terça-feira, 7 de outubro de 2014

O petroléo, as maldições e as façanhas


« O petróleo é, com o gás natural, o principal combustível dos países que põem em marcha o mundo contemporâneo, uma matéria-prima de crescente importância para a indústria química e o material estratégico primordial para as atividades militares. Nenhum outro íman atrai tanto como o “ouro negro” os capitais estrangeiros, nem existe outran fonte tão fabulosa de lucros; o petróleo é a riqueza mais monopolizada em todo o sistema capitalista. Não há empresários que desfrutem do poder político que exercem, em escala universal, as grandes corporações petrolíferas. A Standard Oil e a Shell levantam e destróem reis e presidentes, financiam conspirações palacianas e golpes de estado, dispõem de inúmeros generais, ministros e James Bonds, em todas as comarcas e em todos os idiomas decidem o curso da guerra e da paz. A Standard Oil de Nova Jérsei é a maior empresa industrial do mundo capitalista; fora dos Estados Unidos não existe nenhuma empresa industrial mais poderosa do que a Royal Dutch Shell. As filiais vendem o petróleo cru às subsidiárias, que o refinam e vendem os combustíveis às sucursais para sua distribuição: o sangue não sai, em todo circuito, fora do aparelho circulatório interno do cartel, que além
disso possui os oleodutos e grande parte da frota de petróleo nos sete mares. Manipulam-se os preços, em escala mundial, para reduzir os impostos a pagar e aumentar os lucros a cobrar: o petróleo cru aumenta sempre menos do que o refinado.

Com o petróleo ocorre, como ocorre com o café ou com a carne, que os países ricos ganham muito mais por se darem ao trabalho de consumi-lo, do que os países pobres em produzi-lo. A diferença é de dez por um: dos onze dólares que custam os derivados de um barril de petróleo, os países exportadores da matéria-prima mais importante do mundo recebem apenas um dólar, resultado da soma de impostos e custos de extracção, enquanto que os países da área desenvolvida, onde têm sua sede as casas-matrizes das corporações petrolíferas, ficam com dez dólares, resultado da soma de seus próprios impostos e taxas, oito vezes maiores do que os impostos dos países produtores e dos custos e dos lucros de transporte, refino, processamento e distribuição que as grandes empresas monopolizam.»


As veias abertas da América Latina       (Eduardo Galeano)

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