segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Normalidade absoluta.

Houve de tudo: assembleias de voto fechadas a cadeado, outras embrulhadas em dísticos e cartazes, outras com manifestantes (e até um boi e uma vaca) à porta, as que não abriram, as que abriram horas depois da hora de abertura, as que abriram mas onde os eleitores não apareceram, as que abriram e onde os eleitores apareceram mas não puderam votar.


E por todos os motivos: por não haver posto de saúde, por não haver casa mortuária, por os telemóveis não terem rede, por o metro prometido ter ficado no papel, por ninguém se ter lembrado de levar computadores para ler os cartões do cidadão; ou contra isto e contra aquilo: a câmara, o Governo, a Unicer...

De Norte a Sul e de Leste a Oeste do país (e do Mundo): de Pedras Salgadas à Fuseta, da Trofa à Lousã e a Serpins, do Granho à Gralheira, de Enxabarba (Fundão) a Genebra (Suíça) e a Moscovo (Rússia). E se, em Cedofeita, eleitores que votavam na Escola Rodrigues de Freitas só tiveram que atravessar a rua para saberem na Junta os novos números de eleitor e voltar a atravessá-la para votarem, em Moscovo, onde não houve gente para formar a mesa de voto, quem quis votar foi aconselhado a meter-se num avião e a ir fazê-lo a Helsínquia...

Fora isso, tudo correu com "normalidade" absoluta: menos de metade dos portugueses quis e conseguiu votar e elegeu um presidente da República pela confortável maioria absoluta de... um quarto do total de eleitores.


por Manuel António Pina, JN, Jan 2011

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