sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

A verdade é sempre um bom caminho!

Nove dias depois da minha crónica do JN ter abordado um tema central da campanha presidencial, João Semedo, deputado do BE, veio queixar-se das referências que nela fiz sobre as responsabilidades políticas de quase todos os intervenientes na decisão de "nacionalizar os prejuízos" do BPN. Referências que não eram novas, embora (vá-se lá saber porquê...) nunca tenham aparecido nos média, apesar de muito debatidas no Parlamento! Este facto leva-me a pensar que, rompido o bloqueio informativo com a crónica, talvez resida na audiência do JN a motivação primeira do tardio texto de João Semedo.

A verdade, como o azeite, acaba sempre por vir à tona. A verdade é sempre um bom caminho para quem faz da coerência o "norte" da actividade política e não entende bem quem actua por critérios de oportunidade.

A verdade é que foi precisamente João Semedo quem, num dos "Pontos de Vista" (programa semanal da RTPN), acusou o PSD de ter votado a nacionalização do BPN. A verdade - que incomodou o BE - surgiu no plenário parlamentar que se lhe seguiu. Aí ficou claro, pela voz de todos (e a simples consulta do Diário das Sessões), quem é que, afinal, tinha apoiado a "nacionalização" do BPN. E a verdade é que, só o PCP e os Verdes votaram, afinal, contra o n.º1 do artigo 2.º da lei que "nacionaliza todas as acções representativas do capital social do BPN" nas condições propostas pelo Governo. A verdade é que o PS e o BE votaram a favor e que o PSD e o CDS se abstiveram. Esta não é uma norma menor de especialidade - como João Semedo insinuou no seu texto -, é a disposição essencial da lei, o objecto central de uma decisão que motivou o voto contra do PCP na generalidade.

Mas é também verdade que o BE votou todos os números do artigo que criou as condições operacionais da "nacionalização" do BPN (incluindo o que impunha à CGD a gestão do BPN), com a excepção daquele que (diz aqui bem João Semedo) comprometia a Caixa a emprestar dinheiro ao BPN apenas na condição do Estado garantir os empréstimos, votado pelo PCP e rejeitado pelo BE. É que o PCP não queria (nem quer) que a CGD fosse à bancarrota por causa de quem votou ou viabilizou a "nacionalização" do BPN e assim se transferisse para a Caixa o buraco do BPN. Também aqui o BE andou mal, a menos que prefira que a Caixa tivesse emprestado dinheiro sem garantias ao BPN, para depois a Direita apontar o dedo aos prejuízos da CGD e reclamar a sua privatização...

Há mais verdades. O PCP votou o artigo da lei que criou o regime para regular processos de nacionalização, o qual mereceu os "esperados" votos contra do CDS e PSD e a (curiosa...) abstenção do BE! O PCP defendeu sozinho que deveria ter sido nacionalizado o grupo SLN onde estavam activos capazes de compensar o "buraco" do BPN; solução que ninguém defendeu - basta ver o que disse Semedo na Comissão de Inquérito -, embora agora pareça ser esta ideia mais consensual, chegando o BE a escrever (há poucos dias) que "defenderam a seu tempo a necessidade de privatização de todo o Grupo SLN para obter os activos necessários para compensar o prejuízo escondido do banco"! O que, para o BE, nem sempre foi verdade.

Que bicho terá mordido a Semedo para dizer que eu disse que o BE é responsável pelo buraco do BPN? Para este "peditório" só contam Oliveira e Costa, Dias Loureiro e outros que tais. Mas é também claro - e verdade - que o BE não pode fugir à responsabilidade de ter suportado uma solução que vai fazer recair sobre os contribuintes o buraco do BPN.


por Honorio Novo, JN, Jan 2011

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