a Europa. Durante o mês de novembro de 2011, muitos responsáveis pela débâcle financeira europeia foram empossados, mesmo sem terem sido eleitos. Mario Draghi acaba de ser nomeado para o Banco Central Europeu; Lucas Papadémos caiu de paraquedas na chefia do Estado grego; e Mario Monti substitui formalmente um Berlusconi já excessivamente impopular para dirigir a Itália. Nenhum desses personagens jamais recebeu um voto, nenhum tem qualquer programa que se tenha comprometido a cumprir, nada de campanha eleitoral que permitisse qualquer discussão ou debate. Mas sobre cada um desses pesa uma parte da responsabilidade pela crise que agora se apresentam para resolver, desde quando viviam sob a atmosfera sulfurosa do conglomerado bancário Goldman Sachs, norte-americano, rei de burlas astronômicas. Mario Draghi, quando vice-presidente para a Europa (de Goldman Sachs Internationale); Lucas Papadémos, quando presidente do Banco Central da Grécia; e Mario Monti, quando conselheiro internacional de Goldman Sachs; os três provocaram, em diferentes graus, a crise europeia, ajudando a falsificar as contas da dívida grega e especulando sobre a dívida (falsificada) [2] . Carregam pesadas responsabilidades na criação da crise que cresce hoje em toda a Europa e, por isso, têm de ser demitidos dos cargos que ocupam e têm de responder por seus crimes perante a Justiça.

Na Grécia, o falsificador das contas apresenta-se para saneá-las

Apesar de ter tentado a todo custo manter-se no poder e adiar as eleições gerais, motivo pelo qual propôs um referendo popular, que levou à sua demissão, Georges Papandreou teve de curvar-se sob pressões que vinham de todos os lados, até de dentro de seu próprio governo. Não esqueçamos que um mês apenas depois de Papandreou ter sido eleito em outubro de 2009, Gary Cohn, número 2 de Goldman Sachs, desembarcou em Atenas, acompanhado de investidores, entre os quais John Paulson, que reaparecerá no centro do que ficou conhecido como "o escândalo Abacus"… [3]

Favorito do mundo dos negócios, dos banqueiros e parceiros internacionais, Lucas Papadémos deixa a vice-presidência do Banco Central Europeu para tornar-se novo primeiro-ministro da Grécia, sem ter sido eleito. Foi presidente do Banco Central Grego entre 1994 e 2002 e, nesse cargo, participou da operação de adulteração das contas perpetrada por Goldman Sachs. A observar que o gestor da dívida grega é um tal Petros Christodoulos, ex-corretor de Goldman Sachs.

Já não cabe duvidar de que a Grécia deixou de ser nação soberana: seguindo as missões regulares da Troika (BCE, CE, FMI) que visitam os ministérios na capital, haverá agora uma missão permanente, domiciliada em Atenas, para implantar, controlar e supervisionar a política econômica do país. O governo que se comporte! Para bem firmar o cabresto, a Troika prevê um novo plano de endividamento, uma vez que o primeiro memorando (cerca de 110 mil milhões de euros, em maio de 2010), anticonstitucional, pois não foi aprovado pelo Parlamento, não foi totalmente pago. As garras da dívida ferram-se inexoravelmente à carne do povo grego.

Na Itália, depois de uma década de decadência da democracia, o conselheiro da Coca Cola aplica o golpe de misericórdia

Com quase nove anos na presidência do Conselho, o império Berlusconi, terceira fortuna da Itália [4] , marcou profundamente a vida política. Seu reinado marca a decadência e a agonia de uma democracia que morre sufocada. Tornado motivo de zombaria da imprensa internacional por seus casos, soterrado sob histórias infindáveis de corrupção e com a popularidade em queda livres, Berlusconi renuncia à presidência do Conselho, dia 12 de novembro de 2011, para não convocar eleições antecipadas. Dia seguinte, o presidente italiano Giorgio Napolitano nomeia o ex-comissário europeu Mario Monti para que assuma imediatamente. Poucos dias antes, dia 9/11, Napolitano já nomeara Monti senador vitalício. Monti obtém larga maioria na Câmara de Deputados no dia 18/11 (556 votos a 61, de 617 votantes). Sem se intimidar ante o acúmulo de funções, já primeiro-ministro, se autonomeia também ministro da Economia. Mario Monti não tem qualquer legitimidade para impor qualquer política de 'austeridade' aos italianos. Houve um putsch!

Conselheiro para negócios internacionais de Goldman Sachs desde 2005 (na qualidade de membro do Research Advisory Council do Goldman Sachs Global Market Institute), Mario Monti foi nomeado comissário europeu para o mercado interno em 1995, depois comissário europeu para a Concorrência em Bruxelas (1999-2004). É presidente da Universidade Bocconi em Milan, membro do comitê diretor do poderoso Clube Bilderberg, do think tank neoliberal Bruegel fundado em 2005, do præsidium Amigos da Europa, outro influente think tank com sede em Bruxelas... e conselheiro da Coca Cola. Em maio de 2010, chegou à presidência do departamento Europa, da Trilateral, um dos mais poderosos cenáculos da elite oligárquica internacional.

Como escreveu Giulietto Chiesa no jornal de esquerda Il Fatto Quotidiano [5] , veio para "reeducar" os italianos na religião da dívida. Em seu governo, fez-se cercar de banqueiros e seu ministro de Assuntos Estrangeiros, Giulio Terzi di Sant'agata, foi conselheiro político da OTAN, antes de ser embaixador em Washington. Não bastasse, um novo superministério encarregado do desenvolvimento econômico, da infraestrutura e dos transportes foi entregue a Corrado Passera, PDG do banco Intesa Sanpaolo.

Por todos os lados, os interesses privados da oligarquia financeira ultraconservadora e amiga de Washington estão postos acima e antes dos interesses das populações. Esses governos fantoches obedecem aos diktats da finança, forçando os cidadãos a pagar uma dívida injusta pela qual não são responsáveis e que jamais lhes valeu qualquer benefício. A salvação só poderá vir de baixo. Façamos nossa a palavra de ordem dos gregos: "Não devemos, não vendemos, não pagaremos!" [6]


01/Dezembro/2011

por Jérome Duval


O Código de Hammurabi era mais sábio


http://resistir.info/financas/hudson_02dez11.html

A escravidão da dívida – Porque ela destruiu Roma e porque nos destruirá se não for travada

A intervenção Imperialista na Siria


O KKE denuncia a escalada da intervenção imperialista na Síria, a qual tal como na Líbia é promovida sob o pretexto de "democracia" e "liberdade". Nesta intervenção imperialista podemos ver que aqueles que invocam a "democracia" e a "liberdade" ultrapassaram todas as fronteiras da hipocrisia e do cinismo: as monarquias anti-povo do Golfo, a Turquia, a qual com o seu exército ocupa a metade Chipre, a UE, onde em muitos dos seus estados membros os PCs são proibidos, os EUA, que deram a luz ou apoiaram Juntas em numerosas partes do planeta.


A Turquia, Arábia Saudita e Jordânia, juntamente com os EUA e a UE, desempenham um papel especialmente reaccionário. Não se pode excluir que através destes países se verifique uma intervenção militar contra a Síria.

Os objectivos destas potências não são os direitos democráticos e populares na Síria, como afirmam. O seu objectivo é o controle das matérias-primas da região, as rotas de transporte de energia e mercadorias, a partilha do mercado, o enfraquecimento da influência económica e política que outras potências rivais têm na região, tais como a Rússia e a China.

Assim, uma intervenção militar imperialista na Síria provocará destruição material e humana significativa neste país e além disso privará o povo palestino de um aliado estável na sua luta, um aliado dos movimentos anti-imperialistas na região, e abrirá o caminho para o assalto imperialista ao Irão, tendo como pretexto o seu programa nuclear.

O governo grego (PASOK-ND-LAOS) tem graves responsabilidades, bem como os governos dos outros países da NATO e da UE, os quais de um modo ou de outro estão envolvidos em planos imperialistas contra a Síria e o Irão.

As forças oportunistas também têm graves responsabilidades, pois em nome da "esquerda" ou apoiam directamente a intervenção imperialista na Síria, sob o pretexto de direitos democráticos, ou neste momento crucial mantêm uma posição de "equidistância" e pretendem que não podem ver a intervenção imperialista e os planos anti-povo, os quais estão nisto incluídos.

O KKE exprime a sua solidariedade com o povo e os comunistas da Síria e reconhece que só o povo da Síria tem o direito de determinar o futuro do seu país, sem sugestões e intervenções estrangeiras.

Ele apela ao governo grego aqui e agora para cessar toda cooperação militar com Israel. Não proporcionar o terreno, os portos e o espaço aéreo da Grécia para o assalto imperialista contra a Síria e o Irão, o qual levará o povo da Grécia e os outros povos da nossa região a aventuras perigosas.

O Gabinete de Imprensa do CC do KKE, 21/Novembro/2011

Discurso do Mahmoud Ahmadinejad na 66ª sessão da assembleia das nações unidas.


... É vivamente claro que, apesar de todas as realizações históricas, inclusive a criação da ONU – que foi produto de incansáveis lutas e esforços de homens de pensamento livre e amantes da justiça, que nunca desistiram de buscá-la, e da cooperação internacional –, as sociedades humanas ainda estão longe de ter alcançado todos os seus nobres desejos e aspirações. Muitas nações em todo o mundo sofrem hoje, sob as actuais circunstâncias internacionais.


E – apesar do desejo e do ímpeto para promover a paz e a fraternidade –, as guerras, os assassinatos em massa, a miséria que se alastra, crises socioeconômicas e políticas continuam a agredir o direito e a soberania das nações, deixando atrás de si danos irreparáveis, em todo o mundo.

Aproximadamente três mil milhões de seres humanos em todo o mundo vivem com menos de 2,5 dólares por dia; e mais de mil milhões de seres humanos não comem sequer uma refeição suficiente, e regularmente, por dia. Quarenta por cento das populações mais pobres do mundo partilham apenas 5% do rendimento global. E 20% dos mais ricos do mundo dividem entre si 75% do rendimento global total. Mais de 20 mil crianças inocentes e pobres morrem diariamente no mundo, devido à pobreza. Oitenta por cento dos recursos financeiros dos EUA são controlados por 10% da população dos EUA; 90% da população tem de sobreviver com apenas 20% desses recursos.

Quais as causas e as razões que subjazem por trás dessas desigualdades? Como se pode remediar tal injustiça?

Os que dominam e comandam os centros do poder econômico global culpam ou o desejo do povo por religião e a busca por trilhar o caminho dos divinos profetas, ou a fraqueza das nações, ou o mau desempenho de grupos de indivíduos. Afirmam que só o que aqueles mesmos centros do poder econômico global pensem, decidam e prescrevam poderia salvar a humanidade e a economia mundial.

Caros colegas e amigos

Não lhes parece que as causas-raizes desses problemas devam ser procuradas na ordem que hoje domina o mundo, ou no modo como o mundo é governado?

Gostaria de chamar a gentil e atenta atenção de todos para as seguintes questões:

Quem arrancou à força dezenas de milhões de pessoas de seus lares na África e em outras regiões do mundo, durante o sombrio período da escravidão, fazendo daquelas pessoas vítimas da mais cega ganância materialista?

Quem impôs o colonialismo por mais de quatro séculos, a todo aquele mundo? Quem ocupou terras e massivamente assaltou recursos naturais que eram patrimônio de outros povos, quem destruiu talentos e empurrou para a destruição os idiomas, as culturas e as identidades de tantos povos?

Quem deflagrou a primeira e a segunda guerras mundiais, que fizeram 70 milhões de mortos e centenas de milhões de feridos, de mutilados e de sem-tetos?

Quem criou a guerra na península da Coreia e no Vietnãm?

Quem, servindo-se de hipocrisia e ardis, impôs os sionistas, durante 60 anos de guerras, destruição, terror, assassinatos em massa, na região do mundo onde ainda estão?

Quem impôs e apoiou durante décadas ditaduras militares e regimes totalitários em países da Ásia, da África e da América Latina?

Quem atacou com armas atômicas populações indefesas e desarmadas e guarda milhares de ogivas nucleares em seus arsenais?

Quais são as economias que dependem, para crescer, de criar guerras e vender armas?

Quem provocou e estimulou Saddam Hussein a invadir e impor um guerra de oito anos contra o Irã?

Quem o assessorou e o equipou para que atacasse nossas cidades e nosso povo com armas químicas?

Quem usou os misteriosos incidentes de 11 de setembro como pretexto para atacar o Afeganistão e o Iraque – matando, ferindo, deslocando milhões de seres humanos de seus locais tradicionais de vida nos dois países –, exclusivamente para alcançar a ambição de controlar o Oriente Médio e seus recursos de petróleo?

Quem aboliu o sistema de Breton Woods e imprimiu milhões de milhões (trillions) de dólares sem qualquer lastro em ouro ou em moeda equivalente? Esse movimento desencadeou uma feroz inflação em todo o mundo, que serviu para facilitar a pilhagem de ganhos econômicos que outras nações tivessem.

Qual o país cujos gastos militares superam anualmente uma centena de milhar de milhões de dólares, mais que todos os orçamentos militares de todos os povos do mundo, somados?

Qual, de todos os governos do mundo, é hoje o mais endividado?

Quem domina os "establishments" da política econômica em todo o mundo?

Quem é responsável pela recessão econômica mundial, que hoje impõe suas pesadas consequências aos povos de EUA e Europa e de todo o planeta?

Que governos estão sempre prontos a bombardear com milhares de bombas outros países, mas sempre são lerdos e hesitantes, quando se trata de distribuir comida, para povos atormentados pela fome, como na Somália e em outros pontos?

Quem domina o Conselho de Segurança da ONU, ao qual caberia zelar pela segurança internacional?

E há outras dezenas de perguntas semelhantes e, para todas elas, as respostas são claras.

A maioria das nações e governos do mundo não têm qualquer culpa ou responsabilidade na criação das atuais crises globais e, de facto, são, elas, sim, vítimas daquelas políticas que geram crises.

É claro como a luz do dia que os mesmos senhores de escravos e potências coloniais que, antes, provocaram as duas guerras mundiais, causaram toda a miséria e a desordem que, desde então, são causa de efeitos que se vêem em todo o planeta.

Caros colegas e amigos,

Teriam, aqueles poderes arrogantes, a competência e a habilidade para comandar ou governar o mundo, ou seria aceitável que se autodesignem os únicos defensores da liberdade, da democracia, dos direitos humanos, enquanto seus exércitos atacam e ocupam outros países?

Como poderá algum dia a flor da democracia brotar dos mísseis, das bombas e dos canhões da NATO?

Senhoras e senhores,

Se alguns países europeus ainda se servem do Holocausto, depois de sessenta anos, como pretexto, para continuar a pagar resgate, pagar à chantagem dos sionistas, não será também obrigação daqueles mesmos senhores de escravos e potências coloniais pagar indemnizações às nações afetadas?

Se os danos e perdas do período da escravidão e do colonialismo tivessem sido de fato indemnizados, o que teria acontecido aos manipuladores e potências que se escondem nos porões da cena política nos EUA e na Europa? E haveria ainda divisão entre o norte e o sul do mundo?

Se os EUA e seus aliados da NATO cortassem pela metade seus gastos militares e usassem esses valores para ajudar a resolver os problemas econômicos em seus próprios países, estariam aqueles povos padecendo os sofrimentos da atual crise econômica mundial? Que mundo teríamos, se a mesma quantidade de recursos fosse alocada às nações mais pobres?

O que pode justificar a presença de centenas de bases militares e de inteligência dos EUA em diferentes partes do mundo – 268 bases na Alemanha, 124 no Japão, 87 na Coreia do Sul, 83 na Itália, 45 no Reino Unido e 21 em Portugal? O que significa isso, senão ocupação militar?

E as bombas armazenadas nessas bases não criam risco de segurança para outras nações?

Senhoras e senhores,

A principal pergunta tem de interrogar sobre a causa que serve de base a essas atitudes. A principal razão tem de ser buscada nas crenças e tendências do establishment.

Assembleias de pessoas em contradição com valores e instintos humanos básicos, sem fé em Deus e sem atenção à via ensinada pelos divinos profetas, impõem a ganância, a sede de poder e seus objetivos materialistas, e tentam calar todos os superiores valores humanos e divinos.

Para eles, só o poder e a riqueza contam. E justificam-se todos e quaisquer actos que promovam essas metas sinistras.

Nações oprimidas sobrevivem sem qualquer esperança de verem restaurados e protegidos os seus direitos legítimos de resistir e opor-se àquelas potências.

Aquelas potências visam só ao progresso delas próprias, prosperidade e dignidade só para elas mesmas, e miséria, humilhações e aniquilação para todos os demais povos.

Consideram-se superiores às demais nações da Terra e por isso fariam jus a concessões e privilégios. Nada respeitam, não respeitam ninguém e violam, sem qualquer consideração, direitos de todas as demais nações e governos e povos do mundo.

Proclamam-se, elas mesmas, guardiãs indiscutíveis de todos os governos e nações. Para tanto, servem-se da intimidação, de ameaças e da força. E fazem mau uso, uso abusivo, de mecanismos internacionais. Quebram, burlam, simplesmente, todas as leis e regulações internacionalmente reconhecidas e respeitadas.

Insistem em impor a todos o seu estilo de vida e suas crenças.

Apóiam oficialmente o racismo.

Enfraquecem países mediante a intervenção militar – destroem as infraestruturas que encontrem naqueles países, para mais facilmente conseguirem saquear recursos naturais, tornando cada vez mais dependentes, nações e povos que querem ser independentes e soberanos.

Semeiam sementes de ódio e hostilidade entre nações e povos de diferentes crenças, para impedi-los de alcançar seus objetivos de desenvolvimento e progresso.

Todas as culturas, a vida, os valores e toda a riqueza de cada nação, as mulheres, os jovens, as famílias, além da riqueza material de cada nação, são sacrificadas ante o altar daquelas ambições hegemonistas e de uma inclinação doentia para escravizar e submeter os diferentes.

Hipocrisia e todos os tipos de fingimento e mentira são admitidos, se ajudam a promover os interesses imperialistas. Admitem o tráfico de drogas e a matança de inocentes, se lhes parece que, com isso, facilitam a rota para que alcancem seus objetivos diabólicos. A NATO está há muito tempo extremamente ativa no Afeganistão ocupado. E, apesar disso, houve ali um aumento dramático na produção de drogas ilícitas.

Não admitem nenhuma opinião divergente, nenhum questionamento, nenhuma crítica. Mas, em lugar de tentar oferecer alguma explicação para o que fazem, põem-se, eles mesmos, na posição de vítimas.

Servindo-se de uma rede imperial de imprensa e comunicações, que sempre esteve como ainda está sob a influência do pensamento colonialista, ameaçam qualquer opinião que discuta a versão oficial do Holocausto, do 11 de setembro e da violência dos exércitos invasores e ocupantes.

No ano passado, quando se impôs, em todo o mundo, a necessidade de fazer-se investigação séria sobre os segredos ocultados nos incidentes de 11/Setembro/2001 – ideia apoiada por todas as nações e governos independentes e pela maioria da população dos EUA –, meu país e eu, pessoalmente, fomos pressionados e ameaçados pelo governo dos EUA.

Em lugar de nomear uma equipa para investigar com seriedade o que realmente acontecera, assassinaram o perpetrador e jogaram o cadáver ao mar.

Não teria sido razoável levar à justiça e processar abertamente o principal perpetrador do incidente a fim de identificar os elementos por trás do espaço seguro, proporcionado para os aviões introduzirem-se e atacarem as torres gêmeas do World Trade?

Por que não se cogitou de usar o julgamento de um suspeito, para realmente descobrir quem mobilizou terroristas e levou a guerra e tantas outras misérias a tantas partes do mundo? Há informação secreta que tenha de permanecer secreta?

Considerar o sionismo visão ou ideologia sagrada é como obrigação imposta ao mundo. Toda e qualquer discussão sobre os fundamentos e a história do sionismo são pecados imperdoáveis. Mas eles permitem e endossam todos os sacrilégios e insultam todas as demais religiões.

Liberdade real, dignidade plena, bem-estar e segurança estáveis e duradouros são direitos de todos os povos.

Nenhum desses valores é alcançável enquanto tantos dependerem do atual e ineficiente sistema de governança mundial, nem ninguém jamais os alcançará mediante intervenção militar comandada por potências arrogantes e sob fogo dos aviões mortíferos da NATO.

Aqueles valores só se podem realizar em contexto de independência reconhecida, de reconhecimento dos direitos dos diferentes, mediante cooperação harmônica.

Haverá meio para resolver os problemas e desafios que atormentam o mundo, no contexto dos mecanismos e ferramentas que dominam o quadro internacional hoje? Há meios para ajudar a humanidade a atingir sua eterna aspiração por igualdade, segurança e paz?

Todos os que tentaram introduzir reformas que preservassem as normas e tendências hoje existentes fracassaram. Os importantes esforços conduzidos pelo Movimento dos Não Alinhados e pelos Grupos 77 e 15 (G-77 e G-15), e por tantos destacados indivíduos, fracassaram também e não conseguiram introduzir mudanças fundamentais.

...

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Luis Afonso - cartoon

Culpa?!!! Cartoon

Governo sem memória nem pudor – Viva o 5 de Outubro

O GOVERNO de estagiários saído das últimas eleições propôs a eliminação de 4 feriados nacionais que denomina de civis e religiosos. O inefável ministro Álvaro Santos Pereira não tem pudor em excluir, entre os primeiros, o 5 de Outubro, a data emblemática que define a natureza do regime, enquanto os segundos, referentes a dias especiais de uma religião particular, ainda aguardam a bênção do Vaticano.


Não exijo ao ministro Santos Pereira, de rudimentar cultura e parco entendimento, o que significa para a história o 5 de Outubro. Não perceberá o ridículo da afirmação feita aos jornalistas: «Não será feriado mas será celebrado no domingo». Celebrar o 5 de Outubro num domingo, devendo-se-lhe a separação da Igreja do Estado, é como transferir a data do 25 de Abril para 28 de Maio.

Desconhece talvez que Portugal é um país laico e que os feriados religiosos foram uma concessão do salazarismo. A atitude não envergonha apenas o ministro, mostra como é pusilânime o Governo, arrogante para os portugueses e genuflectido perante o Vaticano.

Um governo democraticamente eleito, que quer rasgar do calendário a comemoração da data que mudou Portugal e é a pedra basilar da democracia, ofende a cidadania, trai os heróis da Rotunda e desonra a história, vilania que nem a ditadura ousou.

VIVA O 5 DE OUTUBRO, SEMPRE.

Por C. Barroco Esperança




Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...