quinta-feira, 13 de junho de 2013

Da vaidade das palavras

Um retorico do passado dizia que o  seu oficio era fazer que as coisas pequenas parecessem grandes e como tais fossem julgadas. Dir-se-ia um sapateiro que, para calçar pés pequenos, sabe fazer sapatos grandes. Em Esparta ter-lhe-iam dado a experimentar o azorrague por professar uma arte trapaceira e mentirosa. E Creio que Arquidamo que foi seu rei, não terá ouvido sem espanto a resposta de Tucídedes, ao qual perguntava qual era o mais forte na luta, se Péricles se ele: «Isso será difícil de verificar, pois quando o deito por terra, ele convence os espectadores que não caiu, e ganha». Os que com cosméticos caracterizam e pintam as mulheres fazem menos mal, pois é coisa de pouca perda não as ver ao natural, ao passo que estoutros fazem tenção de enganar, não já os olhos, mas o nosso juízo, e de abastardar e corromper a essência das coisas. Os Estados que longamente se mantiveram em boa ordem e bem governados, como o cretense e o lacedemónio, não tinham em grande conta os oradores.
Aríston defeniu sabiamente a retórica como a ciência de persuadir o povo: Socrates e Platão, como a arte de enganar e lisonjear:  e aqueles que isto negam na sua definição genérica, confirmam-no por toda a parte nos seus preceitos. (...)

(...) É um instrumento inventado para manipular e agitar turbas e multidões desordenadas, e que, à maneira da medicina, só se emprega nos estados doentes. Naqueles onde o vulgo, onde os ignorantes, onde todos, tudo puderam, como os de Atenas, Rodes e Roma, e onde as coisas estavam em perpétua tempestade, abundavam os oradores. E, na verdade, nesses Estados viam-se poucas personagens atingir grande reputação sem o socorro da eloquência. (...)


Michel de Montaigne - Ensaios

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