– Aumento significativo do desemprego
– Redução do apoio aos desempregados
– Queda de 16,5% no PIB do 2º trimestre
– Uma opinião contra a corrente
O INE acabou de divulgar os dados da economia portuguesa referentes ao 2º
trimestre de 2020, tendo-se verificado uma quebra no PIB
(riqueza produzida no país)
de 14,1% quando comparado com a do 1º trimestre deste ano, e de 16,5%
quando comparado com o 2º Trimestre de 2019
(menos 8.760 milhões € de riqueza não criada só num
trimestre, e menos 3.200 milhões € de remuneração
não recebidas pelos trabalhadores).
E logo se levantou um coro de surpresas e de críticas quer na
comunicação social quer por parte de dirigentes políticos
por causa do descalabro económico.
As perguntas que surgem de imediato para reflexão são as
seguintes: O que poderia acontecer de diferente quando se fecham empresas e
estabelecimentos, se paralisa a economia e se manda para casa quase dois
milhões de trabalhadores? O que poderia acontecer de diferente quando se
espalha e difunde sem um mínimo de racionalidade e de equilíbrio
o medo e o pânico? Quando se assiste ao massacre diário pelos
media da população confinada em casa, de manhã à
noite, com noticias de mortes e de milhares de infetados, como se não
existissem mais doenças e mais mortes em Portugal que, com falta de
assistência médica, se multiplicaram, mas de que os media
não falam e logo não existem? E quando os números de
mortes em Portugal não eram suficientes para aumentar o medo juntava-se
os de outros países, com muito mais população? O que
poderia acontecer de diferente quando se trata uma crise de saúde desta
dimensão sem um mínimo de equilíbrio e de racionalidade? O
que estava em jogo era demasiadamente importante e sério, e com
consequências dramáticas em todas as áreas da vida dos
portugueses, que merecia ter sido tratada de uma forma mais racional, rigorosa,
equilibrada e planeada, e não deixada às "caixas"
chocantes da comunicação social nem às
declarações contraditórias dos "especialistas" e
dos responsáveis da Direção Geral da Saúde.
Embora Bernard-Henry Lévy seja um filosofo francês com quem
não me identifico, ouso transcrever algumas das suas
afirmações feitas numa entrevista recente ao semanário
Expresso,
correndo o risco de desagradar alguns leitores, pois obrigam à
reflexão por serem diferentes das ideias dominantes. Afirmou ele:
"acho ignóbil" que se ponha a questão "entre
saúde e economia. "A economia ou a vida. A bolsa ou a vida.
Voltamos a essa máxima antiga dos salteadores de estrada. É
ignóbil. Porque a economia é a vida. É a vida contra a
vida. Sabemos bem que se pararmos a economia durante demasiado tempo isso leva
ao desemprego, o desemprego leva à miséria, e a miséria
leva à morte. Portanto, não é a economia ou a vida.
É a vida contra a vida".
Em Portugal tudo isto ganhou uma gravidade maior porque para o combate ao
COVID-19, da forma como foi feito, a assistência medica a outras
doenças foi reduzida drasticamente, como os números divulgados
sobre o numero de consultas, de exames e de operações que se
deixaram de fazer provam, o que causou um aumento significativo de mortes que,
quando forem divulgadas, chocarão todos os portugueses. E BHL
acrescentou:
"o medo foi excessivo, havia uma parte desse medo irracional, insensata. E
ao
medo irracional chama-se pânico, cujos efeitos sociais não
são bons".
Na economia, afirmamos nós, os efeitos são nefastos e
dramáticos como os dados do INE já revelam.
Estamos agora com um pais – Portugal – em que o medo e o pânico
se alastrou, em que os portugueses têm medo de sair de casa e de
regressar mesmo com a segurança possível ao trabalho e em que o
teletrabalho, isolado e individualizado na maioria dos casos é trabalho
desorganizado
(segundo BHL, "o trabalho à distância é a
solidão, o tédio, a mistura do publico e privado, a ideia que
não há esfera privada fora do imperativo produtivo, é o
produtivismo, é a espionagem eletrónica dos empregados pelos
patrões").
A Administração Pública é um exemplo de
improvisação e de incapacidade do governo para dar
orientações claras, deixando tudo ao arbítrio das chefias.
O teletrabalho tornou-se a panaceia e se criou a ilusão de que o
país poderá funcionar e recuperar desta forma. Mas não
funciona nem é verdade que recuperará –. os dados do INE
acerca do PIB já provam isso
A REDUÇÃO DA RIQUEZA CRIADA NO PAÍS NO 2º TRIMESTRE
DE 2020 É DE 16,5%
DESTRUIÇÃO CRESCENTE DO APARELHO PRODUTIVO NACIONAL E DO EMPREGO
Uma das ilusões que o governo e muitos jornalistas estão
a difundir é que a crise é passageira
(para o ministro Siza Vieira: "já atingimos o pico da crise")
e que o país após a pandemia tem o seu aparelho produtivo
intacto
(diretor do ECO)
e rapidamente recuperará
(seria uma saída em
V
o que não é verdade, talvez em
U
ou
W
longos).
Ora tudo isso é uma ilusão, quando não mesmo uma mentira.
Com o medo que se instalou na sociedade portuguesa
(e o medo tem um efeito enorme na economia pois leva a quebra significativa da
produção e do consumo),
com a quebra generalizada de rendimentos dos trabalhadores
(lay-off, horários reduzidos, e desemprego)
e com o fecho de mercados externos, é evidente que a crise vai ser
prolongada e vai causar uma enorme destruição de empresas
(fecho)
que não se aguentarão por falta de vendas
(alguns chamam a isso "destruição criativa" pois
só se aguentarão as empresas mais fortes)
e também uma enorme destruição de emprego que
levará muito tempo a recuperar e muitos trabalhadores serão
excluídos definitivamente do mercado de trabalho e muitas empresas
desaparecerão.
Não compreender isto é estar cego, não tomar medidas
imediatas para reativar a economia é suicídio. O aumento do
desemprego e o fecho definitivo de muitas empresas que já se verificou
é apenas o sinal de uma crise social e económica que não
sabemos quando terminará e cuja recuperação será
mais difícil devido à desorganização que
está a causar em toda a Administração Pública.
Esta, um instrumento vital no combate à crise, antes da crise já
enfrentava graves deficiências e problemas que a crise só
multiplicou
(são necessário objetivos claros, decisões rápidas,
medidas implementadas urgentemente, investimento, nomeadamente público,
elevado, tudo isto era necessário por parte do Estado para vencer a
crise mas nada disto está a acontecer nem vai acontecer a breve trecho).
Os dados da evolução do desemprego real em Portugal do INE
(quadro 1),
que é apenas o sinal inicial da crise que vamos enfrentar, confirmam a
gravidade da situação que se procura iludir.

Entre março e junho de 2020, em apenas três meses,
o desemprego oficial aumentou em 4.100, mas o desemprego real subiu em 109.600,
ou seja, em 26,7 vezes mais. E isto porque o INE não considera para
cálculo do "desemprego oficial" todos os desempregados que no
período em que fez o inquérito não procuraram emprego,
apesar de serem trabalhadores no desemprego
(os chamados "inativos disponíveis" que em junho de 2020
já somavam 305.000 quase tanto como desemprego oficial),
que incluímos no cálculo do desemprego real, por serem
verdadeiros desempregados. O desemprego real atingia, no fim de jun/2020,
já 636.200 trabalhadores. O desemprego oficial do INE oculta à
opinião pública o desemprego real. O número dos que
estão a receber subsídio de desemprego é muito reduzido
como mostra o gráfico 1
(Segurança Social).

Em jun/2020, o número de trabalhadores desempregados já atingia
636.200, mas o número destes que recebiam subsidio de desemprego eram
apenas 221.701. E entre maio-junho 2020 diminuiu em 3.652 apesar do
número de desempregados ter aumentado nesse mês em 20.300.
Somente 35 em cada 100 desempregados recebem subsídio de desemprego.
E o
subsídio médio de desemprego pago neste mês foi, segundo
dados da Segurança Social apenas de 504,70€.
É a miséria que se está a alastrar no país perante
a inação de um governo que nada faz de concreto para reativar a
economia
(só promete "bazucas" da UE que continuam sem disparar).
Não é com
lay-offs,
com reduções de horários de trabalho e dos
rendimentos dos trabalhadores, e moratórias que se consegue a
recuperação. Isso só prolonga a agonia e torna o final
muito mais doloroso e destrutivo.
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