por José Pacheco Pereira
Ouvindo estas vozes, exigindo que a única política europeia seja "levar o Syriza à derrota" para evitar o contágio, sem transigências e com toda a dureza, eu penso como nestes últimos anos nós não tivemos só discussões políticas e ideológicas (poucas aliás, a sério), alimentámos o mal. O mal. Nalguns sítios da nossa sociedade gerámos, alimentámos, engordámos, trouxemos à luz do dia gente má, muito má, que mandou e manda em nós, instilando arrogância, desprezo pelos mais fracos, insensibilidade face à miséria, gente que olha os gregos como se fossem untermenschen. Do alto do seu conforto, sim porque o conforto distingue-os da ralé, eles andam a passear-se nestes dias com uma enorme espinha na garganta, mais do tamanho de uma trave do que de uma espinha, e não gostam. Obrigado aos gregos por terem ensinado aos maldosos que a sua impunidade tem limites.
O FIM DO BLOQUEIO EUROPEU
Mas o soçobrar do bloqueio da "inevitabilidade" (aquilo que mais dói aos detractores das eleições gregas) vai tornar mesmo governantes fracos como Hollande, um obstáculo para o curso punitivo que Merkel, Rajoy e Passos desejariam "para derrotar um governo do Syriza". Eu não tenho nenhuma especial simpatia por Hollande, mas não o estou a ver a assinar de cruz medidas punitivas contra os gregos e, sem a França, a hegemonia alemã enfraquece muito. É isso que significa o desfazer do bloqueio: há hoje alternativas políticas que seriam impensáveis há seis meses. Obrigado aos gregos por terem permitido a possibilidade de uma melhor Europa.
NÃO VAI SER FÁCIL
E é uma bofetada de luva branca para muitos que enchem a boca com a "Pátria", para depois a descreverem como um "protectorado", que aceitaram com aplauso abdicar de todos os traços da nossa soberania, e transformarem Portugal num vassalo obediente, muito além do que seria razoável pelas nossa atribulações financeiras, que tenha sido um partido que descrevem com desprezo como de "extrema-esquerda", que restituiu à Grécia a honra perdida.
Sim, porque na vitória do Syriza o conteúdo do seu programa foi o que menos contou, mas a afirmação da independência e da soberania de um povo que não esqueceu as violências que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial, e os insultos à Grécia na última década, e a vontade de varrer a elite política nacional corrupta que foi o seu instrumento. Uma vitória destas não se obtém sem ser pelo contra, por aquilo que os gregos não queriam. Depois virá o resto. Obrigado aos gregos por nos terem ensinado que em tempos de lixo o que verdadeiramente mobiliza a mudança é o que não se deseja, e só depois de se ter atirado borda fora esse lastro é que se pode começar a falar outra língua.
AFINAL OS GREGOS NÃO FAZEM TUDO MAL
De que alfurjas, bueiros, cavernas sulfurosas, loca infecta,
saíram estas legiões de comentadores, articulistas, jornalistas,
escreventes, gente dos blogues, que passaram o dia das eleições gregas a
pedir mais austeridade punitiva para os gregos, mais desemprego, mais
pobreza e miséria, mais impostos, menos salários e serviços públicos,
como retaliação e vingança por terem tido o topete de votar no Syriza?
Ai quiseram livrar-se da austeridade, pois preparem-se para levar com o
dobro, para não se porem com ideias! Os insultos a um dos povos mais
martirizados da Europa – martírio sem resultados, como todos podem
perceber – sucederam-se: não querem trabalhar, querem viver à custa de
empréstimos que não têm intenção de pagar, pior do piorio, mentirosos,
falsificadores de contas, enganadores de alemães, violentos,
mal-agradecidos, tudo.
Ouvindo estas vozes, exigindo que a única política europeia seja "levar o Syriza à derrota" para evitar o contágio, sem transigências e com toda a dureza, eu penso como nestes últimos anos nós não tivemos só discussões políticas e ideológicas (poucas aliás, a sério), alimentámos o mal. O mal. Nalguns sítios da nossa sociedade gerámos, alimentámos, engordámos, trouxemos à luz do dia gente má, muito má, que mandou e manda em nós, instilando arrogância, desprezo pelos mais fracos, insensibilidade face à miséria, gente que olha os gregos como se fossem untermenschen. Do alto do seu conforto, sim porque o conforto distingue-os da ralé, eles andam a passear-se nestes dias com uma enorme espinha na garganta, mais do tamanho de uma trave do que de uma espinha, e não gostam. Obrigado aos gregos por terem ensinado aos maldosos que a sua impunidade tem limites.
O FIM DO BLOQUEIO EUROPEU
Um dos resultados mais positivos das eleições gregas é terem acabado com
o bloqueio que as políticas da "inevitabilidade" traziam à Europa. O
isolamento alemão (e português) é maior, e todos os outros países têm
hoje razões e obrigações de mitigar, moderar e mesmo, num certo sentido,
acabar com a hegemonia alemã das políticas de austeridade. A decisão e o
maior protagonismo do Banco Central Europeu já abria caminho para essa
inversão. Draghi não se limitou a propor uma medida "técnica" contra a
inflação negativa, mas explicou preto no branco que as políticas
anteriores tinham dado mau resultado e propôs-se aplicar uma medida que
classificou de "expansionista". Não admira que Passos Coelho não tenha
gostado, as suas declarações, inequívocas neste caso, consideravam estas
políticas como "erros".
Mas o soçobrar do bloqueio da "inevitabilidade" (aquilo que mais dói aos detractores das eleições gregas) vai tornar mesmo governantes fracos como Hollande, um obstáculo para o curso punitivo que Merkel, Rajoy e Passos desejariam "para derrotar um governo do Syriza". Eu não tenho nenhuma especial simpatia por Hollande, mas não o estou a ver a assinar de cruz medidas punitivas contra os gregos e, sem a França, a hegemonia alemã enfraquece muito. É isso que significa o desfazer do bloqueio: há hoje alternativas políticas que seriam impensáveis há seis meses. Obrigado aos gregos por terem permitido a possibilidade de uma melhor Europa.
NÃO VAI SER FÁCIL
Todos sabemos que o caminho dos gregos não é fácil. Sabemos, a começar
pelos gregos, que enormes dificuldades vão estar pela frente. Mas pela
primeira vez depois destes anos de lixo, foram eles próprios que
escolheram o caminho das pedras que queriam trilhar e não os alemães e
os burocratas europeus. Faz uma enorme, gigantesca diferença, este
assumir de dignidade nacional para um país que foi humilhado como
poucos.
E é uma bofetada de luva branca para muitos que enchem a boca com a "Pátria", para depois a descreverem como um "protectorado", que aceitaram com aplauso abdicar de todos os traços da nossa soberania, e transformarem Portugal num vassalo obediente, muito além do que seria razoável pelas nossa atribulações financeiras, que tenha sido um partido que descrevem com desprezo como de "extrema-esquerda", que restituiu à Grécia a honra perdida.
Sim, porque na vitória do Syriza o conteúdo do seu programa foi o que menos contou, mas a afirmação da independência e da soberania de um povo que não esqueceu as violências que os alemães fizeram na Segunda Guerra Mundial, e os insultos à Grécia na última década, e a vontade de varrer a elite política nacional corrupta que foi o seu instrumento. Uma vitória destas não se obtém sem ser pelo contra, por aquilo que os gregos não queriam. Depois virá o resto. Obrigado aos gregos por nos terem ensinado que em tempos de lixo o que verdadeiramente mobiliza a mudança é o que não se deseja, e só depois de se ter atirado borda fora esse lastro é que se pode começar a falar outra língua.
AFINAL OS GREGOS NÃO FAZEM TUDO MAL
Portugueses, aprendam com os gregos! Eleições no domingo, coligação
durante a noite, governo na tarde do dia seguinte. Obrigado aos gregos
por nos darem lições de eficácia.