segunda-feira, 13 de abril de 2015

25 verdades sobre o dissidente cubano Manuel Cuesta Morúa

morua

Cuba - Al Mayadeen - [Salim Lamrani, Tradução do Diário Liberdade] O opositor cubano participa da Cúpula das Américas entre os dias 10 e 11 de abril no Panamá e leva a palavra de Washington, seu principal patrocinador.


1. Nascido em 1962, Manuel Cuesta Morúa é um opositor cubano, fundador, entre outros, do Partido Arco Progressista de Cuba. Também é coordenador da Plataforma "Nuevo País", que reúne uma parte da dissidência.

 2. Favorável a uma mudança de sistema em Cuba, Cuesta Morúa, que também militou na Unión de Jóvenes Comunistas (UJC), é um feroz detrator do Governo e publica regularmente amargas crônicas no site Cubanet, que recebe subsídios da Agência Estadunidense Internacional para o Desenvolvimento (USAID), ela mesma financiada diretamente pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos.

3. A Fundação Nacional para a Democracia (National Endowment for Democracy, NED) financia as atividades de oposição de Cuesta Morúa. A NED foi criada pelo antigo presidente estadunidense Ronald Reagan em 1983, em uma época em que a violência militar havia tomado o lugar da diplomacia tradicional nos assuntos internacionais. Graças a sua poderosa capacidade de penetração financeira, a NED tem como objetivo enfraquecer os governos que se opõem à política exterior de Washington.

4. Segundo o New York Times [artigo de março de 1997], a NED "foi criada há 15 anos para realizar publicamente o que a Central Intelligence Agency (CIA) fez clandestinamente durante décadas. Gasta 30 milhões de dólares por ano em apoiar partidos políticos, sindicatos, movimentos dissidentes e meios informativos em dezenas de países".

5. Em setembro de 1991, Allen Weinstein, pai da legislação que deu nascimento à NED, expressão o seguinte ao Washington Post: "Muito do que fazemos hoje a CIA fez há 25 anos de modo clandestino".

6. Carl Gershman, primeiro presidente da NED, explicou em junho de 1986 a razão de ser da Fundação: "Seria terrível para os grupos democráticos do mundo inteiro aparecer como subsidiados pela CIA. Vimos isso nos anos 60 e por isso acabamos com isso. A Fundação foi criada porque não podíamos seguir fazendo isso".

7. Assim, segundo o New York Times, Allen Weinstein e Carl Gershman, Manuel Cuesta Morúa é financiado por um órgão de fachada da CIA.

8. Manuel Cuesta Morúa coordenou o ataque ao Quartel Moncada em 26 de julho de 1953 que lançou Fidel Castro contra a ditadura militar de Fulgencio Batista apoiada pelos Estados Unidos, ação que desencadeou a Revolução Cubana. O dissidente persuadiu todos os dirigentes latino-americanos a viajar a Cuba a fim de celebrar o 60º aniversário do levante popular em 2013 e fazer, segundo ele, "apologia à violência". Segundo ele, "esse louvor latino-americano e caribenho é [...] uma falta de respeito à nossa história" [1].

9. Para Cuesta Morúa, a Revolução Cubana, cujas conquistas sociais são reconhecidas pelas mais prestigiadas instituições internacionais – particularmente no campo da saúde –, é um fracasso total. Segundo suas palavras, com a implantação do socialismo, Cuba se converteu em um "país sem banheiros públicos, portões com três décadas de sujeira, edifícios quase desmoronando, hospitais prontos para transmitir infecção" [2].

10. Segundo o opositor, o mercado de trabalho em Cuba é sinônimo de "regresso da escravidão no trabalho, agora sem tráfico de escravos" [3]. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) não compactua com esse ponto de vista e, pelo contrário, classifica o sistema cubano de seguridade social como um "milagre" pela proteção que oferece aos trabalhadores e pela baixa taxa de desemprego [4].

11. Nelson Mandela, herói da luta contra o Apartheid, símbolo do combate pela emancipação humana, rendeu homenagem à intervenção cubana na África para ajudar os movimentos de libertação nacional em Angola e na Namíbia, entre outros, e ao Congresso Nacional Africano (ANC) em sua luta contra o regime de Pretória: "Desde os seus dias iniciais, a Revolução Cubana tem sido uma fonte de inspiração para todos os povos amantes da liberdade. O povo cubano ocupa um lugar especial no coração dos povos da África. Os internacionalistas cubanos deram uma contribuição à independência, à liberdade e à justiça na África que não tem paralelo pelos princípios e o desinteresse que a caracterizam" [5]. Thenjiwe Mtintso, embaixadora da África do Sul em Cuba, lembrou a verdade histórica a propósito do compromisso de Cuba com a África: "Hoje a África do Sul tem muitos novos amigos. Ontem esses amigos se referiam a nossos líderes e a nossos combatentes como terroristas e nos intimidavam desde os seus países ao mesmo tempo que apoiavam a África do Sul do Apartheid. Esses mesmos amigos hoje querem que nós denunciemos e isolemos Cuba. Nossa resposta é muito simples, é o sangue dos mártires cubanos e não desses amigos o que corre profundamente pela terra africana e nutre a árvore da liberdade em nossa Pátria" [6]. Mas Cuesta Morúa, por sua vez, longe de render homenagem à solidariedade internacionalista de seu país, denuncia o que chama "o imperialismo revolucionário ao Terceiro Mundo" [7].

12. Do mesmo modo, enquanto o mundo inteiro celebra as missões internacionalistas humanitárias cubanas por todo o planeta, com mais de 50.000 médicos e outro grupo sanitário que trabalha voluntariamente em mais de 60 países do Terceiro Mundo – o exemplo mais recente é a intervenção cubana no oeste da África para lutar contra a epidemia do ebola –, Manuel Cuesta Morúa estigmatiza, ao contrário, "o imperialismo revolucionário ao Terceiro Mundo: em forma de missões militares ou de missões médicas e educativas" [8].

13. Para o opositor, "a Revolução Cubana já não existe mais" pois "foi, por natureza, uma revolução conservadora" sem "possibilidades de uma modernização social, política e cultural coerente, em consonância com a dinâmica mundial: o feminismo, os negros e o movimento homossexual e de lésbicas" [9]. Aqui também Cuesta Morúa contradiz as mais iminentes instituições internacionais que multiplicam as homenagens a Cuba por sua política de integração das minorias. Por exemplo, há unanimidade entre os estudiosos para reconhecer que a Revolução Cubana é sinônimo de emancipação da mulher. Com uma expectativa de vida de 80 anos, uma taxa de mortalidade infantil de 4,6 por mil, uma taxa de mortalidade materna de 0,02%, uma taxa de natalidade de 1,5 filhos, um salário estritamente igual ao do homem por um emprego similar, um direito a uma pensão plena após 30 anos de contribuição, a mulher cubana goza de um status único entre os países em desenvolvimento. Também representa 60% dos estudantes, 44% da população ativa, 66,4% dos técnicos e profissionais do país de nível médio ou superior (professores, médicos, engenheiros, investigadores, etc.), 66% dos funcionários civis, 46% dos cargos de direção no setor econômico e 48,66% dos deputados do Parlamento nacional.

14. Para Manuel Cuesta Morúa, a hostilidade dos Estados Unidos contra Cuba é uma fabricação das autoridades de Havana: "O governo cubano construiu um inimigo formidável para mascarar um regime autoritário" [10]. Assim, a invasão da Bahía dos Porcos de 1961, a ameaça de desintegração nuclear em 1962, o financiamento do terrorismo contra Cuba (3.478 mortos e 2.099 feridos), as sanções econômicas, a agressão política, diplomática e midiática são apenas um "muro narrativo" inventado pelo "regime cubano".

15. Segundo ele, a política dos Estados Unidos em relação a Cuba desde 1959 "ajudou a anunciar o tema dos direitos humanos em Cuba" [11].

16. Manuel Cuesta Morúa é favorável à Lei de Ajuste Cubano que o Congresso dos EUA adotou em 1966, destinada a fomentar a emigração ilegal e o roubo de mentes. Única no mundo, estipula que todo o cubano que entre legal ou ilegalmente nos Estados Unidos, pacífica ou violentamente, depois do 1º de janeiro de 1959, consegue imediatamente depois de um ano e um dia o status de residente permanente. Para o dissidente, a eliminação de tal legislação "seria contraproducente para o controle legal do fluxo migratório" [12].

17. Manuel Cuesta Morúa minimiza o impacto das sanções econômicas contra a população cubana. Segundo ele, trata-se de um simples "embargo" e não de um "bloqueio" e omite apontar assim o caráter extreterritorial, ou seja, contrário ao direito internacional, do estado de sítio imposto à ilha desde 1960 [13].

18. O dissidente cubano é próximo dos círculos de poder estadunidenses. Interveio no Senado a convite do senador Marco Rubio, ferrenho opositor a toda aproximação a Cuba e exigiu que se deixasse de "culpar o vizinho do norte pelos problemas da ilha" [14]. Segundo ele, as sanções econômicas são uma desculpa do Governo cubano para justificar as dificuldades que o país enfrenta, contradizendo assim a comunidade internacional, que condenou em 2014, com esmagadora maioria de 188 votos contra 2 (EUA e Israel), pelo 23º ano consecutivo, o estado de sítio imposto aos cubanos, que constitui o principal obstáculo ao desenvolvimento da ilha.

19. Segundo Cuesta Morúa, a aproximação entre Washington e Havana é uma "vitória estratégica dos Estados Unidos diante do Governo cubano" [15]. O presidente Obama, por sua vez, não compartilha deste ponto de vista e reconhece que a política de hostilidade contra Cuba foi um fracasso total: "Vamos por fim a um enfoque obsoleto que fracassou durante décadas em promover nossos interesses [...] Nenhuma nação nos seguiu na imposição dessas sanções. [...] Depois de tudo, esses últimos cinquenta anos demonstraram que o isolamento não funcionou. É tempo de adotar um novo enfoque. [...] A política estadunidense em relação a Cuba isolou os Estados Unidos de seus sócios regionais e internacionais, limitou a capacidade de influência no continente americano" [16]. John Kerry, secretário de Estado dos Estados Unidos, concorda com a análise: "Não só esta política fracassou [...] mas também isolou os Estados Unidos ao invés de isolar Cuba" [17].

20. O dissidente cubano é um grande admirador do modelo estadunidense. Segundo ele, "o modelo de êxito e bem-estar, e não só para a geração de nossos filhos, está nos Estados Unidos. Muitos de nossos pais e avós viajam para lá para se inserir na generosa estrutura de seguridade social que se oferece naquele país para os idosos" [18]. Pouco importa se todos os indicadores contradizem essa afirmação. Um exemplo: segundo as estatísticas oficiais, enquanto os Estados Unidos são o país mais rico do mundo, ao menos 14,5% da população vive abaixo da linha da pobreza, ou seja, 45,3 milhões de pessoas. Do mesmo modo, 19,9% dos menores de 18 anos vivem na pobreza [19].

21. Manuel Cuesta Morúa denuncia os países da nova América Latina, a saber, Venezuela, Equador, Bolívia, Nicarágua, Brasil e Argentina e fustiga "o antinorte-americanismo histórico da região [que] [...] adia [...] a defesa íntegra dos valores democráticos no hemisfério" [20]. Segundo ele, nenhum dos presidente que chegaram ao poder por meio do voto reconhecidos por sua transparência pelas instituições internacionais é legítimo: "Alguém acredita de verdade que a Kirchner, os Lula, Correa, Morales, Ortega e Maduro são democratas?".

22. Em troca o dissidente cubano rende homenagem à Organização de Estados Americanos, "única organização [...] que conta com mecanismos consolidados, com uma referência e uma experiência tradicional" [21]. Além desta entidade, tradicionalmente submissa aos Estados Unidos ao ponto de receber o apelido de "Ministério das Colônias", suscita um repúdio crescente na América Latina, em benefício das novas estruturas de integração baseadas na igualdade soberana e reciprocidade como a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), fundada em 2011, que agrupa os 33 países do continente americano – mais além das diferenças políticas e ideológicas – com a exceção de Canadá e Estados Unidos.

23. De fato Manuel Cuesta Morúa expressa sua oposição aos processos de integração na América Latina se não se realizam sob a tutela estadunidense. Para ele a CELAC é um "fantasma político de estreia recente", "sem mecanismos, instituições, [nem] representatividade política", "da qual ninguém em sã consciência falará por um longo tempo, se acaso o fizer no futuro" [22].

24. Desde 1959 um dos principais pilares da política exterior dos Estados Unidos em relação a Cuba tem se constituído em organizar, assessorar e financiar uma oposição interna a fim de conseguir uma "mudança de regime". Se essa política foi clandestina de 1959 a 1991, agora é pública e está assumida por Washington. Assim, a lei Torricelli de 1992, a lei Helms-Burton de 1996, a Comissão de Assistência para uma Cuba Livre em seus relatórios de 2004 e 2006, prevêm um financiamento da oposição interna em Cuba que chega a 20 milhões de dólares anuais.

25. Em uma palavra, Manuel Cuesta Morúa, que reside em Cuba e se beneficia de todas as vantagens do sistema de proteção social do país, é um dissidente vinculado ao poder estadunidense por meio da NED, um órgão de fachada da CIA que contribui financeiramente ao desenvolvimento de suas atividades de oposição ao Governo de Havana.

Salim Lamrani é Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Paris Sorbonne-Paris IV, é professor-titular da Universidade de la Reunión e jornalista, especialista nas relações entre Cuba e Estados Unidos.

Notas:
[1] Manuel Cuesta Morúa, "Progresistas muy raros", Cubanet, 2 de agosto de 2013. http://www.cubanet.org/articulos/progresistas-muy-raros/(sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[2] Manuel Cuesta Morúa, «La revolución pudo haberse escapado por la alcantarilla», Cubanet, 12 de agosto de 2013.http://www.cubanet.org/otros/la-revolucion-pudo-haberse-escapado-por-la-alcantarilla/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[3] Manuel Cuesta Morúa, «La piñata, la represión y el capitalismo en Cuba», Cubanet, 2 de mayo de 2014. http://www.cubanet.org/opiniones/63383/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[4] Granma, «Director regional de OIT califica de 'casi un milagro' sistema cubano de seguridad social», 30 de marzo de 2005.
[5] Salim Lamrani, Cuba. Ce que les médias ne vous diront jamais, Paris, Editions Estrella, 2009, prologue.
[6] Piero Gleijeses, «Cuito Cuanavale: batalla que terminó con el Apartheid», Cubadebate, 23 de marzo de 2013.
[7] Manuel Cuesta Morúa, «Los muertos no hablan de revolución», Cubanet, 22 de enero de 2014. http://www.cubanet.org/destacados/los-muertos-no-hablan-de-revolucion/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[8] Ibid.
[9] Manuel Cuesta Morúa, «Los muertos no hablan de revolución», Cubanet, 22 de enero de 2014. http://www.cubanet.org/destacados/los-muertos-no-hablan-de-revolucion/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[10] Agustina Ordoqui, «'La apertura de Cuba es el fin del modelo, pero no del gobierno'», Infobae, 15 de marzo de 2015.http://www.infobae.com/2015/03/15/1716051-la-apertura-cuba-es-el-fin-del-modelo-pero-no-del-gobierno (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[11] Ibid.
[12] Manuel Cuesta Morúa, «La ley 'asesina' que permite comer a muchos cubanos», Cubanet, 28 de noviembre de 2013.http://www.cubanet.org/articulos/la-ley-asesina-que-permite-comer-a-muchos-cubanos/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[13] Ibid.
[14] 14ymedio, "Opositores cubanos hablaron en la audiencia del Senado de Estados Unidos", 3 de febrero de 2015.http://www.14ymedio.com/internacional/Opositores-hablaron-audiencia-Senado-Unidos_0_1718828110.html (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[15] Manuel Cuesta Morúa, «Cuba: la derrota estratégica I », Cubanet, 21 de mayo de 2014. http://www.cubanet.org/opiniones/cuba-la-derrota-estrategica/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[16] The White House, « Barack Obama's Speech: Charting a New Course of Era », 17 de diciembre de 2014. http://www.whitehouse.gov/issues/foreign-policy/cuba (site consulté le 17 décembre 2014)
[17] John Kerry, "Statement by Secretary Kerry: Announcement of Cuba Policy Changes", U.S. Department of State, 17 de diciembre de 2014.http://iipdigital.usembassy.gov/st/english/texttrans/2014/12/20141217312131.html#axzz3MC4Z8Upx (sitio consultado el 17 de diciembre de 2014)
[18] Manuel Cuesta Morúa, «La derrota estratégica II», 22 de mayo de 2014. http://www.cubanet.org/opiniones/cuba-la-derrota-estrategica-ii/(sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[19] The United States Census Bureau, "2013 Highlights", 2014. http://www.census.gov/hhes/www/poverty/about/overview/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[20] Manuel Cuesta Morúa, « Cuba y las democracias en América Latina", Cubanet, 28 de abril de 2014. http://www.cubanet.org/opiniones/cuba-y-las-democracias-en-america-latina/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[21] Manuel Cuesta Morúa, « Desconcierto en las Américas ante Venezuela", Cubanet, 5 de marzo de 2014. http://www.cubanet.org/opiniones/desconcierto-en-las-americas-ante-venezuela/ (sitio consultado el 7 de abril de 2015)
[22] Ibid.

aqui:http://www.diarioliberdade.org/artigos-em-destaque/408-direitos-nacionais-e-imperialismo/55296-25-verdades-sobre-o-dissidente-cubano-manuel-cuesta-mor%C3%BAa.html

Publicação em destaque

Marionetas russas

por Serge Halimi A 9 de Fevereiro de 1950, no auge da Guerra Fria, um senador republicano ainda desconhecido exclama o seguinte: «Tenh...