A guerra permanente e a americanização do mundo
Pelos finais do século XX, um mal atacou o mundo. Nem todos morreram dele, mas todos foram atingidos. Ao vírus que esteve na origem da epidemia deu-se o nome de "vírus liberal".
Este fizera a sua aparição por volta do século XVI no seio do triângulo Paris-Londres-Amesterdão. Os sintomas com que se manifestava pareciam à época insignificantes, e os homens (que o vírus atingia preferencialmente as mulheres), não só se acostumaram, desenvolvendo os anticorpos necessários, como ainda souberam tirar proveito do vigor reforçado que ele provocava.
Mas o vírus atravessou o Atlântico e encontrou na seita dos que o propagaram um terreno favorável, desprovido de anticorpos, o que conferiu à doença que ele causava formas extremas.
As "ideias gerais" que comandam a visão liberal que domina o mundo são simples e resumem-se nas poucas proposições que se seguem:
A eficácia social é confundida com a eficácia económica e esta com rentabilidade financeira do capital. Estas reduções em cadeia traduzem o domínio do económico, caracteristico do capitalismo. O pensamento social atrofiado que daqui resulta é extremamente "economicista". Curiosamente, esta crítica - erradamente dirigida ao marxismo - caracteriza de facto o pensamento liberal, que é por excelência o pensamento do capitalismo.
A economia "pura" não é a teoria do mundo real - o capitalismo que realmente existe -, mas a de um capitalismo imaginário. Nem sequer é uma teoria rigorosa deste último, cujos fundamentos e argumentação mereçam o qualificativo de "coerentes". Não paça de uma paraciência, na realidade mais próxima da feitiçaria do que das "ciências da natureza", cujo modelo pretende imitar.
A recontrução de uma política de cidadania exige que os movimentos de resistência, de protesto e de luta contra os efeitos reais da aplicação deste sistema se libertem do vírus liberal.
por Samir Amin
Pelos finais do século XX, um mal atacou o mundo. Nem todos morreram dele, mas todos foram atingidos. Ao vírus que esteve na origem da epidemia deu-se o nome de "vírus liberal".
Este fizera a sua aparição por volta do século XVI no seio do triângulo Paris-Londres-Amesterdão. Os sintomas com que se manifestava pareciam à época insignificantes, e os homens (que o vírus atingia preferencialmente as mulheres), não só se acostumaram, desenvolvendo os anticorpos necessários, como ainda souberam tirar proveito do vigor reforçado que ele provocava.
Mas o vírus atravessou o Atlântico e encontrou na seita dos que o propagaram um terreno favorável, desprovido de anticorpos, o que conferiu à doença que ele causava formas extremas.
As "ideias gerais" que comandam a visão liberal que domina o mundo são simples e resumem-se nas poucas proposições que se seguem:
A eficácia social é confundida com a eficácia económica e esta com rentabilidade financeira do capital. Estas reduções em cadeia traduzem o domínio do económico, caracteristico do capitalismo. O pensamento social atrofiado que daqui resulta é extremamente "economicista". Curiosamente, esta crítica - erradamente dirigida ao marxismo - caracteriza de facto o pensamento liberal, que é por excelência o pensamento do capitalismo.
A economia "pura" não é a teoria do mundo real - o capitalismo que realmente existe -, mas a de um capitalismo imaginário. Nem sequer é uma teoria rigorosa deste último, cujos fundamentos e argumentação mereçam o qualificativo de "coerentes". Não paça de uma paraciência, na realidade mais próxima da feitiçaria do que das "ciências da natureza", cujo modelo pretende imitar.
A recontrução de uma política de cidadania exige que os movimentos de resistência, de protesto e de luta contra os efeitos reais da aplicação deste sistema se libertem do vírus liberal.
por Samir Amin
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