sexta-feira, 21 de agosto de 2020

OPERAÇÃO “MUDANÇA DE REGIME” EM CURSO NA BIELORRÚSSIA

 

Polícia bielorrussa prende alguns dos 33 mercenários da empresa de segurança russa Wagner já detidos em Minsk entre os manifestantes "pacíficos"

2020-08-17

Louise Nyman, Minsk; Exclusivo O Lado Oculto

Obviamente é uma “revolução colorida” posta em movimento pelas habitais agências norte-americanas de “mudança de regime”, com apoio activo da União Europeia. Nada do que acontece actualmente em Minsk, na Bielorrússia, é novo: já foi observado na Geórgia, no Cazaquistão, na Moldávia, nas “primaveras árabes”, durante mais de vinte anos na Venezuela, na Nicarágua e, claro, sobretudo na Praça Maidan, em Kiev. Não se trata, mais uma vez, de instaurar a “democracia”, como proclamam os manifestantes, certamente muitos na sua ingenuidade manipulada por eficazes e dispendiosos instrumentos de propaganda; pretende-se criar um regime ao serviço do Departamento de Estado de Washington, de Bruxelas e da NATO para instalar um novo posto avançado do cerco à Federação Russa nas suas próprias fronteiras. Nem que essa “democracia” seja imposta por forças militarizadas nazis, como acontece na Ucrânia e já se vislumbra em Minsk.

As eleições presidenciais na Bielorrússia realizadas em 9 de Agosto e que deram a vitória ao actual titular do cargo, Alexandre Lukachenko, foi o pretexto para o relançamento do velho plano de Washington e Bruxelas no sentido de desestabilizar a região e o país. Como se esperava mesmo muito antes de anunciados os resultados, e até da realização das eleições, os Estados Unidos e a União Europeia apressaram-se a descredibilizar os números apresentados, abstendo-se até de apresentar quaisquer provas dos seus pareceres definitivos e contribuindo para acelerar os protestos de uma oposição fragorosamente derrotada. Mesmo que os 80% de Lukachenko anunciados oficialmente sejam fruto de manipulações grosseiras – o que está ainda longe de provado, nem parece ser uma prioridade dos sectores que já contestavam os resultados antes de os conhecer – a prestação da candidata oposicionista ficou muito longe de uma situação que lhe permita proclamar vitória.

Os Estados Unidos e os seus aliados directamente envolvidos neste processo de mudança de regime, designadamente a Polónia, a Lituânia e a República Checa, preparam há meses o processo de desestabilização com os olhos postos na oportunidade criada pela realização de eleições presidenciais. Agências norte-americanas que servem de base para as “revoluções coloridas”, como a USAID e a NED, há muito que actuam em Minsk criando as plataformas favoráveis à “democracia” e à “liberdade” capazes de convergir numa mudança de regime que sirva essencialmente os interesses militares expansionistas da NATO.

As campanhas contra a Bielorrússia têm sido constantes, pois há muitos anos que Lukachenko é qualificado pela propaganda ocidental, reflectida na comunicação social corporativa, como o “último ditador da Europa”. Este slogan ignora o apoio popular do presidente e do governo em eleições sucessivas, uma prova flagrante da lógica oportunista que caracteriza os frequentes processos intervencionistas: se os resultados eleitorais agradam a Washington, o acto eleitoral é considerado impecável; caso contrário, correspondem à manipulação efectuada por governos que têm de ser afastados. Nada de diferente, aliás, do que tem acontecido nos últimos tempos na Venezuela e na Nicarágua, onde aliás vêm agora a lume novas provas de tentativas golpistas em curso com os suspeitos do costume.

O neoliberalismo não admite ser contrariado

Uma das obsessões que tem inquietado Washington e Bruxelas ao longo dos anos é o facto de a Bielorrússia ser um país que preservou sistemas sociais soviéticos, designadamente nos domínios da saúde, educação e segurança social, além de ter mantido a propriedade pública sobre as principais estruturas produtivas do país. Isto é, Minsk tem resistido às “reformas” que estão agregadas ao Consenso de Washington e às actuações do FMI e do Banco Mundial para instauração do regime neoliberal. Esse é um dos grandes problemas criados por Lukachenko, independentemente de a sua gestão ter vindo a dar sinais de estagnação.

Acresce que os planos neoliberais em relação a este país não são de agora. Na Bielorrússia, as sanções económicas, as pressões e os efeitos decorrentes de decisões adversas dos países ocidentais já remontam aos tempos das administrações Bush, prosseguindo com Obama e Trump. A Bielorrússia fez sempre parte da lista dos países-alvo de “revoluções coloridas” que entretanto foram acontecendo na Geórgia, na Ucrânia, no Quirguistão, na Moldávia – onde a maioria eleitoral absoluta do Partido Comunista foi invalidada pela imposição da arbitrariedade política – no Cazaquistão e em outras antigas repúblicas soviéticas.

A implicação da Polónia, da Lituânia e da República Checa nesta crise artificial é evidente e sustentada pela acção dos Estados Unidos com base nas citadas USAID e NED e pelo aparelho de propaganda da Rádio Europa Livre, que vem dos primórdios da guerra fria e que chega ao desplante de considerar o banqueiro corrupto e financiador da oposição, Viktar Babarika, como um “filantropo”. Aliás, os “filantropos” estão na moda e associados a todos os caminhos para o globalismo neoliberal, em que se insere agora a tentativa de golpe na Bielorrússia.

Onde se irmanam o liberalismo e o “iliberalismo”

Neste processo em Minsk actuam de maneira geminada as expressões políticas do “liberalismo” e do “iliberalismo”, este associado a grupos saudosos do nazismo, tal como aconteceu na Ucrânia, no projecto para criação do habitual “caos criativo” de onde possa sair a pretendida “democracia”. Um dos elementos mais interessantes da situação resulta do facto de serem precisamente os sectores “iliberais” e nazis os que mais defendem o envolvimento da NATO na “solução da crise”. Situação que levou o governo de Lukachenko a tomar medidas de prevenção militar nas suas fronteiras com a Lituânia e a Polónia.

O processo é alimentado pela campanha de propaganda montada através da Rádio Europa Livre e que encontra correspondência na imprensa corporativa global. É de notar a perfeita sintonia pela mudança de regime manifestada pela rede de jornais europeus corporativos ditos “de referência”, sem excepção, de Portugal à Polónia – funcionando assim como braço da “revolução colorida”.

Essa comunicação social, tanto “de referência” como tabloide é unânime em apresentar as manifestações contra os resultados eleitorais como pacíficas, o que não corresponde à realidade. Além de outras situações que necessitam de clarificação, designadamente o envolvimento de mercenários da empresa russa Wagner (detidos em Minsk), o que deverá estar associado a uma acção planeada pelos serviços secretos ucranianos, os governos ocidentais exigem a absoluta paralisação da polícia partindo do princípio de que todo o processo é pacífico. No entanto, tornaram-se flagrantes as acções terroristas de grupos nazis e outros destacamentos de extrema-direita, em paralelo com os manifestantes “liberais”, para criação do caos em Minsk e outras cidades influentes. Entre as simbologias importadas de outras acções de protesto não faltam sequer as “mulheres de branco” normalmente associadas a movimentos contra Cuba.

O objectivo de criar acontecimentos idênticos aos da Praça Maidan em Kiev, onde veio a verificar-se que atiradores nazis foram responsáveis por vítimas atribuídas à polícia, é cada vez mais evidente.

Todos estes caminhos convergem na probabilidade de agravamento das sanções impostas pelos governos ocidentais, combinada com um cerco diplomático e pressões políticas sem limites para forçar o afastamento do governo de Lukachenko. 

Quanto à União Europeia, que contribuiu para levar forças nazis ao governo da Ucrânia, que se absteve de condenar as constantes acções terroristas de Kiev contra as populações russófonas, que não se inquieta com as acções evidentemente antidemocráticas dos regimes da Geórgia e do Azerbaijão, por exemplo, não tem grande autoridade – nem provas - para partir do princípio de que as eleições na Bielorrússia “não foram justas nem equilibradas”. Trata-se da mesma União Europeia que não teve uma única atitude perante a institucionalização da xenofobia de Estado nos países bálticos, onde as comunidades de origem russa são consideradas de segunda, sem os mesmos direitos que os habitantes “originários”.

A crise artificial na Bielorrússia e a repetição do processo Maidan nada têm a ver com liberdade e democracia. Na base dos desenvolvimentos desencadeados a pretexto das eleições, e planeados com muita antecipação, estão o avanço militar da NATO no Leste da Europa e o cerco à Rússia, em paralelo com a multiplicação de centros de crise nas fronteiras russas; o desejo de travar a aproximação entre a Rússia e a Bielorrússia no sentido de restabelecer laços históricos e culturais; e evitar que a Bielorrússia venha a ser, como está previsto, um dos principais ramos da Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) ou “Nova Rota da Seda” promovida pela China para o desenvolvimento comercial entre o Oriente e o Ocidente.

 

aqui:https://www.oladooculto.com/noticias.php?id=846

terça-feira, 4 de agosto de 2020

A economia do medo e suas consequências

– Aumento significativo do desemprego
– Redução do apoio aos desempregados
– Queda de 16,5% no PIB do 2º trimestre
– Uma opinião contra a corrente

por Eugénio Rosa [*]

O INE acabou de divulgar os dados da economia portuguesa referentes ao 2º trimestre de 2020, tendo-se verificado uma quebra no PIB (riqueza produzida no país) de 14,1% quando comparado com a do 1º trimestre deste ano, e de 16,5% quando comparado com o 2º Trimestre de 2019 (menos 8.760 milhões € de riqueza não criada só num trimestre, e menos 3.200 milhões € de remuneração não recebidas pelos trabalhadores). E logo se levantou um coro de surpresas e de críticas quer na comunicação social quer por parte de dirigentes políticos por causa do descalabro económico.

As perguntas que surgem de imediato para reflexão são as seguintes: O que poderia acontecer de diferente quando se fecham empresas e estabelecimentos, se paralisa a economia e se manda para casa quase dois milhões de trabalhadores? O que poderia acontecer de diferente quando se espalha e difunde sem um mínimo de racionalidade e de equilíbrio o medo e o pânico? Quando se assiste ao massacre diário pelos media da população confinada em casa, de manhã à noite, com noticias de mortes e de milhares de infetados, como se não existissem mais doenças e mais mortes em Portugal que, com falta de assistência médica, se multiplicaram, mas de que os media não falam e logo não existem? E quando os números de mortes em Portugal não eram suficientes para aumentar o medo juntava-se os de outros países, com muito mais população? O que poderia acontecer de diferente quando se trata uma crise de saúde desta dimensão sem um mínimo de equilíbrio e de racionalidade? O que estava em jogo era demasiadamente importante e sério, e com consequências dramáticas em todas as áreas da vida dos portugueses, que merecia ter sido tratada de uma forma mais racional, rigorosa, equilibrada e planeada, e não deixada às "caixas" chocantes da comunicação social nem às declarações contraditórias dos "especialistas" e dos responsáveis da Direção Geral da Saúde.

Embora Bernard-Henry Lévy seja um filosofo francês com quem não me identifico, ouso transcrever algumas das suas afirmações feitas numa entrevista recente ao semanário Expresso, correndo o risco de desagradar alguns leitores, pois obrigam à reflexão por serem diferentes das ideias dominantes. Afirmou ele: "acho ignóbil" que se ponha a questão "entre saúde e economia. "A economia ou a vida. A bolsa ou a vida. Voltamos a essa máxima antiga dos salteadores de estrada. É ignóbil. Porque a economia é a vida. É a vida contra a vida. Sabemos bem que se pararmos a economia durante demasiado tempo isso leva ao desemprego, o desemprego leva à miséria, e a miséria leva à morte. Portanto, não é a economia ou a vida. É a vida contra a vida".

Em Portugal tudo isto ganhou uma gravidade maior porque para o combate ao COVID-19, da forma como foi feito, a assistência medica a outras doenças foi reduzida drasticamente, como os números divulgados sobre o numero de consultas, de exames e de operações que se deixaram de fazer provam, o que causou um aumento significativo de mortes que, quando forem divulgadas, chocarão todos os portugueses. E BHL acrescentou: "o medo foi excessivo, havia uma parte desse medo irracional, insensata. E ao medo irracional chama-se pânico, cujos efeitos sociais não são bons". Na economia, afirmamos nós, os efeitos são nefastos e dramáticos como os dados do INE já revelam.

Estamos agora com um pais – Portugal – em que o medo e o pânico se alastrou, em que os portugueses têm medo de sair de casa e de regressar mesmo com a segurança possível ao trabalho e em que o teletrabalho, isolado e individualizado na maioria dos casos é trabalho desorganizado (segundo BHL, "o trabalho à distância é a solidão, o tédio, a mistura do publico e privado, a ideia que não há esfera privada fora do imperativo produtivo, é o produtivismo, é a espionagem eletrónica dos empregados pelos patrões"). A Administração Pública é um exemplo de improvisação e de incapacidade do governo para dar orientações claras, deixando tudo ao arbítrio das chefias. O teletrabalho tornou-se a panaceia e se criou a ilusão de que o país poderá funcionar e recuperar desta forma. Mas não funciona nem é verdade que recuperará –. os dados do INE acerca do PIB já provam isso

A REDUÇÃO DA RIQUEZA CRIADA NO PAÍS NO 2º TRIMESTRE DE 2020 É DE 16,5%
DESTRUIÇÃO CRESCENTE DO APARELHO PRODUTIVO NACIONAL E DO EMPREGO


Uma das ilusões que o governo e muitos jornalistas estão a difundir é que a crise é passageira (para o ministro Siza Vieira: "já atingimos o pico da crise") e que o país após a pandemia tem o seu aparelho produtivo intacto (diretor do ECO) e rapidamente recuperará (seria uma saída em V o que não é verdade, talvez em U ou W longos).

Ora tudo isso é uma ilusão, quando não mesmo uma mentira. Com o medo que se instalou na sociedade portuguesa (e o medo tem um efeito enorme na economia pois leva a quebra significativa da produção e do consumo), com a quebra generalizada de rendimentos dos trabalhadores (lay-off, horários reduzidos, e desemprego) e com o fecho de mercados externos, é evidente que a crise vai ser prolongada e vai causar uma enorme destruição de empresas (fecho) que não se aguentarão por falta de vendas (alguns chamam a isso "destruição criativa" pois só se aguentarão as empresas mais fortes) e também uma enorme destruição de emprego que levará muito tempo a recuperar e muitos trabalhadores serão excluídos definitivamente do mercado de trabalho e muitas empresas desaparecerão.

Não compreender isto é estar cego, não tomar medidas imediatas para reativar a economia é suicídio. O aumento do desemprego e o fecho definitivo de muitas empresas que já se verificou é apenas o sinal de uma crise social e económica que não sabemos quando terminará e cuja recuperação será mais difícil devido à desorganização que está a causar em toda a Administração Pública. Esta, um instrumento vital no combate à crise, antes da crise já enfrentava graves deficiências e problemas que a crise só multiplicou (são necessário objetivos claros, decisões rápidas, medidas implementadas urgentemente, investimento, nomeadamente público, elevado, tudo isto era necessário por parte do Estado para vencer a crise mas nada disto está a acontecer nem vai acontecer a breve trecho).

Os dados da evolução do desemprego real em Portugal do INE (quadro 1), que é apenas o sinal inicial da crise que vamos enfrentar, confirmam a gravidade da situação que se procura iludir.

Quadro 1.

Entre março e junho de 2020, em apenas três meses, o desemprego oficial aumentou em 4.100, mas o desemprego real subiu em 109.600, ou seja, em 26,7 vezes mais. E isto porque o INE não considera para cálculo do "desemprego oficial" todos os desempregados que no período em que fez o inquérito não procuraram emprego, apesar de serem trabalhadores no desemprego (os chamados "inativos disponíveis" que em junho de 2020 já somavam 305.000 quase tanto como desemprego oficial), que incluímos no cálculo do desemprego real, por serem verdadeiros desempregados. O desemprego real atingia, no fim de jun/2020, já 636.200 trabalhadores. O desemprego oficial do INE oculta à opinião pública o desemprego real. O número dos que estão a receber subsídio de desemprego é muito reduzido como mostra o gráfico 1 (Segurança Social).

Gráfico 1.

Em jun/2020, o número de trabalhadores desempregados já atingia 636.200, mas o número destes que recebiam subsidio de desemprego eram apenas 221.701. E entre maio-junho 2020 diminuiu em 3.652 apesar do número de desempregados ter aumentado nesse mês em 20.300. Somente 35 em cada 100 desempregados recebem subsídio de desemprego. E o subsídio médio de desemprego pago neste mês foi, segundo dados da Segurança Social apenas de 504,70€.

É a miséria que se está a alastrar no país perante a inação de um governo que nada faz de concreto para reativar a economia (só promete "bazucas" da UE que continuam sem disparar). Não é com lay-offs, com reduções de horários de trabalho e dos rendimentos dos trabalhadores, e moratórias que se consegue a recuperação. Isso só prolonga a agonia e torna o final muito mais doloroso e destrutivo.

01/Agosto/2020
[*] edr2@netcabo.pt

Este artigo encontra-se em https://resistir.info/ .

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