segunda-feira, 26 de agosto de 2013

As organizações de trabalhadores falharam na organização dos trabalhadores. Começar por reconhecê-lo é necessário para mudá-lo

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A  taxa de sindicalismo no sector privado é de 9%, no público de 18%. Tem vindo sempre a cair. Metade da força de trabalho, desempregada e precária, está fora de qualquer tipo de organização sindical. Os partidos que deveriam representar os trabalhadores têm, apesar da crise da direita e da crise da social democracia, uma escassa representação.  Têm mais representação eleitoral do que social, mas mesmo a nível eleitoral pífia face ao desgaste dos partidos do chamado centrão. O mesmo se passa nos partidos políticos - a maioria dos quadros, não falo de figuras públicas, mas quadros com real capacidade de liderança, está perto dos 60 anos. Há poucos sindicatos, embora haja excepções, com quadros jovens à sua frente, capazes de dirigir . Das duas uma: ou achamos que o povo é estúpido e então propomos como Brecht, trocar o povo e deitar este fora, ou temos que reflectir sobre o porquê de tanta debilidade organizativa.

Creio que uma das explicações, uma, haverá outras, está no pacto social – esta ideia de que o capitalismo português pós 25 de abril permitiria um modo de produção em que os trabalhadores eram, digamos assim, «matizadamente» explorados não assumindo por isso um confronto directo com o Estado – salários razoáveis, direito a não ser despedido, subsídio de férias,numa palavra, relações de trabalho-padrão. Mas, a maioria da população, sobretudo  jovem não sabe nem o que isso é, o que é ter um contrato de trabalho, nem conseguem ganhar o suficiente para sair de casa dos pais com 35 anos. E por isso não se revêm nas propostas mediadoras deste pacto social ao qual não pertencem. Há um desencontro histórico, ainda, entre as direcções dos sindicatos e partidos e a maioria da população. Pode-se esconder a cabeça na areia e dizer que não é verdade mas então não conseguimos explicar porque há força social para fazer as maiores manifestações da história do país, 3 greves gerais, e o resultado organizativo disso é zero. E, claro, como o resultado organizativo não é nenhum (as manifestações acabam mas as pessoas vão para casa não vão organizar-se como força social num partido, sindicato ou movimento real permanente) , o impacto político é escasso e o governo mais contestado de sempre da história pós 1974 continua de pé.

Deixo aqui parte da entrevista que dei ao Sindicato dos Enfermeiros portugueses, e o link para as outras partes da entrevista sobre o SNS, a produtividade da força de trabalho e, aquele que acho que é o maior processo de proletarização de Portugal. Maior do que aquele que se verifica no século XIX com a privatização da propriedade, maior do que aquele que se dá nos anos 60 do século XX com a mecanização agrícola.

Entrevista completa aqui ou aqui

daqui:http://5dias.wordpress.com/2013/08/26/as-organizacoes-de-trabalhadores-falharam-na-organizacao-dos-trabalhadores-comecar-por-reconhece-lo-e-necessario-para-muda-lo/

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