sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Barreto e a universidade abécula

A cidade alentejana de Castelo de Vide transforma-se, no Verão, numa verdadeira escola de Atenas. Trata-se da "universidade de Verão do PSD".

Contudo, não é bem bem como a escola de Atenas da antiguidade; é mais como uma espécie de secundária da Atenas da actualidade; ou seja, não há abécula que para lá não vá leccionar nem grunho que de lá não venha carregado de cunhecimentos.

Um destes notáveis mestres do cunhecimento é António Barreto , o sociólogo que foi ministro da Agricultura e que achava que o país não precisava de produzir o que consumia, que bastava importá-lo. E que por isso, restituiu as propriedades agrícolas aos seus "legítimos proprietários", que delas fizeram belas segundas residências com piscina, campos de golfe, reservas de caça ou estâncias (agora diz-se resorts) de turismo rural. O bom homem pensava que o futuro seriam os "serviços": aviar copos e fazer camas aos turistas seria o glorioso desígnio para um merecido desenvolvimento.

Abandonada a agricultura, o país alegremente abandonou também a indústria e as pescas, entrou de carrinho para o Mercado Comum Europeu e, logo a seguir, para a União Europeia.

Ou seja, depois de perder o império e descer ao inferno, em 1975, Portugal depressa descobriu uma nova terra de Preste João, onde a árvore das patacas está sempre em flor; o país não precisaria enfim de fazer nada; compraria tudo feito. A Europa que lhe vendia os produtos, emprestar-lhe-ia também o dinheiro para os pagar; enfim, o paraíso na terra.

Barreto, o sociólogo, realizou mesmo um muito celebrado documentário para a televisão onde pintava um retrato dourado e amável do Portugal dos últimos trinta anos, por fim livre do atraso da ruralidade.

Só que, entretanto, o país descobriu de repente que está endividado. Que não faz a ponta de um corno e consome mais do produz. E Barreto, eureka, descobriu a pólvora. E foi a correr anunciá-la ao Alentejo, à "lusatenas" do PSD: que a culpa não é toda da Constituição de 1976 (revista todos os três quinze dias desde então) mas que ela "é um horror" . É "barroca" , disse ele. E disse mais: que "urge fazer uma nova e aprová-la em referendo" . Mais ou menos como se elegeu o maior português de todos os tempos..

A coisa promete.

Como Barreto acha que a justiça no anterior regime até era melhor do que a actual, não me admira que proponha o regresso à Constituição de 1933. Toda a gente sabe que depois do barroco veio o classicismo. Seria um regresso, "rapidamente e em força" claro, aos clássicos.

Faz sentido. Como "maitre à penser" de abéculas, Barreto deve pensar, naturalmente, que o regresso ao passado é a única solução com futuro.

06/Setembro/2011

por Fernando Campos

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