quarta-feira, 18 de abril de 2012

Dependência

PORTUGAL importou quase o dobro da comida e bebida que exportou em 2011.

Alguém deveria ter previsto este efeito quando Portugal desmantelou, diligentemente, as estruturas produtivas na agricultura, nas pescas e na indústria. Alguém deveria prever que a subserviência aos ditames de Bruxelas, para que Portugal aderisse à Comunidade Europeia como mero cliente dos monopólios alemães e franceses, iria resultar na penhora da independência alimentar do País. Alguém deveria ter resistido, usado o veto que Portugal jamais usou, defendendo os interesses nacionais em vez de se sujeitar à exploração multinacional. Alguém deveria ter percebido que o País ganha mais em semear batatas do que em plantar betão, em plantar do que em arrancar, em construir do que em destruir, em armar barcos de pesca do que em armar ao pingarelho do novo-riquismo que endividou o País.

A verdade é que Portugal destruiu quase tudo o que produzia em troco da ilusão dos fundos para sementeiras de betão e plantações de subsídios, enquanto abatia a frota pesqueira numa batalha naval suicida. Foi aí que o País começou a ir ao fundo, guiado por timoneiros formados e subordinados por interesses alheios. Os ministros tomavam posse com objectivos bem definidos: ao ministro das pescas competia-lhe liquidar a actividade pesqueira; ao da agricultura cabia-lhe desmantelar a produção e comercialização de cereais, de leite, de hortícolas; ao da indústria era cometida a função de reconstituir os velhos monopólios que depois se reorganizariam segundo os pontos de vista do lucro e da acumulação e nos termos dos condicionalismos europeus, mais drásticos que o condicionalismo industrial.

E agora o País queixa-se. A quem? Aos timoneiros da dependência.


Por João Paulo Guerra

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