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Desde as origens, as destruições foram sempre próprias dos
organismos vivos: todas as formas de vida modificam o seu meio ambiente e
contribuem para criar um outro. O que é, nesse caso, o respeito pelo
sacrossanto equilíbrio dos ecologistas, quando se sabe que nada existe de
imutável mas que, pelo contrário, o desenvolvimento das formas de vida na terra
é um perpétuo movimento feito de destruições sucessivas seguidas por novos
equilíbrios sempre diferentes? Teremos que considerar que a existência da menor
raça animal, da menor floresta, do menor espaço aquático é indispensável ao
homem? Que a sua sobrevivência depende da reintrodução do urso nos Pirenéus ou
do lince nos Vosges? Quem decretará o “bom” equilíbrio demografia/recursos? Ou,
ainda, que tal arquitectura ou tal urbanismo é uma chaga na paisagem? Até que
ponto se poderá consumir tal ou qual energia? Eis outras tantas questões às
quais a ecologia não pode dar, por si só, uma resposta, tal como não o podem o
cientista ou o perito, a não ser que queiram decidir e governar “o melhor dos
mundos”.
Porque
as respostas a estas questões dependem das necessidades sentidas pelos seres
humanos. E essas resultam do modo de produção em vigor, não das admoestações da
ciência ou de uma ideologia qualquer, nem de considerações sobre a natureza
humana e sobre os constrangimentos que lhe deveriam ser impostos. O que produz
essas necessidades? Porquê estas? Como substituí-las por outras e porque meios?
–eis as questões a que nos devemos dedicar ligando-as a estas outras: porquê
precisamente estas actividades, estas produções, estes comportamentos, estas
relações com a natureza?
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