Neoliberalismo,
populismo, fascismo, guerra, terrorismos, TTIP, CETA, Trump e a nata
europeia remam hoje convictamente e todos para o mesmo lado. Por isso o
estado do mundo é o que é.
Grafitti de contestação ao TTIP em Malmö, SuéciaCréditos
Donald
Trump ainda não foi entronizado presidente dos Estados Unidos da
América, pois não tomou posse – nem sequer o colégio eleitoral emitiu
ainda o seu veredicto. Nada do que se ventila, especula, elabora,
analisa e profetiza sobre a actuação do vencedor «surpresa», que se
limitou a driblar as previsões de incautos e distraídos, pode ser levado
à letra, tomado como definitivo.
A escolha dos visitantes com
quem Trump se faz fotografar nesta fase, em que o presidente em
exercício se arrasta penosamente no meio dos escombros de uma gestão
danosa e altamente perigosa para o mundo, deve ser observada de olhos
bem abertos, mas nada mais do que isso.
Podem ser sinais,
tendências, sintomas, mas são igualmente, disso podem estar certos,
manobras de diversão, truques de ilusionismo e marketing distribuído a
partir da Trump Tower e, muito provavelmente, das muitas agências
governamentais, a começar pelas de espionagem e segurança.
Mesmo a
pré-indigitação de alguns dos possíveis membros da nova administração
não permite antecipar o conteúdo real desta; as biografias que têm vindo
a lume são interpretadas de mil e uma maneiras quanto à sua projecção
no futuro, e entre essas leituras podem ser encontradas conclusões em
determinados sentidos e nos seus contrários.
O presidente dos Estados Unidos não deixará de ser o presidente do establishement;
o presidente dos Estados Unidos é o presidente do conselho de
administração do complexo militar-industrial-tecnológico que governa não
apenas o país como o mundo. Estas duas realidades permanecem imutáveis,
até ao momento. Caberá a Trump subvertê-las, se quiser dar razão à
espantação de incautos ou distraídos, mas não creio que amanhã seja a
véspera desse dia.
O que ficou escrito vale igualmente para o
futuro das duas imensas malfeitorias em desenvolvimento, conhecidas pela
designação genérica de tratados transatlânticos, e que surgem como
passos indispensáveis para a implantação global da desordem neoliberal,
para a instauração do poder absoluto da anarquia capitalista conhecida
como «libertação do mercado».
Acérrimos defensores do TTIP como a
senhora Merkel – para quem essa modernice da limitação de mandatos é
para os trouxas e bananas – atirou rapidamente a toalha ao chão. «Com
Trump não haverá TTIP», garante. Nem parece dela. E não é, não passa de
uma ténue cortina de fumo.
Porque a senhora Merkel e todos os
outros acérrimos defensores da fraude do «comércio transatlântico livre»
– entre eles o Governo de Portugal, até prova em contrário – procuram
acelerar o CETA na clandestinidade, para ultrapassar eventuais
perturbações no TTIP.
Ora
o CETA e o TTIP são irmãos gémeos. TTIP é o tratado de liberalização do
comércio entre a União Europeia e os Estados Unidos; CETA é a mesma
coisa entre a União Europeia e o Canadá. Os dois desembocam no mesmo
descalabro para os povos dos lados de cá e de lá do Atlântico, tanto
mais que muitas são as empresas dos Estados Unidos que já usam o Canadá
como ponte para a Europa.
Tornou-se moda tecnocrática dentro do
unanimismo neoliberal e versões aparentadas – uma atitude ideológica
como qualquer outra – ser-se contra esse fantasma terrível que é «o
proteccionismo»; mesmo que, como no caso do CETA e do TTIP, abolir o
proteccionismo seja somar mais um milhão de pessoas ao exército europeu
de desempregados, segundo um relatório do Parlamento Europeu; ou
permitir «o assalto das grandes corporações à economia mundial», de
acordo com uma investigação do jornal britânico The Guardian.
Porque
o TTIP e o CETA são fraudes imensas. Apesar de lançados e desenvolvidos
no maior secretismo, como um dos derradeiros feitos de Barroso antes de
se transferir de vez para a banda dos banksters, o que se sabe
dos dois tratados é que os governos podem ser levados à justiça pelas
multinacionais se tomarem medidas que lhes «provoquem prejuízos», sendo
que a medida não funciona no sentido inverso; o que for privatizado
jamais poderá ser nacionalizado; as protecções ambientais e sanitárias
arduamente alcançadas no espaço europeu serão arrasadas de uma penada
com a entrada livre dos produtos alimentares norte-americanos onde o uso
de transgénicos, hormonas e antibióticos é admitido; o desabamento do
«proteccionismo» transatlântico libertará para a atmosfera mais 21
milhões de toneladas de CO2, ridicularizando todas as decisões tomadas
em magnas e esforçadas reuniões internacionais.
O TTIP e o CETA
são enormes fraudes, sobretudo, porque eliminam de maneira clandestina
muitas decisões favoráveis aos cidadãos, suas vidas, saúde e o seu meio
ambiente, tomadas através do funcionamento dos mecanismos democráticos. O
TTIP e o CETA são assaltos à democracia perpetrados pelos grandes
interesses económicos e financeiros internacionais, a maior parte deles
com lugar cativo no complexo militar-industrial-tecnológico sediado nos
Estados Unidos da América.
«Uma NATO económica», chamou a senhora
Clinton a estes tratados. E poucas vezes terá dito coisa tão acertada e
sintonizada com a realidade.
Não deixa de ser revelador que a
senhora Merkel e tantas outras vozes europeias estejam agora incomodadas
com o suposto «proteccionismo» do presidente norte-americano eleito.
Verificamos assim que a nata da União Europeia está disposta a assumir
até às últimas consequências as fraudes democráticas do TTIP e do CETA,
mesmo quando do lado norte-americano, o seu inventor e maior
patrocinador, pareça haver alguém que agora as rejeita.
E bastaria
isto para se perceber onde irá parar o suposto «proteccionismo» de
Donald Trump. O TTIP e o CETA são pilares fundamentais para instauração
plena da ditadura neoliberal global, um processo no qual a escolha do
novo presidente norte-americano está obviamente inserido.
A
suposta antinomia entre o estado actual do neoliberalismo e os
populismos e fascismos proliferantes é um mal-amanhado truque de
propaganda que só poderá sensibilizar ainda mais incautos e distraídos.
Coincidem no tempo, na caminhada e na fase actual de desenvolvimento do
capitalismo, da mesma maneira que, na sua época, Hitler foi um produto
ao serviço de um poderoso complexo militar-industrial-tecnológico.
Neoliberalismo,
populismo, fascismo, guerra, terrorismos, TTIP, CETA, Trump e a nata
europeia remam hoje convictamente e todos para o mesmo lado. Por isso o
estado do mundo é o que é.
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