Dirigentes sociopatas
e assassinos com o destino do mundo nas mãos estão livres e à solta,
protegidos, acarinhados até como salvadores dentro da bolha mediática.
Se não forem os cidadãos livres, inconformados e informados a dar o
alerta quem o fará por eles?
Donald Trump e Wilbur RossCréditos / Agência Lusa
O
frequentador, ainda que ocasional, da bolha mediática que envolve o
mundo de hoje vive sob anestesia daqueles que serão, com elevado grau de
probabilidade, os derradeiros tempos da situação planetária tal como a
temos conhecido. Entretido com as peripécias engendradas para instaurar a
censura férrea na internet a pretexto das fake news (notícias
falsas) nas redes sociais – uma campanha conduzida pelos grandes
operadores mediáticos, que assim pretendem reservar para si o monopólio
das fake news – o desprevenido cidadão passa ao largo da
multiplicação de manobras letais conduzidas por mentes assassinas que
ascenderam ao governo mundial.
É verdade que conhecemos ao
pormenor as intenções do agora benquisto presidente dos Estados Unidos
para castigar o atrevimento do seu congénere da Coreia do Norte, que
pretende ter bombas atómicas tal como Israel, por exemplo, com a
diferença de que não esconde as suas intenções.
No entanto, quem
se der por informado através do conteúdo dos telejornais, das
publicações sensacionalistas ou de referência, tanto faz, fica a ignorar
as duas outras facetas do mesmo problema: que a ameaça de Donald Trump e
dos senhores da guerra que agora ocupam por completo a sua corte se
dirige verdadeiramente contra a China; e que, como um espelho de feira
da sua metade Norte, ampliando e distorcendo os defeitos, a Coreia do
Sul é uma colónia norte-americana infestada de armas nucleares e
funcionando em ditadura maquilhada de modo a parecer uma democracia
neoliberal.
A versão incompleta, logo distorcida, transformou-se
em regra na abordagem dos temas de envergadura mundial que se vão
sucedendo nas manchetes e gritaria mediática, através das quais se
repetem as mensagens primárias e maniqueístas para cada um decorar e
multiplicar. O essencial fica por explicar, para não maçar as pessoas
com coisas complicadas, para não sobrecarregar a sua limitada capacidade
de atenção, ou porque não há tempo e os anunciantes reclamam o seu
espaço, principescamente recompensado em numerário.
Através desta
estratégia censória esconde-se da generalidade dos cidadãos o abismo
para o qual o mundo caminha agora apressadamente, iluminado pela tese
cada vez mais ganhadora de que os avanços tecnológicos e científicos no
domínio militar permitem a utilização circunscrita de bombas atómicas,
sem que haja risco de uma hecatombe nuclear generalizada.
E na
bolha mediática não irrompe qualquer abcesso de inquietação, ao menos
para gritar uma advertência do género salve-se quem puder. Pelo
contrário, se acaso o assunto é aflorado por ilustres comentadores, uma
tal tese é considerada verídica, podemos então dormir descansados, a
desgraça será longínqua e limitada.
O Centro de Informação Nuclear
das Forças Armadas dos Estados Unidos anunciou que foram testados há
pouco, com êxito absoluto, os componentes inertes da nova bomba atómica
B61-12, na verdade um novo engenho com capacidade para furar bunkers de
silos nucleares e dispondo de quatro opções de potências selecionáveis
entre 0,3 e 50 quilotoneladas, o que permite «dimensionar» os danos
pretendidos.
Além disso, a Boeing
forneceu um novo sistema de orientação que permite ao engenho procurar o
alvo, dispensando-se o lançamento na vertical, considerado menos
preciso. Enfim, tudo mais controlável, com a vantagem de a nova bomba
ser utilizável pelos já existentes F-16 e Tornado, evitando a espera
pelos míticos F-35, já vendidos a uma série de países da NATO sem
existir um único protótipo.
A recepção da nova bomba atómica
começou, aliás, a ser preparada no interior da NATO através do treino de
pilotos de várias nacionalidades, designadamente italianos, belgas,
alemães, holandeses e, para que conste, também turcos e polacos –
oriundos, portanto, de uma ditadura fundamentalista islâmica e de um
regime fascizante.
Em simultâneo, decorreu em Nova Iorque uma
simulação de operações de socorro no caso de um ataque nuclear. Os
comentários advertindo que um exercício deste tipo só faz sentido para
precaver a defesa contra uma resposta nuclear a um eventual ataque
norte-americano foram qualificados, obviamente, como fruto de teorias da
conspiração, talvez de fake news das não toleráveis. Sim porque existe aquele incontestável soundbite garantindo que todas as armas norte-americanas são defensivas, Washington jamais atacará primeiro.
Por
isso se condena a ousadia da China ao exigir a retirada do sistema
THAAD de «defesa» antimíssil que os norte-americanos instalaram na
Coreia do Sul; a exemplo dos escudos «defensivos» operacionais na
Polónia, na Roménia e outros países da Europa de Leste, que eram contra o
«perigo iraniano» e acabaram convertidos em prevenção contra a «ameaça
russa»; tal como os SCUD oferecidos a Israel enquanto a NATO destruía o
Iraque, a Líbia, a Síria, o Iémen, a Somália, o Afeganistão, o que mais
adiante se verá.
Do mesmo modo que no caso da China, devem
condenar-se igualmente os injustificados protestos russos e de países
árabes contra os engenhos «defensivos» plantados nos territórios
vizinhos. Portem-se bem e nada terão que temer.
Porém, em boa
verdade o melhor ataque é a defesa. Os sistemas antimísseis
multiplicados pelas Forças Armadas norte-americanas em zonas de conflito
e frente às potências rivais pretendem assegurar a impunidade depois de
um primeiro golpe; isto é, têm como principal objectivo garantir que a
resposta de um país atingido pelo primeiro ataque será sempre menos
eficaz do que este. E como agora já podem dosear-se os efeitos de uma
agressão atómica, eis uma situação comprovando a tese da guerra nuclear
limitada.
Wilbur Ross, secretário do Comércio de Trump, disse esta
semana, durante uma conferência na Califórnia, que o bombardeamento
contra a base de Cheirat na Síria, provocando a morte de vários civis,
foi «uma sobremesa», um «divertimento» no final do jantar que o
presidente norte-americano oferecia na ocasião ao homólogo chinês. Uma
mensagem servida com um drink, em jeito de brinde.
Em Roma, o circo para sacrificar seres humanos era limitado ao Coliseu; agora tem dimensões planetárias.
Sabe-se,
entretanto, que os últimos lugares vagos na corte de Trump deixados por
nomeados que se opunham à política de confrontação militar foram
ocupados por Kurt Volker e Tom Goffus, duas figuras republicanas da
máxima confiança do falcão John McCain, por sinal o elo de ligação entre
o establishment norte-americano e os principais grupos terroristas ditos islâmicos, entre eles o Daesh ou Estado Islâmico.
Enquanto
isso, as Forças Armadas dos Estados Unidos fizeram dois testes com
mísseis balísticos intercontinentais «para validar e verificar a
eficácia, prontidão e precisão do sistema de armas nucleares».
Dirigentes
sociopatas e assassinos com o destino do mundo nas mãos estão livres e à
solta, protegidos, acarinhados até como salvadores dentro da bolha
mediática. Se não forem os cidadãos livres, inconformados e informados a
dar o alerta quem o fará por eles?
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