quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Novos aumentos no preço dos combustíveis

- Preços em Portugal já são superiores aos preços médios da UE


- Conivência do governo, da troika e da AdC

- Lucros da GALP sobem 56,7% em 2012

por Eugénio Rosa     Os grupos económicos que dominam o mercado dos combustíveis (GALP, REPSOL, CEPSA e BP) preparam-se para aumentar esta semana novamente os preços agravando ainda mais a situação que é analisada neste artigo. E de tal forma sentem-se impunes que anunciaram antecipadamente, sem que a AdC dissesse uma palavra. A justificação umas vezes é o aumento do preço do petróleo, outras vezes é a desvalorização do euro em relação ao dólar. Tudo serve. E os principais media repetem, sem fazer qualquer investigação e sem contraditório, as justificações das petrolíferas criando, junto da opinião pública, a falsa ideia que elas são verdadeiras e únicas.

Por outro lado, o governo e a "troika" têm procurado fazer passar também junto da opinião pública a ideia que a liberalização dos preços, que agora estão a procurar impor no mercado da electricidade e do gás, traria mais concorrência e redução dos preços para os consumidores. Mas perante este escândalo de aumento semanal e simultâneo por parte de todas as empresas dos preços dos combustíveis – que desmente o que defendem e andam a fazer – mantêm-se coniventemente silenciosos. E a chamada Autoridade da Concorrência (AdC) que devia investigar a situação nada faz, mostrando que está totalmente refém das grandes petrolíferas. E quando o faz algo é para branquear o comportamento destes grupos económicos, pois conclui sempre que tudo está bem, e que não há combinação de preços entre elas. No entanto, recusa-se a investigar o que devia: POR QUE RAZÃO OS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS SEM IMPOSTOS EM PORTUGAL SÃO SISTEMÁTICAMENTE SUPERIORES AOS PREÇOS MÉDIOS DA UNIÃO EUROPEIA. Assim, a AdC mostra, objectivamente, que dá cobertura a esta política de preços dos grupos económicos deste sector permitindo a obtenção de sobrelucros, ou lucros excessivos.

Em Junho de 2012, que é o último mês cujos dados foram divulgados pela Direcção Geral de Energia do Ministério da Economia, o preço sem impostos , que é aquele que reverte na sua totalidade para as empresas, do gasóleo em Portugal era superior ao preço médio praticado na União Europeia em +6,6%, e o da gasolina era superior em +5%; mas o preço com impostos do gasóleo em Portugal era já inferior em -2,5% ao preço médio praticado na União Europeia, e o da gasolina era superior em apenas 1,8%, ou seja, quase três vezes menos que a diferença do preço sem impostos. Fica assim claro que a diferença de preços médios dos combustíveis entre Portugal e a União Europeia se deve aos preços que revertem na totalidade para as empresas (os preços sem impostos), e não aos impostos como estes grupos económicos e os seus defensores nos media afirmam e pretendem fazer crer . È esta diferença para mais em Portugal que tem permitido às petrolíferas arrecadar elevados sobrelucros. Nos 27 países da UE, em 23 o preço do gasóleo e da gasolina é inferior ao de Portugal. Até na Alemanha, na França e na Suécia, países em que os rendimentos da população e os salários são muito mais elevados do que os dos portugueses, os preços da gasolina e gasóleo sem impostos, são inferiores aos pagos pelos portugueses. Apesar desta situação ser fortemente lesiva para os consumidores portugueses, nem o governo, nem a "troika", que falam com insistência em moderação dos salários e na necessidade de baixar os custos do trabalho, nem a Autoridade da Concorrência dizem qualquer palavra, mantendo um silêncio comprometedor e conivente, mostrando que interesses defendem.


AS PETROLIFERRAS AUMENTAM SEMANALMENTE OS PREÇOS DOS COMBUSTIVEIS PARA OBTER SOBRE LUCROS.

 OS LUCROS DA GALP SUBIRAM 56,7% NO 1º SEMESTRE DE 2012

Contrariamente ao que afirmam os principais media, nomeadamente a TV, que veiculam, sem qualquer analise objectiva e sem contraditório, apenas as justificações dos grupos económicos dominantes neste sector, as petrolíferas estão aumentar praticamente todas as semanas os preços dos combustíveis com o objectivo de manter, e se possível aumentar, os lucros extraordinários (sobrelucros) que obtêm por vender os combustíveis em Portugal sistematicamente a um preço superior ao preço médio praticado na União Europeia.

Em todos os meses de 2012 (Jan/Jun), os preços sem impostos do gasolina e do gasóleo em Portugal foram sempre superiores aos preços médios da União Europeia: da gasolina entre +3,7% e +5%; e o do gasóleo entre +4,2% e + 6,3%. Mas já nos preços com impostos a diferença é menor no caso da gasolina (entre +1,8% e +2,3%), ou então no caso do gasóleo o preço em Portugal tem sido mesmo inferior ao preço médio praticado na UE (entre -1,7% e -3,1%). A diferença para mais dos preços sem impostos em Portugal, que nem as petrolíferas, nem o governo, nem a "troika", nem a Autoridade da Concorrência alguma vez esclareceram e tentaram por cobro (e a desculpa do preço do petróleo não colhe porque a quase a totalidade dos países da União da Europeia têm também, como Portugal, de importar o petróleo que consomem), deu as petrolíferas em Portugal, só no 1º semestre de 2012, um lucro extraordinário injustificado (sobrelucro) que estimamos, pelo menos, em 126,5 milhões € pagos pelos consumidores portugueses. A gravidade desta situação ainda se torna mais clara e chocante, quando analisamos o aumento escandaloso em plena crise dos lucros da GALP, que é o grupo económico dominante neste mercado. Como consta dos " Resultados – 1º semestre de 2012 " divulgados pela GALP, " No primeiro semestre de 2012, o resultado líquido RCA foi de 178 milhões €, mais 64 milhões € do que no primeiro semestre de 2011 ", o que corresponde a um aumento de +56,7% .


Existe ainda um outro aspecto na formação dos preços dos combustíveis, cujos efeitos quer o governo quer a Autoridade da Concorrência também nunca esclareceram. A GALP tem stocks de petróleo suficientes para a produção de três meses, por isso, contrariamente à ideia que os media têm procurado fazer passar junto da opinião, o combustível vendido em cada semana não foi produzido com o petróleo adquirido nessa semana. A GALP participa também na extracção de petróleo em Angola e no Brasil e, para além disso, tem contratos com fornecedores a médio prazo que garante um mínimo de estabilidade nos preços do petróleo que adquire. Tudo isto é sistematicamente esquecido nas justificações apresentadas pela empresa que os media transmitem sem qualquer investigação e sem contraditório contribuindo assim, objectivamente, para o engano e manipulação da opinião pública pelos grupos económicos que dominam este mercado.

19/Agosto/2012

[*] edr2@netcabo.pt

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .

http://resistir.info/e_rosa/combustiveis_19ago12.html

Sem comentários:

Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...