sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

A saída limpa

por JOSÉ MANUEL PUREZA


Está aí o discurso da vitória da austeridade. Durão Barroso proclama que a crise do euro terminou e que a austeridade valeu a pena. Olli Rehn diz o mesmo dia sim dia não. Passos Coelho e os opinadores pró-governamentais fazem da diminuição do número de de-sempregados inscritos nos centros de emprego, causada pela emigração e pela saturação de quem desistiu de procurar emprego, um sinal da vitória certa e de que a coisa entrou nos carris. Paulo Portas anuncia a retoma da soberania contra os bárbaros da troika que ele certamente abomina. Neste discurso apologético a posteriori da austeridade, a Irlanda ocupa um lugar crucial. O "caso irlandês" é invariavelmente apresentado como um caso de sucesso, a prova empírica que faltava de que um ajustamento estrutural sem pieguices devolveu a saúde e a força a uma economia em farrapos. A tal ponto, dizem-nos, que não foi sequer necessário um programa cautelar após a saída da troika e a Irlanda pôde optar por uma "saída limpa" e recuperou a sua soberania.

A narrativa do sucesso irlandês desdobra-se em três argumentos. O primeiro é o de que a Irlanda teve a coragem de fazer um ajustamento como deve ser, assente numa "austeridade inteligente" e numa tenaz redução da despesa, que operou uma redução brutal do seu défice. O segundo é o de que, em virtude disso, a economia irlandesa entrou numa fase virtuosa de crescimento. Finalmente, o terceiro argumento é o de que, cereja no topo do bolo, a "saída limpa", sem recurso a linhas de crédito europeias, veio atestar a robustez readquirida por uma economia expurgada de vícios e de bolores.

Os três argumentos são três mistificações. Primeiro, a história da redução do défice irlandês está mal contada. O ajustamento irlandês incidiu sobre a dívida gigantesca de um sector bancário exposto aos delírios especulativos dos participantes no seu capital. Foi a mobilização de dinheiro para salvar esses bancos que determinou súbito pico no défice (30,6% em 2010), superior em 20% ao que teria atingido sem essa afetação extraordinária. Jogando, pois, com os valores de défice efetivo, a realidade é clara: a sua redução foi residual: de 7,6% para 7,5% do PIB em 2013. A dívida pública, essa, apesar da reestruturação com alargamento de maturidades e com juros mais baixos a que foi sujeita - precisamente o que os adoradores do "sucesso espetacular da Irlanda" abjuram para a Grécia ou para Portugal -, mantém-se em níveis várias vezes acima dos registados antes da crise.

Em segundo lugar, o argumento de que a Irlanda pós-troika é um caso entusiasmante de crescimento é falso. A não ser que se considere entusiasmante um crescimento de menos de 0,5% do PIB e uma manutenção do PNB abaixo dos valores que tinha há cinco anos...

Finalmente o pós-troika sem necessidade de segurança cautelar. O Governo irlandês decidiu correr o risco de, à primeira "indisposição" dos mercados, se ver em apuros. Mas pareceu-lhe isso preferível a aceitar como condicionalidade de um programa cautelar europeu a imposição de uma subida drástica dos impostos, com o IRC à cabeça. Dublin não escolheu, pois, entre um bem e um mal, mas entre dois males. O que não escolheu, isso é claro, foi recuperar a soberania. Não o podia fazer porque o ajustamento imposto pela troika trazia acoplado um apêndice imperativo: sob vigilância apertada de Bruxelas, a austeridade vai continuar a ser lei suprema, com cortes de mais de cinco mil milhões de euros nos próximos dois anos a juntar ao tanto que já foi cortado.

aqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3648892&seccao=Jos%E9%20Manuel%20Pureza&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco
O entusiasmo com a estagnação, a satisfação com reduções residuais do défice e a chantagem continuada da austeridade - tudo espremido, o "sucesso espetacular" do ajustamento irlandês é o que dá. Uma saída assim não é limpa, tem o cheiro fétido da dependência e o bolor do impasse.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Snowden, o delator que abalou o sistema de informação dos EUA

por 
21.Jan.14 :

“Provocou danos desnecessários aos serviços de informação e à diplomacia dos EUA”. Assim resumia Barack Obama as consequências que tiveram, para este país, as revelações sobre os programas de vigilância da Agência de Segurança Nacional (NSA) que Edward Snowden mandou para a imprensa nestes últimos seis meses. As intercepções sobre a espionagem massiva da Administração dos EUA converteram o informático de 30 anos não apenas não apenas no delator mais famoso da história deste país, acima de Chelsea Manning ou Daniel Ellsberg, mas também na maior ameaça para a segurança nacional da história dos EUA, pondo em cheque toda a credibilidade internacional, não apenas de Washington, mas também do seu próprio presidente.

Em Novembro, Michael Morell, o antigo número dois da CIA durante o primeiro mandato de Obama, assegurava ao programa de televisão 60 Minutos que “as fugas de informação de Snowden eram as mais importantes e mais comprometedoras para a comunidade de informação norte-americana da história.” Os métodos de recolha de chamadas telefónicas, os programas de captação de dados desenvolvidos com a conveniência dos gigantes da Internet, a pirataria realizada na China, as provas sobre a espionagem a líderes mundiais e empresas estrangeiras, as revelações do antigo analista da NSA puseram em evidência a magnitude, a permeabilidade, falta de controlo e duvidosa legalidade das técnicas de vigilância da Administração norte-americana.

Para os serviços de informação, além do risco de instigar o ânimo e funcionamento questionável das suas agências de espionagem - algo que permitiu aos grupos terroristas mudar o seu modus operandi para evitar que as suas comunicações fossem interceptadas, segundo afirmaram os seus principais responsáveis, o Director Nacional de Informação, James Clapper, e o chefe da NSA, o General Keith Alexander, nas múltiplas audiências a que foram submetidos este ano no Congresso -, o principal perigo que implica a intercepção de cerca de 20 000 documentos realizada por Snowden é a incerteza de que estes tivessem caído em poder da China ou da Rússia e, a confirmarem-se estas suspeitas, as gravíssimas consequências que daí derivariam para a segurança nacional.

“Os documentos de Snowden provocaram um debate nacional e internacional sobre os sistemas de vigilância dos EUA donde resultou uma mudança no funcionamento da NSA, que já está em marcha”, explica em conversa telefónica Judd Legum, vice-presidente de comunicações do Centre for American Progress. Obama anunciará as mudanças no modo de proceder da NSA no seu regresso das férias de Natal, numa tentativa de temperar a indignação internacional suscitada pela constatação da espionagem que Washington fez de líderes aliados, por acalmarem as suspeitas dos gigantes tecnológicos, que viram posto em perigo o seu modelo de negócio no exterior ao revelar-se a sua cumplicidade nas práticas de espionagem da agência e por validar o interesse manifestado pelo próprio mandatário por encontrar um equilíbrio entre a segurança e a privacidade.

Nesse esforço, a Administração tornou públicos vários documentos com dados ilustrativos sobre vários programas de informação e as ordens judiciais secretas que os autorizavam, mas a maioria dos analistas concorda que não são suficientes nem reveladores da magnitude das práticas de espionagem a que a NSA sujeitou durante décadas os cidadãos norte-americanos e estrangeiros. “Empenharam-se mais em justificar a legitimidade e a importância desses programas para a luta antiterrorista que na transparência”, explicam na* União Americana de Liberdades Civis (ACLU).

Traidor ou Patriota

Desde que começaram as fugas de informação, o Governo dos EUA tratou de apresentar Snowden como um traidor que, com as suas acções, apenas punha em risco a luta do seu país contra o terrorismo, para a qual os programas de vigilância desenvolvidos pelo analista haviam sido vitais. Desde o porta-voz da Casa Branca até aos máximos responsáveis dos comités de informação do Capitólio, passando pelos responsáveis das agências de segurança da Administração, todos insistiram em que as práticas da NSA não apenas eram legais mas também que haviam ajudado a desbaratar* atentados de grupos afins à al Qaeda.
O carácter messiânico do analista e o seu êxodo e pedido de asilo a países com um duvidoso historial de respeito pelos direitos humanos fomentaram, num primeiro momento, dúvidas sobre a verdadeira intenção de Snowden. Com pouca formação académica (não tem curso universitário e não acabou o secundário pela via normal), supriu a sua falta de êxito nos estudos com os seus conhecimentos informáticos e de Internet, uma experiência muito cobiçada pelos serviços de inteligência norte-americanos depois do 11 de Setembro.
O antigo analista desenvolveu essa perícia informática que lhe abriu as portas aos antros de espionagem dos EUA em Elicot City, Maryland, a escassos quilómetros do quartel general da NSA em Fort Meade, para onde seus pais se mudaram depois de residir brevemente em Willmington, Carolina do Norte, onde Snowden nasceu, a 21 de Junho de 1983. Em 2003, Snowden fez a sua incursão nos serviços de informação dos EUA como vigilante da NSA numa das instalações encobertas que a agência tem na Universidade de Maryland, para incorporar-se, em 2006, na CIA. Um ano depois, foi deslocado para Genebra, onde começou a questionar-se sobre a legitimidade das práticas da Administração. O informático abandonou a agência e, em 2009, voltou à NSA, que o transferiu para o Japão. Meses antes de interceptar os documentos sobre os programas da agência, o analista começou a trabalhar para a empresa Booz Allen Hamilton como analista de sistemas da NSA no Havai.

Nas suas escassas entrevistas e aparições em público, a última das quais no dia Natal numa televisão britânica, Snowden sempre reivindicou que a sua verdadeira preocupação radica em denunciar o controlo dos EUA sobre os seus cidadãos e que o seu único interesse é a reivindicação da liberdade de expressão, o direito à privacidade e a diferença política. “Eu não queria mudar a sociedade, o que queria era dar-lhe os meios para poder mudar por si mesma”, assinalou o analista numa entrevista ao The Washington Post na Véspera de Natal.

Cheque à política externa

A fuga, primeiro, e as revelações de espionagem a líderes internacionais, depois, representaram um tropeção na agenda internacional do segundo mandato de Obama. A fuga de informação sobre as práticas de pirataria da NSA a empresas e universidades chinesas eliminou a superioridade moral com que os EUA pretendiam apresentar-se perante a China na cimeira bilateral entre ambos os presidentes, que se celebrou no princípio de Junho na Califórnia, para exigir a Pequim o cumprimento das normas internacionais em matéria de ciber-espionagem; o discurso nas portas de Brandeburgo de Obama em Berlim, que se pretendia histórico, viu-se manchado pelo escândalo da espionagem; o esforço diplomático para impedir que algum país concedesse asilo a Snowden, seguido do acidente do avião do presidente da Bolívia, Evo Morales, na Europa, pôs em questão a estratégia da aproximação em pé de igualdade entre a América Latina e a Casa Branca, dando terreno aos países da região mais beligerantes com Washington para clarificar as acusações de imperialismo; a concessão de asilo temporário ao antigo analista por parte da Rússia provocou o cancelamento do encontro entre Obama e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, prevista para Setembro e o congelamento da política de aproximação que o presidente dos EUA iniciara ao tomar posse, muito prejudicada já pelos desencontros com Moscovo em assuntos como a Síria ou o Irão.
A informação sobre espionagem à presidente do Brasil, Dilma Rousseff, publicadas no diário O Globo, pairaram sobre a cimeira do G-20 de São Petersburgo, obrigando Obama a pedir desculpa pessoalmente à sua homóloga. As desculpas não foram suficientes, e Rousseff cancelou a visita oficial a Washington marcada para Outubro. Quando as fugas de informação revelaram que os programas da NSA contemplavam a vigilância de mais de trinta líderes mundiais, entre eles a chanceler alemã Angela Merkel, o Primeiro-ministro francês François Hollande, ou o presidente do México, Enrique Peña Neto, inclusive quando este ainda era candidato, a Casa Branca viu-se obrigada a mudar de estratégia, passando de assegurar que todos os governos realizavam aquelas práticas a dizer que a Casa Branca não estava a par do alcance da espionagem dos seus serviços de informação, uma desculpa que o New York Times qualificou de “patética” num editorial.

Protecção da privacidade

A descoberta de que o telemóvel de Merkel esteve sob escuta quase provocou a suspensão do começo das negociações do ambicioso tratado de comércio livre entre os EUA e a UE que, a tornar-se realidade, se converteria na maior zona de transacções comerciais do mundo. O mal-estar causado por esta espionagem indiscriminada levou a Assembleia-geral das Nações Unidas, no passado dia 20 de Dezembro, a aprovar por unanimidade uma resolução, proposta pela Alemanha e Brasil, que contempla a protecção da privacidade na era das telecomunicações e das novas tecnologias.

Esta resolução, não vinculante, mas ilustrativa da oposição internacional às práticas de vigilância indiscriminada dos EUA, foi o último dos reveses que o sistema de espionagem dos EUA recebeu numa semana que começou na segunda-feira, dia 16, com a primeira decisão judicial do país que questionava a constitucionalidade dos programas da NSA, desde que haviam começado as fugas de informação, a que se seguiu, um dia depois, o pedido de maior rapidez na execução dos câmbios na agência que os líderes dos gigantes tecnológicos do país fizeram chegar a Obama durante uma reunião na Casa Branca. Na quinta-feira, dia 19, tornava-se público o relatório elaborado pelo comité de peritos, nomeado pelo presidente no Verão para rever o funcionamento da NSA, em que se recomendava limitar a capacidade de espionagem da agência e modificar a sua estrutura. Nessa sexta-feira, apesar disso, uma nova sentença de outro juiz federal concluía a favor da legalidade das técnicas de recolha de chamadas na agência, em sintonia com os argumentos defendidos pela administração.

Seis meses depois da primeira fuga de informação, Snowden não está na prisão, como ele próprio temia e os EUA desejavam, pelo contrário, vive comodamente em Moscovo, do ordenado que recebe do seu trabalho numa página web russa e de contribuições de grupos a favor das liberdades civis, tem uma noiva e as fugas de informação continuam a fazer manchetes e a incomodar Washington. O analista está satisfeito, diz ele, por ter dado a conhecer as práticas orwellianas do Governo do seu país, demonstrando que nem para os cidadãos dos EUA nem para os próprios legisladores é suficiente apelar com a ameaça terrorista ou com o 11/9 para justificar a invasão da intimidade.

Snowden relançou o debate sobre o respeito do direito à privacidade na era digital e abalou, como ninguém antes na história do país, os alicerces dos serviços de informação dos EUA. No começo do seu mandato, Obama declarou que a sua seria a administração mais “aberta e transparente da história” e pregou com o exemplo, desclassificando vários documentos sobre as técnicas de interrogatórios durante a época de George W. Bush, rompendo com uma tradução de secretismo governamental que foi recebida como um bom augúrio para uma abertura do sector executivo. Agora, as fugas de informação de Snowden levaram a Casa Branca a redefinir essa estratégia, obrigando-a começar a limpar a imagem dos serviços de informação, para calar o receio nacional e internacional. Para vermos se é suficiente, haverá que esperar as conclusões do processo de revisão da NSA que o presidente dos EUA anunciará em Janeiro.

Tradução de André Rodrigues P. Silva

aqui:http://www.odiario.info/?p=3156

Bartoon - Luis Afonso

"... E as notícias ainda eram lidas em jornais!"

por PEDRO TADEU


Lembrei-me que o 25 de Abril de 1974 vai fazer 40 anos e de como Portugal era diferente: guerra nas colónias, bairros de lata, analfabetismo, pessoas descalças nas ruas, censura prévia na imprensa, presos políticos, tribunais plenários, direito de voto limitado, licença para poder usar isqueiro... Penso nos dias de hoje, no quanto, apesar de tudo, avançámos. Tenho esperança que um meu neto, daqui a 40 anos, vá um dia enumerar, com espanto:

"Imaginem que no tempo do meu avô os estudantes universitários eram praxados, obrigados a cacarejar como galinhas ou a simular atos sexuais em público; as crianças abandonadas em instituições não podiam ser adotadas por casais homossexuais; ninguém participava na gestão do seu bairro; os pais achavam que quem devia educar os filhos eram os professores; os adultos nunca mais estudavam quando começavam a trabalhar; Fernando Pessoa, José Saramago e Gonçalo M. Tavares quase não eram lidos no ensino obrigatório; a Matemática, a certa altura, era facultativa e, vejam lá, não existia a disciplina de Descodificação da Comunicação Social e das Tecnologias de Informação."

"Nesse tempo os automóveis queimavam gasolina, custavam uma fortuna e, mesmo assim, todas as pessoas os queriam. Fumava-se tabaco. Havia gente a dormir na rua e peditórios nacionais para lhes arranjar comida; os serviços de saúde eram pagos e diferentes para quem fosse rico ou pobre."

"Mais de metade da população não votava; os políticos saíam diretamente do Governo para empresas que negociavam com o Estado; os jornalistas nunca assumiam publicamente os erros que cometiam; os tribunais demoravam 10 anos a sentenciar a simples disputa de uma herança; o Estado podia penhorar os nossos bens antes de decidir se tinha razão para isso; as prisões somavam mais condenados do que lotação; um polícia arriscava a vida por pouco mais do que o salário mínimo, mas podia fazer gratificados."

"Portugal estava a ser governado por uma comissão estrangeira; os trabalhadores nas empresas privadas tinham medo de fazer greve; os patrões não podiam despedir preguiçosos ou incompetentes; um desempregado, ao fim de 18 meses, era abandonado pelo Estado à sua sorte e deixava de constar nas estatísticas."

 "As origens das fortunas pessoais não faziam parte da informação pública; as declarações de impostos eram secretas; os donos das empresas nunca dividiam lucros com os empregados; um quinto da população ganhava 5,8 vezes mais do que o quinto mais pobre e as 25 pessoas mais ricas de Portugal valiam 10% do PIB... Ah! E só para se rirem: as notícias eram lidas em jornais!" 

aqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3642483&seccao=Pedro%20Tadeu&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco&page=1

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

2014, O COMBATE PELAS PALAVRAS

por Pacheco Pereira (excerto)

 2014 será um ano de completo, devastador, cruel, sem tréguas, combate pelas palavras. Dizendo palavras digo também ideias e fragmentos de ideias, mensagens virais e manipulações circulantes, explicações e mistificações, estatísticas, estatísticas torturadas, soundbites e frases assassinas.

Propaganda e razão vão estar de lados opostos, manipulação e vontade de verdade (concessão aos que a palavra verdade de per si ofende) vão-se defrontar, como sempre, de forma imperfeita e desigual. Do lado do poder todos os recursos serão utilizados, “comunicação política”, agências de comunicação, assessores, briefings e ministros da propaganda, marketing e “eventos” (tenho a certeza que Portas já pensa num “evento” grandioso e patriótico para festejar a “saída” da troika, por singular coincidência a dias das eleições europeias…).

Esse combate irá travar-se numa parte decisiva na comunicação social, em primeiro lugar na televisão, depois nas “redes sociais” e nos blogues e por fim na imprensa escrita. Alguns jornalistas ficam muito irritados quando afirmo (e vou repetir) que um dos problemas dos dias de hoje na vida pública em Portugal é a facilidade com que a comunicação social absorve a linguagem do poder e a reproduz como sendo sua, assim legitimando-a porque lhe dá um sujeito neutro, tornando-a uma verdade universal. Este processo não é simples, não se trata de estar “a favor” ou “contra” o Governo, nem sequer de actuar em função de preferências ou hostilidade partidárias, porque se fosse assim seria mais fácil identificar o que se passa.

Há um papel importante para os gostos e os ódios pessoais, mas isso faz parte do meio jornalístico desde sempre. O hábito é ajustar contas em função das simpatias ou antipatias pessoais entre jornalistas, políticos e outras personagens do espaço público, muito mais eficaz como explicação do que as simpatias partidárias. A promiscuidade entre jornalistas e “fontes”, a troca de favores e cumplicidades, as amizades e os amores, as vinganças e elogios interessados passam-se de modo subterrâneo, mas explicam muito da atitude de jornalistas face aos detentores do poder político, actual ou passado. Ora pouca gente cultiva mais a sua relação com os jornalistas do que os grupos dirigentes das “jotas” dos partidos, seja do PS ou do PSD, cuja proximidade social, cultural, de mentalidade e modo de vida, é quase total, e cuja partilha geracional de vocabulário (escasso), fragmentos de ideias, mitos e (in)experiências é igualmente comum.
 (...)

"É inaceitável que as opções legislativas sobre direitos sejam submetidas a referendo"

"As drogas não são o problema": entrevista com o neurocientista Carl Hart.

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Cuba é o único país da América Latina sem desnutrição infantil

Cuba - P10 - No último informe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) entitulado "Progresso para a Infância um Balanço sobre a Nutrição", determinou que atualmente no mundo existem 146 milhões de menores de cinco anos com problemas graves de desnutrição infantil.

De acordo com o documento, 28% destas crianças são da África, 17% do Oriente Médio, 15% da Ásia, 7% da América Latina e Caribe, 5% da Europa Central, e 27% de outros países em desenvolvimento.

Cuba sem embargo não tem esses problemas, sendo o único país da América Latina e Caribe que eliminou a desnutrição infantil, tudo isso graças aos esforço do governo para melhorar a alimentação, especialmente daqueles grupos mais vulneráveis. Ademais, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) também reconheceu Cuba como a nação com mais avanços na América Latina na luta contra a desnutrição.

Isto se deve a que o estado cubano garante uma cesta básica alimentícia e promove os benefícios do aleitamento materno, mantendo até os quatro meses de vida o aleitamento exclusivo e complementando-a com outros alimentos até os seis meses de idade. Ademais, se faz a entrega diária de um litro de leite líquido a todas as crianças de zero a sete anos de idade. Junto com outros alimentos como compotas, sucos e mantimentos os quais se distribuem de maneira equitativa.

Não por nada a própria Organização das Nações Unidas (ONU), situa o país na vanguarda do cumprimento da matéria de desenvolvimento humano. E se for pouco para o ano de 2015, Cuba tem entre seus objetivos eliminar a pobreza e garantir a sustentabilidade ambiental.

E tudo isso apesar dos 50 anos de embargo, bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos...

aqui:http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/410-consumo-e-meio-natural/45222-cuba-%C3%A9-o-%C3%BAnico-pa%C3%ADs-da-am%C3%A9rica-latina-sem-desnutri%C3%A7%C3%A3o-infantil.html

ver também aqui:http://averdade.org.br/2012/11/onu-revela-que-uma-a-cada-oito-pessoas-passam-fome-no-mundo/

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

GOVERNO PORTUGUÊS SUBSIDIA CASINOS

As contas da "Estoril Sol" (Casinos do Estoril, de Lisboa-Expo e da Póvoa de Varzim) respeitantes a 30/Set/2013 foram publicadas no sítio web da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). Como pouca gente vê esse sítio e como os media "de referência" não as divulgaram, tais contas são praticamente desconhecidas do público.   Verifica-se ali que: 1) A empresa fechou o 3º trimestre com lucros de 1.258.281 €; 2) As receitas diminuíram 5% em relação às da mesma data de 2012. E, numa análise mais fina, constata-se que caíram 7% as receitas das slot machines mas subiram 2% aquelas do jogo bancado (bacará, gamão, etc).   No total de 137.771.294€ de receitas contabilizadas, 42% respeitam ao Casino de Lisboa-Expo, 37% ao do Estoril e 21% ao da Póvoa.   Por sua vez, os benefícios fiscais recebidos ascenderam a 2.736.516 €, ou seja, 2% do total das receitas e mais do dobro do lucro registado!   Os referidos benefícios foram atribuídos como apoio do Estado à "renovação de equipamentos" (2.331.516€) e à "animação realizada" (405.000€).
Aqui, mais uma vez, se vê o despudor deste governo.   No momento em que corta em pensões de poucas centenas de euros de viúvas e viúvos, assim como nas remunerações dos funcionários públicos, concede benefícios de milhões para a renovação de slot machines e de espectáculos nos casinos!

aqui:http://resistir.info/

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Al-Qaida, eterna reserva da Otan

por Thierry Meyssan

 A revelação dos laços unindo o Primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdoğan, à Al-Qaida sacode a política turca. Não somente Ancara apoiava muito activamente o terrorismo na Síria, mas agia, além disso, no quadro de uma estratégia da Otan. Para Thierry Meyssan, o assunto mostra o carácter fictício dos grupos armados que lutam contra o Estado e o povo sírios.

  | Damasco


Até à data, as autoridades dos Estados membros da Otan afirmam que a onda jihadista internacional, que apoiaram na sua formação, aquando da guerra no Afeganistão contra os Soviéticos (1979), se teria voltado contra elas aquando da libertação do Koweit (1991). Elas acusam a Al-Qaida de ter atacado as embaixadas dos E.U. no Quénia e na Tanzânia (1998), e de ter fomentado os atentados do 11 de setembro de 2001, mas admitem que após a morte oficial de Oussama Ben Laden (2011), certos elementos jihadistas teriam de novo colaborado com eles na Líbia e na Síria. Contudo, Washington teria posto fim a esta reaproximação táctica em dezembro de 2012.

Ora, esta versão é desmentida pelos factos: a Al-Qaida combateu sempre os mesmos inimigos que a Aliança Atlântica, tal como o revela uma vez mais o escândalo que sacode actualmente a Turquia.
Vem-se a saber que o banqueiro da Al-Qaida, Yasin al-Qadi —que foi designado como tal e procurado pelos Estados Unidos após os atentados contra as suas embaixadas no Quénia e na Tanzânia (1998)— era um amigo pessoal quer do antigo vice-presidente dos E.U. Dick Cheney como do actual Primeiro-ministre turco Recep Tayyip Erdoğan. Vem-se a descobrir que este «terrorista» levava uma vida de “alto estilo” e viajava em avião privado, rindo-se das sanções das Nações Unidas lançadas contra si. Assim foi, que ele visitou, pelo menos, quatro vezes a Erdoğan em 2012, desembarcando no segundo aeroporto de Istambul onde, após as câmaras de vigilância terem sido desligadas, ele era recebido pelo chefe da guarda do Primeiro-ministro, sem passar pelo controlo de desembarque de passageiros.

Segundo os polícias (policiais-Br) e magistrados turcos que revelaram estas informações e detiveram os filhos de vários ministros implicados no assunto, a 17 de dezembro de 2013 —antes de serem desligados da investigação e depois demitidos das suas funções pelo Primeiro-ministro —Yasin al-Qadi e Recep Tayyip Erdoğan tinham organizado um vasto sistema de desvio de fundos para financiar a Al-Qaida na Síria.
Exactamente na altura em que este inacreditável jogo duplo saía à luz do dia, a polícia turca arrestava nas proximidades da fronteira síria um camião transportando armas destinadas à Al-Qaida. Entre as três pessoas interpeladas, uma declarou escoltar o carregamento por conta do IHH, associação «humanitária» dos Irmãos muçulmanos turcos, enquanto uma outra afirmava ser um agente secreto turco em missão. No fim, o governador interditou a polícia e a justiça de cumprir a sua missão, confirmando que este transporte era uma operação secreta do MIT (o serviço secreto turco), e ordenando que o camião e a sua carga pudessem retomar a sua rota.

A investigação mostrou, igualmente, que o financiamento turco da Al- Qaida utilizava uma rede iraniana tanto para agir sob cobertura na Síria como para levar a cabo operações terroristas no Irão(Irã-Br). A Otan dispôs já de cumplicidades em Teerão durante a operação «Irão-Contras» nos meios próximos do antigo presidente Rafsandaji, como o xeque Rohani, que se tornou o actual presidente.

Estes factos acontecem quando a oposição política síria, no exílio, lança uma nova teoria em vésperas da Conferência de Genebra 2: a Frente al- Nusra e o Emirado islâmico no Iraque e no Levante (ÉIIL) não seriam mais que falsas antenas dos serviços secretos sírios, encarregados de aterrorizar a população para a empurrar para os braços do regime. A única oposição armada “legítima” seria pois a do Exército sírio livre (ESL), que reconhece a sua supremacia. Não haveria assim, aqui, qualquer problema de representatividade à Conferência de paz, segundo ela.

Nós seriamos, assim, levados a esquecer todo o bem que a mesma oposição, no exílio, disse acerca da Al-Qaida durante três anos, assim como o silêncio dos Estados membros da Otan sobre a generalização do terrorismo na Síria.

Desde logo, se podemos admitir que a maior parte dos dirigentes da Aliança Atlântica ignorariam tudo sobre o apoio da sua organização ao terrorismo internacional, podemos do mesmo modo também admitir que a Otan é a principal responsável mundial pelo terrorismo.
Tradução
Alva
Fonte
Al-Watan (Síria)

aqui:http://www.voltairenet.org/article181690.html

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Austeridade - Emigração forçada

por Sandra Monteiro

São já mais de 121 mil os portugueses que emigraram durante a crise da austeridade, ultrapassando, em 2012, um máximo histórico que só havia sido alcançado em 1966, numa década condenada pelos horrores da ditadura, da guerra e da fome. Uma emigração desta dimensão, ainda por cima numa conjuntura de diminuição dos fluxos imigratórios e de saldo demográfico negativo, tem consequências gravíssimas para a sustentabilidade do país. Realidade temida ou concretizada, passou a fazer parte do quotidiano da maioria da população. Os aeroportos e estações de comboio, mas também as casas das cidades e aldeias, ou as praias e os campos por onde passeiam famílias e amigos, tornaram-se lugares estranhos de dor, amor e raiva. Fala-se de quem parte e de quem fica; cala-se a saudade que já se sente e os receios de que não corra bem. Nunca é fácil encontrar o equilíbrio certo entre exprimir a falta do abraço, da presença, e dar alento aos que se enchem de coragem e partem para onde possam ter futuro, concretizar sonhos e projectos.

Convivemos com esta realidade todo o ano, porque se parte a qualquer momento e se chega, tantas vezes, pelo calendário dos preços mais baixos do mercado das viagens. Mas, para quem é possível, o fim e o início do ano, à volta das festas que reúnem famílias e amigos, constituem picos de reencontros e despedidas. Ora, foi justamente este o período escolhido pela presidência da República para lançar uma operação de lavagem da emigração, escondendo as suas tragédias por baixo das roupagens da «juventude talentosa», da «nova diáspora» e do «exercício de lugares de destaque» nos países de emigração. Assim vestida, glamorosa e chique, a tragédia já estava decente para se sentar à mesa do Natal. Só faltou acusar quem emigra forçado de emigrar abaixo das suas possibilidades …

A operação, com grande impacto em muita comunicação social, foi organizada em torno do lançamento, a 23 de Dezembro, do Conselho da Diáspora Portuguesa, criado por iniciativa de Aníbal Cavaco Silva e na presença de Pedro Passos Coelho, Paulo Portas e José António Durão Barroso. O presidente da República expôs a narrativa neoliberal sobre a emigração, aliás em perfeita sintonia com as políticas relativas à imigração, como a que agora outorga títulos de residência a estrangeiros que invistam 1 milhão de euros na economia local (ver na edição de Janeiro o artigo de Benoît Bréville).

O objectivo deste Conselho é simples: mercantilizar a emigração. Mas não toda. Só o emigrante que «rende», isto é, o jovem, muito qualificado, de excelência, talentoso, competitivo e cosmopolita. O discurso lança um apelo este o nicho de emigração: vistam a camisola da marca Portugal, melhorem a imagem externa do país e favoreçam os investimentos. Como afirmou Cavaco Silva, «além da ligação afectiva», empenhem-se em «projetar Portugal no estrangeiro pela positiva», para «contribuir para corrigir alguma desinformação que existe sobre o nosso país» e «ajudar a melhorar a credibilidade», criando «condições para o investimento no país por parte de investidores estrangeiros», para o «crescimento económico em Portugal e para o aumento do emprego» [1].

Com o tempo, estudos aprofundados darão a conhecer as características dos mais recentes fluxos migratórios. Mas os dados já existentes mostram o quanto esta narrativa neoliberal não adere à realidade. A «nova diáspora» tem muitas características da velhíssima emigração: na esmagadora maioria, não é uma escolha, é forçada pelo desemprego, pela precariedade e por baixos salários; não abrange maioritariamente pessoas muito qualificadas, mas pessoas com formação média e baixa (nisto reproduz a situação do país: o atraso de décadas na formação superior, ainda das mais baixas da União Europeia, e as imensas melhorias dessas taxas mais recentemente, permitindo falar pela primeira vez numa «fuga de cérebros) [2]. A «nova diáspora» pode ter como característica marcante abranger gerações mais novas, mas nem por isso poupa gerações mais velhas. O desemprego, a precariedade, os baixos salários e a crescente desprotecção social atravessam as gerações e o território, as cidades e os campos, o litoral e o interior – só distinguem as classes sociais.

A narrativa neoliberal sobre a emigração da austeridade tem traços ideológicos que vêm de longe. A tónica é sempre colocada na liberdade e nas escolhas, quando os contextos de acção dos cidadãos e as políticas que lhes subjazem são a própria negação das condições materiais e substantivas para a autonomia e as escolhas livres. A cegueira voluntária que reduz a emigração a jovens diplomados, bem-sucedidos e potencialmente rentáveis para o país (dito, sem rir, pelos mesmos que negam o ensino superior como um direito universal e gratuito, dizendo ser um investimento das famílias em si próprias), não é apenas uma forma de criar falsos conflitos entre gerações e de remeter para responsabilidades individuais os infortúnios de vidas que na verdade, estão a ser desbaratadas por enquadramentos políticos e institucionais com origem no país e na União Europeia.

O que a «nova diáspora» tem de novo e positivo (mais pessoas com formações superiores, gerações mais habituadas ao contacto externo e mais apoiada em redes internacionais, mais acesso a tecnologias que encurtam distâncias, mais cidadãos apetrechados para não desistirem dos seus sonhos) foi muito construído, depois do 25 de Abril, com a oposição do neoliberalismo. O que a «nova diáspora» tem de velho e revelho são as desigualdades económicas, sociais e territoriais que a democracia não resolveu e um país com debilidades estruturais (produtivas, redistributivas) que a crise financeira e as respostas austeritárias, no quadro da União Europeia e do euro, só vieram agravar.

Os neoliberais sabem bem que a emigração é forçada pela sua austeridade. Mas fingem que não, porque o seu objectivo é mais vasto, aplica-se a quem está dentro ou fora do país. Nesta empresa em que vão transformando Portugal, só interessam os cidadãos rentáveis. Aumentar a exploração do trabalho – cada vez mais mercantilizado e desligado dos direitos que os poderes públicos deviam proteger, porque o trabalho é um meio de aceder a uma vida digna –, faz parte de um projecto que, internamente, usa os poderes públicos para transferir recursos dos cidadãos para a esfera do privado. Forçados a emigrar, esses cidadãos geram recursos noutros países e, compreensivelmente, sentem-se menos afectos aos poderes públicos do país que os abandonou à sua sorte. É então que Cavaco Silva vem lembrar que o afastamento em relação ao público, ao comum, não deve ser feito em benefício da «ligação afectiva» – pressupõe-se que à família, aos amigos, talvez mesmo aos pastéis de nata e ao clube do coração – mas da «credibilidade» e do «investimento» na marca Portugal… e até do «aumento do emprego» no país. A austeridade não é só promotora de desigualdades e anti-democrática. É moralmente repugnante.

sexta-feira 10 de Janeiro de 2014

aqui:http://pt.mondediplo.com/spip.php?article969 

A má distribuição da carga fiscal em Portugal, o agravamento das desigualdade e a manipulação do factor de sustentabilidade

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Para os crentes do aquecimento global, 2013 foi um inferno

Quase tudo o que podia dar errado em 2013 deu errado para a causa do aquecimento global

2013 foi um ano triste para os defensores do aquecimento global. O gelo sobre o mar em torno da Antártida estabeleceu um recorde, de acordo com a NASA, e se estendeu por uma área maior do que em qualquer momento desde 1979, quando as medições por satélite começaram. No Ártico, a notícia também é triste. Há cinco anos, Al Gore previu que até 2013 “toda a calota de gelo polar do Norte desaparecerá”. Não aconteceu. Em vez disso, um Gore amuado viu o gelo no Ártico aumentar em 50% ao longo de 2012. Neste ano, o gelo do Ártico também superou o de 2008, ano de sua previsão. E o de 2009, 2010 e 2011. E em 2013, continua aumentando…

O tempo entre os polos também conspirou para fazer os crentes do aquecimento global passarem mal. Em dezembro, estações meteorológicas dos EUA informaram mais de 2000 recordes de frio e dias de neve. Quase 60% dos os EUA está coberto pela neve, o dobro do que ocorreu no ano passado. Os céus, mesmo abrindo na Terra Santa, onde os cidadãos impressionados viram mais de 40 centímetros de neve cair em Jerusalém, tiveram quase um metro de neve nos seus arredores. A neve cobriu o Cairo pela primeira vez em mais de 100 anos.

2013 marca o 17º ano sem aquecimento no planeta. Foi marcado pela primeira vez que James Hansen, o guru de Al Gore e aquele cujas previsões detonaram o alarmismo do aquecimento global, admitiu que o aquecimento parou. Foi marcado ainda pela primeira vez que grandes defensores da mídia da ortodoxia – The Economist, Reuters e London Telegraph – admitiram que a ciência não está resolvida em relação ao aquecimento global, com The Economist até zombando dos modelos dos cientistas, colocando-os numa “visão negativa”. Previsões científicas de resfriamento global foram publicadas e divulgadas por ninguém menos do que a BBC, a emissora anteriormente inigualável na mídia apocalíptica antropogênica – o que até recentemente era evitado, principalmente pela imprensa acadêmica, por medo de serem rotulados de malucos.

2013 foi igualmente desolador para os negócios bancados pelo aquecimento global. As demissões e falências continuaram a aumentar nas empresas europeias e norte-americanas produtoras de painéis solares e turbinas eólicas, que fizeram pedidos de subsídios para combater o que eles rotularam de concorrência desleal das empresas chinesas. A partir de 2013, porém, as suas desculpas foram se esgotando. A Suntech, da China, a maior fabricante de painéis solares do mundo, já entrou com pedido de falência, assim como a LDK Solar, outra grande empresa. A Sinovel, maior fabricante de turbinas eólicas do mundo e segunda maior da China, informou que perdeu US$ 100 milhões após suas receitas cairem 60%, e agora está fechando fábricas no Canadá, nos EUA, e na Europa.

Embora essas tecnologias de “baixo carbono” estejam se enterrando, os combustíveis ricos em carbono continuam entusiasmando. No mês passado, a Alemanha mandou brasa em uma nova usina a carvão, a primeira de 10 modernas plantas – grandes emissoras de CO2 – que a maior economia da Europa está bancando para alimentar a sua economia no século 21. Em todo o mundo, 1.200 novas usinas movidas a carvão estão em obras. De acordo com uma Agência Internacional, o uso do carvão no mundo vai crescer, especialmente nos países em desenvolvimento, ajudando a tirar os pobres da pobreza ao modernizar suas economias.

Tão importante quanto o carvão, os queridinhos dos combustíveis fósseis são, indiscutivelmente, o gás de folhelho (shale gas) e o xisto betuminoso. Esta semana, o Reino Unido passou por cima dos opositores e anunciou que vai fazer de tudo para aproveitar esses combustíveis da próxima geração. Em metade do Reino Unido será permitido perfurar para realizar o que o xisto betuminoso e o gás de folhelho estão fazendo nos EUA – diminuindo drasticamente os custos da energia e eliminando a dependência do país em combustíveis estrangeiros. A China, também, decidiu aproveitar a revolução do gás não convencional – em um acordo com os EUA, anunciaram esta semana que vão explorar o que alguns estimam ser a maior reserva de gás de folhelho do mundo, o que equivale, em conteúdo de energia, a cerca de metade do petróleo na Arábia Saudita.

2013 também marca a virada para os governos do mundo. Em 1º de janeiro de 2013, primeiro dia da segunda fase do Protocolo de Quioto, este foi abandonado pelo Canadá e pela Rússia, duas potências dos combustíveis fósseis. Com essa saída, Quioto tornou-se um clubinho de não emissores – o Protocolo de Quioto abrange apenas 15% das emissões globais. Em negociações patrocinadas pela ONU sobre o aquecimento global em Varsóvia no mês passado, os países ocidentais da Europa, América do Norte e Austrália se recusaram a discutir uma proposta dos países em desenvolvimento que limitaria suas emissões no futuro.

2013 também viu a Austrália eleger um governo cético em uma eleição que foi saudada como um referendo sobre as mudanças climáticas. Após a vitória, o governo prontamente começou a se desfazer dos impostos sobre o carbono do país, juntamente com o seu ministério das mudanças climáticas, agora no monte de lixo da história. Outros países estão tomando nota da atitude do público sobre o alarmismo em relação às mudanças climáticas – em quase nenhum lugar o público acredita nos cenários assustadores pintados pelos defensores das mudanças climáticas.

2013 foi o melhor dos anos para os céticos, ou o pior dos anos para os entusiastas das mudanças climáticas, para os quais qualquer mudança – ou a ausência de mudanças – no tempo servira como prova irrefutável das mudanças climáticas. Os entusiastas caíram em descrença, todos ridicularizam o fracasso dos modelos climáticos diante das previsões não ocorridas como anunciadas. Que os governos e o público iriam abandonar o dever de deter as mudanças climáticas, podia até estar em suas mentes, mas era impensável que o inferno congelar-se-ia de novo. Da forma como as coisas estão indo para eles, isso pode acontecer já em 2014.
O post acima é uma tradução livre do artigo recente de Lawrence Solomon, diretor executivo da Energy Probe, um grupo ambientalista com sede em Toronto.
 aqui:http://agfdag.wordpress.com/2013/12/21/para-os-crentes-do-aquecimento-global-2013-foi-um-inferno/

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

O lugar de Eusébio no Estado Novo

Um excelente artigo de Nuno Domingos, divulgado há alguns meses no Público. Como nunca se sabe actualmente se funcionam, ou não, os links para este jornal, fica aqui o texto na íntegra.


«No Portugal dos anos 60, abundavam as imagens de Eusébio da Silva Ferreira. Ele aí estava, espalhado por jornais e revistas, mas também em programas e serviços noticiosos da Radiotelevisão Portuguesa. Atleta do Benfica e da selecção nacional, sempre na sua função de jogador de futebol, era aclamado pelo seu inegável talento. No Portugal metropolitano de então, onde rareavam ainda os naturais de África, nunca um negro merecera tanto destaque e fora objecto de tamanha glória. Uma representação destas distinguia-se da imagem do africano, que proliferara na cultura popular. Como demonstrou Isabel Castro Henriques (A Herança Africana em Portugal, ed. CTT), o negro era quase sempre ridicularizado com evidente crueldade, em livros, imagens, jornais, bandas desenhadas, campanhas publicitárias e anedotas. A construção de um outro tipo de africano, fundada numa distância que permitia as maiores efabulações, só tomou um sentido mais concreto durante a guerra colonial, onde o africano era o inimigo, o "turra".

Desde os seus primórdios, o Estado Novo contribuíra decisivamente para a disseminação de um racismo generalizado, garantindo-lhe até um carácter científico. Em exposições e congressos, nos trabalhos de diversas ciências coloniais, e em muitas publicações oficiais, expunha-se um outro africano culturalmente diferente, que fazia parte integrante do império português, mas que era colocado à parte, como se se tratasse de um todo racial e cultural discrepante. O império afirmara o atraso civilizacional das populações africanas, legitimando assim uma conquista colonial anunciada como uma missão de desenvolvimento destas regiões e dos seus povos. Justificou-se, desta forma, que Portugal atribuísse uma cidadania específica à maioria dos povos que governava, enquadrada pelo chamado sistema de indigenato, que cessou em 1961, precisamente no ano em que Eusébio começou a jogar no Benfica, depois de chegar a Portugal em Dezembro de 1960.

É evidente que as retóricas integracionistas do Estado Novo na década de 60 obrigavam a outras representações do africano, nomeadamente a de um sujeito colonial assimilado à sociedade portuguesa. Eusébio ajustava-se bem a esta imagem. A sua autobiografia, publicada em 1966 em Portugal e redigida por Fernando G. Garcia a partir de um conjunto de entrevistas (traduzida em inglês no ano seguinte), conta a história de um "bom rapaz", narrativa mestra e memória oficial a partir daí repetida em jornais, biografias e bandas desenhadas.

A "verdadeira" história de Eusébio apresenta um conjunto de etapas, do Bairro da Mafalala na Lourenço Marques colonial, onde vivia com a mãe Elisa num contexto de pobreza honrada, os jogos de bairro e a equipa dos "brasileiros", as idas à escola, o deslumbramento com o centro da cidade colonial, que pouco conhecia, a entrada no futebol local, a transferência atribulada para o Benfica e os diversos passos da brilhante carreira profissional.

Nesta história, a lista impressionante de feitos desportivos é intervalada pelo relato do casamento com Flora e pela incorporação de Eusébio, em 1963, no Exército português, profusamente fotografada e utilizada como propaganda. A incorporação militar, o casamento e a vida familiar contribuíam para a construção quase perfeita da biografia de um indivíduo assimilado, preocupado com o trabalho e com a família e plenamente integrado no Portugal de Salazar, um jovem de origens desfavorecidas que, apesar da sua notoriedade, continuava a perceber o seu lugar social.

A apropriação oficial da imagem de Eusébio não anulava os efeitos produzidos pelo facto de um negro se ter tornado uma figura dominante da cultura popular portuguesa. Eusébio entrou, tal como a fadista Amália, num universo de glorificação cultural até aí constituído por indivíduos com origens e percursos muito distintos, consagrados em actividades oficialmente legitimadas e de onde o futebol e o fado se encontravam afastados.

Apesar do reconhecimento do seu mérito, a apreciação entusiástica que mereceu não resultava de uma inusitada consciência de igualdade racial, tão-pouco poderia servir de prova de que a sociedade portuguesa estava preparada, devido a uma característica cultural adquirida, a aceitar a diferença. A relevância de Eusébio dependia do seu valor enquanto elemento de uma economia particular, no contexto de uma troca muito específica, proporcionada pelo processo de profissionalização do futebol. O jogador moçambicano oferecia quase todas as semanas capitais preciosos à representação nacional mas sobretudo clubista, a uma específica cidadania exercida diariamente por muitos indivíduos, quase todos homens, durante incontáveis encontros, conversas e imensas retóricas, nos quais se manifestava uma identificação, uma forma de apresentação na vida de todos os dias. Os que no campo representavam com o seu génio desportivo esta pertença (ser do Benfica, do Sporting, do Porto, ou da selecção) mereciam quase todas as recompensas, independentemente da sua origem ou da cor da sua pele. O valor de Eusébio nesta economia particular dependia da manutenção de um nível performativo constante, de um ritmo laboral intenso, com consequências físicas conhecidas, como asseveram as inúmeras cirurgias ao seu martirizado joelho.

As exibições no Mundial de 1966 ampliaram a reputação de Eusébio, oferecendo-lhe uma dimensão global. Este enorme atleta, personagem principal de uma cultura de consumo em expansão que gerava novas identificações, juntou-se à memória visual colectiva de uma geração, ao lado de outros ícones da cultura popular dos anos 60. Em Inglaterra, país que na altura já abdicara da grande parte das suas colónias, governada em 1966 por um governo trabalhista, os negros eram uma enorme raridade nos campeonatos desportivos e nenhum chegara à selecção nacional.

O efeito do poder mediático de vedetas populares como Eusébio foi alvo de escrutínio, as suas posições interpretadas, os resultados políticos dos seus actos avaliados. Se o Estado Novo sempre desconfiara da espectacularização do desporto assente no movimento associativo, veio depois a perceber que esta lhe podia ser útil. Para as oposições ao regime, menos preocupadas em reconhecer o efeito propriamente político da invulgar notoriedade social de um negro em Portugal, importava denunciar a utilização de Eusébio na defesa da "situação", enquanto elemento da narcotização do povo - ao lado do fado, do chamado nacional-cançonetismo e de Fátima - e especificamente da propaganda imperial, fundada na mitologia do pluri-racialismo, num período em que Portugal lutava pelos seus territórios numa guerra travada em três frentes.

É interessante verificar que nas últimas décadas Eusébio veio a tornar-se objecto de interesse para os estudiosos do continente africano, entendido como um pioneiro do futebol em África, um exemplo de talento extraordinário e, simultaneamente, ao lado de outros grandes nomes negros da história do desporto internacional, nomeadamente norte-americanos, desde Joe Louis a Jesse Owens, alguém que vingara num mundo fortemente discriminatório. O desejo de alguns académicos e jornalistas estrangeiros em encontrar no discurso de Eusébio posições emancipadoras e politizadas esbarrou quase sempre em respostas evasivas e no habitual refúgio no mundo do futebol. Na verdade, o universo que ele, desde pequeno nos espaços livres da Mafalala, aprendera a dominar. Para aquele que foi considerado, depois do Mundial de 1966, como "o melhor da Europa", e de quem se falava estar a disputar com Pelé o título de "rei do futebol mundial", África
e a política africana estavam muito longe.

De regresso a África

O Estado Novo tratou de voltar a lembrar que Eusébio era africano, parte de um Portugal enorme que se prolongava para sul. Se é evidente que o impacto de Eusébio na sociedade portuguesa não pode ser avaliado apenas à luz de uma história política, sendo essencial investigar o efeito simbólico da notabilidade de um jogador negro, é também certo que na década de 60 a sua glória serviu a defesa de uma excepcionalidade colonial. Foi esta que serviu de justificação à soberania sobre os territórios africanos e a sua história, contada e recontada até aos nossos dias, contribuiu para lançar um manto sobre o passado, ajudando a reproduzir mitos sobre a tolerância racial dos portugueses.

Um ano antes do Mundial de 1966, o embaixador português Franco Nogueira, numa conferência na embaixada portuguesa em Londres (em Maio de 1965), falou sobre os princípios orientadores da política portuguesa em África: "O nosso primeiro princípio orientador é a igualdade racial - uma pequena noção que trouxemos para África há mais ou menos 500 anos". Portugal orgulhava-se do seu império se constituir como um "espaço multirracial", uma "democracia racial real" onde todos "trabalham harmoniosamente para os mesmos fins".

Falso e mitificador, o olhar de Franco Nogueira, ao incluir o império dentro da sociedade portuguesa, acabava por realçar o facto de que o mundo governado pelos portugueses na década de 60 era maioritariamente negro e africano, realidade por vezes esquecida nas análises historiográficas sobre Portugal. E qual era o lugar que a gestão colonial portuguesa atribuíra a esta grande maioria da população? Segundo a história mediatizada da vida de Eusébio existia em Moçambique um contexto de igualdade de oportunidades e uma ausência de preconceito racial, bem ilustrados por um percurso de mobilidade social, desde o Bairro
 da Mafalala até à metrópole e aos grandes estádios europeus.

Poderá um caso excepcional ilustrar a excepcionalidade de um regime colonial? É que o lugar da população africana, na grande sociedade portuguesa de 60, era bem diferente do representado pelo caso de Eusébio. A sua integração estava longe de estabelecer qualquer padrão que pudesse explicar os 500 anos de colonialismo de que falava Franco Nogueira.

Mais fiável parecia ser a história da cidade onde o jogador moçambicano cresceu. Desde a sua fase moderna, iniciada no final do século XIX e projectada pela industrialização da África do Sul, que Lourenço Marques se dividira entre um centro colono, predominantemente branco, e um subúrbio precário, predominantemente negro. Pela força, afastaram-se as populações locais para a periferia. Separada fisicamente, a mão-de-obra africana que se acumulava nos subúrbios, essencial para o funcionamento do sistema colonial, foi enquadrada por leis e normas. Estas regulavam uma discriminação racial, a qual era evidente não apenas na lógica do indigenato, mas que se traduzia no quotidiano, nos espaços públicos, nas escolas, nos transportes e nos locais de trabalho, onde sofreram durante muito tempo o flagelo do trabalho forçado. O historiador Valdemir Zamparoni explicou bem este mesmo processo, na sua tese sobre a capital de Moçambique.

Já depois do fim do indigenato persistia o que, num artigo publicado em 1963 no jornal A Tribuna, o arquitecto Pancho Guedes chamava de "cinto do caniço" que separava o centro urbano da "cidade dos pobres, dos serventes e dos criados", isto é a cidade dos africanos. Lourenço Marques carecia então, segundo o arquitecto, de "uma genuína integração social - ou serão os "pretos" só para estar nas cozinhas e nas recepções?" Os habitantes dos bairros periféricos da cidade, onde nasceu Eusébio em 1942, trabalhavam nas indústrias locais, nos portos e nos caminhos-de-ferro, nos serviços domésticos, em actividades ditas informais, dependendo de pequenas lavras, ou faziam parte da forte emigração para o país vizinho, controlada e taxada pelo estado colonial. Esta estrutura laboral era fortemente racializada, pertencia a um sistema onde a cor da pele mostrava os contornos da organização social. Na grande sociedade portuguesa de 60, o lugar dessa maioria africana, mesmo depois do fim do indigenato, continuava a revelar a herança de um colonialismo predador e racista, não muito diferente dos outros colonialismos nos seus propósitos e objectivos, nos meios e nas estratégias, e absolutamente nada excepcional.

Explicada pela conjugação única entre a profissionalização do futebol e a procura de talentos, a força da cultura popular mediática e um regime que necessitava de defender por todas as formas o mito do pluri-racialismo lusófono, a carreira extraordinária de Eusébio não belisca a imagem pérfida do sistema colonial português. Tão-pouco deve servir de modelo para descrever, hoje, as relações raciais em Portugal.»

sábado, 4 de janeiro de 2014

A autodeterminação, lembram-se?

por JOSÉ MANUEL PUREZA

 Talvez o efeito maior do momento neoliberal da longa globalização tenha sido o anátema quase total lançado sobre o valor político da autodeterminação. E talvez o efeito maior da atual crise desse momento seja, em quase todas as regiões do mundo, o retorno a esse valor.

Os dois lados da ambivalência política da globalização - feita quer de integração dos mercados financeiros quer de mundialização das lutas pelos direitos humanos - juntaram-se, a partir da década de oitenta, na produção de um discurso crítico da soberania dos Estados, remetida para a categoria de resíduo político. Vivemos os últimos trinta anos sob o manto dessa desconsideração dos Estados e das suas soberanias, tidas como obstáculos quer ao pleno funcionamento dos mercados quer ao pleno cumprimento de padrões de boa governação amigos dos direitos e da dignidade.

O resultado foi a súbita desvalorização do conceito de autodeterminação no debate político internacional. O que fora a grande referência dos movimentos de libertação do pós-guerra, animando uma geração de lutas que mudou por inteiro o mapa do mundo, saiu quase totalmente de cena, castigada ora por supostamente camuflar situações de estatalidade inviável, ora por servir de bandeira a mobilizações desalinhadas com o primado do mercado mundial. Tomando esse alinhamento como critério, louvou-se efemeramente a retórica de autodeterminação presente nas revoltas ocorridas no Leste europeu ou no mundo árabe, ao mesmo tempo que se eliminava a palavra - e o seu conteúdo político transformador - do vocabulário aplicado à América Latina ou a África, por exemplo.

Para preencher esse vazio alguns crentes na regulação do momento neoliberal da globalização sugerem a hipótese de um constitucionalismo global. E, generosos, põem no centro desse constitucionalismo global a uniformização de um catálogo de direitos fundamentais e dos cânones do Estado de direito. Sucede, porém, que a vida não lhes dá razão. O constitucionalismo global efetivamente existente, não o dos livros e das conferências mas o da política concreta que está aí, é afinal o da constitucionalização do próprio neoliberalismo. Veja-se, no espaço da União Europeia, o valor constitucional prático que se pretende conferir à "regra de ouro" do equilíbrio orçamental para a atirar quer contra os governos que decidam seguir uma orientação de intervenção contracíclica, por exemplo, quer contra os próprios tribunais constitucionais nacionais. Veja-se, em escala mais ampla, o que resultará da aprovação da Parceria Transatlântica de Comércio e Investimento (vulgo, tratado de comércio livre entre a União Europeia e os Estados Unidos), com os investidores (como a Monsanto, a Philip Morris ou a Microsoft) a poderem processar os governos nacionais diante de um tribunal ad hoc se estes adotarem legislações nacionais que aqueles considerem prejudiciais para a sua liberdade de negócios. Este constitucionalismo global efetivo que rouba toda a autonomia - incluindo a de determinar o conteúdo das leis - aos Estados e aos povos que eles é suposto representarem é por isso mesmo um ataque letal à democracia.

A Europa do Sul está a trazer de volta a autodeterminação para o centro da política. Porque é aqui e agora que os efeitos do discurso encantatório da integração política e económica se estão a exibir em toda a sua perversidade. Aqui, integração e perda da autodeterminação estão a ser sinónimos e os dois estão a significar austeridade sem fim e desdém da democracia. Unir os povos do Sul da Europa para resgatar a nossa autodeterminação contra o constitu- cionalismo global ordoliberal que nos amarfanha é hoje um imperativo da democracia. Essa é a questão essencial das próximas eleições europeias.

aqui:http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=3612788&seccao=Jos%E9%20Manuel%20Pureza&tag=Opini%E3o%20-%20Em%20Foco

As drogas e a máquina de guerra dos Estados Unidos

Entrevista com Peter Dale Scott

 por Maxime Chaix


 O ex-diplomata canadiano Peter Dale Scott aproveita a sua reforma para estudar detalhadamente o Sistema dos Estados Unidos, e continua a descrevê-lo nos seus livros. Nesta entrevista responde ao nosso colaborador Maxime Chaix, tradutor dos seus trabalhos para o idioma francês.

Maxime Chaix: No seu último livro, La Machine de guerre américaine, o senhor estuda, profundamente, o que chama a «conexão narcótica global». Pode aclarar- nos essa noção?

Peter Dale Scott: Permita-me, antes de mais, definir o que entendo por «conexão narcótica». As drogas não entram nos Estados Unidos por artes de magia. Importantes carregamentos de droga são enviados, por vezes, para esse país com o consentimento e/ou a cumplicidade directa da CIA. Vou dar-lhe um exemplo, que eu próprio cito em La Machine de guerre américaine (A Máquina de Guerra Americana- ndT). Nesse livro menciono o general Ramón Guillén Dávila, chefe de uma unidade antidroga criada pela CIA na Venezuela, o qual foi inculpado em Miami por ter introduzido clandestinamente uma tonelada de cocaína nos Estados Unidos. Segundo o New York Times, «a CIA, apesar das objeções da Drug Enforcement Administration [DEA]-(em inglês,Agência de Combate à Droga-ndT), aprovou o envio de, pelo menos, uma tonelada de cocaína pura para o aeroporto internacional de Miami, para obter informação sobre os cartéis colombianos da droga». No total, segundo o Wall Street Journal, o general Guillén, possívelmente. enviou ilegalmente mais de 22 toneladas de droga para os Estados Unidos. Apesar disso, as autoridades americanas nunca solicitaram à Venezuela a extradição de Guillén.
Inclusivamente em 2007, quando [Guillén] foi preso, no seu país, por ter planificado uma tentativa de assassínio contra [o presidente] Hugo Chávez, o processo de acusação contra esse individuo permaneceu selado em Miami. O que não surpreende sabendo que se tratava de um aliado da CIA.
Mas a conexão narcótica da CIA não se limita ao Estados Unidos e à Venezuela visto que, desde os tempos do pós-guerra, foi-se estendendo progressivamente através do mundo. Com efeito, os Estados Unidos trataram de exercer a sua influência em certas partes do mundo mas, sendo uma democracia, não podiam enviar o US Army(exército dos EUA-ndT) a essas zonas. Assim, fabricaram exércitos de apoio (proxy armies) financiados pelos traficantes de droga locais. Esse modus operandi converteu-se pouco a pouco numa regra geral. Esse é um dos principais temas do meu livro La Machine de guerre américaine. Nesse livro estudo especificamente a operação Paper, que começou em 1950, com a utilização por parte da CIA do exército do KMT na Birmânia(actual Myanmar-ndT), o qual organizava o tráfico de droga na região. Quando verificou que aquele exército era totalmente ineficaz, a CIA desenvolveu a sua própria força na Tailândia (com a sigla de PARU). O oficial de inteligência encarregue dessa força reconheceu que o PARU financiava as suas operações com importantes quantidades de droga.

Ao estabelecer o tráfico de droga no sudeste asiático, o KMT –como exército de apoio– foi o precursor do que se converteria num costume da CIA: colaborar, em segredo, com grupos financiados através da droga para fazer a guerra, como sucedeu na Indochina e no Mar da China meridional durante os anos 1950, 60 e 70, no Afeganistão e na América central nos anos 1980, na Colômbia nos anos 1990, e novamente no Afeganistão em 2001. Os responsáveis são novamente os mesmos sectores da CIA, ou seja as equipas encarregues de organizar as operações clandestinas. Pode-se constatar como desde o período do pós-guerra os seus agentes, financiados com os lucros trazidos por essas operações com narcóticos, se movem de continente para continente repetindo o mesmo esquema. Assim podemos falar de «conexão narcótica global».

Maxime Chaix: Em La Machine de guerre américaine, o senhor assinala, além disso, que a produção de droga se desenvolve bruscamente nos sítios onde os Estados Unidos intervêm com o seu exército e/ou os seus serviços de inteligência, e que essa produção diminui quando terminam essas intervenções. No Afeganistão, na altura em que a OTAN está retirando paulatinamente as suas tropas, pensa que a produção diminuirá quando acabar a retirada?

Peter Dale Scott: No caso do Afeganistão é interessante ver que durante os anos 1970, à medida que o tráfico de droga diminuía no sudeste asiático, a zona fronteiriça paquistano-afegã convertia-se, pouco a pouco, em placa central do tráfico internacional de ópio. Finalmente, em 1980, a CIA implicou-se de maneira indirecta, mas massiva, contra a URSS na guerra do Afeganistão. Por isso, Zbigniew Brzezinski se jactou ante Carter de ter organizado o Vietname dos soviéticos. Mas, também, desencadeou uma epidemia de heroína nos Estados Unidos. Antes de 1979 apenas muito pequenas quantidades de ópio, proveniente do Crescente de Ouro, entravam nesse país . Ora,segundo as estatísticas oficiais, em apenas um ano 60% da heroína que passou a entrar nos Estados Unidos provinha dessa região . Como eu próprio recordo em La Machine de guerre américaine, os custos sociais daquela guerra alimentada pela droga ainda continuam a afectar-nos. Por exemplo, só no Paquistão existem hoje, segundo consta, 5 milhões de heroinómanos. Apesar disso em 2001, os Estados Unidos reactivaram, com a ajuda de traficantes,as suas tentativas de impôr um processo de edificação nacional a um quasi-Estado, que conta não menos de uma dezena de grupos étnicos, importantes, que falam diferentes línguas. Nessa altura ficou perfeitamente claro, que a intenção dos Estados Unidos era utilizar os traficantes de droga para posicionar-se no terreno no Afeganistão. Em 2001, a CIA criou a sua própria coligação para lutar contra os talibãs, recrutando –e incluso importando– traficantes de droga, que já tinha tido como aliados nos anos 1980. Como no Laos –em1959– e no Afeganistão em 1980–, a intervenção americana foi uma bênção para os cartéis internacionais da droga. Com o agravamento do caos nas zonas rurais afegãs, e o aumento do tráfico aéreo, a produção multiplicou-se por mais de 2, passando de 3.276 toneladas no ano 2000 (e sobretudo das 185 toneladas produzidas em 2001, ano em que os talibãs proibiram a produção de ópio) a 8.200 toneladas em 2007.

Hoje em dia é impossível determinar como evoluirá a produção de droga no Afeganistão. Mas, se os Estados Unidos e a OTAN se limitarem a retirar deixando o caos atrás de si, todos sofrerão as consequências –com excepção dos traficantes de droga, que se aproveitariam então da desordem para as suas actividades ilícitas. Seria portanto indispensável estabelecer uma colaboração entre o Afeganistão e todos os países vizinhos, incluindo a China e a Rússia (que pode ser considerada uma nação vizinha devido às suas fronteiras com os Estados da Ásia Central). O Conselho Internacional sobre a Segurança e Desenvolvimento (ICOS) sugeriu comprar, e transformar, o ópio afegão para o utilizar com fins médicos nos países do Terceiro Mundo, que o necessitam com grande urgência. Mas Washington opõe-se a essa medida, difícil de pôr em prática sem um sistema de preservação da ordem eficaz e sólido. De qualquer modo, teremos que evoluir para uma solução multilateral em que se inclua o Irão (Irã-Br), país muito afectado pelo tráfico de droga proveniente do Afeganistão. Trata-se, além do mais, do país mais activo na luta contra a exportação de estupefacientes afegãos e o que mais perdas humanas está sofrendo por causa desse tráfico. Por conseguinte, haveria que reconhecer o Irão como um aliado fundamental na luta contra essa praga. Mas, por numerosas razões, esse país é considerado como um inimigo no mundo ocidental.

Maxime Chaix: No seu último livro, La Machine de guerre américaine, demonstra que uma parte importante dos dinheiros dos narcóticos [da droga] alimenta o sistema bancário internacional, incluindo os bancos dos Estados Unidos, criando assim uma verdadeira «narconomia» (do inglês Am-”narconomics”-ndT). Nesse contexto, o que pensa do caso HSBC?

Peter Dale Scott: Primeiro, o escândalo de lavagem de dinheiro do HSBC leva-nos a pensar que a manipulação do dinheiro da droga por parte desse banco pode ter contribuído para o financiamento do terrorismo –como já tinha revelado uma subcomissão do Senado em julho de 2012. Além disso, um novo relatório senatorial estimou que «em cada ano, entre 300.000 milhões e um milhão de milhões de dólares de origem criminosa são lavados pelos bancos através do mundo, e a metade desses fundos transitam pelos grupos americanos». Nesse contexto, as autoridades governamentais explicam-nos que não se desmantelará o HSBC porque é demasiado importante na arquitectura financeira ocidental. Há que recordar que António Maria Costa, director do Gabinete da ONU contra a Droga e o Crime (ONUDC), lembrou que em 2008 «os milhares de milhões de narcodólares impediram o afundamento do sistema no pior momento da crise [financeira] global».

Assim foi que o HSBC se pôs de acordo com o Departamento de Justiça americano, para pagar uma multa de uns 1.920 milhões de dólares, de modo a evitar ser alvo de ações penais. O governo dos Estados Unidos, desta maneira, dá-nos a entender que ninguém será condenado por esses crimes porque, como já assinalei anteriormente, esse banco é parte integrante do sistema. Isto é uma confissão fundamental. Na realidade, todos os grandes bancos de importância sistémica –não apenas o HSBC– reconheceram ter criado filiais (os privates banks) concebidas especialmente para a lavagem dinheiro sujo. Alguns pagaram pesadas multas, habitualmente muito menos importantes que os lucros gerados pela lavagem de dinheiro. E, enquanto durar essa impunidade, o sistema continuará a funcionar dessa maneira.

É um verdadeiro escândalo. Imagine, você, um qualquer indivíduo detido com uns quantos gramas de cocaína no bolso. O mais provável é que vá parar à cadeia. Mas o banco HSBC pôde ter lavado uns 7.000 milhões de dólares de receitas da droga, através da sua filial mexicana, sem que ninguém vá parar à cadeia.
Na realidade, a droga é um dos principais factores que sustentam o dólar, o que explica o uso da expressão «narconomia»(ou narcoeconomia-ndT). Os 3 produtos que mais se negoceiam no comércio internacional são, em primeiro lugar o petróleo, seguido pelas armas e depois a droga. Esses 3 elementos estão interligados, e alimentam os bancos da mesma maneira. É por isso que o sistema bancário global absorve a maioria do dinheiro da droga. Por isso é que, em La Machine de guerre américaine, eu estudo de que modo uma parte dessas receitas dos narcóticos financia certas operações clandestinas americanas(estadounidenses-Br). E analiso, além do mais, as consequências que daí derivam.

Maxime Chaix: Faz 10 anos, a administração Bush empreendia a guerra contra o Iraque, sem o aval do Conselho de Segurança da ONU. Que balanço faz o senhor deste conflito, sobretudo em relação aos seus custos humanos e financeiros?

Peter Dale Scott: Na minha opinião houve dois grandes desastres na política exterior, recente, dos Estados Unidos: a guerra do Vietname (Vietnã-Br), que não era necessária, e a guerra do Iraque, que ainda o era menos. O aparente objetivo dessa guerra era instaurar a democracia nesse país, o que era uma verdadeira ilusão. É o povo iraquiano quem tem que determinar se está hoje em melhor situação que antes dessa guerra, mas, eu duvido que a sua resposta seja afirmativa se for consultado a tal respeito.
Quanto aos custos humanos e financeiros esse conflito foi um desastre, tanto para o Iraque como para os Estados Unidos. No entanto o ex-vicepresidente Dick Cheney acaba de declarar, num documentário, que ele faria o mesmo, outra vez, «na hora». Ora, o Financial Times estimou, recentemente, que os contratistas tinham assinado com o governo dos Estados Unidos contratos de mais de 138.000 milhões de dólares no quadro da reconstrução do Iraque. Só a empresa KBR, filial da Halliburton –firma que era dirigida pelo próprio Dick Cheney antes de tornar-se vice-presidente [dos Estados Unidos]– assinou, desde 2003, uma série de contratos federais no valor de pelo menos 39.500 milhões de dólares. Recordemos também que, no final do ano 2000, (um ano antes do 11 de setembro), Dick Cheney e Donald Rumsfeld assinaram juntos um importante estudo elaborado pelo PNAC, (o grupo de pressão neo- conservador conhecido como Projecto para o Novo Século Americano). Esse estudo, intitulado «Reconstruir as Defesas da América» (Rebuilding America’s Defenses), reclamava sobretudo um grande aumento do orçamento da Defesa, o derrube de Sadam Husein, no Iraque, e a manutenção das tropas americanas na região do Golfo Pérsico, inclusive depois da queda do ditador iraquiano. Apesar dos custos humanos e financeiros dessa guerra, certas empresas privadas sacaram enormes lucros desse conflito, como eu mesmo revelo no meu livro La Machine de guerre américaine. Para terminar, quando se vêm as gravíssimas tensões que hoje existem no Médio Oriente entre os xiitas, apoiados pelo Irão, e os sunitas, que contam com o apoio da Arábia Saudita e do Catar, temos que recordar que a guerra contra o Iraque teve um impacto muito desestabilizador em toda essa região...

Maxime Chaix: Precisamente, qual é o seu ponto de vista sobre a situação na Síria e as possíveis soluções?

Peter Dale Scott: Dada a complexidade da situação, não existe uma resposta simples sobre o que teria que se fazer na Síria, pelo menos a nível local. Sem embargo, como ex-diplomata, estou convencido que necessitamos de um consenso entre as grandes potências. A Rússia continua a insistir na necessidade de nos remetermos aos acordos de Genebra. Não é a opinião dos Estados Unidos que, efectivamente, foi na Líbia mais para lá do mandato concedido pelo Conselho de Segurança [da ONU], e que está a pôr em causa um potencial consenso na Síria. Não é esse o caminho a seguir já que, na minha opinião, é preciso um consenso internacional. Se não, é possível que a guerra através de intermediários, entre xiitas e sunitas no Médio-Oriente, acabe por arrastar a Arábia Saudita e o Irão a participar, directamente, no conflito sírio. Haveria então um risco de guerra entre os Estados Unidos e a Rússia. Foi assim que rebentou a Primeira Guerra Mundial, desencadeada por um evento local na Bósnia. E a Segunda Guerra Mundial começou com uma guerra por intermediários em Espanha, onde a Rússia e a Alemanha se enfrentavam indirectamente. Temos e podemos evitar que se repita esse tipo de tragédia.

Maxime Chaix: Mas não julga que, pelo contrário, os Estados Unidos estão a tratar, actualmente, pôr-se de acordo com a Rússia, essencialmente através da diplomacia de John Kerry?
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Peter Dale Scott: Para responder a essa pergunta, permita-me fazer uma analogia com o Afeganistão e a Ásia Central dos anos 1990, após a retirada soviética. O problema recorrente nos Estados Unidos é que é difícil lograr um consenso no seio do governo, porque existe uma multiplicidade de agências que por vezes têm objetivos antagónicos. O que se traduz na impossibilidade de obter uma política unificada e coerente. Isso foi, precisamente, o que pudemos observar no Afeganistão em 1990. O Departamento de Estado queria chegar obrigatóriamente a um acordo com a Rússia. Mas a CIA ia sempre trabalhando com os seus aliados narcotraficantes e/ou jihadistas no Afeganistão. Naquela época Strobe Talbott- um amigo muito próximo do presidente Clinton, que representava com muita força dentro do Departamento de Estado– declarou, com toda a razão, que os Estados Unidos tinham que chegar a um acordo com a Rússia na Ásia Central, em vez de considerar essa região como um «grande xadrez», onde tinham de manipular os acontecimentos para obter vantagens (retomando o conceito de Zbigniew Brzezinski). Ora, ao mesmo tempo, a CIA e o Pentágono faziam acordos secretos com o Uzbequistão que neutralizaram, totalmente, o que Strobe Talbott estava a tentar fazer. Eu tenho dúvidas que, actualmente, tenham desaparecido esse tipo de divisões internas no seio do aparelho diplomático e de segurança dos Estados Unidos.

Seja como for, desde 1992, a doutrina Wolfowitz, que foi aplicada pelos neo- conservadores da administração Bush a partir de 2001, propugnava à dominação global e unilateral dos Estados Unidos. Paralelamente, elementos mais moderados do Departamento de Estado tratam de negociar soluções pacíficas para os diferentes conflitos no âmbito da ONU. Ora, é impossível negociar a paz ao mesmo tempo que se exorta ao domínio mundial pela força militar. Infelizmente, os falcões intransigentes impõem-se muito mais vezes, pela simples razão de que dispõem de orçamentos mais elevados –os orçamentos que alimentam A Máquina de guerra americana. De tal modo que se você consegue compromissos diplomáticos esses falcões terão menos dinheiro, o que explica porque são as piores soluções as que têm tendência a prevalecer na política externa (exterior-Br) dos Estados Unidos. E, isso, é precisamente o que poderá impedir um consenso diplomático entre os Estados Unidos e a Rússia no caso do conflito sírio.
Tradução
Alva
Fonte
Diplomatie (França)aqui:http://www.voltairenet.org/article181635.html

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