Camiões cisterna na fronteira entre a Síria e a Turquia
O chamado
Estado Islâmico, ou ISIS, ou Daesh – um dos muitos heterónimos da rede
terrorista mundial de índole “islâmica” – é uma espécie de inimigo público nº
1, autor putativo de toda e qualquer acção de violência que seja praticada, monstro
de mil e uma cabeças que atingiu uma dimensão criminosa dir-se-ia imbatível e
que, para admiração geral, nasceu do nada, ninguém apoia, nem sustenta, nem
financia, nem arma, nem protege, nem dele se serve. O terror dos terrores
nasceu por geração espontânea, de um ovo vazio, de um ventre estéril.
A Al-Qaida,
por exemplo, teve um embrião, um lugar de gestação e nascimento, procriadores
conhecidos. Fale-se em CIA, MI6, serviços secretos paquistaneses e sauditas,
Afeganistão, Bin Laden e resumem-se os primórdios da rede que haveria de
simbolizar o terrorismo mercenário “islâmico” até à emersão relampejante do Estado
Islâmico.
Em relação a
este sabe-se, por exemplo, que o general norte-americano Wesley Clark, antigo
comandante supremo da NATO, acusa os próprios Estados Unidos e Israel de terem
as mãos sujas na sua origem. Clark deve saber do que fala, não só pelo cargo
que ocupou como pela folha de serviços pouco recomendável no processo de
invenção do Kosovo.
Digamos que
estas informações, mesmo significativas, são avulsas: faltam dados globais que
ajudem a sistematizar o processo de criação e desenvolvimento de uma seita
terrorista que conseguiu avançar num ápice do Leste da Síria quase até Bagdade,
a capital do Iraque, ao mesmo tempo que se coligava com os nazis ucranianos
para tentarem destruir o Leste da Ucrânia e “libertar” a Crimeia, ao mesmo
tempo que pretende desmantelar a Síria, manter o caos na Líbia, solidificar o “califado”
proclamado em vastos territórios sírio e iraquiano, onde controla o generoso
maná petrolífero de Mossul, “capital” dos curdos do Iraque.
Petróleo,
uma palavra-chave para se conhecer o ISIS, como agora se vai sabendo no meio de
um ruído de comunicação gerado para que a realidade se dissolva na mentira,
como muitas vezes acontece neste mundo quando os assuntos são problemáticos e
as cumplicidades incómodas.
O ISIS ou
Estado Islâmico vive e desenvolve-se a petróleo, petróleo de sangue tendo em
conta as suas actividades. Há elementos suficientes para não existirem dúvidas
de que os seus principais financiadores são petroditaduras como a Arábia
Saudita e o Qatar, íntimos aliados militares, políticos e económicos de
entidades que se consideram faróis da civilização como os Estados Unidos da
América e a União Europeia.
Sabe-se
agora também, desde que as tropas russas empenhadas em salvar a Síria como país
o denunciaram com provas abundantes, que o ISIS ou Estado islâmico se financia
através de contrabando de petróleo que “lava”, por exemplo, através da chancela
oficial da região autónoma do Curdistão iraquiano.
É
surpreendente que não tenhamos sabido deste processo antes de os russos se
envolverem na Síria, porque os movimentos deste contrabando nada têm de
discretos aos olhos da nuvem de satélites. Envolvem comboios de 8500 camiões
cisterna por dia em direcção a portos e refinarias da Turquia – membro da NATO
como todos sabemos – entrando neste país a partir de regiões ocupadas pelo
Estado Islâmico na Síria e sem qualquer controlo fronteiriço das autoridades turcas.
Na Turquia, o extenso e quotidiano desfile cai sob o controlo da mafia do “dr.
Farid”, de dupla nacionalidade grega e israelita, e de outras mafias de outros
drs. Farids, seguindo depois a mercadoria para o mundo a partir de portos
israelitas e turcos. Ao que parece, segundo o Financial Times, Israel assegura
assim cerca de três quartos das suas necessidades energéticas. Cada barril de
petróleo clandestino é traficado a cerca de metade do preço dos mercados – até estes
são burlados – proporcionando ao Estado Islâmico receitas por baixo de 3,2
milhões de dólares por dia, quase cem milhões por mês, mil e duzentos milhões por
ano. O movimento envolve também navios de bandeira japonesa da empresa BMZ
pertencente a Bilal Erdogan, filho do presidente da Turquia Recepp Tayyp
Erdogan, e a outros membros da família. Acresce que parte do petróleo roubado
na Síria e no Iraque transita através da região de Sanliurfa na Turquia, onde
funcionam campos de treino da Al-Qaida e do Estado Islâmico e existe também um
hospital clandestino para tratar terroristas feridos em combate na Síria, por
sinal gerido pela senhora Summyie Erdogan, filha do presidente turco e irmã de
Bilal. A família presidencial de Ancara, que a União Europeia encarregou agora
de travar o fluxo de refugiados em troca de mais uns milhares de milhões de
dólares e da promessa de adesão à confraria, desmente a pés juntos estas realidades,
tal como negou ter negócios ilegais e acolher frequentemente o príncipe saudita
conhecido por ser o tesoureiro da Al-Qaida. Facto mais do que confirmado pela
comunicação social turca e que esteve na origem de um saneamento brutal nos
aparelhos judicial e policial, vitimando quem tinha as provas e os responsáveis
pelas investigações e processos.
Ocorrendo
estas práticas terroristas sob o chapéu de um membro da NATO não será difícil
perceber as razões pelas quais o tráfico de petróleo em favor do Estado
Islâmico tenha sido poupado durante mais de um ano pela “guerra” que os Estados
Unidos dizem conduzir contra esse mesmo grupo terrorista. Até ao dia em que
Moscovo demonstrou os factos durante a cimeira do G20 e o Pentágono decidiu agir
pontualmente, tal como a França fez a seguir aos atentados de Paris, violando
aliás a soberania síria porque ambos o fizeram à revelia do governo de Damasco.
Porque os
resultados das investigações às vezes também são como as cerejas, conhecem-se
agora outras fontes de financiamento do Estado Islâmico: o tráfico de escravos
sexuais, assaltos a bancos da Síria e do Iraque, mercado negro de produtos
cultivados nas terras férteis que confiscou no interior do “califado”. Mas as chaves
da sua existência e da sua actividade são o petróleo de sangue em conjunto com
enredadas cumplicidades onde avultam pessoas e entidades que se miram ao espelho
e nos ecrãs como gente de bem e assim entendem defender o nosso “civilizado
modo de vida.”