domingo, 1 de abril de 2012

Portugal a saque

Em Portugal, como consequência quer do investimento realizado no exterior quer do investimento estrangeiro em Portugal, está-se a verificar uma profunda descapitalização do país. E contrariamente à ideia que o governo PSD/CDS e os defensores do pensamento económico neoliberal dominante nos media pretendem fazer crer à opinião pública, o investimento tanto no exterior de portugueses como no pais de estrangeiros não é, na sua esmagadora maioria, investimento directo produtivo, que cria riqueza e emprego, mas sim visando obter juros, mais-valias, etc., ou seja, lucros fáceis e rápidos.

O investimento total no estrangeiro de portugueses ou de entidades com residência em Portugal atingiu, em 31/12/2011, 291.629,3 milhões €. Apenas uma parcela pequena destes activos no exterior (entre 15,4% e 18% do total) são investimento directo, ou seja, foram aplicados directamente em empresas, para criar capacidade produtiva e emprego. Uma parte muito importante (39,6%) são os chamados "investimentos de carteira", ou seja, realizado em acções e obrigações de curta e média duração visando a obtenção de ganhos financeiros rápidos. O mesmo sucede com os "Outros investimentos no exterior", que representavam 42,3% dos activos no exterior em 2011.

Situação semelhante verifica-se com o investimento estrangeiro em Portugal. Segundo o Banco de Portugal, em 31/12/2011, a divida total bruta do país ao estrangeiro, resultante destes investimentos, atingia 468.826,8 milhões €. Deste total, apenas 18% era investimento directo em Portugal (aquele que é referido na propaganda oficial sobre investimento estrangeiro), ou seja tendo como objectivo directo aumentar a capacidade produtiva e o emprego. Tudo o resto, na sua esmagadora maioria, eram aplicações financeiras que visavam obtenção de juros, mais-valias, etc, ou seja, aplicações que visavam arrecadar lucros rápidos e elevados. Como consequência, em apenas seis anos (2006/2011), foram transferidos para o estrangeiro 111.461 milhões € de rendimentos gerados em Portugal, sendo 20,3%, ou seja, 22.681 milhões de euros, referentes a dividendos e lucros distribuídos, na sua maioria de investimentos directos. Os restantes 79,3%, ou seja, 88.780 milhões de euros de rendimentos resultaram, na sua maioria, de aplicações financeiras, para não dizer mesmo especulativas. Aqueles 111.461 milhões € de rendimentos, embora gerados em Portugal, não foram investidos internamente para criar riqueza e emprego, mas sim transferidos directamente para o estrangeiro, a maioria não pagando quaisquer impostos em Portugal. Isto significa a descapitalização do país em larga escala que se agravará no futuro com a política de privatizações a saldo levada a cabo pelo governo PSD/CDS com o apoio da "troika estrangeira".

O caso do BPN, vendido ao grupo bancário BIC, dominado por angolanos, por 40 milhões € tendo o Estado Português capitalizado antes com mais de 500 milhões € e dado um crédito sem juros de 300 milhões €, o que levou a Comissão Europeia a intervir, e o caso da EDP vendida a um grupo chinês que agora, pelo que veio a público, pensa-se que o governo se comprometeu a manter as "rendas excessivas", que contribuíram para que a EDP tivesse, em 2011, 1125 milhões € de lucros líquidos (os maiores de sempre), pagas pelos consumidores, mostra bem a politica de privatizações a saldo que um governo sem sentido nacional, sem competência técnica e sem experiencia, e cego pelo ideologia neoliberal está a fazer sob o comando da "troika estrangeira", entregando a grupos económicos estrangeiros – até porque os "nacionais" estão sem liquidez para comprar – instrumentos importantes do Estado para promover o desenvolvimento e fonte de receitas para OE que será depois substituída por mais impostos.

O PIB (Produto Interno Bruto) corresponde ao valor da riqueza criada anualmente no país. O RNB (Rendimento Nacional Bruto) corresponde à riqueza que, em cada ano, fica no país, e que é repartida, embora de uma forma cada vez mais desigual, em Portugal. Em 1995, o PIB era superior ao RNB em 175,9 milhões €, portanto Portugal recebia mais do estrangeiro do que transferia para o exterior. Em 1996, com a entrada na União Europeia, a situação inverteu-se e Portugal começou a transferir para o exterior mais do que recebe do exterior, situação que se agravou com a entrada para a Zona do Euro, o que determinou que, em 2011, Portugal tenha transferido para o exterior mais 6.083,5 milhões € do que recebeu do estrangeiro, o que provocou que o valor do PIB (o que se produziu nesse ano) tenha atingido 171.112 milhões €, mas o valor do RNB (o que ficou em Portugal) tenha sido apenas de 165.028,5 milhões €. Em 2011, da riqueza criada por cada português com emprego, 1.251 € foram transferidos para o estrangeiro apenas para cobrir este saldo negativo. Eis uma outra consequência da politica que tem sido seguida em Portugal, agravada ainda mais pela terapia de choque imposta pela "troika estrangeira" e pelo governo PSD/CDS, que tem sido escondida quer por estes "senhores" quer ainda pelos defensores do pensamento económico neoliberal dominante nos media em Portugal.


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