quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Que socialismo no PS?

Segundo ouvi dizer, o PS vai promover um congresso, lá para os adiantes de Março. É uma ideia magna. Mas não deixa de cravar, nos espíritos amenos, uma estilha de dúvida e desassossego. Que vai o PS discutir? O "socialismo moderno", cujos resultados foram um roteiro calamitoso? E ainda existem socialistas, numa agremiação que liquidou a memória história para ceder aos caprichos do tempo e às imposições do "pragmatismo"? Que PS deseja o PS ser?, se é que deseja ser alguma coisa que não essa massa amorfa, convencional e reaccionária, perseguidora dos que não alimentam as ideias transeuntes?


Com rigor, deixou, há muito, de ser socialista, de alimentar e estimular a ideia socialista, incapaz de reagir ao desmoronamento da União Soviética, sem saber enfrentar e combater, ideológica e politicamente, as pressões de um capitalismo cada vez mais feroz e devastador.

Olhamos aquela galeria de rostos alinhados nas bancadas e estremecemos de pavor. Nem uma ideia, nem o bafo morno de um pensamento activo que permitissem uma esperança, um alívio mental. Apercebemo-nos de que é uma gente ausente de leituras, obediente à cartilha, que forma o que vai dizer nos comentadores do óbvio, compatíveis com as práticas do instante. Quando, nas contas pós-eleitorais, ficamos a saber que 70 por cento daqueles "socialistas" preferiram votar em todos menos em Manuel Alegre, a indignação torna-se numa violenta náusea.

Não creio que esta questão vá estar na ordem dos trabalhos. Nem o caso Manuel Maria Carrilho, removido do lugar de embaixador por ser recalcitrante. E muito menos, claro!, o aberrante assunto de um tal Correia de Campos, o qual admitiu escolher a "estabilidade" configurada no dr. Cavaco aos fundamentos morais propostos pelo candidato apoiado pelo PS.

O poder, não a ideologia; o mando, o ascendente, o domínio e não a causa pública, são os motores que movem o PS. Há trinta e tantos anos que tudo é assim. Vai-se para o PS como quem garante um emprego. E não é com uma vistosa reunião de três dias, em Março, que se altera um esquema criado e ancilosado. Estes jogos estão de tal modo enraizados na nossa existência que os reconhecemos como legais. Não o são. A unidade austera e digna que dera consistência a uma maneira de ser republicana foi transformada em negócios, em malabarismos de interesses. É improvável que as coisas se alterem nos próximos tempos.

O PS nada contém de socialismo, nem parece estar muito interessado com isso. O Congresso será a coroação de José Sócrates, a grande rábula comum às encenações desta natureza. Aos mais cândidos, como aos mais reservados, recomendo que deixem de pensar em socialismo quando ao PS se referem.



opinião Baptista Bastos, DN, Fev. 2011



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